O Último Contrato: Geração

1329 Words
A proposta de Julian de ter um filho pairou sobre o penthouse com o mesmo peso de um acordo de fusão de biliões de dólares. Seraphina ficou em silêncio, a sua mente, habituada a processar riscos e recompensas, a lutar para analisar esta nova variável: a vida. Eles estavam na varanda, a brisa fria de Nova York a rodopiar à sua volta. A vasta cidade, que haviam conquistado juntos, parecia o cenário perfeito para a criação de um novo império, não de uma família. — Um herdeiro — Seraphina repetiu, quebrando o silêncio. A palavra soava estranha na sua boca, um termo de direito feudal, não de maternidade. — É um risco de legado que não havíamos discutido no Novo Contrato. — É a evolução lógica do nosso legado — Julian respondeu, a sua voz calma e firme. Ele não estava a pedir; estava a apresentar a próxima etapa da sua estratégia conjunta. — O Projeto Égide Kaine não é apenas sobre o futuro da tecnologia. É sobre a permanência do nosso nome. Marcus Thorne foi destruído porque não tinha nada mais forte do que a vingança. Nós precisamos de algo mais forte do que o poder. Precisamos de uma linha de sucessão. — E se eu não quiser? — Seraphina perguntou, desafiando-o. Ela observou-o para ver se ele tentaria usar a manipulação ou a paixão para a convencer. Julian olhou para ela, e a sua expressão era de um respeito honesto. — Então, eu aceito a sua decisão. Mas eu sei quem você é, Seraphina. Você é uma criadora. Você não vai querer deixar o seu maior trabalho, o seu génio, sem um sucessor. Um filho connosco não será uma criança normal. Será a personificação da nossa ambição. Ele havia tocado no seu ponto nevrálgico. Seraphina percebeu que, no fundo, a ideia de prolongar a sua força, o seu intelecto, através de um filho com Julian era a ambição derradeira. Seria a sua obra-prima. — Se aceitar, será um projeto. Estratégico e planeado. — Seraphina declarou, voltando à sua zona de conforto. — Não haverá romantismo ou acasos. — Eu não esperaria menos. A nossa união é a antítese do acaso. Eles passaram as duas semanas seguintes a criar o "Contrato de Geração". Seraphina aplicou a mesma lógica implacável que usava para reestruturar empresas à sua biologia. Consultaram os melhores especialistas em fertilidade e genética, mapeando o seu perfil biológico com a mesma minúcia que mapeavam os mercados globais. O home office, antes um centro de negociações de ações, transformou-se num laboratório de logística reprodutiva. Seraphina criou um cronograma rigoroso, otimizado para o seu pico de fertilidade, sincronizado com as janelas de menor stress no schedule de Julian. — A fase de concepção começará dentro de três meses — Seraphina anunciou uma tarde, apontando para um gráfico complexo. — O risco de déficit de concentração será tolerável durante esse período. Julian apenas observou a sua frieza calculista com uma admiração silenciosa. — Perfeito. Eu ajustarei a minha schedule para garantir a disponibilidade total. No entanto, o projeto de concepção não correu como uma fusão corporativa. A primeira tentativa, meticulosamente cronometrada, falhou. A segunda falhou. O corpo de Seraphina, tão obediente em todas as outras áreas da sua vida, recusava-se a seguir o seu comando. A frustração atingiu Seraphina com uma força que nenhuma derrota empresarial jamais havia alcançado. Ela estava habituada a vencer com lógica. Esta falha era um insulto à sua capacidade de controlo. Uma noite, após um diagnóstico de "stress inexplicável" por um especialista, Seraphina desabou na cama, o seu rosto escondido nas mãos. Julian sentou-se ao seu lado. Ele não tentou consolá-la com palavras gentis. Ele a encarou com a verdade. — Você está a tentar forçar o seu corpo com a mesma fúria com que forçou Marcus à falência, Seraphina. E não funciona assim. A criação exige entrega, não domínio. — Eu sou uma falha — ela sussurrou, a sua voz embargada. — Eu não consigo sequer comandar as minhas próprias células. — Você não é uma falha. Você é uma máquina de alto desempenho que precisa de ser recalibrada. — Julian a abraçou, não com paixão, mas com uma ternura de proteção. — Você usou o seu medo e a sua raiva para vencer a guerra. Agora, você tem que aprender a usar o seu desejo e a sua paz para criar uma nova vida. — E como se faz isso? — Acabamos com os gráficos. Acabamos com os schedules. Acabamos com o projeto. — Julian pegou nas tabelas de fertilidade e rasgou-as com uma calma deliberada. — A partir de hoje, fazemos amor porque nos desejamos, e não porque a tabela exige. O nosso filho virá quando estiver pronto para herdar não apenas o nosso império, mas a nossa paixão. Aquele momento foi a maior rendição que Seraphina havia experimentado. Ela percebeu que, ao tentar controlar a criação, estava a sabotar o único aspeto da sua vida que exigia fé. Nos meses que se seguiram, a vida de Seraphina e Julian mudou subtilmente. O sexo deles tornou-se mais lento, mais prazeroso, despojado da urgência de um prazo. A paixão regressou à sua forma mais pura, um refúgio da responsabilidade do Projeto Égide Kaine, que continuava a avançar no resto do mundo. Seraphina descobriu que o Julian do quarto era diferente do Julian do conselho. Ele era paciente, devoto, e o seu foco total era a sua satisfação, não o seu controlo. Certa noite, eles estavam no duche, o vapor a envolver o casal. Seraphina estava a lavar o cabelo de Julian, um ato de i********e doméstica que parecia impossível meses antes. — Você está mais calma — Julian observou, os seus olhos fechados sob a água quente. — Estou mais completa — ela corrigiu. — Você me ensinou a diferença entre o poder e o controlo. O poder é saber que eu posso vencer. O controlo é a necessidade constante de prová-lo. Eu não tenho mais nada a provar a ninguém. Foi nesse período de paz e entrega, quando Seraphina finalmente abandonou o seu Contrato de Geração, que a natureza assumiu o controlo. Era uma manhã de segunda-feira. Seraphina estava no home office, a rever um contrato de fornecimento de lítio, quando uma náusea repentina a atingiu com força. Ela correu para a casa de banho, o seu corpo a reagir de uma forma que a lógica não podia explicar. Julian, que estava ao telefone, correu atrás dela. Quando Seraphina regressou, pálida, mas com os olhos a brilhar com uma nova luz, ele soube. — Seraphina? — A variável não prevista — ela disse, a sua voz um sussurro. — Eu falhei na nossa janela de tempo, Julian. Mas... Ela não precisou de dizer mais nada. Os olhos de Julian, que eram sempre frios e calculistas, suavizaram-se numa expressão de triunfo e espanto que Seraphina nunca havia visto. Ele a abraçou, levantando-a do chão. — Nós vencemos, Seraphina! Nós vencemos a biologia, a estratégia e o medo! O teste de gravidez caseiro, feito com a mesma precisão que Seraphina usaria para confirmar uma aquisição, confirmou a notícia. Seraphina Vance, a CEO impenetrável, estava grávida do herdeiro de Julian Kaine. Eles olharam para o teste, o símbolo de plástico a significar mais do que qualquer contrato que já haviam assinado. — O que fazemos agora? — Seraphina perguntou, sentindo um medo desconhecido. — Agora, protegemos o nosso legado — Julian declarou, o seu instinto de predador a regressar com uma força protetora. — Você será a CEO mais protegida do planeta. Você irá supervisionar a construção do nosso futuro e a construção da nossa família. Aquele dia marcou a última fase da sua fusão. O seu casamento de vingança havia-se tornado um casamento de criação, e o seu foco mudou de conquistar o mundo para criar um futuro para o seu filho. A Rainha de Fogo estava prestes a dar à luz o seu herdeiro, e o seu reinado estava apenas a começar.
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