Os primeiros dois anos após o nascimento de Aurora foram uma prova da capacidade de Seraphina e Julian Kaine de fundir a biologia com a estratégia corporativa. O nascimento não havia tornado o casal mais suave; tinha-o tornado exponencialmente mais focado e mais impenetrável.
Aurora Kaine era o centro do universo, e o penthouse era o seu bunker de alta tecnologia. A sua segurança era uma operação militar. Julian estabeleceu um buffer de proteção que impedia qualquer pessoa, exceto a sua equipa médica e a sua educadora (uma neurologista pediátrica), de se aproximar da bebé. A sua obsessão pela segurança era o seu ato de amor mais palpável.
Seraphina, depois de um breve e obrigatório período de licença de maternidade, regressou ao home office com uma fúria renovada. A sua mente, alimentada pela responsabilidade da maternidade, estava mais clara e mais implacável do que nunca.
A CEO e a Mãe
A maior luta de Seraphina era manter a sua identidade de CEO intacta, enquanto o seu corpo e o seu schedule exigiam a maternidade. Ela geria reuniões de crise com Aurora no colo, a sua calma autoridade a desmentir o pequeno ser que se agitava no seu peito. O mundo dos negócios assistia, fascinado.
Uma tarde, Seraphina estava a fechar o acordo de aquisição de um fornecedor de terras raras, uma jogada essencial para o Projeto Égide Kaine. A negociação estava no auge, e o advogado rival tentava usar a sua condição como uma alavanca.
— Com todo o respeito, Sra. Kaine, a sua schedule pode estar um pouco... ocupada. Não seria melhor o Sr. Kaine assumir a finalização deste contrato?
Seraphina olhou para o ecrã com uma calma mortal. Aurora estava a dormir sobre o seu ombro.
— Se pensa que a minha responsabilidade de nutrir uma nova vida diminui a minha capacidade de calcular o valor, está enganado. O meu foco está mais aguçado do que nunca. Não só calculo o futuro do meu império, como calculo o futuro da minha filha. E o valor da sua empresa acaba de diminuir 10% devido à sua observação paternalista. Aceite os nossos termos ou a reunião termina.
O advogado recuou imediatamente. Seraphina fechou o negócio com um aperto de mão seco, embalando a filha suavemente. Ela não trocou o poder pela maternidade; ela usou a maternidade para reforçar o seu poder.
Julian, observando de sua mesa, acenou com a cabeça em aprovação silenciosa. Ele havia criado um monstro de ambição e agora, ela era imparável.
O Crescimento do Égide Kaine
O Projeto Égide Kaine, a sua promessa de legado, avançava em ritmo acelerado. Seraphina supervisionava a aquisição de terrenos maciços no sudoeste americano para o centro de energia solar, enquanto Julian injetava capital na pesquisa de fusão limpa. A sua parceria de negócios era um espelho da sua parceria na vida: Seraphina a estabelecer a fundação e a estratégia, Julian a fornecer a força implacável e a proteção.
Eles usavam as raras viagens de negócios (sempre com Seraphina e Julian juntos, e Aurora sob estrita vigilância de uma equipa de segurança secundária) para inspecionar o progresso. Estas viagens eram a única forma de Seraphina se sentir realmente livre, a fugir da bolha de Nova York, mesmo que fosse apenas para inspecionar um local de construção no meio do deserto.
Durante uma dessas viagens ao local de construção do centro de pesquisa, Seraphina viu a dimensão do que haviam criado. Milhares de trabalhadores, engenheiros, e cientistas, todos a trabalhar sob o seu nome.
— Isto é mais do que dinheiro, Julian — Seraphina disse, olhando para o horizonte. — É uma força que transcende a nós próprios.
— É a nossa imortalidade, Seraphina — Julian corrigiu, abraçando-a por trás. — E a única razão pela qual é possível é porque você me deu a motivação. A nossa filha.
A Evolução da Paixão
A paixão entre eles amadureceu, movida pelo respeito mútuo e pelo novo foco na criação de Aurora. O sexo não era mais o campo de batalha da sua vingança, mas uma reafirmação da sua unidade.
Numa noite, Julian observou Seraphina enquanto ela adormecia com Aurora aninhada no seu peito. A cena era um contraste radical com a mulher fria e isolada que ele havia conhecido. Ele sentou-se na beira da cama e acariciou o cabelo de Seraphina.
— O que você está a pensar? — Seraphina murmurou, acordando.
— Estou a pensar que o nosso contrato falhou — ele disse, com um sorriso irónico. — O nosso contrato era sobre poder e vingança. Mas o que temos é algo que não se pode quantificar.
— É mais forte do que qualquer cláusula — Seraphina concordou.
— E mais arriscado. Eu não conseguiria viver sem este risco, Seraphina. Você é a minha única vulnerabilidade.
Seraphina levantou-se e beijou-o, o beijo era suave e profundo, despojado de qualquer estratégia. Era a aceitação total do risco que corriam.
O Contraste da Infância
A infância de Aurora era um paradoxo. Enquanto outras crianças da sua idade estavam a aprender a partilhar brinquedos, Aurora estava a aprender a reconhecer padrões de mercado e a identificar falhas de segurança em sistemas simples.
Aos dois anos, Aurora podia reconhecer os logotipos de todas as empresas do S&P 500, e a sua primeira palavra, depois de "Mãe" e "Pai", foi "Aquisição".
Julian e Seraphina mantinham-na longe de media sensacionalistas, controlando cada peça de informação que chegava ao seu mundo. Mas eles não podiam controlar a inteligência da própria criança.
Numa tarde, Seraphina estava a trabalhar num projeto de IA para a fundação. Aurora estava a brincar com blocos de construção.
— Mãe, o seu algoritmo de auto-aprendizagem está a falhar no ciclo de feedback — disse Aurora, apontando para o ecrã com um bloco. — A variável de custo-benefício é demasiado estática.
Seraphina ficou paralisada. A criança tinha apenas dois anos e acabara de identificar o erro que os seus engenheiros haviam perdido.
— Onde é que você aprendeu essa palavra? — Seraphina perguntou, tentando manter a sua compostura.
— No seu ecrã, Mãe. Está a ficar vermelha. Vermelho significa falha.
Julian, ao ouvir a conversa, entrou na sala. Ele não ficou chocado; estava a confirmar as suas expectativas.
— A nossa filha é o futuro, Seraphina — disse Julian, com um orgulho intenso. — Agora, ela precisa de recursos para desenvolver a sua mente. Não podemos mais escondê-la. O seu potencial exige um mundo maior.
A sua bolha protetora, embora eficaz, estava a tornar-se uma prisão para a mente em crescimento de Aurora. Seraphina e Julian sabiam que o próximo capítulo da sua dinastia exigia uma expansão.
Os próximos cinco anos seriam dedicados a preparar Aurora para o mundo que eles haviam conquistado para ela. A sua formação teria que ser tão rigorosa quanto o lançamento de um satélite. O Capítulo 25 teria que começar com Aurora aos sete anos, pronta para absorver o caos e o génio do mundo.