NARRAÇÃO CLARA
Abro a porta e não acredito no que vejo.
- Fernando!
Ele parece com dor e cansado. Ergue um envelope branco com a marca do hospital de São Paulo.
- Me diz que isso é verdade.
Sua voz é falhada e sussurrada. Ele segura o resultado do DNA.
- Não sou sua irmã.
Solta um suspiro e joga o envelope no chão, vindo em minha direção. Suas mãos agarram meu rosto e seus olhos encaram os meus.
- Nunca mais me deixe.
Diz avançando em meus lábios e me beija. Sua boca quase devora a minha desesperadamente e meu corpo instantaneamente já se encosta no dele em busca de seu calor. Minhas mãos se espalmam em seu peito e posso sentir seu coração acelerado como o meu. Não acredito que ele esta mesmo aqui. Desço minha mão e sinto sua camisa molhada.
- Fernando!
Solto meus lábios do dele e abaixo meus olhos.
- Você esta sangrando.
Seu corpo amolece e vejo que esta pálido demais.
- Você não devia ter vindo.
Digo o apoiando de lado e puxando seu corpo até a cama.
- Precisava vir.
Sua voz é de dor. O deito na cama e levanto sua camisa.
- Seu curativo esta cheio de sangue.
Seus olhos se fecham um pouco.
- Só preciso dos meus remédios.
Abre os olhos e sorri.
- E de você.
Sei que devia estar muito brava com ele agora por ter saído do hospital assim, mas a verdade é estou feliz em vê-lo aqui. Era o que eu mais precisava agora.
- Onde esta seu medicamento?
- Atrás de você.
Me viro e vejo Teddy.
- Mozão, você devia ter me esperado.
- Você é muito lento.
- Teddy!
Saio do lado de Fernando e corro para os braços do meu amigo.
- Você não devia ter vindo com ele assim.
- Ele não sossegaria até te ver.
Assim que o solto me passa a sacola com medicamentos.
- Erick mandou essa lista com os horários e tudo bem explicadinho.
Encaro a lista e já pego o medicamento de Fernando. Dou a ele com um copo de água. Aos poucos ele vai se acalmando.
- Preciso trocar esse curativo.
Teddy pega o exame de DNA do chão e fecha a porta.
- Eu te ajudo.
Juntos tiramos a camisa suja do Fernando Com uma tesoura que Erick mandou na sacola, corto o curativo sujo e Fernando geme.
- Desculpa!
- Tudo bem!
Retiro tudo e vejo a cicatriz. Meu coração aperta.
- Olha pra mim.
Fernando pede e ergo minha cabeça.
- Não se sinta culpada.
- Não adianta falar. Eu sei que sou.
Coloca sua mão sobre a minha.
- Foi graças a isso que você descobriu que não somos irmãos.
Isso é verdade. Ainda viveríamos essa mentira toda. Continuo limpando o sangue sem dizer nada.
- Quem de nós dois não é um Ribeiro?
Fernando pergunta e respiro fundo.
- Eu...
Começo a cobrir a cicatriz com outro curativo.
- Certeza?
Confirmo com a cabeça.
- Já achou alguma coisa por aqui?
- Sim...
Termino o curativo e olho pra ele.
- Tenho tanta coisa pra te contar. Nem sei por onde começar.
- Vamos fazer assim...
Passa a mão em meu rosto.
- Você deita aqui comigo, no meu peito e me conta tudo.
- Posso deitar do outro lado do seu peito pra ouvir também?
Fernando ri com a pergunta do Teddy, mas logo para por causa da dor.
- Precisa ser no meu peito?
- Vai ser mais confortável.
- Que tal se você me deixar essa noite sozinho com a Clara e amanhã deixo vocês sozinhos pra conversar?
- Mas eu queria deitar no seu peito sarado.
- Teddy, isso não vai acontecer.
Me levanto rindo, vendo a evolução dos dois nessa amizade.
- Essa noite sou dele e amanhã sou sua. Mas agora preciso que fique de olho nele para eu tomar um banho.
- Certo!
- Já conversou com o pessoal do hotel pra ver se tem quarto?
- Sim, mozão! Vai ficar aqui com a Clara e eu no quarto ao lado ouvindo o sexo nervoso de vocês de saudade.
Sigo para o banheiro rindo e ouvindo os dois brigando.
***************
Tomo um banho rápido, coloco uma camisa e minha calcinha. Respiro fundo ao me encarar no espelho. Observo meu rosto e me comparo a Sra. Silva. Seus olhos me vêm a mente. O traço dos lábios e nariz. Me pego percorrendo com o dedo cada traço do meu rosto parecido com o dela. Minha mãe... Minha família. Respiro fundo e abro a porta do quarto. Encosto nela ao ver Teddy e Fernando na cama conversando animadamente. Teddy esta contando algo empolgado e Fernando sorri.
- Atrapalho?
Os dois me olham.
- Não...
Teddy responde pulando da cama.
- Vou para o meu quarto.
Todo animado me abraça.
- Cuida dele.
- Pode deixar.
- Boa noite, Anjo!
- Boa noite, Teddy! Obrigado por vir.
- Não perderia esse babado por nada.
Me solta e vai até o Fernando.
- Depois termino de te contar, mozão. Agora descansa.
Se inclina sobre ele.
- Nada de fazer besteira, ainda esta dodói. Guarda o mozizim na cueca.
- Mozizim?
- Tipo miniatura do mozão.
Fernando revira os olhos e tenho uma crise de riso.
- Vai dormir, Teddy.
- Estou indo.
Vai até a porta e sorrindo sai do quarto. Fernando me olha, estica o braço e bate na cama ao seu lado.
- Vem!
Ando até ele e percebo que esta sem as calças e os sapatos. Esta apenas de cueca coberto por um lençol.
- Tirou a roupa sozinho?
- Não...
Me sento ao seu lado.
- Teddy tirou pra mim.
- Vocês estão bem íntimos.
Digo rindo e me deito ao seu lado.
- Não sabe de nada. Ele já até me deu banho.
- Mentira?!?!?!
- Temos muitas coisas pra te contar de lá, mas...
Para de falar e ergue o braço. Me deito nele e me acomodo em seu peito.
- Quero agora saber sobre você e o que passou aqui.
Alisa meu cabelo e meu corpo relaxa depois de dias na tensão e angustia. A sensação de ser acolhida e protegida por Fernando, me faz querer chorar. Sem conseguir segurar, solto o choro e ele me aperta mais em seu peito.
- O que foi?
- É tudo tão complicado.
- Me conta.
- Você não ficou abalado em saber que não somos irmãos?
- Não...
Ergo meus olhos e o vejo me encarar.
- Me sinto extremamente feliz em não ter você como irmã.
Ele inclina o rosto.
- Agora você poder ser minha, só minha e sem culpa.
Seus lábios roçam os meus.
- Você ficou abalada?
- Por não ser sua irmã? Não.
Subo minha mão e toco seu rosto.
- Eu quero ser sua. Só sua para sempre.