Dez Anos Antes

872 Words
Maya estava fazendo a última prova do vestido, se olhando enquanto sua mãe e sua irmã acompanhavam. — Está divina, Maya Dawson. — Estou vivendo um sonho, mamãe. — Eu sei, nós também. Maya, Hannah e eu estávamos conversando de que você precisa de uma despedida de solteira. — Que idéia descabida, mamãe. Nem tenho amigas para isso. — Porque você sempre foi séria demais, Maya. Nem sei como Denny se apaixonou por você! A costureira avisou que estava pronto e as duas foram tiradas da sala pra Maya se trocar. Tinham combinado de almoçarem juntas depois da prova do vestido, e enquanto era tirada de dentro de todas aquelas camadas de tule branco, Maya pensava o quanto a mãe estava certa. Sim, Maya foi uma jovem introvertida, não era de muitos amigos nem de baladas. Seu único amigo na adolescência era Samuel, um jovem afeminado e cheio de espinhas que tinha uma família muito amorosa. Mas eles eram religiosos devotos e a orientação s****l do filho lhes trouxe bastante problemas. Porque Napa não estava preparada para que um de seus filhos se assumisse gay, mesmo que ele fosse um cavalheiro, gentil e amigo, um voluntário em diversas causas sociais com crianças e animais e um pequeno cidadão do bem do qual a cidade deveria ter orgulho! Não os moradores de Napa, uma pequena cidade com 20 mil habitantes que faz parte do complexo Napa Valey e tem um vasto turismo por causa de suas vinícolas. Maya e Samuel faziam tudo juntos. Os pais dela tinham uma das maiores vinícolas da cidade e ganhavam um bom dinheiro, Hannah era dois anos mais nova do que Maya e passava todo seu tempo em shoppings e os finais de semana em baladas com as inúmeras amigas ricas e fúteis. Maya preferia ajudar Samuel, e passava seu tempo em missões de resgate de animais, visitando orfanatos, ajudando os pais de Samuel em bazares beneficentes. Em uma visita aos vinhedos da região, conheceu Denny Toronto. Ele era o filho de um magnata da produção de vinhos e estava sendo preparado para assumir os negócios do pai. Na época, eles estavam organizando uma espécie de cooperativa, onde vários produtores se associaram para aproveitar melhor o turismo na região. O senhor Toronto era o idealizador, e John Lee Dawson se recusava a participar. Denny, alheio a tudo isso, se apaixonou por Maya e os dois começaram um namoro. A avó materna, Sophia, aprovava e então Maya se entregou totalmente a essa relação. Sophia era uma espécie de talismã para Maya, seu contato com sua família anterior! Ela era mãe de Maggie, viúva pra frentex, tinha seu próprio sítio e vivia com humildade e tranquilidade em um dos bairros mais afastados do centro da cidade. A filha Maggie quem administrava os negócios que o pai deixou desde a adolescência. Quando se casou com John Lee, fazia questão de incluir a mãe em sua vida. Quando Maggie morreu no parto de Maya, Sophia não quis assumir seus negócios e a única exigência que fez foi que John não a separasse da neta. E o pai manteve a promessa, mesmo quando menos de um ano depois, conheceu e casou com Jenny. Sophia não gostava muito dela, então as visitas enquanto Maya era criança sempre ocorriam na casa de Sophia. O motorista deixava Maya por lá e depois buscava. Como Jenny tratava a menina bem e nunca soube de nenhum maltrato, mesmo depois do nascimento da outra filha, Sophia não se envolvia no casamento do antigo genro. E assim Maya cresceu, se tornou uma adolescente voluntária em causas sociais e uma menina que não dava trabalho. E sempre visitava a vovó Sophia! Ela não conhecia outra mãe que não Jenny, não podia dizer que era maltratada ou tinha menos do que a irmã que era filha legítima de Jenny. Claro que Hannah gastava mais, tinha mais coisas e Jenny saia mais com ela. Mas isso não era diferenciação por parte da mãe. Maya entendia que tinha a personalidade mais pacata e simples, como a avó Sophia. Não tinha necessidade de tantas roupas, calçados, maquiagem e carro chique! Adorava andar descalça no sítio da avó, mexendo nas plantas que a avó a ensinou a cuidar. Gostava de dirigir seu velho jeep. Hanna caçoava dela, andando pela cidade com aquela lata velha, mas Maya entrava na brincadeira: — O jeep que foi de minha mãe é o tipo de carro que não sai nem arranhado depois de atropelar seu Mustang em um acidente! E desse jeito, ela passou o fim de sua adolescência. Namorando com Denny que lhe era sempre muito bom e entendia seu jeito mais simples, passando várias tardes com a avó no sítio e sonhando com o dia que sairia da cidade para fazer faculdade de sommellerie. Ela queria ser uma enóloga sommelier, e apesar de ser uma cidade conhecida por seus vinhedos, ainda não tinha formação e capacitação. Ela teria que ir pra fora para se capacitar e estava preparada pra isso. A avó tinha lhe dado de presente toda sua formação. Ela só não sabia como faria para convencer Denny, seu namorado há três anos, a continuarem um relacionamento à distância pelos próximos três anos para ela se formar!
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