O silêncio do escritório parecia pesar toneladas. Eu ainda estava de cabeça baixa, sem coragem de encarar Caveira, quando ouvi o pigarreio abafado do braço direito dele. O apelido dele era conhecido no morro: Marreco. Um homem marcado por cicatrizes, de olhar esperto, mas que naquele instante não transmitia a mesma dureza do chefe. Ele cruzou os braços e soltou um suspiro carregado. — Patrão... — disse, balançando a cabeça. — A menina não tem culpa, não. A gente vê que ela se mata pra catar essas latinhas, junta moedinha... e a mãe? Vai continuar se acabando no pó. Se depender só disso, essa guria aí vai morrer de tanto trabalhar e a dívida nunca vai ser paga. As palavras dele cortaram fundo. Eu apertei os punhos, lutando contra a vontade de chorar. Era a primeira vez que alguém reconhe

