Nova vizinha

1534 Words
Alex Estou em casa pensando em como vou encontrar o maldito que vem perturbando a vida de Markus, a semanas que venho procurando saber e não consigo, ele não deixou nenhuma pista, não deu nenhuma brecha.  Abro uma lata de energético, é um aliado antigo, me impede de sentir vontade de tomar outra coisa, tomo a lata toda de uma vez.  Sinto que estou enlouquecendo, o cansaço mental é absurdo, chega a ser mais complicado do que o físico. Sono? Eu não sei mais o que é dormir, e sempre que consigo pegar no sono, eu sou transportado para lá, para aqueles dias terríveis que marcaram a minha alma para sempre.  Olho uma e outra vez para o computador, mas depois de inúmeras tentativas eu acabo desistindo, apenas por hora, de encontrar o sujeito.  Ligo a televisão, não há nada que me agrade, nada que prenda a minha atenção. – Hoje vai ser uma noite daquelas...  O cansaço hoje me venceu, e mais uma vez fui jogado no buraco profundo das minhas memórias.  Estamos mais uma vez naquela maldita missão, estamos encurralados e os tiros vem de todas as direções, eu tento observar para ver se há alguma passagem segura, mas não existe nada, a poeira não me deixa ter uma boa visão do local. – Fiquem todos em posição defensiva! – Ouvi a voz do capitão do nosso esquadrão gritar, mas nem conseguia vê-lo. No chão, já havia inúmeros corpos, tantos dos nossos, quanto dos deles que conseguimos a****r. O som dos gritos e dos tiros tão perturbador que parecia estar perfurando meus tímpanos.  Ouvi mais uma vez a voz dele. – Vamos, vamos, vamos! – e sozinho tinha conseguido abrir passagem para nós, muitos morreram, o cheiro do sangue preenchia o ambiente junto com a pólvora. – Vão, vão, vão. – Passei por ele, mas pouco mais a frente, eu me perdi, estava desnorteado, não os via mais, nenhum deles.  A falta de ar me tomou conta, olhei para todos os lados, mas não tinha nada, nada em nenhuma das direções, o ar parecia denso, me sufocava, tentava puxar para os pulmões, mas parecia queimar...  – p***a! – Acordei minando de suor, estava no sofá, peguei no sono enquanto tentava assistir alguma coisa.  Minha respiração demorou para se normalizar, me levantei e fui tomar banho, meu corpo inteiro estava colando. – Até quando?  Quando eu não sonhava com aquilo tudo, sonhava com ela, com o dia que a vi, e não sei o que é mais perturbador.  Passo dias sem conseguir dormir, e quando finalmente acontece sou castigado com os pesadelos. – Eu devo ter sido um grande filho da p**a em outra vida! – Encostei a testa no azulejo frio, enquanto deixava a água escorrer por meu corpo.  O relógio marcava pouco mais de três da manhã, peguei mais um energético e voltei ao trabalho, não sei se já tinha me sentido tão frustrado na vida quanto me sentia naquele momento, não encontrar as respostas que precisava me matava aos poucos.   Fiquei perdido em meus pensamentos e no computador até escutar um grito escandaloso vindo do apartamento ao lado do meu. Eu sabia que tinha um novo vizinho, o apartamento estava vazio a bastante tempo, eu vi algumas caixas na frente dele a alguns dias atrás, mas ainda não tinha visto o novo proprietário.  E agora, antes mesmo de o sol nascer, estou eu correndo para fora do meu apartamento, por estar ouvindo uma mulher gritar.  Bati na porta com força, quase a derrubando. – O que está havendo? Abra a porta! – Gritei do lado de fora.  A voz abafada que veio de dentro me pedia para entrar, que precisava de ajuda. Alertei que saísse de perto da porta porque eu ia entrar. Não precisei de muito esforço para conseguir entrar, uma pequena porta contra o meu tamanho chega a ser golpe baixo.  Entrei de uma só vez no apartamento esperando ver algo grave, talvez uma queda, ou alguém que bebeu demais e não estava sabendo lidar com a raiva... eu sabia bem como era isso, mas no lugar de qualquer alternativa, encontrei uma mulher na penumbra, em cima de uma cadeira com um chinelo na mão. – O que está acontecendo aqui? – Perguntei olhando ao redor procurando o grande problema para fazê-la gritar tanto.  – Uma barata! – Olhei na direção dela mesmo sem ver. – Tem uma barata aqui! Por favor, por favor, mate-a... – Isso só pode ser brincadeira, não é possível. Minha raiva tomou conta de mim, eu não consigo acreditar que essa mulher fez todo esse escândalo por uma d***a de uma barata! – Está de brincadeira com a minha cara? – Minha voz saiu como um trovão, um pouco mais irritada e alta do que eu planejava, mas o que diabos ela poderia exigir, ela é quem está berrando por causa de uma barata!  Procurei o interruptor para acender as luzes, não teria como enxergar nada naquela escuridão. – Onde está? – Olhei pelo chão, mas não vi nada.  – Ela estava bem aí, perto do sofá.  Alguns instantes depois eu localizei a causadora de todo aquele alvoroço, dei fim a sua vida e olhei pela primeira vez para minha vizinha, que agora desceu da cadeira e vinha em minha direção.   Ah, mas isso só pode ser algum tipo de brincadeira. – Você? – Ela me olhou com os olhos tão arregalados quanto os meus devem estar agora. – Isso não é possível, por acaso está me seguindo? Virou algum tipo de perseguição? – Olhava para a mulher que quase não chegava a altura do meu peito, mas mesmo assim me encarava com o queixo erguido.  – Não estou te perseguindo, acha mesmo que se eu imaginasse por um segundo que fosse, que justamente você seria o meu vizinho, eu me mudaria para cá?  – Não seja por isso... aproveite que ainda não desembalou todas as suas coisas e volte para o lugar de onde saiu! A olhei de cima, a baixinha estava fervendo de raiva, não muito diferente de como eu estava, quando a ouvi gritar imaginei que era algo grave, e não por um simples inseto. – Acha mesmo que você me faria mudar daqui? Nem que me pagasse, o apartamento é muito bem localizado, perto do meu trabalho, um valor ótimo... daqui eu não saio!  – Que seja, mas da próxima vez que uma barata aparecer, tente não fazer tamanho escândalo, a barata com certeza tem mais medo de você, do que você dela, essa sua cara assustaria qualquer um. – Ela estava com uma aparência cansada, os olhos cheios de olheiras.  Sei que deve ter sido um golpe baixo, a voz dela veio um pouco mais calma, como se estivesse tentando se controlar mais. – Sim, eu sei que minha aparência não deve ser das mais apresentáveis, sinto muito se minha falta de estética o desagrada, mas depois de um plantão duplo eu quero que você e sua opinião sobre mim vá... – Olha lá o que você diz, eu ainda estou com a barata na mão e para jogá-la em você. – Ela deu alguns passos para trás.  – Não se atreva...  – Ah, eu me atrevo... você nem mesmo agradeceu pela ajuda, quase me mata de susto por causa de um surto por uma simples barata!  – Bem... – Ela ficou sem graça. Olhei direito para ela, mesmo parecendo muito cansada, ainda era muito bonita... – Eu sinto muito por ter te perturbado e muito obrigada por ter vindo aqui dessa maneira... deve ter sido difícil encontrar suas calças... – Ela ergueu uma das sobrancelhas, e passou os olhos pelo meu corpo até chegar às minhas coxas. Olhei para meu corpo, estava apenas de cueca, eu nem havia notado que não me vesti depois de sair do banho. – Eu... – Bufei e saí de seu apartamento sem dizer mais nenhuma palavra.  Essa mulher parece estar em todos os lugares agora, o que foi que eu fiz para merecer que ela seja minha vizinha? Centenas de milhares de apartamentos espalhados para todos os lados dessa cidade e ela tinha que vir justamente para o apartamento ao lado do meu...  Essa mulher me perturba desde o dia em que a vi pela primeira vez, ela consegue me irritar profundamente desde o dia no hospital, foi ela uma das primeiras pessoas que chegou até Markus e Rafael quando Markus resolveu dar uma boa surra naquele b****a.  Os dois foram cada um para seu lado depois, e eu fiquei com a parte complicada, lidar com aquela mulher insuportável que estava furiosa pela briga dos dois. E quando eu estava prestes a ir para casa, adivinha quem bateu na p***a do meu carro? Sim, ela novamente... a mulher é um desastre em milhares de sentidos, eu não faço ideia de como é que a ainda pode estar viva com aquela coordenação motora.  Ela ainda teve a audácia de pensar que estava certa... – Maluca... ela que não pense em ficar me perturbando...  Fui para o meu quarto pegar roupas para iniciar meu dia com uma boa corrida, nada melhor para uma mente cansada do que se distrair com um corpo exausto.
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