ME OBSERVANDO.

1638 Words
Me aproximei sorrateira, cada passo mais silencioso que o outro, eu não sei... algo em mim gritava, eu sentia meu corpo todo se arrepiar quando chegava mais perto dele, era como a atração de um ímã. – Aproveitou seu tempo lá fora? — Ele perguntou, sua voz soando casual, mas o olhar fixo em mim me fez sentir que a pergunta era mais do que parecia. Assenti, tentando parecer despreocupada. — Sim. É lindo aqui. — É, eu gosto desse lugar. — Ele fechou o livro com um gesto lento, quase preguiçoso, e se levantou do sofá, vindo em minha direção. — Vamos jantar? Eu fiz algo simples. Ele me guiou até a cozinha, onde havia preparado uma refeição básica, mas tudo parecia mais carregado de significado naquele momento. Sentamos à mesa, e o silêncio entre nós era quase ensurdecedor, cada movimento dele parecia calculado, cada palavra escolhida com cuidado. Ele sempre fora protetor, quase como um pai, mas agora... os toques dele, o jeito que ele me olhava, tudo parecia diferente. Enquanto comíamos, seus olhos constantemente encontravam os meus. Quando eu desviava o olhar, ele continuava a me observar, como se estivesse esperando algo. Eu não sabia o que, mas o calor no meu corpo crescia a cada segundo que passava. — Seus pais devem chegar amanhã à noite, talvez até um pouco mais tarde. — Ele comentou casualmente, mas a sensação de que estávamos completamente sozinhos agora parecia ainda mais evidente. — Certo — respondi, tentando não demonstrar o quanto aquilo não me importava. — Isso nos dá bastante tempo para relaxar — ele continuou, sua voz baixa, quase arrastada, enquanto tomava um gole de vinho. Eu assenti, mas algo dentro de mim sabia que "relaxar" não era bem o que ele tinha em mente. Tentei me concentrar na comida, mas a sensação de que John estava sempre um passo à frente de mim, controlando cada parte dessa interação, era esmagadora. Depois do jantar, ele se levantou e recolheu os pratos. Eu tentei ajudar, mas ele simplesmente sorriu e disse que cuidaria de tudo. Me senti desconfortável em ficar ali parada, então fui até a sala novamente, tentando encontrar algo para fazer, qualquer coisa que afastasse meus pensamentos. Enquanto eu me sentava no sofá, olhando distraidamente para a janela, senti a presença de John se aproximando novamente. Ele era silencioso em seus movimentos, mas cada vez que ele chegava perto, meu corpo reagia de forma involuntária. Eu sentia o ar entre nós se tornando mais denso, mais quente, como se o simples fato de estarmos no mesmo espaço estivesse criando uma conexão invisível, mas intensa. — Quer assistir a algo? — Ele perguntou, sentando-se ao meu lado, a distância entre nós quase inexistente. — Claro — respondi, tentando parecer natural. Ele pegou o controle remoto e ligou a TV, mas nada que passava na tela parecia me atrair. Minha atenção estava completamente focada nele. Cada movimento que ele fazia, o jeito que ele se inclinava ligeiramente para mim, como se não houvesse barreiras entre nós. Era impossível ignorar. Eu me mexi tentando ficar quieta no sofá, de alguma forma expulsar aqueles pensamentos levianos, mas ele parecia perceber, pois estendeu o braço no encosto atrás de mim, como se estivesse me cercando sem nem precisar se mover. Eu conseguia sentir o calor de seu corpo ao meu lado, e o simples toque de seus dedos no meu ombro fez meu coração acelerar. — Relaxa, Naty. — Ele murmurou, a voz dele parecendo mais suave, mas carregada de um peso que eu não conseguia ignorar. — Você está tão tensa. Eu sorri, um sorriso forçado, enquanto ele movia a mão levemente, como se estivesse apenas tentando me confortar, mas o toque dele era mais... quente do que deveria ser. Meu corpo inteiro parecia estar em alerta, cada parte de mim reagindo ao simples contato. — Não estou tensa. — Menti, minha voz soando mais fraca do que eu gostaria. Ele sorriu, aquele sorriso lento e perigoso que eu já estava começando a reconhecer. Não consegui evitar olhar pra sua boca, desviei os olhos rapidamente ou ele notaria, isso... era sufocante, ter todos esses pensamentos e não saber se estou mesmo certa sentindo isso. — Claro que não. — Ele respondeu, a mão ainda sobre meu ombro, os dedos roçando minha pele de uma forma que parecia deliberada demais. O tempo parecia parar. Eu sabia que deveria me levantar, que deveria colocar mais distância entre nós, mas meu corpo simplesmente não se movia. Algo em mim estava paralisado, preso entre a sensação de familiaridade e o desconhecido. De repente, ele se levantou, deixando-me com aquela sensação estranha de ter sido envolvida por algo que eu não conseguia entender completamente. Caminhou até a porta da varanda, abriu-a e respirou fundo o ar fresco da noite. Me virei para ele, ainda tentando recuperar o fôlego que não sabia que havia perdido. — Venha aqui. — Ele chamou, a voz rouca e baixa, mas com aquele comando que eu estava começando a entender. Eu me levantei devagar e caminhei até ele, parando ao seu lado enquanto olhávamos o céu escuro da noite. John não me tocou dessa vez, mas sua presença ao meu lado era suficiente para fazer cada parte do meu corpo ficar em alerta e fervendo . — Está gostando? — Ele perguntou, sem desviar os olhos da paisagem. — Sim — murmurei, incapaz de dizer mais do que isso. Ele me olhou de lado, e por um breve momento, eu achei que ele ia dizer algo, mas então ele apenas sorriu e voltou a olhar para a escuridão. Então, ele falou, sua voz baixa e rouca, cortando o silêncio. — Está tarde, Naty. — Ele disse, virando-se levemente para mim, seu olhar fixo em meu rosto. — Não quer descansar? A pergunta parecia inocente, mas havia algo na maneira como ele disse que fez meu coração bater mais rápido. Eu sabia que estava cansada, a viagem havia sido longa, e o peso de tudo que havia acontecido naquela semana estava finalmente caindo sobre mim. Mas a maneira como John me olhava, o calor em seus olhos, fez com que a simples ideia de ir dormir soasse carregada de algo a mais. — Acho que sim — murmurei, tentando soar casual, mas minha voz saiu mais fraca do que eu gostaria. John sorriu de canto, o sorriso que eu começava a associar a algo perigoso, algo que não era o mesmo de antes. Ele me guiou para dentro da casa, fechando a porta da varanda atrás de nós. A sala estava levemente iluminada por uma luz suave, e a atmosfera era tão quieta que eu conseguia ouvir o som dos nossos passos no chão de madeira. Quando chegamos ao corredor que levava aos quartos, ele parou ao meu lado. Estava tão perto que eu conseguia sentir o calor de seu corpo. Ele me olhou de cima a baixo, o olhar pesado, e então, com uma voz calma e quase paternal, disse: — Descanse bem, Naty. — Suas palavras soaram gentis, mas havia um tom velado, algo que eu não conseguia identificar completamente, mas que fazia meu estômago revirar. Eu não sei se ele luta contra isso, ou se espera que eu faça algo... ou posso só está paranóica, imaginando coisas que não existe. se isso for verdade, eu vou me odiar pro resto da vida de olhar assim pra ele. Eu sorri nervosamente e murmurei um "boa noite", antes de me afastar e entrar no quarto que ele havia preparado para mim. Fechei a porta atrás de mim, tentando controlar a respiração que de repente parecia acelerada demais. A cama estava ali, convidativa, e eu sabia que deveria estar exausta, mas minha mente estava a mil. Tentei me acalmar, respirando fundo enquanto me preparava para dormir. Mesmo assim, a sensação de que algo estava fora do normal não me deixava. A imagem de John, parado no corredor, seu olhar queimando em mim, não saía da minha cabeça. Por que ele tinha que me olhar daquele jeito? Eu repetia a mim mesma, tentando afastar os pensamentos. Me joguei na cama, cobrindo-me com os lençóis macios, e fechei os olhos. O cansaço finalmente começou a pesar sobre mim, e por um breve momento, achei que conseguiria relaxar. Mas então, o som de passos leves ecoou pelo corredor. Eu sabia que era ele, mesmo sem precisar olhar. Meu coração disparou. Ele não havia voltado para o quarto dele? O som dos passos parou do lado de fora da porta do meu quarto. O silêncio que se seguiu me deixou ainda mais nervosa e ansiosa. Por alguns segundos, nada aconteceu, e eu me perguntei se havia imaginado tudo. Mas o silêncio era tão espesso que eu sabia que ele estava lá, parado, do outro lado da porta, talvez observando, talvez esperando. segurei a respiração, tentando não fazer nenhum som, enquanto o medo e a excitação se misturavam dentro de mim. Por que ele não entrava? Por que ele não se afastava? Depois do que pareceram minutos intermináveis, ouvi o som dos passos se afastando, lentamente. Meu corpo inteiro estava tenso, os lençóis de repente pareciam quentes demais contra minha pele. John estava me observando, mesmo que de longe. Não importava o quanto eu tentasse negar, a verdade estava ali, clara como o ar da noite que entrava pela janela. Ele estava esperando o momento certo. Eu não sabia o que fazer com essa informação. Eu me encolhi na cama, tentando acalmar a respiração e afastar os pensamentos que agora me atormentavam. Mas o que mais me incomodava, o que me fazia estremecer, era o fato de que, apesar de todo o medo e da confusão, uma parte de mim não conseguia parar de se perguntar... O que ele faria se eu o deixasse entrar?
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