apresentando o morro a Isabel

642 Words
Capítulo 1: Olhares de Desconfiança A estrada que levava ao Morro do g**o era estreita e cheia de curvas. Isabel dirigia devagar, observando as casas simples empilhadas uma sobre as outras, formando um labirinto de cores e histórias. Assim que chegou à contenção — a entrada da comunidade — percebeu os olhares fixos dos rapazes de boné e bermuda larga. Eles seguravam rádios, alguns sentados, outros em pé, atentos a tudo. Isabel sentiu o peso daqueles olhos, que pareciam julgá-la antes mesmo que dissesse uma palavra. Com a pasta em uma das mãos e a bolsa na outra, caminhou em direção ao grupo. — Quem é você? — perguntou um dos rapazes, o mais jovem, franzindo o cenho. — Meu nome é Isabel. Sou a nova médica do posto. Estou aqui para ajudar. Um silêncio pesado se seguiu. Um dos vapores — os "olheiros" do tráfico — pegou o rádio, apertando o botão de transmissão. — Muralha, tem uma doutora aqui na contenção. Parece que é do posto. O rádio chiou, mas nenhuma resposta veio. Os rapazes se entreolharam, desconfiados. — Espera aí. Vou chamar o Gaspar — disse o vapor, já ligando para o subchefe do morro. Gaspar não demorou. Desceu rapidamente a escadaria com passos firmes, encarando Isabel de cima a baixo. Ele era um homem corpulento, com uma cicatriz na sobrancelha esquerda e um tom de voz que não deixava espaço para discussão. — Então você é a doutora nova? Escuta bem, aqui não tem espaço pra erro. Cuidado com o que você faz e fala. O Morro do g**o tem suas regras, entendeu? Isabel engoliu em seco, mas não desviou o olhar. — Estou aqui para cuidar das pessoas, só isso. Gaspar estreitou os olhos, mas assentiu com um gesto seco. — Tá bom. Pode subir. --- O Posto de Saúde No posto, Isabel encontrou Beatriz, uma enfermeira veterana, que a recebeu com um sorriso caloroso, contrastando com o clima tenso da contenção. — Você deve ser a Isabel! Seja bem-vinda. — Beatriz estendeu a mão e logo a puxou para um abraço. — Olha, vou ser honesta: o trabalho aqui não é fácil, mas é gratificante. Isabel sorriu, aliviada por finalmente encontrar alguém receptivo. — Obrigada. Pode me contar um pouco mais sobre como as coisas funcionam por aqui? — Claro. — Beatriz apontou para as prateleiras com medicamentos e as macas improvisadas. — Temos o básico, mas sempre falta alguma coisa. Os casos variam: febre, infecções, e, claro, ferimentos de bala. Você vai ver muito disso. Antes que pudesse terminar a frase, a porta do posto se abriu com força. Dois homens entraram carregando outro, com o braço ensanguentado. — Doutora! Ajuda aqui, rápido! — gritou um deles. Isabel respirou fundo, já pegando as luvas. Beatriz correu para ajudá-la. — O que aconteceu? — perguntou Isabel enquanto avaliava o ferimento. — Tiro. Troca de tiro com os caras lá de baixo. Isabel assentiu, mantendo o foco no ferido. Apesar do nervosismo, suas mãos não tremiam. Com a ajuda de Beatriz, limpou e suturou o ferimento. m*l terminou, e outro homem chegou com um corte profundo no ombro. O posto de saúde virou um caos em questão de minutos. Isabel já estava coberta de suor, mas continuou firme. A tensão era palpável, mas ela sentia que estava exatamente onde deveria estar. --- Ao final do dia, Isabel estava exausta, mas sabia que o Morro do g**o seria mais do que apenas um desafio médico. A desconfiança inicial dos vapores, a recepção calorosa de Beatriz e a realidade crua das pessoas feridas lhe davam um vislumbre do que a aguardava: um lugar cheio de vida, sofrimento e histórias por trás de cada olhar. Ela olhou para o morro iluminado pelas luzes fracas das casas e pensou consigo mesma: "Será que estou pronta para o que me espera aqui?"
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