Recapitulando 2

2239 Words
Eu enchi meu peito de expectativa, tinha esperança. Sei lá… o vínculo já tinha, só precisava fazer ele se apaixonar. Quem me dera fosse fácil assim… Agora, na minha frente havia um Alpha, um tirano Alpha. Ele rosnava, fechava os punhos, me olhava de cima para baixo e bufava de ódio. — Você não… — sorri fraco, vendo ele franzir o cenho e endurecer o semblante — Imagino que você fez alguma coisa… O alpha grandão… O sabe tudo… — ele parou de rosnar e eu dei uma piscadinha — Me tira dos panos, vai… A gente se ajeita depois. — NÃO ME SEDUZA, DIVINDADE! — berrou, ele socou o chão ao meu lado, eu gritei de susto e o racho estremeceu a estrutura, provavelmente causando algum prejuízo para o vizinho de baixo. — Ah, tá bom. Vou seduzir mais não... — olhei pro racho, olhei pro seu semblante sério e senti um nervoso. Eu estava feliz por ver ele, sentia uma parte de mim completa, uma euforia, mas as coisas estavam fora de lugar. Se ele está esse tempo todo sem mim, algo deu errado do lado de lá e eu via, via o dourado de seus olhos duros e odiosos. — O que você sugere? — tentei, mas a ideia de desfazer o vínculo estava fora de cogitação. Já me sacrifiquei uma vez, não vou jogar minha segunda chance no cü de ninguém. Sim, eu sou egoísta e não faço parte do “não me deito pra macho”, pra esse já dei até o toba… — Nem mesmo a morte rompe o fio do destino, por isso se vai os dois. Ele tinha os punhos fechados, olhava para meu rosto enquanto eu ainda estava deitada e amarrada, pareceu pensar e puxou os punhos. Apoiado nos calcanhares, ele se moveu, eu dei uma espiada na a******a das saias, olhei para baixo e vi o saco grande. Levantei as sobrancelhas com a minha melhor cara de sem vergonha, e vi que a trombeta do paraíso estava dependurada e grossa, tomando vento na cabeça. — Iniba seu cheiro! — rosnou, enfureceu-se, segurou meu pescoço, montando em cima de mim e apertando o polegar no meio do osso, abaixo do queixo — Iniba suas tentações sobre mim, agora! — Então ele estava com vontade, mas estava me culpando. — Tá, só tira a mão do pescocinho que eu tenho t***o no “Christian Dog”... — ele puxou as mãos, eu busquei o ar e pisquei aturdida. Ele estava se controlando, a ferro e fogo, disposto a me odiar ao invés de ceder. Seja lá o que houve do outro lado, apagou os vestígios do animal desejoso que tinha… — Pode começar me soltando? — pedi, respirando assustada. Ele não pode me matar, mas pode me machucar, se vingando de algo que eu não sei o que é. — Vamos, me solta. E sai de cima de mim. Diferente do que você acha, não prendi você em feitiço algum. As mesmas vontades que você tem eu também sinto, e você está perto demais. Malekith manejou a espada pelo cabo, roçou a ponta entre meus pulsos, depois repetiu o movimento à beira de meus pés, manteve distância e eu fiz uma negativa, pensando no tamanho da enrascada em que eu me meti. Certo, o tamanho valia a pena, mas a situação… Ele tinha a espada apontada para mim e só então notei um detalhe, ele estava sem o colar. O colar com uma cabeça de lobo e alguns caninos pendurados que ele sempre tinha ao pescoço, estava ausente, com o tronco nu e eu limpei as mãos quando consegui me colocar de pé. — O que houve com o seu colar? — perguntei curiosa e ele manteve o passo cuidadoso, passou a espada para outra mão e afinou os olhos — Jura que você está se preparando para um contra ataque? — A divindade deseja saber porque me abstive de meu monstro? Porque minha fraqueza lhe interessa? — Não, eu perguntei do colar. E você não está sem o seu monstro, você morre se não puder mais ser lobo. Ou isso mudou? — És uma divindade, não irás me enganar com suas artimanhas! Sabes muito bem o que fez comigo! — ele deu um passo adiante, segurou meu pescoço de novo, mas não fechou as mãos, apenas manteve a espada em riste e uma fúria inexplicável no olhar — Agora faça, retire seu poder sobre mim! Livre-me de sua maldição! Aquilo me doeu. Malekith, realmente, estava furioso e disposto a se livrar de mim. Por eu não ter ido para o outro lado, o fio do destino deve ter se tornado algo horrível, já que não se vive sem a sua metade. Nem posso julgá-lo, estava sendo horrível pra mim também, mas o que eu ia fazer? Não dá para desfazer isso e, sinceramente, eu não queria perdê-lo de novo. — Não posso. — contei — Sabe que nem mesmo os Deuses rompe este vínculo. Ele cerrou os dentes, instigou os dedos e eu desviei o olhar, porque precisava entender essa ânsia de querer me destruir ao invés de me amar, sem que isso me ferisse. Paciência… — Minha passagem se fecha ao nascer do Grande Pai, e quando este se tornar forte, serei condenado ao desconhecido. — contou — Se não pode desfazer o vínculo, eu o descobrirei de um outro modo. Até lá, será minha prisioneira. Viverá o maldito carcere da angustia e quem sabe o sofrimento não lhe ensine algo, como não submeter um Alpha ao maldito sofrimento eterno, por puro desejo! — Eu não te condenei a isso! — contestei — E você não vai me prender de novo, vai? O que está pensando em fazer?! Sem aviso, ele guardou a espada acoplada nas costas, me puxou para si e ergueu meu peso sobre seus ombros. Eu pensei em contestar, mas acho que ele ia dar um jeito de ir embora, sendo assim, voltaríamos para ilha. É claro que essa versão dele estava dizendo que eu devia manter meus alertas ligados, ele me culpava por algo e eu não fazia ideia do que podia ser. Ele é um lobo, os efeitos de sua falta em mim foi um enorme vazio, mas em um lobo… quais as consequências? Me carregando, como se eu nada pesasse, Malekith segurou minhas pernas enquanto eu estava dependurada com o dorso dobrado e a visão próxima ao seu traseiro. O cheiro de suor e terra era o mesmo, mas a sensação de perigo era muito maior. Vi os rastros do meu apartamento ficar para trás, vi ele procurar as saídas de emergência e ao invés de descer, começou a subir. — O que vai fazer? — perguntei, com os cabelos para baixo. Malekith subiu, não me respondeu até chegar à porta de acesso ao terraço. Quando a abriu, se deparou com dois homens que estavam sentados à beira do edifício, ambos em suas cadeiras e bebendo umas cervejas. Os dois nos viram, eu me preocupei, porque eles podiam pensar m*l daquilo e não iam dar conta de Malekith. — Ei, grandão! O que está fazendo com a moça? — perguntou o mais barrigudo. Malekith não respondeu, apenas me soltou no chão e se não fosse minhas mãos, eu teria batido a cabeça. Olhei para ele, vi o grandão rosnar enquanto um rapaz recuou, mas o mais bêbado estava com coragem e resolveu investir. — Deixe a moça em paz, desça ou vamos chamar a polícia! — o homem partiu pra cima, Malekith imediatamente tirou a espada e apontou para o homem, que começou a rir e olhar para trás, instigando o amigo a rir também. — Ei, está tudo bem! Não precisa disso! — tentei. — Não, não está. — o mais bêbado pegou coragem e levantou o queixo — Deixe a moça em paz, dê meia volta palerma de espeto! O que vai fazer com isto, um churrasco? Malekith manejou a espada, num movimento preciso a girou com maestria, empunhou-a com um só golpe certeiro e sem que o homem desse conta, o filete do metal atravessou o pescoço tão rápido quanto a agilidade do Alpha, enquanto ao final do golpe, ele já tinha o aço transpassado pelo peito do outro. Com os olhos cheios de raiva, ele abriu a palma da mão, encostou na ponta do cabo e empurrou o aço, findando a morte do oponente. Quando puxou o objeto mortal, esta tinha o corte banhado em sangue e dois mortos no chão. Havia uma sombra n***a em seus olhos, um ar perigoso e movimentos mortais em cada passo que deu em minha direção; e com ódio segurou em meus cabelos, eu gemi com a dor que senti e o vi levantar a espada, mirando para lua. O sangue banhado no metal iluminou, eu olhei para cima e segurei em seu pulso, vendo ele murmurar baixo palavras que eu desconhecia. Senti o ar pesar, o vento soprar e quando olhei pro chão, marcas demarcando um círculo começaram a surgir; e no segundo seguinte, o raio desceu. Os músculos do alpha tencionaram, ele manteve a espada em riste e suportou a força do raio, trazendo-o consigo, envolvendo seu corpo e me fazendo sentir uma dor aguda quando a carga me tomou. Gritei, pisquei devagar e quando abri os olhos, estava caindo sobre um chão frio de pedras cinzas, rolando como se tivesse sido tacada. — Arghh….! — gemi, cerrei os dentes e senti que até meu rosto ralou no chão de pedregulho. Senti a cabeça doer, apoiei a palma das mãos no chão e levantei o rosto devagar. Malekith respirava com dificuldade, tinha os ombros fumaçados e apontou a espada para chão, caindo devagar, segurando-se com os joelhos. Havia um amontoado de pessoas, todos coberto por capas negras, em volta a um círculo de velas douradas, no qual eu acho que baguncei quando rolei. Taurum, um dos homens debaixo da capa, foi ao encontro de Malekith, onde ele recusou ajuda para se levantar. Eu estava na fortaleza e, provavelmente, aquelas pessoas foi quem o ajudou a invocar a magia que atravessava os mundos. Pisquei, engoli com dificuldade e notei que estávamos na fortaleza de pedras, no castelo do alpha e de volta à ilha, mas tinha algo de diferente. Com dificuldade, tentei me levantar, senti dores no corpo e observei ao redor. O beiral baixo da mureta de proteção permitia ter a visão extensa da ilha… Ela parece maior, menos verde e o mar estava mais longe. Tinha algo de errado… — Precisamos ir, antes que nos descubram! — gritou Taurum, mas um uivo soou ao longe e os alertas de perigo surgiram em seu semblante. — O que? Mas aqui é sua fortaleza! É o coração da ilha, o lar do Alpha, não é? — questionei, sem entender. — Já faz muito tempo que não… — contou um dos homens abaixando o capuz, enquanto um lobo gigantesco surgia ao final do corredor — Protejam o Alpha, não o permitam que invoquem o lobo, não queremos que ele nos mate! Malekith lambeu os lábios, puxou a espada e se colocou na frente do lobo, antes que ele os alcançasse. E foi de encontro a boca gigante, teve a espada travada pelos dentes do canino, iniciou um combate e tentou manter a frente. Enquanto alguns se colocavam a postos, mais lobos surgiram. — Tirem a fêmea daqui! Ela pode ser nossa única salvação! — ordenou Taurum, puxando sua espada — E se o Alpha invocar o seu monstro, corram, para o mais longe que puder! Vi com susto mais lobos subindo a entrada e quando os dois lados do alto do castelo estavam fechados, meu corpo foi puxado por alguém que se lançou ladeira abaixo. Saltei pelos muros agarrada num par de braços que não tinha medo de altura, nem de quedas. Eu gritei, vi um lobo gigante se aproximar o suficiente para instigar um bote com os dentes cheios de baba e raiva, enquanto simplesmente caia precipício abaixo. Quando o chão estava perto, o homem caiu no chão como um lobo, usando seu corpo para me poupar da queda; e quando cai no chão, havia mais deles. Olhos cinzas, brancos e vermelhos por todo o lado, rosnando, enquanto alguns lobos entravam em combate. Uma cena horrível para um povo que vivia em festas… Sem nem pensar duas vezes, respirei fundo, não olhei para trás e me agarrei a pelagem do lobo amarronzado, impulsionei meu corpo e subi as suas costas. Ele olhou para trás, viu eu me acomodar e eu sorri. — Vai. Eu sei como posso ajudar, então não me deixa morrer. — segurei na pelagem sobre o pescoço e o lobo passou a correr, onde notei com desgosto a perseguição mata adentro. A ilha estava tomada por inimigos, Malekith não estava mais no poder e isto era r**m. Eu só precisava rezar para que ele conseguisse sair ileso de lá de cima, porque eu acreditava que essa era nossa chance, nossa real chance de finalmente vingar nossa vida. “Não haverá mundo capaz de me separar de você, Malekiht”, pensei. Senti o vento bater em meus rosto e pedi que ele sentisse a mesma fé que eu. Porque eu estava disposta e eu vou conseguir! Vou fazer valer a pena tudo o que ele fez para não me esquecer. Por nós, por Zeus e por Vênus.
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