Caroline Matolly Narrando
- Fiquei bem apreensiva olhando a reportagem, não queria que fosse desse jeito, mas não tem o que eu possa fazer. O Antônio escolheu isso, era só ele me deixar em paz e seguir sua vida, já que eu disse que não estou aqui contra minha vontade. É muito r**m você ter a vida inteira uma percepção sobre uma pessoa e ela nunca foi aquilo que você achava. Dói na alma ter que lidar com isso, ele era tudo pra mim, meu exemplo de força, determinação e persistência. Sei também que é difícil pra ele lidar com tudo isso, não era essa a vida que ele quis pra mim. Mas e o que eu quero pra mim, não importa? Não tinha necessidade dessa guerra, muitas pessoas morreram por minha culpa, pra ele me tirar de um lugar que eu não quero sair.
- Não sei nem como vou olhar para as pessoas no Alemão, eles vão me culpar por isso e eu realmente tenho culpa. Pessoas morreram por minha causa, eu tinha que ter descido, não tinha que ter vindo pra cá. A merda que é a minha vida não pode respingar nas pessoas, fiquei perdida nesses pensamentos e o choro veio com tudo, um choro que estava entalado na garganta, um choro de desespero mesmo, chorava de me tremer e a ansiedade me acertou em cheio. Não conseguia me controlar, estava chorando de soluçar e as meninas tentando me acalmar, mas era impossível.
- Só Deus e eu sabemos o que eu estava sentindo, não tenho cara para olhar para as pessoas. Eu fui o motivo dessa guerra e dessas mortes, as pessoas devem estar me odiando, até mesmo familiares dos policiais, eles entraram nessa invasão por culpa do meu pai. É horrível pensar dessa forma, mas é a mais pura verdade.
- Chorei tanto de soluçar, até que peguei no sono, um sono atribulado, perturbador. Toda hora acordava assustada e dormia novamente. As meninas, visivelmente preocupadas comigo, eu não posso colocar mais ninguém em risco. O Antônio não vai me deixar em paz, até ele conseguir o que quer, ele vai matar o Diego e eu não vou conseguir resistir a isso. Prefiro morrer do que viver em um mundo do qual ele não existe. Quero ele vivo e sem riscos, nem que pra isso eu precise ficar longe dele, mesmo de longe sabendo que ele está bem, pra mim é o suficiente.
- Eu sou uma mulher que vai trazer muitos problemas pra vida dele, não tem o que ser feito. Não escolhi ser filha do Antônio, mas sou e isso não pode mudar. Estou determinada a fazer o que precisa ser feito, ele vai ficar bem, eu sei que vai. Ele é forte, já passou por muitas coisas e superou, vai me superar também. Mesmo que isso me deixe destruída por dentro, prefiro que seja assim. Nunca nessa vida eu vou deixar de amar ele, esse amor vai comigo pra onde quer que eu vá. E no final das contas, amar é isso. É cuidar e zelar pela pessoa que você ama, tirar ela dos riscos. Mesmo que ele não entenda agora e nunca me perdoe por isso, essa é a maior prova do meu amor por ele, abrir mão de nós pra ele viver em paz.
- Não consegui parar de chorar e não falei pra ninguém sobre essa decisão, vou conversar com ele e dizer o que vou fazer, me despedir e ir embora, mas meu coração sempre estará com ele. Ele vai ficar bem, até porque preciso disso pra ficar também. Mesmo que a minha vida sem ele não faça sentido, sinto que essa é a decisão correta a se tomar.
- Luana e Roberta vieram até mim dizer que o Chefin já estava nos esperando. Levantei devagar e me despedi dela.
Caroline: Obrigada por tudo, Roberta. Você é um ser de muita luz e eu serei eternamente grata a vocês por tudo.
Roberta: Não precisa agradecer, vocês ganharam uma amiga pro resto da vida. E Caroline, eu sei exatamente o que você está pensando e sentindo, não tome nenhuma atitude precipitada, não se anule por isso, a sua felicidade também importa, você merece ser feliz.
Caroline: Obrigada por isso, você é muito especial. - Disse e abracei ela, chorei por um momento, me despedi e fomos pra fora da casa, entrando no carro.
- Luana seguiu em silêncio, ela me conhece bem. Sabe quando não quero falar, passou alguns minutos e já chegamos no Alemão, a comunidade com o seu semblante triste, coisa que eu nunca vi. Aquela alegria que contagia, as pessoas conversando na rua alto, o som nas casas dos moradores, barulho das crianças correndo pela rua, não tinha nada disso. Um frio percorreu pelo meu corpo, me deixando cada vez mais tensa e triste.
- Chefin estacionou o carro na entrada da casa, entramos e o Diego já veio até a gente me abraçando apertado, vi que ele estava machucado e eu segurei o choro. Abracei ele tanto, apertei tanto que meu mundo parou ali, ir embora desses abraços vai ser a coisa mais difícil que eu vou fazer, em toda a minha existência. Não consegui me controlar e chorei apertando ele.
Digão: Calma morena, tá tudo bem. Qual foi, você está muito nervosa. Vamos na cozinha pra você tomar uma água. - Disse me levando pra cozinha.
Caroline: Precisamos conversar. - Falei tomando água pausadamente.
Digão: Vamos lá em cima. - Falou me puxando e gritando pra Luana que a gente já voltava.