5 - Sendo direta

1473 Words
Alina Morar na mesma casa que Steven estava me deixando louca. Toda vez que eu o via, ele parecia irritado. Mas havia também um fogo nos olhos dele — um olhar que me dizia que ele queria mais. Era como se me afastasse e me puxasse para perto ao mesmo tempo. E, claro, ele era meu chefe. E pai da Noah. Conciliar essas duas coisas era difícil. Noah era como um diabinho encantador — brincalhona, carinhosa, cheia de energia. Corria até mim toda vez que eu entrava no quarto, agarrando minha cintura em um abraço apertado. Queria brincar de Barbie, passar a tarde no quarto de brinquedos ou ir até o lago jogar pão para os patos. Steven, por outro lado, era um mistério que eu não conseguia decifrar. Parecia que tudo que eu fazia o incomodava. Quando conversei com o cozinheiro sobre melhorar o cardápio da Noah, ele ficou sabendo. E então me chamou à sua sala. Parecia até que eu tinha sido chamada ao escritório do diretor no colégio. A única diferença era que o homem esperando por mim desejava me despir. Ele foi direto: — Deixe que o chef cuide do cardápio. — Mas ela come palitos de peixe e batatas fritas todos os dias. Nunca tem nada verde no prato — protestei. — Eu vou falar com ele — respondeu, me encarando como se estivesse me desafiando a continuar. Fiquei dividida. Parte de mim queria defender meu ponto de vista. Outra parte lembrava que ele era meu chefe e talvez fosse melhor simplesmente ceder. E havia uma terceira parte, a mais perigosa de todas, que sentia a tensão crescendo entre nós. Não era apenas profissional. Eu já tinha fantasiado com ele. Sabia onde estavam todas as tatuagens que o colarinho da camisa escondia. Imaginei minhas mãos deslizando pelo peito dele, sentindo os músculos sob a pele quente. Ele nunca me encorajou diretamente, mas também não afastava essa energia. Às vezes, achava que via o mesmo desejo refletido nos olhos dele — como se quisesse me beijar ali mesmo e acabar com tudo de uma vez. Saí do escritório dele completamente confusa. O que ele queria, afinal? Era impossível saber. Outro episódio aconteceu quando comprei alguns livros para Noah com meu próprio dinheiro. Ele havia me dado instruções claras: se precisasse de algo para a filha, era para pedir o cartão de crédito dele. Mas naquele dia, fomos até a cidade. Eu só queria um momento de lazer, mostrar Dublin à Noah. Fomos a um parque, brincamos bastante e acabamos entrando numa livraria. Ela se encantou com um livro de ilustrações, e eu comprei para ela. Mais tarde, à noite, Noah mostrou orgulhosamente o livro ao pai enquanto estávamos sentados no sofá. — A Ali comprou pra mim! — ela disse, radiante. Steven virou-se para mim, a voz fria e afiada: — Você comprou pra ela? Noah encolheu-se, e até eu estremeci. — Sim — respondi, tentando manter a calma. — E daí? Eu já estava cansada de toda aquela postura autoritária. Se ele queria que eu cuidasse da filha, precisava me deixar trabalhar. Eu não estava traficando drogas, nem trazendo rapazes escondidos para sessões de amassos. Estava tentando dar uma alimentação melhor e livros de verdade para uma criança que já tinha mais brinquedos do que sabia usar. — Eu disse para usar meu cartão se fosse comprar algo para ela — ele insistiu. — Nós estávamos na cidade, e você não estava por perto — retruquei. — O que eu deveria ter feito? Ignorar? — Não use seu próprio dinheiro — ordenou. — Com licença, Majestade — rebati, levantando-me com a raiva fervendo. — Acho que ela precisa de bons livros. Você compra todo tipo de porcaria de plástico, mas a biblioteca dela é medíocre. Quando foi a última vez que a levou a uma livraria? — Eu sou muito ocupado — respondeu, sem dar a mínima para meu tom dramático. — Eu sei. Foi por isso que você me contratou — disse, encarando-o. — Então me deixa fazer o meu trabalho. Ele me fitou em silêncio, olhos estreitos, corpo rígido. Mas havia algo mais ali. Fúria... e desejo. Estava na forma como ele me olhava. A tensão entre nós era elétrica. Eu já tinha lido sobre brigas como preliminares — mas agora, eu estava vivendo isso. Se estivéssemos sozinhos, juro que teria arrancado minhas roupas ali mesmo. Mas Noah estava na sala. E, além disso, ele era meu chefe. Eu precisava manter o controle. Ainda assim, se ele continuasse me provocando daquele jeito, eu sabia que não aguentaria por muito mais tempo. Peguei Noah pela mão e subimos. A noite passou, e os dias seguintes foram cheios de tensão contida. Até que não aguentei mais. Certa noite, Steven decidiu trabalhar de casa. Eu sabia que ele estava lá porque sua porta estava fechada — algo raro. Esperei até que Noah dormisse. Então fui até ele. Entrei sem bater. — O que, diabos, está acontecendo aqui? — disparei. Ele ergueu os olhos do computador. Estava ao telefone, mas desligou sem cerimônia. — Como assim? — perguntou, tentando manter o tom neutro. — Você quer dormir comigo ou não? — perguntei, sem rodeios. Suas sobrancelhas se ergueram, e ele cruzou os braços com calma. — Eu poderia te demitir por isso. — Então responde logo. Ou eu vou tirar a camisa agora mesmo — desafiei. Ele sorriu, um sorriso que me deu certeza: eu estava fazendo progresso. — Eu não posso, Ali. Você trabalha para mim. Não seria apropriado. — Mas eu estou certa — insisti, dando um passo à frente e apoiando as mãos na mesa. — Você me quer. Ele pigarreou, tentando se conter. — Sim. Mas não quero te colocar numa posição desconfortável. — Já está colocando — rebati, exasperada. — Toda vez que você me desafia, que me corrige, eu sinto. Você sente também. Eu não tenho medo. Aquilo foi o mais perto que cheguei de admitir o que sentia. Esperei que ele entendesse. Steven se levantou. Deu a volta na mesa e parou ao meu lado. Ficou ali por um segundo, apenas respirando o mesmo ar que eu. Endireitei minha postura. Nossos olhares se encontraram. Estavam carregados de tudo o que não dizíamos. É agora, pensei. Em segundos, eu estaria em seus braços. Sentiria seus lábios nos meus. Mas ele se virou. Virou-se... e me deixou ali, em chamas, sozinha com tudo que ele não disse. — Eu aprecio sua honestidade — ele disse, com a voz controlada. — Mas...? — incentivei, cruzando os braços. — Mas isso está fora de questão. Por favor, vá. — Tudo bem. — Girei nos calcanhares e saí da sala furiosa, antes que fizesse algo de que realmente me arrependesse. Na sala de estar, com os dedos tremendo e o coração acelerado, eu me encostei no sofá por um segundo. Eu realmente tinha acabado de acusar meu chefe de estar me desejando... e ainda por cima disse que toparia? Sim. Sim, eu tinha feito exatamente isso. Não sabia o que tinha dado em mim. Steven era tão... tão insuportavelmente atraente. Aqueles olhos, aquele jeito controlador que me tirava do sério e me deixava, de alguma forma, querendo mais. Mas se eu queria manter minha sanidade — e meu emprego —, precisava de distância. Decidi que tinha que sair daquela casa. ***** No dia seguinte, domingo, meu único dia de folga na semana, eu planejei me afastar o máximo possível de Steven Davis e de sua beleza irritante. Peguei o celular e digitei uma mensagem para Millie, a americana que eu havia conhecido num café semanas atrás. Ela era divertida, sem filtros, e me fazia rir. Talvez ela topasse dar uma volta pela cidade ou, no mínimo, almoçar comigo de novo. A resposta dela veio quase instantaneamente: "Boate hoje à noite. Você topa? Nada de garotos m*l-humorados, só dança e tequila." Pensei por um momento e depois digitei: "Topo. Depois que a Noah dormir, sou toda sua." A ideia de sair, dançar, me divertir — ser alguém além da babá apaixonada e frustrada — me trouxe um alívio imediato. Guardei o celular no bolso, satisfeita por estar finalmente tomando uma decisão sensata. Eu precisava lembrar quem eu era antes de entrar naquela casa. Antes de Steven. Pelo menos por hoje, tudo estava mais calmo. Na próxima vez que ele tentasse se impor como um rei no trono, eu já teria recuperado minha força. E, quem sabe, até pensaria seriamente em denunciá-lo — se continuasse me deixando tão confusa e à flor da pele. Subi para o meu quarto e passei a hora seguinte lendo, esperando Noah acordar da soneca da tarde. Tentei me concentrar, mas parte de mim ainda estava na sala dele... onde quase tudo saiu dos trilhos. Mas hoje à noite, eu voltaria ao controle.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD