Um Passado Oculto

2494 Words
Passaram-se alguns dias desde a última vez que vi Samya e seu irmão. Precisava falar urgentemente com eles, mas eles simplesmente desapareceram. Nem mesmo estavam frequentando a escola. O fato de não ter nenhum meio de contato com eles me deixava cada vez mais preocupada. Como dois adolescentes gêmeos não possuem nenhum número de telefone ou rede social? A situação era muito estranha. Enquanto eu pensava em uma maneira de entrar em contato com Samya e seu irmão, algo inesperado aconteceu. Quando cheguei em casa, vi Pete, sentado na sala de estar, acompanhado de minha mãe. Fiquei tão surpresa que m*l consegui dizer alguma coisa. — Nana!!! — ele gritou, me abraçando apertado. Minha felicidade foi imensa, mas a surpresa também era grande. — Pete, quando você chegou? Como? Por que? — perguntei, ainda sem acreditar. — Sua mãe foi me buscar no aeroporto. Ela queria fazer uma surpresa. — Ele sorriu. — Minha escola está em reforma pelos próximos dois meses, então decidi visitar a minha irmãzinha na cidade grande. Enquanto minha mãe se levantava e pegava sua bolsa que estava pendurada próxima à porta, ela disse: — Anna, só vim trazer Pete em segurança, mas já estou voltando para o trabalho, pois tenho um cliente às 4 horas da tarde. — Ela me deu um beijo carinhoso na testa e um último aviso: — Juízo vocês dois! — Depois, ela sorriu e saiu. Falando sobre minha família, minha mãe era advogada e meu pai trabalhava na área de engenharia, por isso eles raramente ficavam em casa. Mas eles confiavam tanto em Pete que me deixavam sozinha com ele, como se fôssemos irmãos. Peguei duas latas de refrigerante na geladeira, dei uma para Pete e me joguei no sofá, tirando meus calçados ali mesmo. Pete olhava para mim de uma forma diferente, o que me deixou um pouco constrangida. Ele ainda usava os mesmos óculos com armação preta. — Então Pete, como estão as coisas em Atlanta? — perguntei, tentando quebrar o clima estranho que pairava no ar. — Digamos que estou sobrevivendo, mas sinto sua falta lá, Nana! Tudo ficou tão chato quando você foi embora. — confessou ele, com um tom melancólico. — Eu também sinto falta daquela época, Pete, mas não podemos mudar o passado. Eu tento me adaptar aqui, pelo menos meus pais estão felizes com o emprego novo deles. — respondi, tentando parecer animada. — Ainda bem que você está bem aqui... não está? — disse ele, me olhando fixamente com aqueles olhos enormes por trás dos óculos. — Não posso mentir para você, Pete... — suspirei profundamente, sentindo meu coração acelerar. — Eu tenho sentido coisas estranhas desde que chegamos aqui. Coisas que não consigo explicar... — e contei tudo o que tinha ocorrido até ontem. Finalmente, subimos as escadas e entrei no quarto para mostrar a Pete o porta-joias "assombrado". Seu olhar fascinado me fez sentir um pouco mais corajosa. Ele sempre teve um interesse profundo em coisas antigas e eu sabia que ele poderia me ajudar a descobrir o que estava acontecendo. — Olhe só para isso, Pete! — eu disse, abrindo o porta-joias. — É incrível, não é? Ele olhou atentamente cada detalhe da caixa e, ao abrir a tampa, seus olhos brilharam com o conteúdo. — Meu Deus, Anna! Isso é incrível! — exclamou ele. — Sim, mas eu preciso da sua ajuda para desvendar tudo isso. Quanto tempo você pode ficar? — perguntei, enquanto fechava a caixa e a guardava. — O tempo que for necessário. Ou até que você enjoe de mim. — Ele sorriu, gentil. Eu senti um pouco de alívio com a sua presença. Era bom ter alguém ali comigo, alguém que eu confiava e que se importava. Então, eu o implorei para ficar e me ajudar. — Por favor, fique e me ajude. Eu não posso fazer isso sozinha. — Eu disse, com um tom de súplica. — Eu não seria nada sem você, meu amigo. Naquele momento, um som fraco ecoou pelos corredores da casa, mas parecia tão distante que não dei muita atenção. Voltei a encarar Pete, tentando me concentrar em sua voz. Mas, de repente, fomos surpreendidos por outra batida, agora mais próxima. E outra. Minha mente estava confusa e eu não tinha ideia de onde vinha o barulho. O silêncio se instalou, e eu me senti inquieta. — Essa casa é antiga, então podem ser problemas no encanamento. — Pete tentou justificar a situação, mas sua voz tremia. — Voltando ao assunto, Anna, você disse que os irmãos "dark" não têm redes sociais? — Isso mesmo. Eu já procurei por tudo quanto é lugar e não encontrei nada. — Eles são ainda mais estranhos do que eu imaginava... — disse Pete, e minha angústia aumentou. — Eu só quero entender o que essa "criatura" quer comigo. E por que ela se parece tanto com Samya — eu disse, tentando manter a calma, mas já sentindo o medo tomar conta de mim. De repente, mais uma batida forte, dessa vez vinda do teto. E outra, e outra. Era como se alguém estivesse no sótão, batendo com força na porta. Eu entrei em pânico total, sentindo meu coração acelerar e a respiração ficar ofegante. Mas, assim como começaram, as batidas cessaram, deixando um silêncio ensurdecedor no ar. — O que... foi isso?? — Pete perguntou com uma expressão aterrorizada no rosto. De repente, a campainha tocou, fazendo meu coração saltar para fora do peito. Eu sabia que algo estava errado, algo muito errado estava acontecendo ali. — Abre você ou eu? — Pete perguntou, tentando disfarçar o medo em sua voz. Eu não conseguia dizer nada, apenas assenti com a cabeça. Descemos as escadas devagar, tentando não fazer nenhum barulho, como se a nossa vida dependesse disso. A campainha tocou novamente, cada vez mais alta e insistente. Eu sabia que não era uma visita comum. Abrimos a porta lentamente e eu não pude acreditar no que estava vendo. Samya e Samuel estavam parados em frente à porta, com expressões aterrorizadas em seus rostos. Como se tivessem visto um fantasma ou algo ainda mais assustador. ******** — Oi Anna. Posso entrar? — Perguntou Samya com uma voz trêmula e perturbadora. Seus olhos pareciam refletir um medo profundo. — Claro que sim, entre! — Respondi, sentindo um calafrio percorrer minha espinha. Permiti que os dois adentrassem a casa e, com um gesto trêmulo, tranquei a porta atrás deles. Os irmãos se acomodaram no sofá, mergulhando o ambiente em um silêncio angustiante. Por fim, reuni coragem para quebrar o gelo: — O que aconteceu? Por que esse sumiço repentino? Estou procurando por vocês há dias, nem na escola apareceram. — Estávamos doentes, não há muito o que explicar. — Disse Samuel com uma voz baixa e sombria, como se estivesse ocultando algo sinistro. — Aham, claro que acredito. — Disse, deixando escapar um riso nervoso. — Digam-me a verdade, há algo mais acontecendo, algo que está conectado a mim também, não é? Samya fixou seu olhar vazio em mim e começou a falar lentamente, suas palavras se arrastando pelo ar como um sussurro macabro. — Anna... eu sei que ultimamente, você tem visto coisas que saem da realidade. E isso talvez tenha a ver conosco... e com nossa família. Não quero que pense que fizemos coisas para te assustar, pois estamos passando pelo mesmo que você. — Sua voz ecoou com uma mistura de desespero e inquietude, ecoando como um aviso sombrio dos abismos ocultos. — Então aproveite e nos conte o que houve. Aliás, Pete, esses são os irmãos que falei mais cedo. Samya e Samuel, esse é Pete, meu amigo — introduzi, sentindo o ar pesado ao redor. Os três simultaneamente acenaram-se com a cabeça, seus rostos sombreados por uma aura de mistério. Pete, que estava assistindo TV, abandonou o entretenimento e se acomodou com uma expressão tensa. O silêncio dominou o ambiente, prenunciando o terror que se desenrolaria. Finalmente, Samya soltou um suspiro carregado e começou a narrar, sua voz ecoando como um lamento: — A história que está prestes a conhecer é longa e sinistra, mas necessária para que compreenda a terrível realidade que nos assombra. No passado sombrio desta casa, residia a mãe viúva de minha bisavó, uma mulher corajosa, juntamente com ela e seus dois filhos. Eram tempos de aparente felicidade, até que um novo casamento mudou tudo. Minha bisavó, chamada Sarah Steele, era uma jovem notável, mas algo terrível aconteceu, algo que marcaria seu destino para sempre. No começo, o padrasto revelou-se um homem aparentemente bom, dissimulando sua verdadeira natureza. Num dia fatídico, quando a mãe de Sarah precisou sair, confiou sua filha aos cuidados desse homem, sem imaginar o horror que a aguardava. O velho monstruoso violentou Sarah. Porém, graças à intervenção de sua mãe, ele foi preso, e a justiça pareceu triunfar. No entanto, minha bisavó nunca se recuperou completamente daquele trauma. Ela se tornou uma sombra de si mesma, atormentada por pesadelos que a atiravam num abismo de medo e desespero. O medo do escuro era constante, e ela m*l conseguia falar ou comer. Mas o pesadelo estava longe de terminar. A descoberta de que Sarah estava grávida, já no quinto mês de gestação, trouxe uma reviravolta assombrosa. Sua mãe, com uma coragem incomum, cuidou de sua filha e, quando a criança nasceu, a acolheu como se fosse seu próprio filho. Foi assim que minha avó veio ao mundo, trazendo consigo uma herança de trevas indizíveis. No ar pesado, uma sinistra sensação de opressão se espalhava, enquanto a história macabra ecoava em minha mente. A revelação de que a casa era realmente da família de Samya despertou um arrepio em minha espinha. No entanto, ainda havia um segredo que eu não tinha revelado. O porta-joias. Apenas o olhar de Samya e Samuel não era suficiente para confiar em tal revelação. E Pete parecia tão imerso na história quanto eu. Seus olhos estavam fixos em Samya, esperando por mais detalhes assustadores. — Na verdade, nunca cheguei a morar aqui... meus pais colocaram à venda assim que vovó faleceu... e isso foi há mais de 18 anos. Infelizmente, ninguém morou aqui por muito tempo. - Samya respondeu, sua voz carregada de melancolia e segredos sombrios. A confirmação de que a casa estava condenada a permanecer vazia ecoou em meu íntimo. Era como se a própria essência do m*l se entrelaçasse nas paredes, assombrando tudo o que se aproximasse dela. Eu sabia que não poderíamos fugir dessa teia maligna que se estendia sobre nós. — Agora sabemos o motivo. - murmurei com um riso nervoso, mas havia uma tensão palpável no ar. A história estava longe de chegar ao seu fim, e eu temia o que ainda estava por vir. Samya continuou: — Antes do bebê nascer, o irmão mais velho de Sarah decidiu trancar o sótão que ficava em seu quarto, pois a garota morria de pavor quando ele estava aberto, como se qualquer coisa sinistra fosse emergir de lá. Apesar do trauma, Sarah gradualmente recuperou sua sanidade, mas estranhamente não se recordava de ter tido uma filha. Em vez disso, passou a viver com minha avó como se fossem irmãs. À medida que Sarah retomava sua vida, voltando aos estudos, os boatos sobre seu problema psicológico se espalharam entre os colegas de escola. Já aos 17 anos, na festa de aniversário, ela decidiu convidar duas garotas, Susy e Katie, com a esperança de fazer novas amizades. Sarah as convidou para conhecer sua casa e as levou até seu quarto. Ao chegar lá, por algum motivo, o sótão estava aberto, mas devido ao seu bloqueio psicológico, ela não se recordava do medo que sentia daquele lugar. Movida por uma estranha sensação, Sarah subiu as escadas para fechar a porta do sótão, quando teve a impressão de enxergar uma figura sombria no interior. Pensando que fosse sua irmã mais nova brincando de esconder, adentrou o sótão. No mesmo instante, a porta se fechou abruptamente. Dizem que só era possível ouvir os gritos apavorados de minha bisavó ecoando de dentro. Uma das garotas correu para chamar a mãe de Sarah, mas repentinamente, os gritos cessaram, deixando um silêncio sinistro pairando no ar. Pete e eu estávamos atônitos. Eu havia imaginado tudo dentro de minha cabeça, como se tivesse estado lá. — Quando conseguiram abrir a porta, encontraram Sarah já sem vida. — Continuou Samya. — Ela estava com os olhos arregalados, como se tivesse levado um susto terrível. Chegou-se então à conclusão de que ela havia morrido de medo. Ela estava se recuperando daquela fobia e receber um golpe como esse do nada foi fatal. — Nossa, foram acontecimentos terríveis. — Eu estava sem palavras, verdadeiramente impactada. — Sim, foi muito triste. — Disse Pete, com um tom de empatia em sua voz. Recobrando o juízo, acabei por fazer a pergunta que estava em minha mente: — O mais importante agora é: o que aconteceu para vocês estarem aqui? Ah, e como descobriram onde moro? — Nosso pai é policial e costuma fazer rondas por essa rua, então foi fácil encontrar seu endereço. — Samuel respondeu com sua característica brevidade. — Eu já vi algumas fotos de Sarah e comecei a pensar que poderia ser uma reencarnação dela, pois somos tão parecidas... — Samya hesitou ao falar, revelando seus pensamentos mais íntimos. — E você acabou deixando essa hipótese de lado quando viu o fantasma dela, é isso? — perguntei, curiosa e intrigada. — Você está certa. É isso mesmo. Não é possível que eu seja sua reencarnação, depois do que presenciei... não é? — Samya fez uma expressão de pavor. — Eu preciso da sua ajuda, Anna. Preciso descobrir a verdade. E preciso saber o que ela quer comigo. Um suspiro escapou dos meus lábios. Aquela garota despertava pena em mim. Quem poderia imaginar que alguém um dia viria até mim em busca de auxílio? Samya, que aparentava ser tão forte anteriormente, agora estava ali, diante de mim, chorando como uma garotinha desamparada. — Não se preocupe, Samya. Estarei ao seu lado, pronta para ajudá-la em tudo o que for necessário. Tenho o mesmo d****o de desvendar esse mistério que você, afinal, esta é minha nova morada e também anseio por uma casa livre de assombrações! Um sorriso desajeitado surgiu no rosto de Samya. Ela me envolveu em um abraço longo e sincero. Senti-me reconfortada com aquele gesto. — Agora precisamos ir, nossa mãe chegará hoje de uma viagem de trabalho e prefere que estejamos todos em casa para recebê-la. — Está bem. Ligue para mim se precisar de alguma coisa. Nos despedimos à porta. Samuel apenas acenou com a cabeça e partiu. Fechei a porta e me virei para Pete. — Estou com uma sensação muito estranha. Será que fiz a coisa certa ao ajudá-la? — indaguei, com dúvidas pairando em minha mente. — Claro que sim. — Ele me abraçou. — O que de tão r**m poderia acontecer?
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD