A presença constante do Prometeu Desacorrentado tornara-se um ruído de fundo perigoso no penthouse. A sua ideologia de "energia livre" era infecciosa, e o seu hacking sutil ameaçava minar a confiança global no monopólio de fusão do Égide Kaine. Seraphina e Julian sabiam que a estratégia defensiva não era suficiente; precisavam de forçar o inimigo a expor-se.
Seraphina concebeu o plano: usaria a Cimeira Global de Inovação Energética em Genebra como isco. O Égide Kaine anunciaria o lançamento de uma nova interface de gestão de energia, supostamente dotada de uma vulnerabilidade estratégica que atrairia o Prometeu. O objetivo era permitir que invadissem, mas apenas o suficiente para que Aurora, a sua melhor e mais secreta arma, pudesse rastrear a sua origem.
Julian odiou o risco. A ideia de expor a sua filha a um ataque cibernético de uma organização anarquista em solo internacional era a antítese da sua superproteção.
— O risco é inaceitável, Seraphina. Eles tocaram nela uma vez; não haverá uma segunda — Julian protestou, a sua voz baixa e carregada de ameaça enquanto revia os protocolos de segurança do Círculo de Ferro.
— O Círculo de Ferro pode proteger o perímetro, Julian, mas não pode vencer uma guerra de informação. Aurora é a única que consegue antecipar a psicologia do génio anarquista — Seraphina argumentou, a sua calma era a sua tática de controlo. — Além disso, ela estará em Genebra, no nosso bunker de segurança, a operar remotamente sob a minha vigilância.
Julian cedeu, não por confiança no plano, mas por confiança em Seraphina. A sua aceitação do risco era a prova do seu amor e do reconhecimento de que a ambição da esposa era o motor do seu legado. O Círculo de Ferro, no entanto, colocou a cidade de Genebra em lockdown silencioso.
Aos oito anos, Aurora Kaine voou para Genebra. A sua cobertura era simples: ela era a filha de Seraphina e Julian, presente como "observadora". Ninguém suspeitaria que a menina, sentada numa sala de monitorização secreta no hotel de luxo, era a engenheira de segurança que salvaria o Égide.
A Cimeira de Inovação começou. Seraphina apresentou a nova interface, o seu discurso cuidadosamente calibrado para incitar o Prometeu. Ela mencionou, de passagem, a "arquitetura de código aberta" e a "transparência", palavras-chave que atuavam como isco para os hackers ideológicos.
O ataque veio 48 horas depois. Foi elegante, rápido e incrivelmente ambicioso. O Prometeu tentou não apenas aceder à nova interface, mas também plantar um vírus que exporia publicamente as chaves de manutenção de todos os reatores de fusão do Égide no mundo. Seria o colapso do monopólio Kaine-Vance.
Na sala de monitorização secreta, Aurora estava ao lado de Seraphina. Ela estava calma, ligada ao sistema por um headset de comunicação criptografada. Julian observava a operação a partir do penthouse em Nova York, a sua ansiedade contida pela sua disciplina militar.
— O Prometeu está a usar um vetor de botnet distribuído, Mãe. Eles estão a saltar entre 14 países. O seu objetivo é o diretório raiz — Aurora informou, os seus dedos voando sobre o teclado.
— Não os bloqueie. Dê-lhes a ilusão de acesso. Deixe-os entrar no jardim da frente — Seraphina instruiu.
Aurora criou uma zona de quarentena digital, um ambiente de teste simulado que permitia ao Prometeu pensar que estava a infiltrar-se no sistema real. O hacker líder do Prometeu, conhecido apenas como Dédalo, caiu na armadilha, fascinado pela complexidade do código de Seraphina.
— O Dédalo está a instalar a sua chave de raiz, Mãe. Ele está a usar uma assinatura digital única — Aurora sussurrou.
— É a sua chance, Aurora. Use o código-fonte de rastreamento que o Doutor Vance lhe ensinou.
Aurora executou a sua jogada. Ela não usou força. Ela usou a contra-ideologia. Ela plantou um pacote de dados no sistema do Dédalo que simulava uma falha de sistema maciça no software de fusão, fazendo-o acreditar que o seu hacking havia destruído milhões de vidas inocentes, em vez de apenas o sistema de Kaine.
O pânico do Dédalo foi imediato e visível no fluxo de dados. Ele era um ideólogo, não um assassino. A sua retirada foi desorganizada.
Aurora usou os beacons plantados para rastrear o ponto de origem final: um hub de internet satélite num subúrbio de Tóquio.
— Dédalo rastreado. Localização confirmada — Aurora declarou, o seu tom era profissional e vitorioso.
Em Nova York, Julian soltou a respiração que estava a prender.
— A Criança de Ouro venceu — Julian sussurrou para si mesmo.
O Círculo de Ferro foi imediatamente acionado. Julian não esperou pela diplomacia; ele usou as suas forças de segurança em Tóquio para localizar e prender o Dédalo e desmantelar o hub de comunicação do Prometeu.
A vitória foi absoluta e invisível ao mundo. O Círculo de Ferro operava nas sombras, e a integridade do Égide Kaine foi preservada.
Ao regressarem ao penthouse, Julian recebeu Seraphina e Aurora não com fúria, mas com uma intensa admiração. Ele abraçou Aurora por um longo momento, o seu alívio era um rio profundo.
— Você não é o nosso legado, Aurora. Você é a nossa guerra ganha — Julian disse à filha, a sua voz embargada.
Seraphina e Julian partilhavam um olhar. O seu risco havia sido recompensado. A sua filha era a combinação perfeita do controlo implacável de Julian e da visão estratégica de Seraphina. O amor deles, naquele momento, era a satisfação de terem criado a entidade mais perfeita de poder.
A eliminação do Dédalo não significava o fim do Prometeu Desacorrentado, mas era um aviso: o gatekeeper do mundo não podia ser derrubado. No entanto, a missão expôs uma vulnerabilidade: a simpatia de Vance pelo Prometeu. O Círculo de Ferro, ao analisar as comunicações do Dédalo, notou um pacote de dados cifrado que ligava o hacker ao código de fusão de Vance.
Seraphina sabia que tinha de confrontar o Dr. Vance. O seu génio estava a tornar-se um passivo. A nova batalha seria interna, contra o génio que ela mesma havia trazido para o seu círculo.
A dinastia Kaine-Vance havia reafirmado o seu controlo, mas o preço da segurança era a desconfiança.