O cheiro de carvalho envelhecido e dinheiro antigo pairava na sala de reuniões privada. Seis meses. Fazia seis meses desde que Seraphina Vance havia se permitido ser vista em público, e menos ainda desde que Marcus Thorne a havia substituído por uma imagem polida e vazia na liderança do Consórcio Égide.
Ela estava sentada à cabeceira de uma mesa de mogno escura, os olhos cinzentos fixos no homem à sua frente: Julian Kaine. Ele era a definição de poder reservado, a antítese do exibicionismo de Marcus. Julian não falava em volume alto; ele falava com uma certeza que silenciava o mundo.
— Você está sendo ingênua, Seraphina — disse Julian, quebrando o silêncio com uma calma que a irritou. Ele nunca a chamava de Sra. Vance, um desrespeito calculado. — Sua retaliação está em câmera lenta. Marcus a desintegrou publicamente.
Seraphina fechou o punho sobre o vidro de água gelada, a única reação externa ao golpe.
— Meu jogo é de longo prazo. Eu fundei o Égide, Julian. Ele depende de mim.
— Ele depende do nome dele agora, o nome que você permitiu que ele roubasse. E ele está usando sua estrutura para negócios de fachada. Você sabe disso, mas não tem como provar se estiver escondida em sua cobertura.
Ele se inclinou para frente, a luz do sol refletindo em seus olhos azuis prateados. O gesto era íntimo e profissional ao mesmo tempo.
— Estou lhe oferecendo a única coisa que reverterá essa situação em vinte e quatro horas.
Seraphina finalmente falou, sua voz baixa e polida como aço.
— Não estou interessada em caridade, Julian.
— Não é caridade. É negócio. — Ele colocou um único envelope bege na mesa entre eles. Dentro, não havia um contrato de investimento, mas um registro de casamento. — Case-se comigo.
Seraphina não piscou. Ela pegou o envelope e o abriu, seus lábios se curvando em um sorriso mínimo e desdenhoso ao ver o documento.
— Casamento. Que proposta antiquada e inútil para uma estrategista. Por que isso me ajudaria a destruir Marcus?
— O Égide foi construído sobre a imagem de poder, moral e a união da alta sociedade. Marcus está tentando se solidificar casando-se com a herdeira dos Drummond.
— E você quer que eu o fure emocionalmente? — Seraphina riu, um som seco e sem humor. — Eu não sou emotiva, Julian. E ele sabe disso.
— Ele sabe que você é a estrategista que criou o maior bilionário de sua geração. Ele sabe que se você se casar com o único homem mais rico, mais implacável e mais misterioso da cidade, você se tornará a Rainha da Sociedade. — Julian pousou as mãos na mesa, fechando o espaço entre eles. — O Égide sobrevive do respeito da elite. Um casamento entre Seraphina Vance, a mente brilhante, e Julian Kaine, o império em pessoa, desvaloriza Marcus imediatamente. Ele se torna o segundo lugar. E o segundo lugar, para ele, é a morte lenta.
Seraphina sentiu um calafrio na espinha. Ele estava certo. Não era sobre ciúmes; era sobre hierarquia.
— E por que você?
O sorriso de Julian sumiu, deixando apenas a intensidade fria.
— Tenho meus próprios demônios para espantar e meus próprios inimigos para desestabilizar. Uma aliança com você, a verdadeira proprietária intelectual do Égide, me dá uma legitimidade nos círculos de poder que o meu dinheiro sozinho nunca conseguirá.
— Um casamento de fachada — ela confirmou.
— Absolutamente. Um contrato de dez anos. Apartamentos separados. Nenhum toque. Nenhuma expectativa, a não ser a perfeição pública.
Seraphina ponderou. A oferta era impessoal. Fria. Perfeita. E, no entanto, havia algo sobre a forma como Kaine a olhava, uma faísca de reconhecimento de poder mútuo, que a deixava inquieta.
— O que garante que você não fará comigo o que Marcus fez? Que você não me descartará assim que obtiver o que precisa?
Julian se recostou, o queixo ligeiramente levantado.
— Porque eu sou um jogador de xadrez, Seraphina, não um jogador de damas. Eu não sacrifico minhas peças mais valiosas. Além disso, o contrato terá cláusulas de saída com penalidades financeiras suficientes para demolir a minha empresa. — Ele abriu a palma da mão. — Assine. E amanhã, você estará de volta ao jogo. Não como a rejeitada, mas como A Noiva de Ouro.
Seraphina olhou para o documento. Ela odiava a ideia de se casar por estratégia, mas odiava mais ainda a ideia de perder. A vingança, ela percebeu, tinha um preço muito alto, e Julian Kaine estava disposto a pagar.
— Muito bem, Kaine. Diga-me uma coisa. Você acha que eu sou sua igual, ou sou apenas sua ferramenta?
Julian pegou uma caneta-tinteiro de prata do bolso e a deslizou para o lado dela.
— Eu nunca faria um contrato de dez anos com uma ferramenta. Ferramentas quebram. Eu estou construindo uma parceria. E a primeira regra dessa parceria é: nunca minta para mim.
Ela pegou a caneta. O papel era áspero sob seus dedos. Não havia hesitação, apenas cálculo frio.
— Feito — disse Seraphina Vance, e com um traço firme, assinou o nome que seria dela a partir de amanhã. — Agora, Julian. O que faremos com Marcus?
Julian sorriu, e o sorriso não alcançou seus olhos. Era predatório.
— Anunciaremos o noivado amanhã à noite na festa de caridade dos Drummond. Você garante que Marcus estará lá. E então, veremos a reação dele.
Ele dobrou o contrato, a rigidez do papel soando como um tiro seco na quietude da sala.
— Seraphina, você mencionou que o Égide depende de você. Não apenas da sua estratégia, mas do seu nome, mesmo que ele tenha sido apagado. Sua ausência nos últimos seis meses foi interpretada como fraqueza, luto, ou pior: falência moral.
— Foi uma reclusão estratégica.
— Ineficaz. — Kaine a cortou sem hesitar. — A sociedade não tolera o vácuo. Eles presumem o pior. Nosso casamento não é apenas uma manchete. É uma declaração de guerra de classes. É a mente real do Égide, aliada ao maior poder de capital da Costa Leste.
Seraphina estudou a mão de Julian sobre a mesa. Era forte, com dedos longos, mas não exibia nenhuma joia desnecessária.
— E as cláusulas de convivência? Se o objetivo é a perfeição pública, teremos que parecer um casal. Um casal apaixonado, Julian.
— A encenação começa agora. — Ele se levantou, contornando a mesa com uma graça felina. Seraphina permaneceu sentada, observando-o. — Eu já tenho a nossa história pronta. Você foi minha paixão secreta por anos. A mulher que me fascinou nos bastidores do Égide. Eu a resgatei no momento de sua maior dor. É romântico, é dramático e, o mais importante, é crível para essa gente.
Ele parou ao lado dela, e o calor de sua presença era uma intrusão, algo que Seraphina não sentia desde a traição de Marcus.
— E como vamos sustentar essa história de "paixão secreta"?
Julian se inclinou, e Seraphina teve que erguer o queixo para encontrar seus olhos. A proximidade era calculada, mas a intensidade era real.
— Você não vai precisar atuar, Seraphina. Você só precisa parar de se esconder. Você é naturalmente fria, mas também é cativante. Seu trabalho será não permitir que a mídia veja a frieza. Sorria para mim.
Seraphina forçou um sorriso, uma curva tensa de lábios que m*l chegava aos olhos.
— Isso é o máximo que você terá em público, Kaine.
— É mais do que suficiente. — Ele estendeu a mão para ela, um gesto de cavalheirismo quase teatral. — Agora, vamos discutir logística. Você se mudará para a minha cobertura no The Residences amanhã de manhã. O mundo precisa nos ver juntos, o mais rápido possível.
Ela ignorou a mão dele, levantando-se sozinha.
— Eu não confio em você. Não confio em homens de negócios.
Julian inclinou a cabeça, aceitando a repulsa dela como um fato científico.
— Bom. A confiança é uma variável perigosa no mundo dos negócios. Mas você pode confiar no contrato. Ele me obriga a protegê-la. E você pode confiar na minha palavra. Se eu prometo destruir Marcus, eu o destruirei. Tenho um interesse pessoal nisso.
— Que interesse? — Seraphina perguntou, a pergunta rápida e perfurante.
— Isso não faz parte do contrato. Faz parte da minha estratégia — Kaine respondeu, a recusa sendo a primeira rachadura na fachada de transparência que ele havia tentado criar.
O olhar dela se estreitou. Julian estava escondendo algo, e ela sabia que o segredo era o real motor de tudo.
— Pois saiba que o meu objetivo principal não é apenas destruir Marcus, mas também garantir que ele confesse exatamente como ele roubou minhas patentes e desmantelou minha equipe.
— O meu objetivo é garantir que ele perca tudo. O como é secundário para mim. — Julian a guiou para a porta. — Esta noite, vista-se de forma discreta, Seraphina. Durma bem. Amanhã, você será a mulher mais observada da cidade.
Ele parou, sua mão roçando a dela na maçaneta de prata. O contato, embora breve e acidental, enviou uma corrente elétrica pelo braço de Seraphina. Ela se afastou imediatamente, um pequeno movimento que não passou despercebido por Julian.
— Lembre-se, Kaine. Sem contato. Apenas a encenação.
— Lembro-me do contrato — ele respondeu, a voz perigosamente baixa. — Mas lembre-se também, Seraphina, que a alta sociedade adora um toque de paixão roubada. Esteja preparada para ser fotografada. Esteja preparada para o meu toque.
Seraphina saiu da sala, sentindo-se estranhamente exposta e, pela primeira vez em meses, viva. O cheiro de Julian Kaine, uma mistura sutil de sândalo e ambição, ficou para trás, uma promessa e um aviso pairando no ar.
Ela tinha vendido seu nome. Ela tinha assinado seu destino. Mas o controle, pensou Seraphina enquanto o motorista a esperava, era a única moeda que ela nunca entregaria. O casamento seria um teatro, e ela seria a única diretora. Ou pelo menos, era o que ela precisava desesperadamente acreditar.