Capitulo 1

3005 Words
-Não se preocupe vovó, nós vamos ficar bem. - Disse mais uma vez tentando convencer a minha avó de que ficaríamos.  -Você tem certeza? Sabe que pode continuar morando comigo sem problema algum, eu gosto de ter vocês por perto. - Vovó ainda insiste em me convencer a ficar.  -Não se preocupe Dona Flora, vamos nos cuidar e além do mais a senhora sabe como a Allana é responsável. - Analu interrompeu nossa pequena discussão, dando um abraço na mais velha, para confortá-la, e depois se retirou pegando as coisas para colocar no carro.  -Está bem, eu sei que você quer correr atrás de seu sonho, minha filha, mas por favor não se esqueça de me ligar se qualquer coisa acontecer, principalmente se envolver o traste do seu pai.   -Eu sei vovó, qualquer coisa eu ligo para te avisar, agora precisamos ir, León se despede da vovó meu amor. - Me abaixei perto do pequeno avisando que já estamos de partida.  -Vovó!!! você vai visitar a gente depois né? - O pequeno abraçou nossa avó ficando com a cabeça deitada no ombro da mesma.  -É claro meu anjinho, mas não se esqueça de pedir a sua mãe para virem aqui para me ver também. - Flora falou enquanto acariciava as madeixas da criança.  -Te Amo vovó! - O príncipe disse beijando a bochecha da avó, depois direcionando seu olhar para a irmã que estava em sua frente e imediatamente abraçou os dois.  -Eu te amo vovó, sabe disso, não é? - A neta lhe perguntou enquanto se controlava para não chorar.  -Eu sei querida, se cuida e cuide bem do nosso pequeno. - Entregou o menino nos braços da Allana e lhe deu um beijo na testa.  Saímos para fora da casa e Analu nos aguardava encostada no carro enquanto olhava algo em seu telefone, que ao perceber a aproximação olhou em direção a entrada da casa.  -Vamos? Já está na hora. - Allana se dirigiu a amiga parando em frente ao seu carro, que ganhou da sua avó ao completar 18 anos.  -Sim as coisas já estão tudo aí dentro, você quer que eu dirija? - Analu sugeriu a sua amiga percebendo que a mesma estava ainda abalada pela despedida.  -Por favor, vai ser melhor, vou colocar o León na cadeirinha. - Avisou abrindo a porta de trás e ajeitando o irmão para que ficasse confortável durante a viagem.  -Cuidado vocês duas, e assim que chegarem lá me liguem, senão eu vou morrer de preocupações sem notícias. - Flora avisou as meninas, dando um último beijo em cada uma delas.  -Certo, assim que chegarmos à cidade vou ligar para a senhora… te amo. - Allana disse ao adentrar o automóvel.  -Eu amo vocês! Cuidado!!!- Flora se afastou do veículo ficando na calçada de sua residência.  -Não se preocupa D. Flora vai dar tudo certo. - Analu disse por fim ligando o carro dirigindo em direção a saída da cidade.   Londres aí vamos nós, com esse pensamento Allana começou a fitar a paisagem através do vidro do carro…  Para quem não está entendo nada eu vou explicar, me chamo Allana Antonelli Alencar, tenho 20 anos, vou contar a vocês um pouco sobre meu passado assim vão entender tudo o que está acontecendo.                            *Há 4 anos atrás*  Estava em um parque com minha mãe e meu irmão, estou brincando com León e minha mãe nos observava quando de repente tudo se transformou em uma cena de terror, dois caras que estavam em uma moto desceram com uma arma apontada em nossa direção e começaram a disparar.  -MÃE!!! - Eu gritei para ela, e a mesma notou o que estava acontecendo.  -ALLANA, LEÓN!!! - Minha mãe se aproximou da gente rápido e nos abraçou, atiraram por um tempo, eu estava deitada sobre o chão com o León em meus braços e minha mãe estava sobre nós, quando escutei o arrancar da moto, abri os olhos e vi minha mãe com olhos aberto na minha direção, mas algo estava errado.  -Mãe? Mãe… Mamãe? Por que não está me respondendo? - Olhei para meus braços e percebi que o León estava chorando, sai com cuidado debaixo da minha mãe tirando meu irmão dali também, quando me levantei e olhei para minha mãe percebi a quantidade enorme de sangue nas roupas delas, eu entrei em desespero, virei ela e tentei acordá-la, mas não estava funcionando, ela não respondia. Peguei o bebê no colo para poder acalmá-lo, mas eu mesma estava me segurando para não desabar ali, minha mãe estava morta ali na minha frente, ela morreu protegendo a gente…  Depois de um tempo a ambulância chegou no local, eles socorreram alguns feridos que foram acidentalmente atingidos pelos disparos.  -Vocês estão bem? - Um dos médicos que estavam ali se aproximou de mim  -Não… moço minha mãe… Ela… Ela morreu? - Perguntei não conseguindo conter as lágrimas, o médico começou a olhar minha mãe  -TRAGAM UMA MACA RÁPIDO! - O médico gritou e outros dois chegaram com uma maca, eles a colocaram lá e levaram até a ambulância.  -Eu vou com ela! - Disse subindo no automóvel.  -Mocinha não sei se você pode nos acompanhar…- O enfermeiro começou, mas logo interrompi.  -Se continuar enrolando ela vai morrer!!! - Depois do meu aviso eles não contestaram minha presença e seguimos para o Hospital.    *3 Horas Depois*  Depois que chegamos ao Hospital, levaram minha mãe direto para a cirurgia, como eu ainda não tinha avisado meu pai, liguei para ele contando tudo o que tinha acontecido e logo ele veio para hospital.  Depois de uns 45 minutos precisaram de sangue para a minha mãe, o que seria um enorme problema, minha mãe tem tipo sanguíneo que denominam de “sangue-Dourado” é o tipo de sangue mais raro do mundo apenas uma em cada 6 milhões de pessoas faz parte desse grupo sanguíneo. O que caracteriza o sangue dourado é a ausência total de antígenos Rh nos glóbulos vermelhos do sangue sendo assim o Rh nulo, por sorte no hospital tinham algumas bolsas, seria necessário, mas provavelmente não seria o suficiente. Eu e meu irmão também nascemos com esse tipo sanguíneo o que muitos dizem ser o impossível já que o normal seria apenas um dos filhos nascerem assim, mas tanto eu quanto León temos o tipo raro, mas infelizmente não teve serventia já que o doutor não me deixou doar devido eu ter apenas 15 anos e a quantidade de sangue que minha mãe precisava não seria o bastante.  Quando meu pai chegou o doutor explicou que uma bala se alojou na coluna, a outra pegou em um rim, e a terceira bala no ombro.  Estamos esperando há um bom tempo e eu já não sei mais o que fazer, essa espera me mata…  -Parentes da paciente Flávia Antonelli? - Chamou o médico.  -Aqui Doutor, sou marido dela Augusto Alencar! - Meu pai já ficou de prontidão.  -A cirurgia para retirar a bala do ombro ocorreu tudo bem, e a do rim também teve sucesso, o problema surgiu na retirada da bala alojada na coluna da paciente, ela começou a perder mais sangue, e teve uma parada cardíaca, fizemos o nosso melhor, mas sinto informar que a paciente veio a óbito, eu sinto muito. Com licença. - Sem mais o médico se retirou.  Meu pai ficou estático no lugar, eu nesse momento perdi meu chão… Ela realmente morreu? Ela foi embora, eu não pude me despedir… Meu Deus o León ele nunca vai conhecer nossa mãe, não vai brincar mais com ela…   Depois da morte da mamãe as coisas se complicaram lá em casa, meu pai ficava enfiado dentro do escritório ou passava uns três dias fora de casa, ele só voltou a rotina depois de dois meses após o enterro, e quando voltou para a empresa descobriu que seu sócio deixou um enorme desfalque na renda da empresa, ele conseguiu recuperar o que havia perdido, mas ele não quis me contar como exatamente ele conseguiu o dinheiro.   Em um dia que eu acordei de madrugada com os resmungos do León eu desci para fazer sua mamadeira, e acabei escutando uma conversa que meu pai estava tendo com alguém no celular, eu não iria bisbilhotar, até porque eu tinha que cuidar do pequeno, mas foi inevitável ao ouvir meu nome.  -Então vamos fazer um acordo eu tenho algo que pode ser de seu interesse, minha filha tem quinze anos quando ela completar dezessete você pode vir buscá-la, ela é jovem e pode lhe ser útil, o que me diz? - Meu pai sugeriu e depois se calou por um tempo.  -Te garanto que você não irá se arrepender, ela herdou da minha falecida esposa o famoso sangue dourado, acho que já deve ter ouvido sobre… - Eu não posso acreditar ele está literalmente me vendendo, voltei a prestar atenção  -Uma amostra, meu amigo não tenho motivo para lhe enganar acredite no que digo. - Ele parou de falar, de certo ouvindo resposta do outro.  -Beleza amanhã você receberá uma amostra, negócio fechado! - Ele encerrou a ligação e entrou para dentro do banheiro.  Desci as escadas e fui fazer o leite do meu irmão, estava tão inerte em pensamentos, tentando não acreditar que meu próprio pai seria capaz de fazer uma atrocidade dessa, ele está praticamente me dando para sabe-se lá quem.   Na manhã seguinte meu pai me chamou no escritório, eu já imaginava o que seria, depois do que ouvi na noite passada.  -O que foi pai? - Assim que entrei já perguntei eu e meu pai nos afastamos muito, ele não queria nem olhar para mim por eu ser praticamente a cópia da mamãe.  -Eu chamei o Doutor Marcos para coletar seu sangue. - Ele disse sem rodeios, e sem desviar a atenção do computador.  -Por que disso agora? Eu não estou doente. - Falei ainda em pé ao lado da porta.  -Não é para exames, é para o hospital, para pessoas especiais como você, sua mãe e seu irmão, para que não morram por falta de uma bolsa de sangue. - É sério ele vai mentir assim na cara dura, e ainda usando minha mãe na mentira.  -Você está mentindo, nunca se preocupou com isso não iria começar agora! - Discordei negando com a cabeça.  -Como é? Você ESTÁ ME RESPONDENDO ALLANA! Você vai fazer e ponto! - Ele me olhou furioso, me aproximei da mesa e parei em frente a ele.  -Eu não sou burra pai, sei que essa coleta de sangue é para o senhor vender para aqueles caras, não é?! Eu não vou dar meu sangue para você e nem para ninguém, se a mamãe estivesse aqui sentiria vergonha dessa pessoa que o senhor se tornou!!! - Quero ver que desculpa ele vai usar, e pelo visto minha acusação está correta. Ele se levantou indignado, veio até mim segurou meu braço e me deu um tapa no rosto… Ele… Ele me bateu… eu não acredito.  -Sua mãe morreu! Agora ou você FAZ O QUE EU ESTOU MANDANDO OU EU VOU USAR SEU IRMÃO PARA ISSO! - Olhei incrédula para ele.  -Você não seria capaz! Ele é um bebê! - Afirmei, mas pelo olhar desafiador dele eu entendi que ele faria o que fosse preciso para quitar suas dívidas até arriscar a vida do próprio filho.  -Não teste minha paciência! - Ele disse finalmente me soltando  -Eu faço, mas quero que saiba que esse homem que está na minha frente jamais será digno de ser chamado de pai!!!- Afirmei me sentando na cadeira esperando pela chegada do Marcos, o médico que tem um r**o preso com o Senhor Augusto o ser que um dia foi meu pai.  *10 meses depois*  Os meses se passaram e a cada três meses eu fazia a “doação” de sangue, meu pai ainda me batia as vezes que eu tentava resistir, isso virou um inferno, para meu sangue ser completamente saudável, ele regulou minha alimentação e faz eu ir todo mês na nutricionista. Além de ele estar trazendo uma mulher para passar a noite aqui em casa, realmente eu desconheço essa pessoa que já foi meu pai algum dia.  Eu parei de estudar, era para eu entrar no segundo ano do ensino médio, mas preferi ficar em casa para cuidar do León, eu não confiava no meu pai, o medo de chegar em casa e ele ter dado meu irmão para algum daqueles caras era gigante.  Comecei a planejar minha fuga com meu neném, usei um telefone da rua para contar os acontecimentos para minha avó materna, que disse que me ajudaria a sair de Campo Grande e ir morar com ela em Nova Iguaçu.  León me chama de mãe, às vezes eu me sinto péssima por permitir isso, mas agora a realidade é que eu realmente estou criando-o, é claro não vou deixar que ele esqueça da nossa mãe, mas vou permitir ele dizer que apesar de ter perdido uma mãe ele ainda tem uma ao lado dele.  Durante a semana eu anotei toda a rotina do meu pai, sabendo dos seus horários eu já tinha o dia exato para sair daqui, todas as quartas meu pai saia e só voltava às quatro da manhã, seria perfeito, isso era o que eu pensava até descobrir que ele tinha posto um segurança para me vigiar, o que acabou estragando tudo, e agora eu não posso sair de casa de jeito nenhum, por que meu querido e amado pai colocou um alarme de segurança que só ele e o segurança tem a senha para desativar, meu celular está sendo vigiado 24 horas por ele, ou seja, não posso dar nenhum passo em falso.   Como meu pai passa o dia fora de casa, nesse período eu fico em seu escritório, eu estudo um pouco, e aproveito para checar alguns documentos da empresa, e em um dia desses, eu acabei achando a conta do banco da empresa, era arriscado eu fazer aquilo, mas minha avó tinha criado uma conta para mim e o León, então eu adicionei a nossa conta as que ficam na folha de pagamento de funcionários, tecnicamente não é um roubo se eles estão pagando de livre e espontânea vontade né?!  Tive que mudar meus planos para conseguir sair daqui sem ter problemas com meu pai, para conseguir falar com minha avó eu tinha que ligar do telefone da minha mãe, não você entendeu corretamente o celular da minha mãe, meu pai guardou todas as coisas da minha mãe no sótão, subo lá quando sei que meu pai não vai aparecer do nada, foi assim que consegui passar todas as documentações minhas e do León para ela. Minha avó sugeriu chamar a polícia para meu pai, só que como eu não sei com que tipo de gente ele está metido eu a convenci a deixar essa ideia de lado, e também iria ser óbvio que a denúncia veio de mim, era arriscado demais.  Minha real preocupação era só o neném ele estava bem enjoadinho esses dias, dando febre e as vezes era uma luta fazê-lo comer, tentei convencer o doador de esperma a levá-lo no médico, porém ele se negou, achando que eu estava armando isso para poder fugir, só que eu realmente estava preocupada com a saúde do pequeno. Depois de umas semanas dando antibióticos e vitaminas para o León ele pareceu melhorar um pouco, mas ele continua bem manhosinho. Na mesma semana o Dr. Marcos apareceu aqui dizendo que meu pai o mandou dar uma olhada no meu pequeno, e pelo que ele diagnosticou, o León está sentindo falta da nossa mãe, mesmo que ele não tivesse tido tanto contato ele sente, então a recomendação foi eu passar o máximo de tempo o distraindo tentando o animar para que ele pudesse melhorar.   Depois da melhora do León, meu pai cismou que o León é fruto de uma traição, sem condição, ele realmente está insinuando que minha mãe o traiu, agora ele não quer o León por perto, toda vez que o vê ele surta e quebra alguma coisa, só não encostou no bebê porque eu o ameacei, um dia ele chegou a dar um tapa no meu pequeno eu peguei a primeira faca que vi na minha frente.  Flashback on  -Se você tocar nele de novo eu juro que mato! - Falei enquanto segurava a faca firme em minha mão pressionando no meu pulso.  -Você não é tão corajosa, eu duvido que faça alguma coisa, é como sua mãe uma covarde e fraca. - Ele disse enquanto segurava forte o braço do León.   -Você não tem moral para falar da minha mãe!!! LARGA O LEÓN AGORA! -Gritei já perdendo a paciência.  -León é meu filho, e como pai estou o corrigindo, você me deve respeito garota, esqueceu que quem te sustenta sou eu. - Ele pronunciou e largou o braço do menor o fazendo cair choramingando, olhando nos olhos dele eu apenas fiz o corte, passei a faca o encarando e logo meu sangue começou a pingar no cão.  -GAROTA i****a!!! - Ele veio até mim apertando meu braço e depois enrolou um pano para impedir o sangramento.  Flashback off  Depois daquele dia ele nunca mais chegou perto do meu irmão, e eu fico agradecida por isso. Porque dessa vez não seria eu a sangrar, sem dúvida alguma eu iria matar qualquer um que ousasse a machucar meu pequeno guerreiro, e meu pai deve saber disso já que não teve a ousadia de me desafiar outra vez.  Eu vou lutar por ele até o fim e por ele eu vou tirar nos dois daqui para que ele possa crescer mais feliz, minha mãe não está aqui, mas eu irei fazer por ele tudo o que ela um dia fez para mim e não teve a oportunidade de fazer pelo príncipe, infelizmente meu pai não vai fazer parte da vida dele, não quero que ele cresça e ache que é normal esse tipo de situação. E com esse pensamento que decidi ir para o exterior, quanto mais longe melhor. 
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD