O ônibus balançava como sempre, rangendo nas curvas, mas dentro de mim era diferente. A barriga estava baixa, pesada, doía para levantar, para andar, para respirar. Eu já sabia: Caique estava perto de chegar. Ainda assim, lá estava eu, cumprindo o ritual secreto, dia sim, dia não em direção ao hospital. O prédio branco surgiu no horizonte como sempre, impassível, cheio de janelas que escondiam histórias que ninguém conta direito. Subi os degraus devagar, segurando na barra de ferro, tentando disfarçar o aperto no baixo-ventre. Na recepção, a moça nem pediu meu RG dessa vez, só fez um gesto rápido com a cabeça. Eu já era parte da rotina. Caminhei pelo corredor gelado, o cheiro de álcool 70 impregnado, e foi quando ouvi. Parei antes da porta da UTI, sem querer, porque a voz da enfermeira C

