Enquanto Ryan mergulhava cada vez mais fundo em seu aprendizado e se tornava um verdadeiro Deus da luxúria, Liz encontrava momentos de tranquilidade nos intervalos das aulas sob uma árvore frondosa nos jardins do convento. No entanto, mesmo nesses momentos de paz, os olhos cinzentos ainda a perseguiam todas as vezes que ela fechava os olhos. E naquele dia, ela decidiu deixar as lembranças fluírem, como se assistisse a um filme do passado.
Dessa vez, Liz se viu como uma garotinha extremamente mimada, cercada pelo luxo e pelas extravagâncias que seu pai e irmãos mais velhos lhe proporcionavam. No entanto, as outras crianças da máfia, nas inúmeras reuniões e eventos que a família frequentava em um sítio nos arredores de Nova York, a evitavam e faziam chacota dela. A chamavam de "cabelo de fogo", uma referência aos seus cabelos ruivos.
No cenário daquele evento luxuoso, o lugar era deslumbrante. Liz, uma garotinha de apenas seis anos na época, estava sentada, lágrimas escorrendo pelo rosto, enquanto as outras crianças tiravam sarro dela, zombando de sua aparência e de sua forma de agir. O ambiente festivo contrastava com a solidão e o sofrimento que ela sentia naquele momento.
Foi então que ela o viu pela primeira vez. Ele tinha dezesseis anos, a mesma idade que ela tem agora, e já era tão profundo quanto um oceano e extremamente bonito. Ryan, com seus cabelos lisos e negros que caíam rebeldes sobre a testa, possuía olhos cinzentos profundos e misteriosos. Seu sorriso era sarcástico, como se ele já soubesse de todos os segredos do mundo.
Naquele instante, naquela festa que misturava riqueza e corrupção, Liz sentiu uma conexão inexplicável com Ryan. Ele parecia estar distante, envolto em seu próprio mundo, mas seus olhos cinzentos encontraram os dela em meio à multidão. Uma troca de olhares fugaz, mas que deixou uma marca profunda na jovem Liz.
Enquanto suas lembranças fluíam, Liz percebeu que aquela conexão para ela existia desde criança. Era como se o destino tivesse traçado um caminho para que eles se encontrassem, em circunstâncias diversas a partir dali. Ela se perguntou se Ryan também se lembrava daquela época, da garotinha chamada "cabelo de fogo" que ele encontrara no meio da máfia.
Liz permaneceu sentada sob a árvore frondosa, as lembranças do passado ecoando em sua mente, enquanto a vida no convento seguia seu curso, repleta de mistérios e segredos que ela ainda estava começando a desvendar.
Naquela época, Ryan se aproximou de Liz, sua curiosidade sendo despertada ao vê-la chorando. Com gentileza, ele perguntou:
"Por que você está chorando?" Seus olhos cinzentos se fixaram nos dela, mostrando uma profundidade que ia além de seus anos.
Liz, fungando e com os olhos marejados, respondeu:
"Eles estão rindo da cor do meu cabelo." Com um dedo trêmulo, ela apontou para as outras crianças, que antes estavam zombando dela.
Ryan encarou as outras crianças, e por um breve momento, seu olhar se estreitou, expressando toda a escuridão que ele já carregava dentro dele. As crianças pararam de rir imediatamente, uma delas chegou a gritar "escória," e todas saíram correndo, temendo a reação de Ryan.
Ele então se sentou ao lado de Liz e disse com sabedoria além de seus anos:
"Você não pode deixar eles te afetarem, ou vão destruí-la, e você é uma garotinha bonita."
Liz, com um certo descontentamento, questionou:
"Então, somos namorados agora?"
Ryan soltou uma risada sincera e respondeu:
"Estou mais para seu irmão mais velho."
Liz fez um bico e repetiu:
Irmão?"
Ryan explicou com um sorriso gentil:
"Sim, não dizem que a máfia é uma família? Então, sou seu irmão. Além disso, quando você crescer, poderá escolher a cor dos seus cabelos."
Enquanto Ryan se levantava para sair, ele acrescentou:
"Mas eu gosto dessa cor."
No entanto, antes dele se afastar completamente, Liz se levantou e gritou:
"Irmão, Ryan, irmão Ryan!" Ela o encarou com um sorriso radiante e afirmou: "Quando eu crescer, vou casar com você."
Naquele momento, sob o céu estrelado e o murmúrio da festa distante, um vínculo especial havia sido formado entre Liz e Ryan, para ele um vínculo de amizade com a garotinha estranha de olhos lindos e cabelos lindos, para ela porém ia muito além disso, e aquela fala para ela mesmo com o passar dos anos e a distância, permaneceria como uma promessa feita entre duas almas destinadas a se reencontrar.
Liz agora se lembrava claramente da primeira vez que seu pai lhe disse "não". A cena se desenrolava em sua mente como um quadro vívido do passado.
Era durante um jantar de gala, com Liz, seu pai, sua madrasta e seus irmãos sentados em um lugar de destaque na mesa principal. No entanto, Ryan estava em uma mesa afastada, acompanhado por um jovem mais velho que parecia ser seu irmão e um homem que Liz percebeu ser o pai deles. A garotinha estava animada com o evento e, em um ato inusitado, disse em voz alta:
"Papai, já sei com quem quero casar!"
A fala inesperada chamou a atenção de todos ao redor. Seu pai riu e brincou:
"Sério? Querida, com qual herdeiro poderoso você vai casar?"
Liz, sem hesitar, se levantou e apontou para Ryan, que naquele momento estava absorto em uma conversa com seu irmão mais velho, que era como um herói para ele.
Todos na mesa de Ryan olharam surpresos para Liz. Naquela época, a garotinha não compreendeu completamente o quão tenso e humilhante aquele momento havia sido para Ryan e sua família. Mas agora, ela percebia a magnitude da situação.
Seu pai ficou roxo de raiva e constrangimento e disse, com veemência:
"Não, querida, não com ele."
Liz, que nunca tinha ouvido um "não" de seu pai na vida, fez o que toda criança mimada faria. Ela se jogou no chão e começou a berrar, lágrimas escorrendo por seu rosto.
Seu pai, envergonhado e constrangido pela cena, cedeu à pressão e gritou:
"Ei, Parker! Escória! Traga esse seu filho mais novo aqui."
O pai de Ryan o olhou preocupado, seus olhos transmitindo um aviso silencioso para que Ryan ignorasse a humilhação. No entanto, o irmão mais velho de Ryan imediatamente se interpôs entre o pai e o irmão e disse com firmeza:
"Ele não precisa ir. Os Travolos que têm que ensinar a filha deles a se comportar."
A tensão entre o pai e o irmão de Ryan era palpável, e Ryan, segurando o braço do irmão, decidiu intervir e disse com calma:
"Tudo bem, eu vou."