— E se eu tiver uma infecção alienígena que me faz cantar ópera no chuveiro sem controle? Odeio ópera.
Meu amigo ri ne*gando com a cabeça.
— Não será que você deveria perguntar a ela em vez de adivinhar?
— Não era para ela me dizer se é algo que me afeta?
— Talvez não te afete. Se você quiser tirar as suas dúvidas e não quiser perguntar a ela, faça um exame e...
Antes que ele continue, Vic entra na sala e nota o silêncio estranho. Tony a olha como se soubesse algo mais.
— Por que me olham como se tivessem feito algo de ru*im? Ela começa.
— Ethan está um pouco alterado pelo que Melissa lhe disse.
Vic suspira.
— Ela já confirmou. Espero que você a apoie.
Eu me levanto, com o coração martelando contra as costelas. A cabeça dá voltas com a ideia de que Melissa confirmou? Eu suspeitei, mas achei que não era possível. A última vez que fiz testes foi há cinco meses. Eu iria fazer no próximo mês. Isso significa... Fico quieto. A ideia me atinge com a força de um soco.
Vic me observa confusa. Há algo na sua expressão, como se eu estivesse dizendo algo sem sentido.
— Exames de quê?
— Tenho que ir. Digo rapidamente, esquivando a pergunta. — Outro dia fico para jantar. Desculpe-me com o Henry.
Despeço-me e saio dali com a cabeça a dar voltas. Assim que entro no carro, entendo que preciso falar com a Melissa o mais rápido possível.
Embora primeiro eu precise descobrir onde ela mora.
Como eu fui parar nisso? Jamais vou me deixar levar novamente sem usar proteção. Aconselho que façam o mesmo porque as consequências nem sempre são boas.
MELISSA
Sento-me no meu amado sofá com uma xícara de chá na mão. O vapor morno acaricia o meu rosto e o aroma de camomila me relaxa um pouco, embora eu realmente não consiga me acalmar completamente. Tenho um dos meus livros favoritos no colo, aquele que quero reler há semanas, mas entre o trabalho, as voltas da vida e as minhas próprias distrações, não consegui nem abri-lo.
Faço um esforço para me concentrar na primeira página, mas meus pensamentos se intrometem sem permissão. Tento não pensar na gravidez. Nem está totalmente confirmado porque a consulta médica foi cancelada e só amanhã farei a ultrassonografia, além de a médica revisar os meus exames de sangue. Tecnicamente, ainda poderia não estar, embora eu não tenha dúvidas de que estou.
Não tenho mais sintomas além de umas náuseas leves pela manhã e o atraso evidente da menstruação, mas isso me basta. Além disso, como boa ansiosa, comprei três marcas diferentes de testes de gravidez. Todas positivas. Nem um único negativo para me dar um respiro.
Amanhã vou me preocupar a sério. Hoje quero focar no meu livro antes de dormir, embora a esta altura eu já me resigne a provavelmente não ler nem um parágrafo inteiro.
Mudo de posição no sofá e penso, de novo, em vender esta casa. Já vinha considerando isso antes. É muito grande para mim e está cheia de lembranças que eu preferiria esquecer. O meu plano era me mudar para um espaço menor, começar do zero. Mas agora, com um bebê a caminho, eu hesito. Talvez eu devesse mantê-la e fazer uma mudança total na decoração, especialmente no quarto principal. Aquele quarto me persegue como um fantasma.
Desde o divórcio, durmo no quarto de hóspedes porque não suporto imaginar o meu ex-marido se rolando com a amante na mesma cama em que depois se deitava comigo como se nada tivesse acontecido. Só de pensar nisso me dá ânsia, e desta vez não é por causa da gravidez.
Respiro fundo, tomo um gole de chá e apoio a mão na minha barriga lisa. Um pequeno sorriso escapa-me. Apesar de tudo, apesar do choque, a ideia de que há uma vida crescendo dentro de mim me emociona.
Ainda não sei como vou contar isso para o Ethan. Só de pensar nisso me dá taquicardia.
Deixo a xícara sobre a mesa de apoio e fecho o livro. Fingir que estou lendo é inútil. A minha cabeça vai para onde quer e não me pede permissão. Me distraio olhando o celular e me surpreendo ao ver uma chamada perdida da Vic. Também deixou uma mensagem.
Victoria Klein: Você contou para o Ethan sobre a gravidez?
Mordo o lábio e respondo rapidamente:
Melissa: Não. Por quê?
Antes de poder ligar para ela, a campainha da porta me assusta. São quase dez da noite. Não espero por ninguém. Com certeza não é um vendedor de seguros... a menos que seja um vendedor muito desesperado.
Aproximo-me com cautela, espreito pelo olho mágico e fico paralisada.
Ethan.
O que dia*bos ele está fazendo aqui? Como ele conseguiu o meu endereço? Tony deu para ele ou ele conseguiu por seus próprios meios. Ele é policial e tem os seus contatos.
A mensagem da Vic mais a presença do Ethan na minha porta me dão arrepios. Ele terá deduzido alguma coisa quando nos cruzamos na farmácia outro dia? Ou já sabe tudo?
Tenho duas opções: fingir que dormi e não abrir, ou enfrentar a situação. Debato-me por alguns segundos, inspiro profundamente e expiro como se estivesse prestes a entrar numa cirurgia. No final, giro a chave.
E lá está Ethan. Demasiado bonito para ser real e prejudicial para os meus hormônios. A camisa sem mangas ajusta-se aos seus braços marcados, a calça fica-lhe como se um alfaiate tivesse tirado as suas medidas exatas, e o cabelo desgrenhado dá-lhe aquele ar de "acordei há dez minutos e ainda assim pareço perfeito". Eu, de pijama folgado com manchas de chá, pareço o antes de um comercial de shampoo.
Concentre-se, Mel.
— Ethan. Digo finalmente, com a voz mais rouca do que gostaria.
— Sim, eu. Desculpe aparecer assim, sem avisar, mas estou alterado.
Genial. Alterado. Isso sempre augura uma conversa tranquila.
— Alterado? Pergunto, apoiando-me na moldura da porta.
— Não pensei nisso na hora, mas quando nos cruzamos na farmácia me ocorreu... E então minha mãe me disse para usar proteção porque ela não quer netos surpresa nem doenças. Depois a Vic comentou que você confirmou e eu pensei...
Olho para ele com a boca entreaberta.
— Fique calmo, Ethan. Eu mesma estou assimilando a ideia. Amanhã o médico confirmará com os exames de sangue.
Ele franze a testa, entra na minha casa sem pedir permissão e começa a andar como um tigre enjaulado.
— Ou seja, ainda não é seguro.
— Sim, é. Todos os testes deram positivo. E eu sou muito regular.
Ele concorda, passa uma mão nervosa pelo cabelo e ri nervosamente.
— E eu corro risco? Mer*da. Isso não é justo. Uma vez que eu esqueço a camisinha m&aldita e acontece isso.
Olho para ele sem entender nada.
— De que risco você está falando?
— De infecção, Mel. Uma DST.
Fico gelada.
— O quê?
Ele para e me olha com um gesto sério.
— Vou fazer os meus próprios testes.
— Para que?
— Para descartar infecções.
Respiro fundo, tentando não soltar uma gargalhada. Infecção?
— Ethan, eu fiz todos os exames depois do divórcio. Saí limpa. E desde então, a única pessoa com quem estive é você.
Ele pisca várias vezes, como se o seu cérebro estivesse processando um arquivo muito pesado.
— Então... se você está limpa, e eu sou o único... Como você contraiu uma infecção?
— O que você está dizendo? Eu não tenho nenhuma infecção!
— Você me disse que amanhã vai ao médico para confirmar.
E aí eu entendo. Todo o quebra-cabeça se encaixa. Ethan acha que estou doente. Não que eu estou grávida.
Levo uma mão à testa.
— Ethan... vou ao médico para confirmar a gravidez.
A sua expressão é digna de um meme. Abre os olhos com exagero, a boca fica aberta e, por alguns segundos, parece que o cérebro se desconectou.
— Gravidez?
— Sim.
— E você não tem nenhuma infecção?
— Não.
— Só... Você está grávida?
— Exato.
O seu olhar desce para minha barriga como se ele pudesse ver através do tecido do meu pijama.
— E você está carregando um bebê aí?
— Bom... ainda é microscópico, mas sim.
— E é meu?
— Sim, Ethan. Você é o único homem com quem eu estive.
Ele fica encostado na parede, repetindo em voz baixa: grávida. Sem infecção. Só grávida.
Aproximo-me um pouco.
— Você está bem? Você quer um copo com água?
— Não, estou... Ele cambaleia. — Estou bem.
E naquele exato instante, como em câmera lenta, Ethan desaba no chão da entrada.
— Ethan! Abaixo-me rapidamente.
O celular vibra na minha mão. Vic. Momento perfeito para uma ligação. Atendo.
— Finalmente. DDiz ela. — Tony me contou que Ethan acha que você tem uma DST. E eu, como uma to*la, falei demais pensando na gravidez.
— Eu já sei, Vic. Já esclarecemos isso.
— E como ele reagiu?
Olho para o chão.
— Acaba de desmaiar na minha sala.
— O quê?
— Sim. Te ligo depois.
Desligo, corro para a cozinha e volto com álcool. Passo um algodão no nariz dele e ele finalmente abre os olhos.
— Tive um pesadelo horrível . Ele murmura, incorporando-se lentamente. — Sonhei que você me dizia que eu vou ser pai.
Cruzo os braços.
— Não foi um pesadelo.
Ele me observa em silêncio, com o cabelo ainda mais bagunçado e o rosto pálido.
— Sério?
— Sim. Ainda assim, você não precisa se preocupar com nada. Posso fazer isso sozinha. A minha economia é estável.
Ethan levanta-se devagar, como se o chão ainda estivesse tremendo.
— Você está falando sério?
— Totalmente. Não quero que penses que isto é uma armadilha nem nada. Assumo a minha parte. Deixei os comprimidos depois do divórcio e confiei demais. É minha culpa também.
Ele abre os olhos como se acabasse de ouvir o final de um filme.
— Caramba.
— Olha, estou cansada. Dirijo-me à porta e abro-a. — Amanhã irei ao médico, confirmarei tudo e te avisarei. Depois você pode decidir o que fazer. Eu já decidi que quero ser mãe e vou ter. Você pode escolher estar ou não. Não vou te julgar.
Ele fica parado, olhando para mim como se estivesse tentando ler uma língua estrangeira no meu rosto.
— Você quer que eu faça parte da vida do bebê ou prefere fazer isso sozinha? Ele pergunta, com um tom entre sério e confuso.
Olho para ele fixamente.
— O que eu digo é que posso fazer isso sozinha.
O silêncio se instala entre nós. Eu com a porta aberta, ele com a testa franzida, e o bebê ainda inexistente já gerando mais drama do que qualquer ex.
E naquele instante penso que, de todas as formas que imaginei contar a notícia a Ethan, nenhuma incluía um desmaio, um m*al-entendido sobre transmissão se*xual e eu de pijama manchado de chá. Mas não importa mais, tudo está dito.