MOMENTOS TENSOS

1013 Words
O silêncio da madrugada parecia diferente naquela noite. Pela primeira vez em meses, Laura caminhava pelas ruas estreitas de Trabzon sem olhar para trás a cada passo. Eduardo estava preso. A cidade respirava mais leve, e os olhares de solidariedade das pessoas que a ajudaram pareciam devolver-lhe um pouco da confiança perdida. Mas o coração dela não se libertava tão rápido. Cada sombra, cada ruído distante ainda ecoava como ameaça. Era como se o ódio de Eduardo tivesse deixado uma marca invisível, uma ferida aberta na alma de Laura. No pequeno quarto que dividia com Malu, a menina dormia profundamente, o rosto sereno. Laura a observava em silêncio, acariciando os cabelos da filha e tentando gravar na memória aquela expressão de paz. Uma lágrima escorreu, não de medo, mas de gratidão: pela primeira vez, Malu dormia sem sobressaltos. Na manhã seguinte, a comunidade se reuniu para ver Laura. Selim trouxe pães frescos, Fatma chegou com chá quente, Ayla estacionou o carro à porta, pronta para qualquer emergência. Até o padeiro e o pescador vieram cumprimentá-la. Eram pessoas comuns, mas, para Laura, tinham se tornado heróis. — Você venceu, Laura — disse Fatma, abraçando-a. — Mas precisa pensar no futuro. O cárcere não silencia para sempre um homem como Eduardo. Ele pode tentar voltar, ou alguém pode tentar por ele. Essas palavras caíram pesadas. O medo não havia acabado, apenas mudara de forma. Laura sabia que precisaria ser mais forte do que nunca, não apenas para fugir, mas para construir um lar seguro e verdadeiro para Malu. Naquela noite, olhando pela janela para o mar agitado, Laura fez uma promessa a si mesma: nunca mais viveria como presa. Agora, começaria a lutar não apenas por sobrevivência, mas por liberdade. A prisão não conseguiu apagar o ódio de Eduardo. Entre grades frias e paredes úmidas, ele tramava silenciosamente, aproveitando cada visitante, cada palavra sussurrada, cada pequeno deslize do sistema. Sabia que alguém na cidade ainda poderia ajudá-lo — antigos amigos, conhecidos de negócios ou pessoas compradas com dinheiro. Seu plano era simples, mas mortal: recuperar o controle de sua vida e de Laura, e fazer Malu pagar por cada fuga. Enquanto isso, Laura tentava criar uma rotina para Malu. Pela primeira vez em meses, a filha podia brincar sem olhar a cada sombra. A escola estava organizada, um quarto seguro preparado, comida na mesa. Era pouco, mas para Laura, era um começo. Ela sabia que a liberdade era frágil, mas queria que Malu sentisse que merecia mais que medo e fuga constante. — Mamãe, podemos ficar aqui para sempre? — perguntou Malu, olhando para a mãe com olhos cheios de esperança. Laura apertou a filha contra o peito, sentindo uma mistura de amor e preocupação: — Por enquanto, sim… mas precisamos continuar cuidadosas. O aviso de Fatma soou como uma sombra no coração de Laura: — Não se enganem. O ódio dele não morreu. Ele vai tentar encontrar uma brecha. E não demorou. Dias depois, mensagens anônimas começaram a chegar, bilhetes sussurrados por conhecidos de Eduardo, ameaças disfarçadas de lembranças: “Você não se livrou de mim”, diziam. Laura sentiu o estômago apertar, mas não podia demonstrar medo na frente de Malu. Selim e Ayla reforçaram a segurança: rotas de fuga adicionais, contatos confiáveis sempre atentos, vigilância silenciosa ao redor da casa e da escola de Malu. Cada pessoa se tornou um aliado invisível, formando uma rede que mantinha Eduardo distante, pelo menos por enquanto. No silêncio da noite, Laura olhou para Malu dormindo e sussurrou: — Não importa o que ele tente… enquanto estivermos juntas, ele nunca nos destruirá. Mas mesmo com todos os cuidados, Laura sabia: o passado ainda era uma sombra viva. E Eduardo estava longe de desistir. Enquanto Eduardo passava os seus dias na prisão, calculando cada passo que poderia dar assim que saísse, Malu enfrentava outro tipo de perseguição — silenciosa, c***l e diária. A rotina da escola, que deveria ser alegre e cheia de aprendizado, tornou-se um campo de batalha. Garotas da sua turma, lideradas por Yasmin, começaram a provocá-la constantemente. Comentários maldosos sobre a aparência, sobre o jeito de falar, e até sobre Laura começaram a surgir: — Sua mãe é uma inútil, não consegue nem te proteger! — Olha essa boneca… quem vai brincar com você se a mãe é fraca? Malu, que antes sorria com facilidade, começou a se fechar. O coração apertava a cada palavra, a cada risada que sentia dirigida a ela. Alguns dias, voltava para casa cabisbaixa, abraçando a mochila como se fosse um escudo. Laura percebeu rapidamente. Quando Malu entrou em casa um dia, com os olhos vermelhos de tanto chorar, Laura a puxou para um abraço apertado. — O que aconteceu, minha pequena? — perguntou, a voz embargada. Malu soluçou: — Elas… dizem coisas horríveis sobre a gente… sobre você! Eu não quero ir para a escola… Laura sentiu uma dor profunda. Não apenas pelo sofrimento da filha, mas pelo peso de saber que, mesmo longe de Eduardo, o mundo ainda podia ser c***l. Ela precisou reunir cada fragmento de coragem que lhe restava: — Escuta, Malu… eu sei que dói, eu sei que parece injusto. Mas você precisa entender algo: as palavras delas só têm poder se você deixar. Eu sei que você é forte, mais forte do que qualquer uma delas. E eu sempre estarei aqui para você. Sempre. Malu apoiou a cabeça no peito da mãe, sentindo um pouco de alívio. Mesmo com lágrimas escorrendo, havia conforto naquele abraço. Laura sabia que não podia controlar tudo — nem o bullying, nem os passos de Eduardo — mas podia ensinar a filha a se manter firme, a lutar com coragem e a não deixar o ódio do mundo definir quem elas eram. Enquanto Eduardo na prisão traçava a sua vingança, planejando o dia em que voltaria a impor medo, Laura e Malu aprendiam que o verdadeiro desafio era sobreviver emocionalmente a cada ataque — seja de inimigos distantes ou de crianças cruéis. E cada pequena vitória de resistência fortalecia ainda mais o vínculo entre mãe e filha.
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