Meses depois....
Eu me encontrava sentada naquela sala de audiência, onde o ar parecia pesar com o destino selado. O ambiente, frio e austero, era palco de um julgamento que eu jamais imaginaria viver. Minhas mãos ainda tremiam ao segurar os punhos da cadeira, enquanto meus olhos, vermelhos de tanto chorar, percorriam cada detalhe da sala. O silêncio era interrompido apenas pelo farfalhar das folhas das pastas e pelos murmúrios contidos dos presentes.
Do outro lado, na plateia, vi Marcus. Ele estava ali, sentado com a postura impecável de sempre, mas agora seu olhar parecia carregado de algo indefinível. Ao me ver, ele sorriu de forma quase imperceptível – um sorriso que misturava orgulho e uma promessa amarga. Eu sentia cada batida do meu coração como um martelo, enquanto os jurados, os promotores e os advogados se revezavam em seus papéis, transformando aquele tribunal num palco de verdades cortantes e julgamentos implacáveis.
O juiz iniciou a sessão com uma voz firme e autoritária:
— Iniciaremos o julgamento de Meg Orian, acusada de desvio de dinheiro e outros crimes correlatos. Que todas as partes se identifiquem.
Meu peito apertava enquanto eu repetia meu nome, sentindo cada sílaba como um eco da minha desgraça. Os promotores começaram a expor os fatos. Cada palavra parecia perfurar meu coração, lembrando-me da noite em que, em meio a promessas e ilusões, assinei aqueles papéis sem compreender toda a extensão do m*l que se instauraria.
— As evidências apontam que a acusada teve participação ativa em um esquema de desvio de valores bilionários – anunciou o promotor principal, com um tom frio e calculado.
— Documentos, testemunhos e registros bancários comprovam a assinatura dos papéis que vinculam o nome da acusada a transações ilícitas – continuou ele, enquanto apontava para gráficos e fotos que desnudavam minha inocência, ou o que restava dela.
Lembro-me de ter tentado me defender, de ter explicado entre soluços que jamais tinha compreendido a real dimensão do que havia acontecido. Mas, naquele ambiente implacável, minhas palavras soavam como meros sussurros diante da gravidade dos fatos apresentados.
O promotor chamou uma sequência de testemunhas que, uma a uma, detalharam transações, conversas e documentos que me vinculavam diretamente ao esquema. Cada depoimento era como uma lâmina, cortando o fio tênue que eu ainda tentava manter entre a esperança e a realidade. Durante todo o processo, meu olhar se voltava, em segredo, para Marcus, cuja expressão não demonstrava piedade. Pelo contrário, havia em seu sorriso uma espécie de satisfação silenciosa.
Em determinado momento, a defesa tentou argumentar que eu agira sob coação, que a minha ingenuidade e o meu profundo amor por Marcus haviam me levado a assinar os documentos sem compreender suas reais consequências. Mas os depoimentos eram incontestáveis. O juiz, após ouvir atentamente, fez uma pausa longa, como se cada segundo pesasse uma eternidade, antes de se pronunciar:
— Considerando todas as provas apresentadas e as declarações das testemunhas, este tribunal conclui que a ré, Meg Orian, é culpada dos crimes que lhe foram imputados.
O impacto da sentença me atingiu como um maremoto. As palavras do juiz ecoaram na sala:
— Meg Orian, você está condenada a 10 (dez) anos de prisão.
Num instante, o tempo pareceu congelar. Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu buscava forças para aceitar o veredicto. E foi nesse momento, enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas, que captei o olhar de Marcus, fixo em mim. Seu sorriso se alargou num misto de ironia e ternura, e ele murmurou, em um tom tão baixo que m*l pude ouvir:
— Sempre estarei ao seu lado.
Essas palavras, ditas com uma suavidade que contrastava com o rigor do tribunal, reverberaram em mim como uma sentença própria, além daquelas proferidas pelo juiz. Meu coração, já despedaçado, sentiu um nó se apertar. Eu me via traída pela vida, pela minha própria ingenuidade, mas também enredada por um amor que agora parecia ter múltiplas facetas.
Enquanto os seguranças se aproximavam para levar-me, o corredor da justiça se transformava num cenário de despedida. Meus advogados se aproximaram, tentando oferecer algum consolo ou um plano de recurso, mas naquele instante, tudo parecia perdido. A imagem de Marcus, com aquele sorriso enigmático e o olhar que dizia "estou aqui, mesmo que de forma silenciosa", permanecia gravada em minha mente.
Ao ser escoltada para fora do plenário, senti os olhares de tantos que julgavam, que se compadeciam ou se regozijavam com o veredicto. Meu corpo, pesado e quase sem forças, m*l podia acompanhar os passos que me levavam para o corredor da saída. Cada passo era um adeus à liberdade, a um futuro que agora pertencia apenas à memória.
Lá fora, o mundo continuava indiferente, como se o tempo não tivesse mais compaixão por uma alma como a minha. Meu rosto ainda estava úmido de lágrimas, e a sensação de abandono me envolvia. Mas, em meio a todo o desespero, aquelas palavras de Marcus ecoavam: "Sempre estarei ao seu lado."
— Eu também te amo! — pensei, com o coração cheio de amor.
Marcus nunca me trairia, ele me amava, eu era dele e ele era meu.
Enquanto os veículos de transporte prisionais aguardavam, vi Marcus se levantar e seguir, silenciosamente, pelo corredor. Ele não disse mais nada. Apenas, com o olhar, transmitia uma mistura de amor e compreensão pelo qo que eu tinha acabado de fazer. O s
Ao adentrar a cela que seria minha nova morada, cada som, cada eco dos passos dos guardas, ressoava como um lembrete de que tudo o que eu havia sonhado e construído estava irremediavelmente perdido. As paredes frias da prisão não perdoavam nem abrigavam sonhos, mas ali, em meio à escuridão, eu sabia que teria que aprender a viver com o fardo daquela sentença.
Enquanto a porta se fechava com um estrondo final, selando o meu destino, uma parte de mim clamava por justiça, por respostas, por um reencontro com a verdade que me libertaria desse labirinto de enganos e traições. Mas, por ora, restava apenas aceitar a realidade imposta, enquanto o sorriso de Marcus – e suas palavras – se tornavam o único eco distante de um amor que, apesar de tudo, ainda insistia em permanecer.
Eu, agora condenada e solitária, carregaria comigo não apenas os 10 anos de prisão, mas a amarga certeza de que, em um jogo de manipulações e ilusões, o amor pode se tornar a mais c***l das prisões. E, enquanto a escuridão se fechava ao meu redor, eu me perguntava se, algum dia, encontraria a força para transformar essa sentença em algo além de um destino inevitável – ou se Marcus, com seu sorriso enigmático, continuaria a ser a sombra que jamais me abandonaria.