Os meses finais da gravidez de Seraphina foram uma exibição de disciplina e logística que apenas o casal Kaine-Vance poderia orquestrar. A barriga de Seraphina era um mapa físico do futuro, e Julian Kaine não poupava recursos para garantir que esse futuro se concretizasse sem falhas.
Seraphina, embora maior do que nunca e obrigada a abrandar o ritmo, irradiava uma nova autoridade. Ela não precisava de se mover para exercer poder; a sua mera presença na cadeira de CEO, com a barriga proeminente, era um lembrete constante do seu domínio e do novo propósito do Égide Kaine.
Julian intensificou o seu papel de "Escudo de Ouro". O penthouse estava isolado. O hospital, a uma distância de 15 minutos, foi inspecionado, remodelado e equipado com uma ala de segurança biométrica a expensas de Julian. A equipa médica estava sob contratos de confidencialidade mais rígidos do que os do Pentágono.
O Planeamento do Parto
Seraphina, fiel ao seu temperamento, transformou o parto num projeto. Ela e Julian reviram planos de contingência, analisando variáveis como o clima (para o transporte seguro) e o timing (para evitar o fecho do mercado de ações).
— O Parto N.º 1 será um evento logístico — Seraphina declarou numa noite, revendo os gráficos de tempo de resposta da equipa médica. — Não podemos permitir que o caos ou a emoção ditem os termos da chegada do nosso herdeiro.
Julian, sentado ao seu lado, observava-a com um olhar complexo. Havia admiração pela sua frieza, mas também o desejo de a ver render-se ao inevitável.
— O parto será caótico, Seraphina. É a natureza. É a única coisa que não podemos controlar totalmente com dinheiro ou estratégia.
— Então, minimizamos as variáveis. Eu decidi que terei o parto na última semana de janeiro.
— O bebé terá uma opinião diferente.
Apesar da sua lógica, Seraphina experimentava as emoções crescentes da maternidade. Ela passava horas a projetar as instalações do novo centro de pesquisa do Égide Kaine e, depois, sentia o seu filho a pontapear, uma justaposição surreal de capital e criação.
Julian, nas raras horas de descanso, lia em voz alta para ela, não relatórios financeiros, mas filosofia e história. Ele tentava prepará-la para a dimensão do que estavam a criar.
— O nosso filho herdará um poder que poucas crianças na história conheceram — disse ele, uma noite, a acariciar o seu ventre. — Ele terá que ser ensinado a não ser consumido por ele.
— E quem fará essa lição? Você, que usa o poder como respira? — Seraphina sorriu, a sua crítica suavizada pela i********e.
— Nós, Seraphina. Você lhe ensinará a disciplina. Eu lhe ensinarei a ambição.
A Tentativa de Fuga
Na oitava semana, a pressão do isolamento começou a desgastar Seraphina. Ela sentia-se presa, a sua mente exigia ação.
Ela tentou um ato de rebeldia: planeou uma viagem secreta de helicóptero para supervisionar um local de construção do projeto Égide Kaine, a 300 quilómetros de distância. Julian interceptou-a no terraço.
— Onde pensa que vai? — Julian estava vestido com um fato e não estava zangado; estava perigosamente calmo.
— Eu sou a CEO. Tenho que inspecionar a obra.
— Não sem mim. E não sem a equipa médica e o helicóptero de reserva. Eu não lhe proíbo o poder, Seraphina. Eu imponho a segurança.
Seraphina cedeu, frustrada, mas compreendendo. Ele havia planeado todos os seus movimentos.
— Você está a tirar a minha autonomia.
— Eu estou a protegê-la para que o nosso legado seja completo. Você pode ter autonomia quando o nosso filho estiver seguro.
Eles fizeram a viagem, mas Seraphina ficou em isolamento na sala de conferências do estaleiro, observando o progresso através de vídeos e teleconferências. A lição era clara: a sua autonomia estava suspensa em favor da sua função biológica.
O Início Inevitável
O parto não respeitou o seu schedule de janeiro. Começou na noite de Natal, no meio de uma tempestade de neve que paralisou a cidade. Seraphina e Julian estavam sozinhos no penthouse (a equipa médica estava de prontidão na sala de segurança).
Seraphina sentiu a primeira contração enquanto revia os relatórios fiscais do ano. A dor era aguda, implacável e completamente alheia à sua vontade.
— Não é possível — Seraphina murmurou, olhando para o relógio. — Ainda faltam três semanas.
Julian, que estava a tomar um uísque no bar, olhou para ela, e o seu rosto, pela primeira vez em anos, mostrou pânico. Não pânico de fraqueza, mas pânico de perda de controlo.
— O nosso filho não respeita os contratos, Seraphina — disse ele, ativando o protocolo de emergência.
O caos controlado irrompeu. Em minutos, a equipa médica estava no penthouse. A tempestade impedia o transporte para o hospital de alta segurança. O parto seria ali, na Suíte Oeste, no centro do império.
Seraphina estava na cama, as contrações a dominarem-na. Julian estava ao seu lado, a sua mão forte a segurar a dela. A sua máscara de CEO havia desaparecido, substituída pela vulnerabilidade crua de um homem a enfrentar uma força que ele não podia comprar ou intimidar.
— Não se afaste de mim, Julian — Seraphina pediu, a dor a esmagá-la.
— Nunca. — Ele beijou a testa dela, o suor frio a cobrir-lhe o rosto.
Seraphina percebeu que, neste momento de caos, eles estavam mais unidos do que nunca. A sua aliança não era sobre o poder, mas sobre a vida.
O trabalho de parto foi longo e agonizante. Seraphina gritou, uma libertação que era a antítese do seu controlo rigoroso. Julian não a soltou, sussurrando palavras de encorajamento e força. Ele a lembrava-a da sua ambição, da sua luta pela vitória, transformando a dor numa missão.
— Você é a Rainha de Fogo, Seraphina! Você domina isto! Por nós, pelo nosso filho!
O Herdeiro
Depois de horas de luta, o choro estridente preencheu a suíte. Era a primeira vez que um som não-controlado ecoava no penthouse.
Seraphina estava exausta, mas vitoriosa. O bebé, pequeno e poderoso, foi colocado imediatamente no seu peito.
Julian Kaine, o homem que dominava Wall Street, chorou. Lágrimas silenciosas escorriam pelo seu rosto enquanto ele olhava para o filho e para Seraphina.
— É uma menina — a médica anunciou.
Uma filha. Seraphina sentiu um influxo de ternura e um novo tipo de poder. Ela havia dado à luz uma herdeira, uma nova Rainha para o seu legado.
O bebé estava enrolado num cobertor de seda, o seu rosto pequeno e surpreendentemente calmo.
— Qual é o nome dela? — Seraphina perguntou, a voz fraca, mas firme.
Julian estendeu a mão e tocou no rosto da bebé, a sua expressão de espanto.
— O nome dela será Aurora. Aurora Kaine.
Aurora. O amanhecer. O início de um novo dia para o seu império.
Seraphina e Julian olharam um para o outro por cima da cabeça da bebé. O seu contrato havia sido cumprido. A vingança havia gerado um legado, e a paixão havia gerado uma vida. O seu casamento não era mais um contrato de negócios; era o alicerce de uma dinastia.