NARRAÇÃO CLARA
Teddy e Erick juntos é algo que me dá medo.
- Isso não é bom.
- Por que não é bom?
Encaro Fernando.
- Não sabemos se Erick realmente é. Acho que os dois desenvolveram uma amizade, assim como você com Teddy.
- Eu não sou amigo daquele ser estranho.
Olho pra ele com uma sobrancelha erguida.
- Só um pouco.
Cruzo os braços ainda o encarando.
- Certo, sou amigo dele e curto suas loucuras.
- Ai esta! As loucuras dele! Teddy se entrega muito e ainda não sabemos qual é a do Erick.
- Clara, pensa comigo.
Fernando se ajeita na cadeira e pega a minha mão.
- O cara vive grudado no Teddy. Veio de São Paulo de madrugada após um plantão e não foi pra te ver.
Vira a cabeça e olha os dois ainda pegando a comida.
- Ficou no quarto do Teddy, sabendo que poderia ser comido por ele.
Aperta minha mão com carinho.
- Se ele não era, agora é.
- Só espero que dê certo. Teddy quando tem uma decepção amorosa se torna a depressão em pessoa.
- Tudo vai dar certo. Deixe os dois.
Paramos de falar quando eles se sentam com a gente.
- Conta pra gente tudo que descobriu.
Erick pede me olhando.
- Se preparem, a coisa é bem complicada.
***************
Assim que termino de contar, os dois estão calados e assustados.
- Minha nossa senhora dos babados caralhudos.
Teddy solta e Fernando começa a rir.
- Lina é sua cunhada?
Confirmo com a cabeça para Erick.
- Você já conheceu seus pais e seu irmão?
Novamente confirmo com a cabeça pra ele. Teddy segura a mão do Fernando.
- Mozão perdeu a Clara como irmã e ainda descobre que a gêmea dele morreu no parto. Você esta bem? Quer um abraço?
- Estou bem, Teddy! Para de arranjar desculpa pra me abraçar.
- Credo, seu grosso! Só queria te oferecer um abraço amigo.
- Obrigado, mas estou bem! Minha preocupação é Clara.
Todos me olham e respiro fundo.
- Qual o problema, anjo?
- Todos, Teddy! Tenho um amor pelos Ribeiro de pai e mãe, não é fácil esquecer tudo.
- Você não precisa esquecer.
- Eu sei, só que minha mãe perderá duas filhas ao mesmo tempo. Não consigo imaginar o sofrimento dela.
- Entendo!
- Por outro lado tem a família Silva que durante anos conviveram com a dor da perda da filha deles, que na verdade esta viva. Eles merecem depois de tudo descobrir que estou aqui.
- Eu não queria estar no seu lugar.
Erick diz com o olhar triste.
- Mas você não pode simplesmente fingir que não aconteceu a troca. Precisamos de alguma forma fazer tudo isso ser o menos doloroso possível para cada lado dessa história.
- É o que quero tentar fazer. Quero ser de alguma forma uma Ribeiro e ainda uma Silva.
- Dupla identidade.
Teddy diz com um enorme sorriso.
- Em São Paulo Clara Ribeiro e em Holambra Clara Silva.
Todos começam a rir e então Lina surge com sua mãe.
- Parece que seu grupo aumentou.
A Sra. Lombard diz sorrindo e acho estranho. Ela parece não me odiar tanto agora.
- Eles vieram passar um tempo comigo.
Teddy e Erick se apresentam.
- Teddy o amigo.
- Erick o outro amigo.
- Fernando o marido.
Olho para o Fernando sem entender sua apresentação.
- Marido? Não vi aliança na mão de Clara.
- Clara perdeu em uma de nossas viagens e desde então não usamos. Mas logo compraremos novas.
Ainda o estou encarando, sem entender nada.
- Vou lá terminar de organizar a cozinha.
Assim que a Sra. Lombard se afasta, bato nele.
- Por que disse que somos casados?
Fernando me puxa pra ele e me beija.
- Finalmente estamos em um lugar que ninguém sabe que sou seu irmão, mesmo não sendo. Pelo menos aqui eu posso ser seu homem e você minha mulher.
- Vai poder me beijar e andar comigo sem medo.
- Sim...
Beija meu pescoço.
- E outras coisas também.
Sussurra e sinto meu rosto ficar vermelho.
- Ele disse safadeza pra você. Que fofo!
Teddy diz apontando para o meu rosto.
- Não disse!
Tento disfarçar.
- Ele disse que vai te comer sem culpa, né?
Meu rosto queima ainda mais.
- Sabia...
Todos estão rindo da minha cara. Lina vem para o meu lado.
- Quero te fazer um pedido.
Olho pra ela que esta radiante.
- Pede!
Se abaixa ficando quase de joelhos na minha frente.
- Contei para a minha mãe sobre a gravidez.
- Como ela reagiu?
- Ficou muito feliz. Nunca vi ela tão sorridente.
- Que bom!
Ela respira fundo.
- Vamos almoçar na casa dos Silva.
Seus olhos brilham e já sei o pedido.
- Lina...
- Por favor! É só ir como minha amiga de novo. Vai ser uma grande comemoração e vai poder conhecê-los mais um pouco.
Não sei o que dizer ou como fugir desse pedido.
- Leva seu marido.
Lina diz com um enorme sorriso.
- Não apela.
- Será seu primeiro momento com ele, sendo um casal.
Sinto uma mão em meu ombro, sei que é Fernando.
- Quero conhecer sua família.
Fala baixo perto do meu ouvido.
- Não sei como reagir perto deles. E se me der pânico de novo e eu sair correndo como ontem a noite?
- Clara, você correu quando toda a verdade surgiu. Agora você vai sabendo de tudo e poderá apenas ver como é ser um Silva.
Fernando beija meu ombro.
- Estarei ao seu lado.
Respiro fundo.
- Eu vou, mas primeiro quero ler aqueles arquivos. Quero ver se acho algo.
- Certo! Leia os arquivos e meio dia esteja aqui embaixo para irmos.
- Combinado!
Lina segue para a cozinha onde esta a mãe dela.
- Vamos subir e ver os arquivos.
Digo me levantando e ajudando Fernando a levantar.
- Nós queremos ajudar.
Erick e Teddy também se levantam e seguimos para o quarto em silêncio. Um sentimento de medo toma meu corpo. Tenho medo do que posso descobrir nesse arquivo. Entramos no quarto e Fernando segue para sentar na cama. Enquanto pego as pastas, Erick e Teddy seguem para as cadeiras perto da cama. Me sento ao lado de Fernando e entrego a ele a pasta da família Ribeiro.
- Acho que prefere ver a sua primeiro.
Sorri e abre a pasta em suas mãos, enquanto seguro a minha firme.
- O que tem aí?
- Minha mãe deu entrada com fortes dores. Dr. Saulo Lombard iniciou atendimento, mas o parto foi realizado pela Dra. Fátima Hank.
Me olha e respiro fundo.
- Lina disse que ela é a Dra. Fátima Torres. Deve ter casado e pego o nome do marido. Ainda trabalha no hospital.
- Aqui fala de parto de gêmeos com complicação no segundo, mas nada sobre morte. Tem a alta da nossa mãe e a nossa.
Ele me mostra o papel com a assinatura de alta dada pela Dra. Fátima. Com as mãos tremulas abro a minha pasta.
Observo a a******a do atendimento.
- O casal Silva deu entrada após um acidente de carro. Foi o Dr. Saulo Lombard quem atendeu e realizou o parto.
Observo as anotações do parto.
- Aqui consta que o segundo bebê nasceu sem vida.
Olho para Fernando.
- Olha quem relatou isso e assinou.
Ao fim da folha vejo o nome de Fátima.
- Se foi o Dr. Lombard quem realizou o parto, porque ele mesmo não relatou a morte?
- Lina me disse que foi na noite do nosso parto que ele sofreu o acidente e posteriormente morreu.
Ficamos em silêncio até Erick se levantar assustado.
- E se...
Para de falar e balança a cabeça.
- Fala Tomatinho.
Teddy diz se levantando também.
- Nós poderíamos imaginar uma troca comum de maternidade, mas pode ser mais que isso.
- Como assim mais?
- E se essa Fátima trocou você pelo bebê morto para encobrir algo que fez de errado como médica no parto.
- Isso seria loucura demais.
- Fátima fez a troca e o pai da Lina descobriu. Se negou a participar e então ela fez algo a ele que o matou. Tornando esse um segredo apenas dela.
- Não é só dela. A enfermeira Mercedes, ela é a resposta para tudo isso.