-Não fique triste por ter sido enganado – Falou a que bebia vinho – não é a primeira vez.
-Como assim? – Perguntou Tristan se aproximando quando uma delas ofereceu um espaço.
-Eneias é conhecida por ser a contratante – Explicou a que lhe dera um lugar – aliás meu nome é Agahta, e o seu?
-Tristan – Respondeu educadamente sentindo uma mão em sua coxa – e vocês seriam?
-Alethea– Falou a que bebericava o vinho e tinha um lenço vermelho na cintura – está é Brumália, Calídece e Donatília.
-Tristan – Repetiu Calídecedo seu lado direito e tocando os sininhos – esse era o nome do dançarino do Senador, não é?
-O Senador se gabou tanto que nunca imaginei que ele deixaria você ser visto por alguém além dele – Comentou Donatília de lábios vermelhos pegando uma uva – mas você está aqui, trazido por Eneias, quando a Senhora souber você será a atração da noite.
-Eneias não tem uma filha? – Perguntou Tristan preocupado com os sorrisos penosos das mulheres.
-Você ainda não entendeu, não é? Eneias te enganou para vir aqui, viu em você uma vantagem e o usou, por você ela ganhará o suficiente para desaparecer –Contou Agahta bocejando – será que vai demorar muito?
-Quer dizer que fui vendido novamente? Agora é moda ficar vendendo as pessoas? – Questionou Tristan enfurecido – estou cansado de tudo isso...
-Quem te comprou? – Perguntou Brumália curiosa jogando os cabelos pretos ondulados para trás e se inclinando na direção do novato.
-Epires – Respondeu Tristan sentindo o peso das palavras – me digam que não o conhecem
-Quem não conhece Epires, o Príncipe das águas? Não existe ninguém tanto me terra quanto no mar que não o reconheça – Exclamou Brumália exaltada – meu sonho é ele vir aqui, mas ninguém consegue faze-lo relaxar.
-Como ele é? – Perguntou Donatília segurando seu antebraço e afundando as unhas pintadas nele – digo intimamente.
-Como vou saber? O conheço a cerca de o que? Quatro dias? – Debochou Tristan afastando o braço da mulher e vendo as marcas vermelhas.
-Que coisa, geralmente os Senhores compram escravos para satisfazer algumas coisas – Murmurou Agahta tocando o indicador no queixo pensativa – senão foi para isso então por que o comprou?
-Não creio que ele faça algo simples – Murmurou Tristan para si mesmo – mas talvez para ter alguma satisfação própria sobre alguma coisa que só ele mesmo sabe.
-Mas então é dançarino ou um prostituto? – Perguntou Alethea sem rodeios fazendo o jovem encolher os ombros
-Não sou um prostituto nem dançarino – Negou Tristan emburrado cruzando os braços e vendo o olhar cobiçoso das mulheres – mas o que vocês fazem aqui?
-Trabalhamos com entretenimento – Respondeu Donatília sorrindo sugestiva.
-Você é virgem? – Perguntou Brumália arrastando o prato com uvas para mais perto.
Sem qualquer aviso todas se viraram em sua direção, mas Tristan não tinha vergonha de ser assim. Que problema ele teria? Não era da conta de ninguém mesmo.
-Sim – Respondeu Tristan calmamente vendo as expressões chocadas das mulheres – não tive nenhum problema com isso até hoje.
-O queouvi era que o dançarino era muito experiente, mas está me diz outra coisa, realmente não consigoentender – ComentouAgahta arqueando uma sobrancelha.
-Mas se quiser mudar esse status é só falar – Disse Brumália acariciando o braço de Tristan que apenas balançou a cabeça se afastando sutilmente – você é precioso.
-Exatamente – Concordou uma nova voz fazendo com que todos se virassem para a porta onde a Senhora estava parada analisando seu novo hospede – Eneias me cobrou um preço verdadeiramente único por você, espero que me faça ganhar o triplo amanhã à noite.
-Mas... – Disse Tristan sentindo uma mão em seu ombro o segurando.
-Ele estará pronto amanhã a noite – Falou Agahta prestativa vendo a mulher dar meia volta e sumir – você é louco? Ela parece calma, mas não a irrite senão diga adeus a sua vida.
-Realmente – Concordou Donatília cansada – pelo jeito hoje não trabalharemos.
-É – Concordou Alethea bocejando – vamos dormir, Tristan deve querer tomar um banho e se trocar? Infelizmente só temos roupas femininas, sabe? Só mulheres são permitidas aqui ou era.
-Não vejo nenhum problema, só quero ir embora – Resmungou Tristan triste – essa coisa de ser comprado, tratado como inferior, depois sequestrado, tratado como objeto e agora vendido novamente e tratado como sei lá, é desgastante e dolorido.
Alethea levantou se e foi em direção a uma porta de véus cobrindo a apenas. Passou pelo véu azul e voltou com uma muda de roupa. Tristan seguiu seu exemplo parando a sua frente e tocando o tecido bege.
-São para dormir, sua roupa amanhã será escolhida a dedo – Explicou Alethea oferecendo as roupas que foram pegas pelo outro – lá no fundo haverá uma espécie de piscina, banhasse, tem perfumes caso deseje.
-Obrigado – Murmurou Tristan cabisbaixo passando pela mulher e seguindo para além dos véus.
-Temos um grande problema – Comentou Brumália preocupada – se for verdade poderemos nos queimar muito.
-Ou pior – Murmurou Donatília estremecendo – não quero perder meu pescoço, ele é tão lindo.
-Não diga isso, não creio que Epires vá encontra-lo de qualquer maneira –DiscordouCalídece indo se deitar em uma das almofadas rosas bordadas.
-Duvido, a Senhora vai dizer aos quatro cantos que tem um dançarino novo – Falou Brumália virando se para a deitada na almofada – e ninguém precisa ser muito esperto para deduzir que é consciência demais que o dançarino do Senador desapareceu e então um dia depois temos um dançarino aqui, sendo que esse lugar já é conhecido pelos métodos de como consegue novas... hã... funcionarias?
-Espero que nada disso venha acontecer – Pediu Alethea voltando depois de ter certeza de que Tristan não havia se perdido no caminho – mas se acontecer é melhor estarmos preparada mesmo que não vá ser a primeira vez que nos envolvemos em processos e duvido que vá ser a última.
-Verdade – Concordaram as mulheres em uníssono antes de caírem nas almofadas confortáveis.
O pequeno corredor o levou até um outro quarto onde uma banheira feita no próprio chão estava enfeitada com flores.
Vidros de perfumes e sabonetes a sua volta. Mais ao lado havia um banheiro pequeno com uma tina de água. Deixou as roupas no chão percebendo que um pouco de pó de ouro estava nelas. Bastou um tapa e o pó flutuou para cima. Levou as mãos até o rosto e tirou, com certo esforço, aquela máscara de joias.
Os braceletes e a tornozeleira foram as próximas. Depois a corrente de sinos da cintura. Estava quase terminado. Abaixou a calça e a deixou ali ao lado entrando na piscina com cuidado. A água quente tocou sua pele acariciando a enquanto a sua volta o pó dourado flutuava na água.
Nada que um mergulho não desfizesse seus cachos e tirasse deles o dourado. Passou as mãos no rosto para tirar a água e encarou o sabonete ou era o que parecia. Aproximou se daquela barra estranha e cheirou. Alecrim. Franziu o cenho, era um cheiro interessante, como e que nenhuma delas cheirava a alecrim?
-Espero que goste da minha escolha – Falou a Senhora entrando no cômodo para a surpresa de Tristan – não tenha medo não vou machuca-lo.
-O que... como... – Disse Tristan confuso.
-Tenho meus métodos de como entrar e sair sem ser vista – Contou ela calmamente parando na beirada da piscina – Eneias me tirou um bom dinheiro, mas ela deveria tê-lo devolvido ao dono, teria ganhado o triplo do que dei a ela, isso é a ignorância sobre os preços.
-Não tem medo? Epires não me parece alguém calmo – Comentou Tristan tampando sua i********e como podia sem parecer obvio demais.
-Epires é alguém que não faria alardes, ele prefere agir nas sombras, se todos soubessem o que ele é capaz de fazer não o chamariam de Príncipe e sim de Deus – Disse a Senhora agachando se atrás de Tristan e suspirando – mas pelo que ouvi é bem mais do que posso ver, então me faça ganhar dinheiro.
-Irá me libertar? – Perguntou Tristan esperançoso não queria lutar para sair, seu corpo estaria quebrado no dia seguinte de qualquer forma.
-Talvez, mas terei que ganhar mais do que perdi – Retrucou a Senhora se levantando – tem algo para início de conversa?
-As joias que o Senador me obrigou a usar – Sugeriu Tristan apontando para as joias embaixo de sua calça preta – pode ficar com elas.
-São verdadeiras – Murmurou a Senhora fascinada recolhendo as joias e as guardando no bolso de seu manto vinho – amanhã me faça uma apresentação na qual cada presente gaste muito dinheiro e talvez eu o liberte.
A mulher saiu a passos lentos com as joias e um sorriso satisfeito nos lábios vermelhos que Tristan não conseguiu ver. Pegou o sabonete e passou pelo corpo. Pelo menos ficaria cheiroso, murmurou para si mesmo enquanto se lavava como podia principalmente os locais em que o Senador o havia tocado. Deitou sua cabeça na beirada da piscina e relaxou ali mesmo. Com a água quente e os aromas de alecrim e rosas no ar e na banheira.
-Queria voltar para casa – Sussurrou antes de sentir as lagrimas molhando seu rosto.
Depois de tudo o que havia acontecido e nenhuma lagrima foi derramada. Só queria estar em casa com seus pais. Comer pizza enquanto falavam sobre o dia e degustavam aquela iguaria. Secou as lagrimas como podia já que a mão estava molhada.
Ainda na mesma posição fechou seus olhos a fim de ignorar aquele sentimento de saudade, solidão, medo e desespero que ameaçava dominá-lo. Precisava ser forte... o choro veio antes que pudesse segurar.
Desceu um degrau para dentro da piscina deixando a água em seus ombros. Era como um abraço caloroso. Segurou a respiração e mergulhou.
Era calmo e sem ruídos. Embaixo da água ele sentiu se um pouco melhor. Era como se braços o envolvessem e lhe prometessem segurança. Foi bom enquanto durou. Até que seus pulmões o obrigassem a voltar a realidade. Emergiu apoiando as mãos na beirada da piscina prestes a sai quando parou.
-Tristan – Chamou uma voz suave.
-Quem está ai? – Perguntou Tristan com medo de olhar quando viu mãos aparecerem aos lados dos seus ombros.
-Não tenha medo – Falou a voz suave tão perto que o deixou com medo – você precisa sair daí.
-Que? – Exclamou Tristan finalmente reconhecendo a voz e virando se nos braços da pessoa encontrando os olhos azuis – como? Mas...
-Tenho pouco tempo, isso requer muito de mim, preste atenção, Heleno irá te ajudar, mas apenas no dia da Primavera para não levantar suspeitas – Contou Epires focando seus olhos nos de Tristan.
Mas o próprio não conseguia focar seus olhos nos dele, pois recaiam sobre os ombros largos a mostra. Molhado e quente. Esse era Epires naquele momento. Ele não deveria estar pensando nisso, aliás Epires o havia comprado nem deveria ter sua atenção.
-Preste atenção – Pediu Epires em tom firme – sei que está assustado, mas precisa estar alerta, quando o dia da primavera começar tente sair, Heleno está resolvendo essa parte, na primeira oportunidade sai e espere na barraca de flores do deserto, Heleno o levará a um lugar seguro.
-Por que está me salvando? – Perguntou Tristan curioso – sou apenas um... nada, na verdade, por que gastar toda essa energia?
-Por que não aceito que toquem no que é meu – Respondeu Epires se aproximando do jovem que se encolheu e levantou as mãos para afasta-lo notando o calor soba palma da mão – e você é meu.
-Como posso senti-lo? Você nem deveria estar aqui – Pensou Tristan um pouco alto logo percebendo e afastando as mãos – obrigada por me ajudar, acho.
-Preciso ir – Disse Epires abaixando os olhos e focando em algo na água.
Tristan arregalou os olhos chocado. Ele não estaria olhando para o seu... encolheu se como podia quando Epires colocou a mão na água. Ela torou se ainda mais quente. Levantou os olhos para o rapaz sorrindo de lado.
-Você está se banhando com alecrim? – Perguntou Epires interessado mostrando um ramo da planta para Tristan que pisca sem entender – sabe o que significa?
-Não – Respondeu Tristan encarando o ramo que lhe era oferecido como uma benção.
-Cheirar a alecrim principalmente em um lugar como este significa que você está pronto para qualquer coisa e fará qualquer coisa que pedirem –Contou Epires colocando o ramo na orelha de Tristan e passando o polegar em sua bochecha lentamente.
-Tristan – Chamou Brumália entrando no banheiro e assustando Tristan que virou se para ela – ainda está vivo? Por que está demorando tanto? Por acaso estava.... sabe?
-Desculpe eu acabei adormecendo – Mentiu Tristan sorrindo amarelo – já estou indo.
-Tudo bem – Concordou Brumália olhando em volta e saindo dali.
Tristan virou se lentamente para trás sabendo que não o encontraria. Suspirou e pegou a toalha na muda de roupa. Ficou apenas com o quadril para cima fora da água para se secar e vestir a camiseta bege de tecido macio diferente daquela que usava. Saiu inteiro e colocou a calça bege larga também. O conjunto era bordado com flores coloridas e arabescos. Não entendia a dificuldade que alguém teria em usa-la. Secou bem os pés para não cair e pegou a toalha juntamente com a calça preta. Andou até o pequeno corredor e por sua extensão até entrar no quarto. As mulheres pareciam prestes a dormir.
-Pode dormir ali – Falou Calídece apontando para uma cama mais afastada – mas antes por que não come alguma coisa?
-Não estou com fome – Disse Tristan antes de ir para a tal cama.
-Mas deveria comer, pode ter pesadelos senão comer – Insistiu Calídece se aproximando um pratinho em mãos.
A curiosidade falou mais alto fazendo o jovem espiar o que a outra trazia. No prato de cobre havia um cubo médio branco com laranja. Esticou a mão e pegou o cubo sentindo a textura macia da mesma. Cheirou e deu uma pequena mordida. Era gostoso, pensou antes de enfiar tudo na boca mastigando.
-Agora pode dormir – Falou Calídece satisfeita se afastando com o prato.
Deixou a toalha e a calça d elado e avaliou a cama. O colchão era grosso e ao toca-lo percebeu como era macio. Dormiria bem pelo jeito. Sentou se na cama e puxou a coberta por cima de si. Olhou para as mulheres que ainda conversavam baixo. Acomodou se na cama e encarou o teto. Era isso. Epires havia aparecido... como ele havia feito aquilo? Será que havia sido real ou apenas uma miragem? Por saber que ver os pais era algo quase irreal já que nem entendia como havia ido parar no passado para começo de conversa, mas ter apenas Epires que era o exemplo de “É até legal já que não fica me inferiorizando, mas me comprou” enfim a hipocrisia.
Virou se de lado em direção a parede e fechou seus olhos.