O regresso ao penthouse com Aurora sã e salva não trouxe alívio; trouxe uma quietude gélida. O silêncio no centro do seu império era mais ameaçador do que qualquer alarme. Seraphina e Julian estavam lado a lado, o seu foco não estava no trauma, mas na falha sistémica que permitira o ataque.
Aurora estava na Suíte Oeste, sob vigilância silenciosa. Apesar da exaustão e do sedativo remanescente, a sua mente estava a trabalhar. Seraphina encontrou a menina sentada no chão, as suas pequenas mãos a segurar um kit de ferramentas, enquanto desmantelava o seu robot tutor.
— Mãe, a vulnerabilidade não estava no hardware. Estava no software de terceiros. Havia um backdoor no módulo de comunicação sem fio, que qualquer um pode usar se souber onde procurar — Aurora explicou, a sua voz calma e factual, desprovida de qualquer medo visível.
A frieza da filha era um espelho da sua própria. Seraphina sentiu o medo a apertar-lhe o peito. A sua filha não chorava; estava a otimizar a sua segurança.
— Você tem razão. E nós vamos corrigir essa falha — Seraphina respondeu, o seu olhar de relance para o home office, onde Julian estava ao telefone.
Julian Kaine, o predador, havia retornado ao seu estado mais puro e perigoso. Ele estava a dar ordens que não visavam a recuperação de bens, mas a aniquilação total. O alvo era Titan Fuels, e a sua intenção era apagar a sua existência.
A retaliação foi uma obra-prima de guerra total, orquestrada por duas mentes que haviam transformado a vingança numa arte sombria. Julian usou o capital da Kaine Industries para esmagar Titan Fuels através de ataques coordenados de vendas a descoberto e manipulação de crédito. O efeito dominó foi imediato; as ações caíram em espiral, e em menos de 48 horas, a empresa estava em colapso.
Simultaneamente, Seraphina mobilizou os seus contactos no Égide. A sua vingança era mais cirúrgica e letal. Ela lançou uma investigação sobre as práticas ambientais e fiscais de Titan Fuels, garantindo que as autoridades federais e reguladoras convergissem sobre o CEO e toda a sua administração. Enquanto Julian os destruía financeiramente, Seraphina garantia que o seu líder fosse despojado da sua liberdade.
O golpe de misericórdia veio com a informação. Seraphina vazou, de forma estratégica, a história de que Titan Fuels havia orquestrado o sequestro de uma criança de sete anos para impedir o avanço da energia limpa. A repulsa pública foi instantânea e global. O preço da sua ambição era a morte na praça pública.
Ao final do terceiro dia, Titan Fuels era insolvente. Julian garantiu a aquisição de todos os seus ativos valiosos através de subsidiárias anónimas, e o CEO que havia dado a ordem do sequestro foi preso, enfrentando acusações federais. Seraphina e Julian não deixaram vestígios da empresa, enviando uma mensagem clara a Wall Street: qualquer ameaça ao legado seria extinta.
Seraphina sentou-se ao lado de Aurora, observando-a reescrever o código do seu robô. Ela sabia que a sua filha não precisava de palavras de conforto; precisava de ver a estrutura restaurada. O trauma não a havia feito recuar; tinha-a levado a otimizar.
No entanto, o seu instinto maternal lutava contra a lógica. Seraphina pegou nas pequenas mãos de Aurora, impedindo-a de trabalhar.
— Aurora, você não pode eliminar toda a vulnerabilidade. É impossível.
— Mas posso minimizar o risco para um défice aceitável — retrucou Aurora. — O Pai ensinou-me isso.
Seraphina sentiu que tinha que intervir. Ela tinha que injetar no intelecto da filha a parte que faltava.
— E eu vou ensiná-la a ter fé no sistema de backup, Aurora. O seu sistema de backup somos nós. Você nos avisou, e nós a resgatámos. O poder mais seguro não é aquele que se esconde, mas aquele que confia.
O abraço de Seraphina era a sua própria forma de aceitação emocional. A partir daquele momento, a sua missão não era apenas ensinar o controlo; era ensinar a confiança no seu escudo.
Neste ínterim, o Dr. Elian Vance, o génio caótico, finalmente sentiu o peso do seu novo empregador. Ele irrompeu no home office, furioso, o seu cabelo despenteado e os seus olhos selvagens.
— Você eliminou o meu fornecedor de equipamento, Sra. Kaine! Não se pode fazer ciência sem materiais! Onde está a minha proteção contra a burocracia?
— Eles tentaram sequestrar a minha filha, Doutor Vance. — Seraphina não se moveu da sua secretária, a sua voz era um chicote. — Eu não negocio com extorsionários. Eu os elimino. E o seu novo fornecedor de equipamento será um monopólio sob o nosso controlo, com preços fixos. Agora, volte para o laboratório e nos dê a fusão.
Vance recuou, a sua fúria a desvanecer-se em espanto. Ele olhou para Seraphina e Julian, compreendendo pela primeira vez que o seu poder não era apenas financeiro; era absoluto e moralmente ambíguo.
Naquela noite, sob o céu estrelado artificial do penthouse, Julian acendeu um charuto. Ele e Seraphina estavam na varanda, a cidade espalhada diante deles.
— Foi a nossa falha — Julian admitiu, o fumo a dispersar-se na brisa. — A nossa confiança no controlo total.
— Não foi uma falha no controlo — Seraphina sussurrou, encostando a cabeça no seu ombro. — Foi uma falha na humanidade. Nós subestimamos a maldade que a nossa ambição inspira.
Julian apertou-a contra si, a sua força a tremer pela emoção contida.
— E é por isso que vamos acelerar o Projeto Égide Kaine. Não podemos apenas defender-nos. Temos que criar um mundo onde a energia limpa e a nossa filha sejam a norma, e a corrupção seja a exceção.
O casamento deles, forjado na vingança, havia sido temperado no fogo da proteção. A sua aliança não era mais sobre contratos ou ações; era um pacto de sangue selado pela determinação de proteger a sua criação. Eles eram o escudo e a espada de uma nova era, e o mundo estava prestes a sentir o peso total do seu poder conjugado.
A Guerra Fria do Legado estava prestes a começar, e a única forma de Seraphina e Julian se sentirem seguros era tornando-se a força dominante e incontestável do planeta. O tempo de se defender havia terminado. O tempo de expandir havia chegado.