Quinn
A vida era curta demais para não se divertir. Eu considerava isso uma filosofia pessoal — e aplicava a quase tudo. Entregava-me à boa comida (com moderação), à boa bebida (também com moderação) e ao sexo casual, sem culpa.
Gostava de pensar que tinha um físico atraente. Passava tempo suficiente na academia para me qualificar para uma assinatura platina. E não era só para atrair outras pessoas — era para mim também. Sentir-me bem no próprio corpo era algo que eu valorizava. Minha irmã costumava me chamar de "himbo" — a versão masculina de uma "bimbo" —, e eu honestamente levava isso como um elogio. Nunca tive inseguranças com minha inteligência. Na verdade, me considerava bem esperto.
Não precisava trabalhar — a fortuna da família sempre esteve à disposição —, mas escolhi trabalhar mesmo assim. Hoje em dia, o trabalho era mais uma dor de cabeça do que qualquer outra coisa, é verdade, mas ainda me dava algum propósito.
Sou professor universitário. Ensino matemática avançada para alunos de graduação. O salário é irrelevante e a política interna da universidade me dá nos nervos, mas de vez em quando aparece um aluno que realmente me inspira. Gosto da ideia de contribuir para a formação de mentes jovens. Claro, alguns desses jovens adultos também são agradáveis aos olhos — embora totalmente fora dos limites por causa da minha posição.
Mesmo com a segurança financeira, nunca quis sair dali em desgraça. Por isso, mantinha minha vida amorosa bem longe da sala de aula. Essa era uma das muitas coisas com que minha irmã não concordava. Para ela, e para praticamente todo mundo ao meu redor — incluindo meu melhor amigo, Avery (ou Avy, como eu gosto de chamá-lo) —, o sexo casual morreu em algum ponto dos anos 1970.
Eu não era velho, mas às vezes me sentia fora de época. Não via problema algum em dois adultos saudáveis aproveitando o corpo um do outro. E eu não tinha muitas preferências fixas: às vezes homens, às vezes mulheres. Às vezes, deixava o destino decidir.
Nos meus vinte e poucos anos, vivia em casas noturnas procurando diversão casual. Sempre havia alguém disposto a se divertir. Mas conforme os anos passaram, esse ambiente perdeu um pouco do brilho. Em vez disso, passei a usar aplicativos como Tinder e Grindr para satisfazer minhas necessidades. Funcionavam tão bem quanto e não vinham acompanhados de luzes piscando e música ensurdecedora.
Naquela noite, no entanto, me bateu uma nostalgia. Resolvi me arrumar bem e sair para aproveitar a vista em um dos pontos noturnos mais populares de Dublin. Meu trabalho era opcional — o que me dava liberdade, mas também me fazia detestar me envolver demais. Dou aula de segunda a sexta. Aos sábados, reservo tempo para papelada e planejamento, mas só até onde a paciência permite.
Parece que o decano da faculdade não estava ciente — ou não se importava — com minha agenda. Ele ligou furioso por causa de uma besteira: alguém tinha incluído um livro não aprovado no currículo, e aquilo virou uma crise institucional. Tive que ouvir o homem falar por vinte minutos numa videoconferência, discursando sobre materiais apropriados, como se fosse uma aula de ética e não de cálculo.
Como professor de matemática, eu nem usava livros didáticos. Todo o conteúdo era baseado em teoria, provas e um pacote de software — aprovado pela universidade — que automatizava as tarefas. Estava usando aquilo há anos.
Tive vontade de interromper, dizer que aquela ladainha não tinha nada a ver comigo. Mas sabia que ele precisava de uma plateia. Um pequeno tirano sedento por controle. Aquilo me deixou de péssimo humor.
Avy já me aconselhou várias vezes a abandonar tudo e me dedicar a aproveitar a vida. Talvez ele estivesse certo. Mas ainda gostava de ensinar — e, francamente, não sabia o que faria se parasse. Comprar um iate?
Naquele sábado, decidi que precisava espairecer. Uma balada parecia uma ideia bem melhor. Sabia exatamente para onde ir — uma das minhas favoritas de antigamente. Saí do trabalho e fui direto cortar o cabelo. Nunca se sabe quando vai encontrar alguém interessante.
Depois, investi um tempo escolhendo bem o que vestir. Se eu ia sair, queria estar impecável. Por volta das nove da noite, dirigi até o centro, estacionei a uns três quarteirões de distância e fui andando. O clube estava lotado, o que sempre era um bom sinal. Quanto mais gente, mais chances de uma boa conexão.
Liguei meus instintos sociais. Encontrar alguém pessoalmente exigia habilidades diferentes de usar aplicativos — era mais crua, mais real. Fui direto ao bar comprar uma bebida e observar o ambiente. A clientela era jovem, animada e cheia de energia. Perfeita.
Eu m*l tinha começado a observar um rapaz sozinho, bebendo algo forte, quando duas mulheres chamaram minha atenção. Como eu, vieram direto ao bar pegar suas bebidas. Havia algo familiar nelas. Estavam na casa dos vinte e poucos anos — talvez um pouco velhas demais para serem alunas, mas também não dava pra ter certeza. Com os intercâmbios e os anos sabáticos, às vezes era impossível saber quem era estudante e quem estava apenas de passagem.
Eu esperava sinceramente que elas não fossem estudantes. Não parecia o caso, mas aquela sensação de já tê-las visto em algum lugar não me deixava em paz. Eram duas — uma loira e uma morena — perfeitamente combinadas e vestidas de forma provocante.
A loira usava uma saia curta e um top tomara que caia, figurino padrão da cena noturna. Mas foi a morena que prendeu minha atenção. Ela vestia uma calça jeans preta bem justa e uma blusa colada de alças finas. Nos pés, saltos altos — o tipo de escolha que dizia: “sei exatamente o que estou fazendo”. Imaginei que talvez estivesse aberta a um encontro casual. Apoiei minha bebida no balcão e me aproximei.
— Posso pagar uma bebida para vocês, meninas? — perguntei, usando todo o meu charme.
Elas me analisaram de cima a baixo antes de trocar olhares cúmplices. A loira deu de ombros. A morena sorriu para mim com um brilho nos olhos que quase me fez perder a compostura.
— Eu sou Quinn — disse, depois que o barman anotou os pedidos delas.
— Alina — respondeu a morena. — Mas todo mundo me chama de Ali.
— Tudo bem, Ali. O que te traz a Dublin?
— E o que te faz pensar que eu não sou daqui?
— Seu sotaque, por exemplo — respondi. — Além disso, você é muito mais bonita do que a maioria das moças locais.
As duas riram, trocando um olhar divertido, e o som da risada delas foi como música para meus ouvidos. Eu sabia que estava indo bem. Só precisava dar mais um passo.
— Estou explorando a terra dos meus ancestrais — ela disse, com um sorriso aberto.
— É um prazer ter você de volta. — Pisquei. O barman entregou duas garrafas, e eu indiquei que colocasse na minha conta. — Há quanto tempo está por aqui?
— Três semanas. Quase um mês.
— Já fez a famosa turnê de Coração Valente?
— O quê?
Ela virou toda a atenção para mim, interessada.
— O filme Coração Valente foi filmado majoritariamente aqui, em Dublin e nos arredores.
— Jura? Eu não fazia ideia.
— Mas não era na Escócia? — perguntou a loira, franzindo a testa.
— Sim, o personagem principal era escocês — respondi —, mas a produção aproveitou muitas locações aqui na Irlanda. É curioso, não?
— Isso é legal — disse Ali, bebendo mais um gole de cerveja. — E você já foi?
— Claro. Preciso manter meu currículo turístico em dia.
— Quer dançar? — perguntou ela, tomando as rédeas da conversa.
— Achei que nunca fosse perguntar.
Coloquei meu copo no balcão e a segui. A bebida tinha cumprido sua função: quebrar o gelo. Agora era hora de partir para algo mais intenso.
Ali tinha um talento natural para a pista de dança. Cada movimento era carregado de energia e confiança. Me esforcei para manter as mãos longe, para ser sugestivo sem parecer insistente. Queria que ela soubesse que eu poderia ir embora a qualquer momento — o que era verdade. Eu não tinha nada a perder. Mas, ao mesmo tempo, eu a queria.
Ela era exatamente o que eu precisava para fechar aquela noite com chave de ouro. Suas curvas suaves, seu olhar brincalhão, tudo contribuía para me fazer esquecer qualquer aborrecimento do dia. Depois de duas músicas, eu já estava pronto para esquentar ainda mais as coisas.
— Que tal levarmos essa festa para outro lugar? — perguntei, lançando a clássica isca.
— Acho que não — ela respondeu, mas não se afastou nem um centímetro.
— Não estou procurando nada sério — falei, sincero. — Só um pouco de diversão.
— Eu posso ou não estar em um relacionamento — ela disse, com hesitação na voz.
— Isso soa... complicado.
— É. — Seu rosto delicado se contraiu levemente, talvez em frustração. — Ele grita comigo às vezes, mas hoje tivemos uma boa conversa. Acho que ele está confuso.
— Ele já te chamou pra sair?
— Não.
— Já tentou te beijar?
— Não.
— Fez qualquer coisa que indicasse que quer algo monogâmico?
— Também não.
— Então ele não sabe o que está perdendo — conclui, mantendo meu tom leve.
Ela corou, mas não se afastou. Ao contrário, voltou a dançar com mais intensidade, como se tentasse extrair alguma clareza através do movimento.
— Prometo que não vou me meter entre você e seu homem misterioso — disse. — Mas, se estiver interessada em um pouco de esporte inofensivo... estou à disposição.
— Vou manter isso em mente — respondeu ela, com um sorriso malicioso.
Suas palavras me silenciaram por um momento, mas a linguagem corporal contava outra história. Eu sabia ler sinais. E tudo indicava que ela ainda estava decidindo se dizia sim — não se já tinha dito não.
Tínhamos dado uma pausa para outra rodada de bebidas. A amiga dela havia sumido, provavelmente dançando com algum desconhecido. Mantive a conversa leve, sugestiva, sem forçar nada. Ela precisava tomar a decisão sozinha, mesmo que soubéssemos onde tudo aquilo estava indo.
Ela era, com certeza, pelo menos dez anos mais nova que eu, mas isso só adicionava ao charme. Perguntei diretamente se era universitária. Ela negou. Isso me deu mais segurança — e me fez sorrir internamente.
Aquele "outro cara" era o verdadeiro obstáculo. Mas pelo que Ali me contou, o relacionamento nem tinha começado direito. Usei isso a meu favor, reforçando que ela era livre para se divertir enquanto não havia compromisso.
Duas horas depois de conversa, risos e dança, vi nos olhos dela que o momento havia chegado. Ela se endireitou, encontrou meu olhar e disse:
— Vamos sair daqui.