Alvo nas Costas

2576 Words
A comida veio e os soldados comeram uma pasta de aveia e favas. Nutritiva, mas com pouco sabor. Tristan comeu ao Aldo do cozinheiro que lhe contava da vez em que descobriu não ter mel o suficiente para a fava. Era engraçada demais para não rir, mas tentou se controlar. Heleno se levantou e foi senta-se ao seu lado que tinhas e espaço. Ele parecia triste com algo e Tristan já o considerava um amigo. -Ei o que aconteceu? – Perguntou Tristan preocupado comendo a pasta de fava. -Nada – Resmungou Heleno chateado brincando coma elasticidade da pasta – é que não acho que queira isso sabe? Servir, eu quero é ser arqueiro. -Não pode aprender isso aqui? – Perguntou Tristan desistindo de comer a pasta e focando no amigo – achei que aqui pudesse aprender isso. -E pode – Exclamou Heleno atraindo a atenção de outra mesa – mas sou péssimo nisso. -Então treine – Retrucou Tristan confuso. -Mas não posso fazê-lo sozinho, tenho que ter supervisão, mas quem? – Lembrou Heleno também desistindo da pasta. -Eu posso? Digo acompanhar? Podemos dizer que é para aprender e você vai me ensinar para que não atrapalhe ninguém – Pensou Tristan experimentando a pasta de fava com sabor de mel. -Não sei você nem é um cadete, talvez até fique na cozinha, você viu o sorriso de Epires? É a primeira vez que o vejo – Falou Heleno surpreso. -Sério? Que milagre então, se fui capaz disso, então somos capazes de fazer isso com toda certeza – Anunciou Tristan animado, mas contendo se para não chamar a atenção. -Espero que sim – Concordou Heleno também comendo a pasta sabor mel. Tristan consumia a pasta por saber que se dependesse de Epires ele não comeria lá muito bem. Aquele dia fora bem leve, quase não aprecia que era um acampamento de soldados. Tristan ao acabar de comer foi arrastado por Heleno para fora. O cozinheiro nem notou, mas logo perceberia que seu ajudante havia sido admitido para ser um cadete, ou seja, não ficaria mais na cozinha. O sol da tarde queimou a pele exposta de suas pernas e rosto. O suor já podia ser sentido formando se em suas costas. Aquilo não poderia ser bom. Os soldados já se enfileiraram para ouvir. Heleno se posicionou ao lado de Tristan que ficou perdido. -Como já ganharam uma batalha recentemente vamos apenas fazer uma luta em pares – Propôs o novo homem que se mostrou importante também ao lado de Epires e o outro – Epires irá coordenar. De repente algo foi jogado em sua direção e tudo o que fez foi segurar antes que lhe atingisse o rosto. Olhou para onde aquilo havia visto e viu Heleno pedindo desculpas pelo olhar culpado. O que tinha em mãos era um bastão médio de madeira sem pontas ou lascas, muito bem polido, mas com peso considerável. Heleno primeiro mostrou os movimentos para Tristan que os repetiu. A série de movimentos eram dois embaixo, dois no meio e dois em cima. Primeiro devagar para que Tristan se acostumasse, mas então Heleno começou a ser mais rápido acertando Tristan algumas vezes com o bastão. Sua coxa já ardia com a bateção daquilo e isso o estava deixando irritado. Heleno levantou o bastão para acerta-lhe no rosto, mas foi parado por Tristan que já estava de saco cheio. O próximo golpe foi na altura da coxa e Tristan foi mais rápido antecipando o golpe. Heleno aprecia mais insistente nos golpes e estes se tornaram mais fortes. Tristan e Heleno pareciam dançar com os bastões. Heleno avançava e Tristan recuava para então inverter as posições. Heleno tentou derrubá-lo, mas ele saltou empurrando Heleno com a ponta do bastão. Estava ficando diferente. Nos olhos de Heleno queimava a fúria e eles estavam sendo incitado então não se controlaria nem mesmo Tristan. Os golpes eram frenéticos e as vezes por pouco não lhe cortava o rosto. Heleno balançou o bastão e tirou o de Tristan com um golpe rápido, mas ele não parou correu em direção a Heleno e passou por baixo do bastão que veio de encontro ao seu rosto. Derrapou no chão e pegou seu bastão logo pondo se de pé e tirando de Heleno o dele com um golpe. Segurou o bastão nas mãos e derrubou Heleno avançando e deixando a madeira em seu pescoço. Heleno arregalou seus olhos castanhos e Tristan olhou em volta. Todos estavam observando principalmente Epires. Tirou o bastão do pescoço de Heleno e o apertou. Havia se perdido? Ofereceu a mão para Heleno que a aceitou e se levantou. -Desculpa - Murmurou Tristan para Heleno que não aprecia feliz. Heleno se afastou para pegar o seu próprio bastão e não falou nada. Empunhou o bastão e se preparou para uma segunda rodada. Continuaram com passos lentos para então recuar, mas sempre avançando. Não fizeram de novo a pequena batalha, mas Tristan percebeu que Heleno estava chateado, talvez por ter perdido. O sol alto queimava sua pele e a cozinhava com o suor que escorria grudando a roupa. De repente todos pararam ao ouvir um badalar de um sino. O general estava parado a frente ele falava agora com o novo homem e Epires não estava ali, estava parado conversando com outra pessoa. A areia se grudava a sua pele e tornava ainda mais difícil suportar. Precisava de um banho urgente. Parou ao ouvir o som que aprendeu a gostar. Um apito alto e todos pararam de tentar se matar. Sua roupa já era suja, mas agora se grudava a sua pele. O cheiro então? Camuflava-se com o dos outros que pareciam até normais depois de um tempo. O general olhou pra cada um com clara satisfação. -Todos para o rio – Anunciou o general sabendo do estado de todos. Todos pareceram dizer aleluia diante daquelas palavras e foram deixar os bastões no mesmo lugar. Tristan alcançou Heleno que já deixava seu bastão no lugar. -Heleno você está bem? – Perguntou Tristan com cautela diante do olhar perigoso do outro. -Eu perdi – Falou Heleno deixando Tristan ainda mais confuso – perdi para um estrangeiro e escravo, como acha que me sinto? Tristan se afastou de Heleno depois daquelas palavras. Aquilo havia doido. Por que usar aquelas palavras? Deixou o bastão no lugar e deu meia volta andando sem direção como sempre quando o general apontou para si e chamou. Andou até ele analisando as pessoas. Epires coma cara mais amena. O general com seu cachorro que abanou a cauda ao vê-lo e o novo homem que parecia tentar desvendá-lo com apenas um olhar. -Você foi muito bem treinado meu rapaz -Elogiou o novo homem colocando sua mão esquerda no ombro de Tristan. -Obrigada senhor – Falou Tristan se afastando sutilmente para passar a mão no cachorro. O novo homem pareceu perceber, mas não disse anda enquanto via o acariciar o cão mais temido do regimento. Cane colocou a língua para fora com calor. O sol ainda estava alto e precisava se banhar assim que descobrisse onde ficava o rio. -Certo Epires leve Tristan ao rio – Pediu o general olhando para o novo homem – por favor, queira me acompanhar. -Claro – Concordou o novo homem dando uma última olhada em Tristan e seguindo o general. Epires andou na frente sem olhar para trás para saber se era seguido, pois esperava que estivesse. Tristan se apressou para alcançá-lo. Suas sandálias estavam com areia e sua pele agora clamava por água fresca para tirar o suor. Perto de uma margem havia os soldados se banhando sem qualquer julgamento. Alguns estavam nus e Tristan desviou o olhar envergonhado. A maior parte estava na água com esta até a cintura. O lago era grande para um oásis e muito bonito. Com palmeiras e arbustos as margens do pequeno paraíso onde o calor parecia recuar para uma brisa úmida e suave. Epires parou um pouco longe e virou se para Tristan que admirava uma flor rosa com caule gordo. Sem nem notar que o outro havia parado Tristan deu de encontro com Epires como da última vez, mas dessa vez foi de frente. As roupas molhadas foram esquecidas e incorporadas a pele que se tocou com a outra arrepiando até o ultimo fio de cabelo. Epires não pareceu assustado do contrário de Tristan que se afastou já se desculpando. Sentir Epires tão perto. Tão quente era um problema que Tristan não queria pensar. Afastou-se do outro e parou as margens do rio. Agachou-se e tocou a água. Gelada diante de um sol quente. Levantou-se e tirou a camisa e as sandálias para entrar até onde seu short começava e mergulhou a camiseta na água já dura de suor e areia. Esfregou a roupa como podia sem sabão nem nada. Tirou depois de alguns minutos bege e limpa. Voltou à margem e deu de cara com Epires que o observava atento. Foi até um tronco de palmeira torcido imitando um banco e deixou ali sua camisa. Voltou à água já ultrapassando a altura do short tinha que lavar certas áreas que não queria que ninguém visse. Começou pelos braços. Jogou água e esfregou na mão. Sua pele n***a estava brilhante com o sol, mas ao ser limpa ela raiou. Depois foi o pescoço e o peito. Todos os soldados assim que acabavam ficavam ao sol para secar e Tristan já lavava seu abdômen debaixo da água e colocou a mão dentro do short. Lavou como podia com a vergonha de fazê-lo ali. Espiou a margem e não encontrou Epires. Onde ele fora? Mergulhou para lavar o cabelo. A água gelada acordava seu corpo e o fazia relaxar um pouco com o choque de temperatura. Voltou a emergir já revigorado. Passou as mãos pelo cabelo desembaraçando o que conseguia com as pontas dos dedos. Tinha que lavar o short de algum modo, pensou Tristan. Como poucos soldados estavam ali Tristan voltou um pouco para a margem e começou a esfregar o short para limpa-lo com pouco sempre olhando em volta à procura de curiosos quando sentiu algo estranho. Sua pele se arrepiou e ficou alerta algo estava acontecendo. Começou a se virar e encontrou Epires bem atrás de si. Em um momento de susto ele escorregou e caiu sentado na água indo parar na areia. Levantou seus olhos para ver Epires sem camisa a sua frente. A pele dourada banhada em água gelada com gotículas caindo vagarosamente pela pele quente. Brilhando ao refletir o sol. O cabelo molhado caia-lhe sobre os olhos azuis. Levantou se da areia e encarou Epires antes de se afastar mais para a água a fim de limpar a areia. Estar sem uma proteção da roupa perto dele era estranho demais para si. -Nossa – exclamou Tristan sentindo seu coração falhar - você está tentando em matar? -Não – Respondeu Epires andando para mais longe e parando. -Espera – Pediu Tristan se recompondo – posso te fazer duas perguntas? -Se eu negar você vai perguntar? – retrucou Epires colocando as mãos na água. -Exato, mas é melhor perguntar só por educação, então sabe do porquê Heleno está bravo comigo? -Perguntou Tristan triste sentindo a água ficar mais quente. -Você não é daqui então não poderia saber, quando lutamos não podemos perder, é como se disséssemos que não somos suficientemente capazes de lutar e nos tornássemos inúteis, quando ele perdeu para você, sua honra foi questionada, você é estrangeiro e é melhor do que ele – Explicou Epires calmamente. -Então ele está assim porque perdeu para mim? Como se eu não fosse capaz de me defender? Isso é estranho, mas é sua cultura – Disse Tristan indo para a areia para se secar – e a segunda pergunta é... Epires estava para mergulhar quando o esperou dizer. Tristan deveria perguntar isso ou outra coisa? Seria estranho, mas... -Então... –Incentivou Epires querendo mergulhar. -É que eu queria saber se tem alguma cidade aqui perto? – Perguntou Tristan inocentemente. -Não – Respondeu Epires – pelo menos não facilmente, estamos no deserto, apenas caravanas passam por aqui para abastece-nos, mas não são muito confiáveis quando se trata de atravessar o deserto. Tristan apenas imaginou se poderia usá-los para ira algum lugar que alguém o ajudasse, mas é claro que pareceria estranho perguntar. Deu meia volta em direção a sua camiseta. Pegou a camiseta e colocou sobre o corpo seco pelo sol quente e se virou não encontrando Epires. Ele sumia bem rápido ou era coisa da sua imaginação? Que seja ele que não ficaria esperando. Colocou suas sandálias e andou pela margem olhando o lago a procura dele ate que trombou com alguém. Afastou-se e pediu desculpa encontrando ao levantar seus olhos o novo homem. Pulou para trás ao perceber que estava muito perto. -Desculpa – Exclamou Tristan chocado com sua aparição repentina. -Então ainda está aqui – Falou o novo homem se aproximando de Tristan que olhava para o lago a procura de Epires e não percebeu quando o outro ficou a centímetros de si, apenas quando sentiu sua mão em seu ombro –venha a minha tenda depois do jantar quero falar com você sobre algumas coisas. Tristan o encarou um pouco confuso sobre o motivo disso quando a mão do homem foi até o seu pescoço e massageou o local. Seu coração acelerou, não como quando Epires estava perto, mas por medo. O que deveria fazer? Deveria se afastar? Mas e se ele visse isso de modo r**m e lhe castigasse? O pânico o congelou no lugar. A mão começou a descer do seu pescoço e parou novamente no ombro. Os olhos dele acompanhavam a mão, mas apreciam ter ido mais longe, além das roupas. De repente Tristan foi puxado para trás e um braço molhado caiu sobre seus ombros. Olhou para o lado e viu Epires com o cabelo pingando. Ele havia colocado a camiseta ainda molhado então ela se grudara a ela. -Senador – Cumprimentou Epires trazendo Tristan mais para frente – o que o traz aqui? Ele o está incomodando? -Não, apenas estava conversando com ele – Negou o Senador olhando o branco flexionado de Epires sobre o ombro de Tristan. -Claro o Tristan você vai treinar hoje comigo – Disse Epires de repente olhando Tristan que o encarou surpreso – precisa melhorar no arco e flecha se quiser ganhar alguma batalha. O senador apenas concordou um pouco incomodado, mas Epires não soltou Tristan em nenhum momento quando anunciou que deveria voltar para sua própria tenda. Epires arrastou Tristan passando por alguns soldados que apenas viam Epires levando o seu... para a tenda. Tristan acompanhava ou tentava com a velocidade que Epires andava. O caminho parecia mais longo do que realmente era. Tristan de repente parou. Epires olhou para ele. Algo lhe dizia para parar e não se mover. O que estava acontecendo? Olhou para os lados e Epires se pós a sua frente. Sua boca se mexia, mas nada saia dela na visão de Tristan que inclinou a cabeça para o lado a fim de entender melhor quando em um momento de loucura puxou Epires pela gola da roupa que usava jogando o para o outro lado. Uma flecha rasgou o ar e acertou suas costas. Ele caiu em cima de Epires que ao ver a flecha cravado em suas costas, ele entendeu. O alerta soou e todos ficaram atentos a todos os lados. Tristan perdeu o que já tinha a pouco tempo.  A consciência.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD