Vitor Narrando
Me chamo Vitor, tenho dezessete anos — ou melhor, quase dezoito. Meu aniversário é amanhã, vinte e quatro de dezembro. Véspera de Natal e início oficial da minha vida adulta. É meio surreal. Até hoje fui o garoto: filho, irmão mais novo, aluno do ensino médio. Amanhã, serei um homem. Pelo menos no papel.
Sou moreno, com olhos verdes que herdei da minha avó portuguesa — um contraste que sempre rendeu uns elogios — e cabelo sempre na régua, porque detesto me preocupar com corte. Mas meu orgulho maior não é o rosto. É o corpo. Comecei a puxar ferro aos quinze, meio por insegurança, meio pra impressionar uma garota da escola. A garota sumiu, mas o vício ficou. Hoje, com um metro e oitenta, não sou um monstro, mas tenho um porte que faz as pessoas me darem um segundo olhar. O shape tá desenhado, os braços têm volume, o peito é largo. Malho seis vezes por semana. É minha terapia, minha religião.
E também, sem querer me gabar, mas a natureza foi generosa ali embaixo. Desde os treze, quando comecei a me comparar nos vestiários, eu sabia que era… diferente. Mais avantajado. No começo foi constrangedor. Depois, virou uma lenda discreta entre os amigos mais próximos. Agora, é só um fato da vida.
Esse Natal é especial. É a última ceia em família antes da grande mudança. Consegui, contra todas as probabilidades (e depois de virar noites estudando que nem um condenado), passar no vestibular de Medicina. Não aqui no Rio. No Paraná. Em março, troco o calor carioca pelo frio curitibano e vou virar um calouro fodido. Tô com um misto de medo pra c*****o e uma empolgação que não cabe no peito.
Por isso hoje, dia 23, estava decidido a curtir minha última noite de “férias” antes do aniversário e do caos natalino. Tinha acabado de sair de um banho longo, depois de um dia na praia do Recreio, e estava só de toalha na cintura, vendo um vídeo no celular, quando ouvi.
— Viiitor! Ó, Vitor!
A voz vinha do lado de fora, pelo muro que separa nossas casas. Era a Dona Helena. Helena, pra mim. Ela tem cinquenta, mas “dona” não combina com ela. n***a, cabelo castanho com alguns fios grisalhos que ela nem tenta esconder, sempre com um corte moderno. E o corpo… bom, o corpo da Helena é um caso à parte. Ela faz pilates, natação, e tem uma curvas que fariam mulheres de trinta anos chorarem de inveja. Não é exagerado, é… harmonioso. Umas vezes ela tá de jeans e blusa justa, outras de um vestido que parece pintado. Meus amigos sempre brincam quando vêm aqui em casa: “E aí, Vitor, a vizinha gostosa tá dando mole?”. Eu sempre dou uma risada e mando um “para com isso, cara, ela é vizinha”. Mas é claro que eu reparo. Como não reparar?
Saí do quarto e fui até a janela que dá para o quintal dela.
— Tô aqui, Helena! O que foi?
— Vitor, amor, me ajuda uma coisa rápida? — ela disse, com aquela voz meio rouca, de quem fuma escondido (eu já a vi no terraço com um cigarro, olhando pro mar). — Preciso tirar umas caixas de louça da parte de cima do sótão. São pesadas, e a escada tá meio capenga. Você é forte, resolve em dois minutos.
Olhei para mim mesmo, só de toalha. A noite estava quente, úmida.
— Pode deixar. Só um minutinho, vou colocar uma roupa. Acabei de sair do banho.
— Vê se é rápido, Vitor! — ela insistiu, mas tinha um tom de urgência real. — É que amanhã cedo já vou começar a preparar a ceia e preciso daquela louça.
— Beleza, tô chegando!
Sai da janela e entrei no meu closet. Não tinha tempo (nem vontade) de me arrumar muito. Peguei uma bermuda de algodão fina, cinza, aquele tipo que fica meio colado nas coxas quando você ganha massa. Nada por baixo — costume de quem acabou de sair do banho e não vai sair de casa. Calcei uma sandália havaiana e peguei o controle do portão eletrônico que temos no muro lateral. Meus pais instalaram há anos, numa fase de maior i********e com os antigos vizinhos. Com a Helena, a gente quase não usa.
Apertei o botão do interfone.
— Helena, tá aberto?
— Tá, vem! — a voz dela veio distorcida.
O portãozinho de madeira se abriu com um rangido. Passei pelo corredor estreito entre os dois muros e entrei no quintal dela. A casa era parecida com a minha, só que mais… organizada. Cheirava a flor e a incenso.
Ela me esperava na porta da lavanderia, que dava acesso ao interior. Usava shorts de ciclista — daqueles justos, de lycra preta — e um top de alcinha cinza, também justo. Estava suada, como se já tivesse tentando resolver o problema sozinha. Meus olhos escorregaram, inevitáveis, pelas pernas tonificadas, pela cintura fina, pela curva dos s***s que o top sustentava com esforço visível. Desviei o olhar rápido, sentindo um calor subir no pescoço.
— Opa. Cadê o monstro? — perguntei, tentando soar descontraído.
— Aqui dentro. Vem.
Ela me levou até uma sala de depósito, no fundo da casa. Uma escada de madeira, daquelas retráteis, estava encostada na a******a do sótão. Realmente parecia instável.
— São aquelas três caixas azuis lá em cima — ela apontou. — Consigo descer com uma de cada vez, mas são pesadas e tenho medo da escada.
— Relaxa, eu resolvo.
Subi. A madeira gemeu sob meus pés, mas aguentou. O sótão era abafado, cheio de tralha coberta por panos. Encontrei as caixas. Ela não estava brincando: eram pesadas mesmo. Encostei a primeira na beirada da a******a.
— Pega aí embaixo, que eu vou descendo! — gritei.
— Estou te esperando!
Desci alguns degraus com a caixa nas mãos, até que ela pudesse alcançar de baixo. Passamos as três assim, uma a uma. Na última, o cansaço e o suor já estavam me pegando. A bermuda fina colada no corpo não ajudava em nada.
— Essa é a última! — avisei, descendo mais alguns degraus com a caixa pesada.
Foi então que ouvi um craaaac seco.
A madeira do degrau onde meu pé esquerdo estava apoiado simplesmente cedeu.
— Pørra! — gritei, instintivamente jogando a caixa para o lado, ela caiu no chão com um baque surdo, mas não quebrou e pulando para não cair junto com os pedaços de madeira.
O pulo foi forte, desequilibrado. Caí no chão de cimento, mas não sozinho. Minha massa, projetada para frente, atingiu a Helena, que estava logo abaixo tentando ajudar.
O impacto foi inevitável. Esbarrei nela com o ombro e o peito, e nós dois fomos ao chão num amontoado de membros, suor e susto.
Quando a poeira (figurativa) baixou, a cena era a seguinte: eu estava por cima dela. Minhas pernas estavam entre as dela. Minhas mãos, instintivamente, se apoiavam no chão, uma de cada lado do torso dela. Meu peito estava colado no dela. Nossos rostos estavam a uns dez centímetros de distância. E eu… eu sentia tudo. A maciez do top contra meu peito, a curva do quadril dela sob minha perna, o calor da pele dela, o cheiro do suço dela — um misto de perfume caro e transpiração real.
Ela arfava, os olhos castanhos arregalados, a boca entreaberta. Parecia mais surpresa do que machucada.
Meu cérebro levou um longo segundo para processar. E então, para meu horror absoluto, senti. Lá embaixo. A pressão contra a bermuda fina de algodão, o atrito no meio daquela confusão toda… tinha despertado uma reação involuntária, rápida e… volumosa.
Eu estava ficando duro. Extremamente duro. E com a bermuda colada e sem cueca, não havia a menor chance de disfarçar.
— Caralhø, Helena… Desculpa! — a frase saiu num jato, enquanto eu tentava me levantar, mas meu corpo parecia não obedecer, preso no susto e na… naquela outra coisa. — A escada quebrou, eu pulei… você tá bem? Machucou?
Minhas palavras eram um desespero. Meus olhos, provavelmente, eram dois círculos de pânico.
E os dela, devagar, deixaram o susto para trás. E começaram a analisar. A percorrer meu rosto, meu pescoço, meu peito que ainda estava colado no dela. Então eu me levantei, os olhos dela desceram até a minha bermuda.
Pausa.
Os olhos dela se fixaram ali, no centro da minha bermuda cinza, onde o tecido esticado formava um relevo inconfundível e inegável.
Outra pausa. Mais longa.
Então, um leve sorriso, quase imperceptível, tocou os lábios dela. Não era um sorriso de censura. Foi… de curiosidade. De reconhecimento.
— Tá tudo bem, Vitor — ela disse, a voz mais rouca do que antes, mas suave. — Acho que ninguém se machucou. Só… me dá uma ajudinha pra levantar?
Ela estendeu a mão. Eu, ainda atordoado, peguei. Mas quando nossas mãos se tocaram, e eu senti a força dela puxando-se para cima, eu soube, com uma certeza de gelo e fogo ao mesmo tempo: eu entendi que essa noite não será só sobre pegar caixas do sótão.
E meu aniversário de dezoito anos estava prestes a começar muito, muito mais cedo do que eu planejava.
Continua...