36. Caveira

1371 Words

A tarde caía feito navalha, cortando o céu em tiras de ferrugem. No alto da ladeira, a boca respirava como sempre: rádio chiando pagode antigo, cheiro de óleo queimado, o vai-e-vem de gente que se acha invisível quando está com pressa. Fiquei na sombra da marquise, cigarro aceso, vendo os meninos contarem dinheiro com a pressa de quem quer terminar logo o dia. Ouvi a moto antes de ver. O ronco do motor do Marreco era conhecido: um tempo a mais na embreagem, e aquele estalo seco quando ele mata a marcha. Ele subiu sem pressa, sorriso de quem dormiu. Um dos pivetes acenou com a cabeça. Eu não respondi. Traguei fundo. Soltei pela boca e pelo nariz, devagar. — Chegou cedo — falei, sem sair do lugar. — Cheguei na hora — respondeu, pedindo água pro guri. Ficamos em silêncio. A rua conversa

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