Azul como Mar

2721 Words
-Tristan – Falou Epires um degrau acima o olhando com frieza. -Que surpresa – Murmurou Tristan dando um passo em falso para trás. -Cuidado – Pediu Epires o segurando rapidamente pela cintura. O manto verde esmeralda caiu de sua cabeça ficando presa nos braços de Epires. Os olhos verdes se arregalaram contrastando com o tecido e a pele n***a. Com lentidão Epires o puxou e o levantou no ar para que o deixasse no topo da pequena escada com facilidade. -Você parece engordou – Sussurrou Epires para si mesmo. -Que? – Exclamou Tristan chocado em como ele poderia saber disso. -Você está mudado, parece que te alimentaram bem – Acusou Epires cruzando os braços. -Verdade, Gerusa sabia que eu deveria ter uma alimentação melhor do que pão – Retrucou Tristan olhando para dentro da casa – vamos ficar aqui ou vamos entrar? Já que não me deixou ir para o acampamento. -Vamos – Disse Epires liderando a entrada a passos largos. Atrás vinha o rapaz que pode notar o manto branco com detalhes em um tecido mais branco marfim. Uma espécie de “manto” estava cruzando o peito e preso em sua cintura, seria as roupas típicas? Tristan olhou para baixo vendo que o outro estava descalço enquanto ele próprio usava sandálias douradas desconfortáveis. -Você ficará aqui por um tempo – Comentou Epires virando se de repente fazendo com que o distraído que o seguia trombasse em seu peito – não se perca em pensamentos, não estou com paciência para isso, seu sumiço de deu muita dor de cabeça. -Não foi minha culpa, na verdade nem sei como fui levado – Grunhiu Tristan bravo cruzando os braços envoltos pelo manto verde esmeralda. -Você é como um cordeirinho, naquela época era mais leve e magro – Avaliou Epires descaradamente o corpo alheio que se cobriu com o manto fazendo o sorrir de lado – aqui você terá uma vida melhor, mas não se acostume, não posso te deixar no chão, esta casa é mais fria que o deserto. -É possível? – Brincou Tristan parando com ela ao ver a expressão do outro – é uma bela casa. -Eu sei – Concordou Epires voltando a andar. A casa era maior por dentro do que por fora. Era algum tipo de magia? Janelas abertas para a paisagem marítima deixaram no sem folego. Não mentiria que a visão do mar o assustava e o excitava ao mesmo tempo. O equilíbrio perfeito entre beleza e perigo. Se aproximou da janela sem se importar que Epires se enfurecesse. Respirou fundo a brisa que chegava até o seu rosto. O cheiro do mar salgado. Com degrades de azul. -Gosta do mar? – Perguntou Epires atrás de Tristan que quase não o reconheceu por causa da suavidade que ele fizera a pergunta. -É um belo azul – Comentou Tristan suspirando – gosto de todos os tons de azul, mas acho que o turquesa o meu favorito. -O mar é perfeito – Falou Epires apoiando se na janela e prensando o outro contra ela – consegue me fazer esquecer meus problemas. -Tenho certeza – Murmurou Tristan se virando naqueles braços e encarando o outro que apenas abaixou o olhar focando nele – você tem olhos azuis, mas ninguém aqui parece tê-los também. -Qual tom de azul você acha que se parece? – Perguntou Epires. -Na verdade tem pontos verdes, diria que é um verde azulado, o azul parece com um cobalto, mas o verde com um tom oliva –Respondeu Tristan sem desviar o olhar de Epires que começou a se aproximar – Epires.... -Epires – Chamou uma voz masculina grave que fez o chamado se afastar e ficar na frente de Tristan como se quisesse escondê-lo. -Pai – Cumprimentou Epires educadamente. Tristan até estranhou o tom afável do outro para com alguém, nem com aquele capitão ele havia sido assim. Inclinou o corpo para ver quem se aproximava e quase caiu no chão. O homem era alto e sua pele era maia escura do que aquele que o escondia. O estranho vinha a passos elegantes quando parou o encarando curioso. -Quem é esse? – Perguntou o outro arqueando uma sobrancelha. -Meu... servo – Respondeu Epires dando um passo a frente e abraçando o outro – a quanto tempo meu pai. -Está mais animado do que o normal – Acusou o homem alto que olhos de um azul escuro quase preto – mas hoje eu vim a convite do imperador, amanhã terá uma comemoração da Primavera e fomos convidados. -Mesmo? – Perguntou Epires com falsa animação quando olhou para Tristan que se cobria com o manto verde. -Filho precisamos conversar – Lembrou seu pai sério sem olhar para o jovem de verde. -Muito bem, e você me acompanhará – Ordenou Epires encarnado o jovem antes de se afastar com o pai em direção a um outro cômodo - vá para a terceira porta neste corredor e use qualquer manto que quiser... Sua voz sumiu e Tristan permaneceu ali. A brisa acariciando seu rosto. O que diabos deveria fazer? Seguir pelo corredor até a terceira porta? Pois bem. Seus pés começaram a se mover na direção ordenada e parou na terceira porta. Esta era redonda em parede branca. A porta com o topo arredondado em madeira clara. Abriu a de vagar revelando os aposentos. Uma cama larga com mantos leves em bege. Um tapete felpudo, possivelmente de qual animal. Prateleiras com livros e potes. Uma espécie de mesa com uma cadeira. Mas de tudo o que havia naquele quarto foi a enorme janela ou buraco na parede que exibia com orgulho um pedaço da paisagem marítima ainda mais bela, pois dali era possível ouvir o bater das ondas e ver com clareza as pedras escuras na areia quase branca. Aquilo era o paraíso só podia... suspirando o jovem sentou se diante da janela e descansou a cabeça nas mãos. -Poético ou trágico? – perguntou Tristan para o mar. -Talvez poeticamente trágico – Sugeriu uma segunda voz assustando o jovem na janela – desculpe, meu nome é Medéia e a pedido do Jovem Senhor vou prepará-lo para dormir. -Me preparar? Não preciso de preparamento, é só me deitar – Negou Tristan vendo a expressão da outra de desgosto. -Com todo respeito meu jovem, mas deve estar cansado e com calor de usar vestias tão... pesadas – Comentou Medéia se aproximando e tocando o manto antes de puxá-lo levemente soltando o do outro que sorriu amarelo – é um bom tecido, vou guarda-lo com bastante cuidado. -Obrigada, mas posso me despir e me banhar sozinho – Falou Tristan se abraçando. -Tudo bem, não se preocupe, vou preparar vosso banho na gruta – Anunciou ela dobrando o manto ao meio e depois novamente com bastante cuidado. -Gruta? Tem uma gruta nesta casa? – Questionou Tristan tentando esconder sua animação da mulher que concordou – posso ver? -Mas é claro, me siga – Sorriu Medéia diante da animação genuína do jovem que a seguiu de perto. O corredor onde havia entrado na terceira porta seguia para uma escada caracol um pouco escura com paredes lisas em branco gesso. A cada passo o jovem tentava não cair enquanto a mulher aprecia conhecer cada imperfeição dos degraus e não desequilibrava em nenhum momento. Então a escada revelava aos seus pés uma piscina que levava em uma espécie de corredor para o lado direito. Escadas para a água cristalina. A luz que entrava pela entrada direita onde a água seguia iluminava a água e refletia suas formas no teto branco em forma de cúpula. O chão em bege era áspero pelas formas de pedras abaixo do gesso. Uma espécie de cama com encosto alto e almofadas ficava em uma ilha ao lado da piscina. O único acesso, seco, era por uma ponte sobre o pequeno rio que formava a sua volta. Era demais ficar impressionado com a arquitetura? Com a beleza e a singularidade do local? Medéia parou ao lado dele e admirou o local. -Foi desenhado pelo próprio Senhor Epires – Contou ela orgulhosa – quem diria que aquele menino teria tamanho talento? Se bem que desde muito novo ele já demonstrava alguns dons. -Você o criou? – Perguntou Tristan decidindo soltar as joias em sua barriga a mostra. -Pode se dizer que sim, o pai dele contratou quando ele era apenas um bebê, não disse quem era a mãe, mas me incumbiu de mantê-lo vivo, ele vinha visita-lo a cada seis meses no começo – Continuou Medéia indo até um pequeno armário com vidros e outros objetos – gosta de algum sal de banho especifico? -Alecrim – Respondeu uma terceira voz. -Epires – Exclamou Tristan e Medéia que parecia tão surpresa quanto o jovem que deixou a corrente de ouro cair no chão – o que faz aqui? -Eu achava que era minha casa – Falou Epires irônico olhando para a Tristan e então virando se para a mulher com carinho – não preocupe, eu cuidarei do banho enquanto a senhora pode descansar. -Mas é meu trabalho – Retrucou Medéia em tom firme vasculhando a caixa e retirando de lá um potinho – alecrim? Não entendo do porquê a mudança repentina. -Comecei a entender que o cheiro de alecrim é muito bom – Respondeu Epires se aproximando sutilmente de Tristan que se afastou até a senhora. -Não tem alecrim – Anunciou ela balançando a cabeça – mas temos lavanda e Patchuli, o que vai ser? -Patchuli – Escolheu Epires parando ao lado do outro que resmungou baixo. -Muito bem – Comemorou Medéia se afastando do armarinho e colocando na água algumas pitadas do aroma que seriam levados pela própria em direção ao mar futuramente – Patchuli já fará efeito, enquanto isso irei buscar as roupas, com licença. Tristan sentiu o pânico bater quando a mulher sumiu nas escadas. Era sua chance. Deu um passo a fim de fugir dele, mas as mãos alheias agarraram sua cintura exposta o puxando contra o peito. O que ele faria meu deus? Sem nem piscar Epires se aproximou vendo o rosto do outro virar fechando os olhos, deu um pequeno sorriso e passou o nariz no arco delicado do pescoço. Inalou ali o aroma de alecrim ainda preso naquela pele escura. -Alecrim – Sussurrou Epires arrastando a palavra como se quisesse gravá-la na pele do pescoço de Tristan que estremeceu – eu não gostava de alecrim, mas aprece que estou começando a gostar de coisas que não achei que gostaria. -Alecrim? É bom para colocar na comida – Comentou Tristan percebendo que aquela frase era ridícula. Quem fala algo tão nada a ver em um momento como aquele? Abriu seus olhos e percebeu que era observado de jeito diferente, quase animalesco. Um sorriso malicioso decorava aquela face bela de um anjo, mas com toda certeza era um caído. As mãos em sua cintura a apertaram antes de começar a massagear o local, talvez preparando. -Gosta de alecrim? – Perguntou Epires vendo o outro morder o lábio de nervoso – meu alecrim dourado. -Aqui está – Anunciou Medéia reaparecendo com as roupas. Tristan empurrou Epires que havia se distraído com a chegada da outra e afrouxado o aperto permitindo assim sua fuga. Medéia deixou as roupas na mesa perto do armarinho/ caixa de perfumes e afins. Satisfeita ela então encarou Epires. -O senhor deve deixar o convidado se banhar em paz – Falou ela em tom sério sendo agradecida mentalmente por Tristan – é feio ficar importunando os visitantes, mesmo que esteja em um status acima. -Tristan, não? Tome um banho demorado, sem pressa, as roupas estão aqui e depois o jantar será servido, dormir cedo para acordar cedo – Falou Medéia parecendo sua mãe. Mãe. Tal lembrança o deixou de coração partido. Fazia tempos que não pensava nela e na família. Era um modo inconsciente de se manter são em relação a situação que se encontrava. Sendo assim Medéia segurou o braço de Epires e o arrastou para fora dali em direção as escadas. Tristan pode ver o sorriso dele antes do mesmo desaparecer. Seu instinto dizia que algo iria acontecer, mas não sabia se seria algo r**m ou não. Decidiu então focar no banho. Olhou em volta e começou a despir as joias. A sandália saiu de sua perna o que revelou as marcas dela. O cropped saiu facilmente o deixando desnudo da cintura para cima. Olhou para trás a fim de ver se alguém estava ali antes dele abaixar a saia calça larga. As águas frescas o receberam acalmando o suor que começara a banhar sua pele. Mergulhou para molhar e tirar o pó dos cabelos. Esfregava a pele com uma esponja que era apenas um tecido diferente. Lavou tudo, sem exceção. Sentia uma certa vergonha por saber que a qualquer momento Epires poderia aparecer. Não era como se banhar em casa dentro do box com a porta fechada. Ele não trancava a porta por saber que ninguém invadiria seu banho. Relaxou no degrau da escada e suspirou. Era isso. Estava de volta com Epires e continuava longe de voltar. Será que ficar era o seu futuro? Nunca mais voltar para casa? nunca mais ver seus pais e avó? As lagrimas desciam em silencio enquanto ele fungava. Havia aquela crença de que chorar aliviava a dor, mas parecia aumentá-la de modo quase insuportável. -Está tudo bem – Falou Tristan para si mesmo entre os soluços – vou ficar bem, só preciso aguentar mais um pouco, um dia de cada vez... Ele escondeu o rosto nos braços e chorou. Era tudo o que ele precisava. Chorar sem medo nem julgamento. Chorar como uma criança desesperada. A saudade uma hora tinha que se mostrar. Quando as lagrimas secaram e seu corpo exausto de chorar reclamou da água agora um pouco fria ele esticou o braço para pegar a toalha ao lado. Cobriu se e saiu da piscina. Seus pés molhados marcavam o chão branco com suas pegadas até a mesa. A roupa separada era uma blusa de mangas longas e decido fino. Uma calça de mesmo tom e tecido. Coloca-las levou um tempo até que ele arrumasse a toalha na cintura. -Onde eu deveria colocar isso? – Questionou Tristan olhando em volta perdido – normalmente eu deixaria dobrada em uma cadeira, mas não acho que deveria fazer isso. -Com licença – Pediu Medéia descendo as escadas e parando no último degrau – já acabou? Foi rápido, a cama já está arrumada, me dê isto e pode dormir, te acordarei na hora do jantar. -Muito obrigada – Disse Tristan sorrindo agradecido para a mulher que descartou o agradecimento com um aceno. -Parece exausto, acho que não é só fisicamente, não é? – Comentou Medéia colocando sua mão na bochecha de Tristan que não respondeu, não precisava – uma noite sono talvez resolva a exaustão física, mas não outros tipos. Tristan se afastou com ela para a escada, da qual subiram rapidamente. Ele estava descalço e pode sentir a aspereza do chão daquela casa. Voltaram a superfície encontrando a verdadeira claridade e é claro, Epires sentado ao lado de uma janela lendo um papiro. A brisa bagunçava seu cabelo preto lhe emprestando um ar de mistério quando seus olhos verdes azulados abandonaram a leitura e focaram nas duas pessoas que voltavam da piscina. Ele abaixou o papiro no colo e os cumprimentou com um balançar de cabeça antes de voltar a leitura como se nada tivesse acontecido. -Vá dormir criança – Exclamou Medéia dando um leve empurrão em Tristan que seguiu o caminho de mais cedo. O quarto estava exatamente igual. Entrou no quarto encostando a porta e se aproximando da cama larga com mantos leves em bege. Tocou o tecido sentindo o macio sob os dedos, lembravam suas roupas de dançarino. Se jogou na mesma afundando no colchão macio. Seu corpo que não aprecia exausto agora agradecia tal momento. Virou o rosto para a direita vendo as prateleiras com livros e potes, abaixo havia uma espécie de mesa com uma cadeira simples. Virou o rosto para a esquerda e focou na janela ou buraco na parede que exibia com orgulho um pedaço da paisagem marítima ainda mais bela, pois dali era possível ouvir o bater das ondas... para lá e para cá, como uma canção de ninar. Fechou seus olhos e abraçou o travesseiro quando caiu na escuridão do sono.
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