Capítulo 1

1686 Words
Meu pai esta feliz, mas eu não, após aquele acidente minha vida acabou, eu passei minha infância numa sala fazendo fisioterapia ou cirurgias, mas nada adiantou. Não sou compreendido, meu pai só sabe trabalhar e minha madrasta Jacqueline... Sei lá, eu só queria poder sumir. –Obrigado senhor, será que daqui a três horas você pode vim me buscar? –Claro jovem. –Valeu... Seu dinheiro. Pego minha muleta e saio do taxi, chego ao único lugar que me faz se sentir perto da minha mãe, e o lugar que sempre venho quando quero ficar sozinho o morro das asas aonde às pessoas saltam de asa delta e paraquedas, principalmente eu. –A mãe... Queria que você estivesse aqui, você me entenderia... Não iria se afundar no trabalho, você faz falta, muita falta. —Sinto o vento bater em meu rosto deixo minha mente me levar para alguns anos atrás. Meu pai sempre dizia que se eu conversasse com minha mãe e o vento viesse era porque ela estava lá onde eu estivesse, ouço passos e assim que viro para o lado vejo uma menina se sentar. –Sabe não deveria sentar tanto na beirada. —Continuo apoiado em meus braços de olhos fechados, não venho para conversar e nem para fazer amigos. —Meu nome é Leila e o seu? –Bernardo... Mas quero curtir o silêncio posso? —Me deito na grama sentindo o vento trazer o cheiro de mato e sorrio. –Sei... Vou ficar aqui te fazendo companhia, vai que você tente se m***r né? Acho que ela não percebeu que sou aleijado. Abro meus olhos e a vejo se deitando ao meu lado, deixo um suspiro escapar atraindo seu olhar sobre mim. –Você não quer mesmo conversar? Às vezes desabafar ajuda. –Você definitivamente não consegue ficar quieta né? —Falo sem cerimonia, minha raiva estava no auge. –Desculpe-me eu vou embora. —Ela levanta e começa a caminhar lentamente, bufo e grito para ela sem sair da minha posição. –ESPERA... FICA. —Ouço sua risada que parece de um ornitorrinco sendo esfaqueado. Ela se deita ao meu lado, mas não em silêncio, e sim cantando. –Yor love has ravished my heart And taken me over taken me over And all I want is to bewith you forever With you forever. —Ela cantava sem inglês, e eu como um fluente em língua estrangeira entendi tudo, uma das coisas que meu pai obrigou. –Você canta bem. —Digo sem muita emoção a ela que solta uma risadinha –Fluente em inglês? –É. —Digo por fim, mas ela continua. –Sou americana. —Ela fala e logo volta a cantar a mesma musica . –Te achei Leila... Vamos? —Uma voz faz com que olhássemos na mesma direção e dar de cara com uma mulher. –Já vou... –Por favor, rápido. —Ela sai e logo Leila se levanta já falando. –Quando nós veremos de novo? –Não sei. —Digo para ela que me lança um sorriso. –Aqui mesmo, nesse horário amanha. —Ela diz ainda parada de pé a minha frente. –Estou aqui todos os dias mesmo. —Termino de falar e ela solta um suspiro. –Ok Senhor Mau Humor até amanha. –Até. —Ela sai entre as arvores e volto a fitar o céu acabo cochilando, pois sou acordado por buzinas insistentes ,me levanto e vou até o taxi que estava a minha espera, estava na hora de voltar para casa. Não demora muito para chegarmos pago meu amigo e confirmo para amanhã, mas entro e sou recebido por uma Jacqueline nervosa. -Filho onde você estava? Saiu sem me avisar. –Não lhe respondo, passo por ela sem lhe dar explicação. –Bernardo me responda agora, estou falando com você. –VOCÊ NÃO É MINHA MÃE. —Acabo explodindo, fecho minha não com força e continuo caminhando. –SOU SIM... COMO QUER MELHORAR SE FICA FUGINDO DAS SESSOES DE FISIOTERAPIA. —Ela estava com uma cara de choro, e se ela quer chorar ela vai ter motivo. –EU ODEIO VOCÊ... A CULPA DE EU ESTA ASSIM É SUAA... TODA SUAAAA. —Bato a porta do meu quarto e ouço Jacqueline chorar de soluçar. A vontade que eu tenho é de quebrar tudo que tem no meu quarto, mas me contento em só arrancar meus cabelos e para melhorar escuto a voz do meu pai, todo meloso com sua mulherzinha. –Amor... O que foi? —O tom preocupado do meu pai só faz minha raiva crescer. –Nada de mais... Besteira minha. —Como ela consegue me defender? Arg. –Não... Não é! Anda. –Eu e o Bee discutimos... E ele... Acabo me falando coisas horríveis. –Passos apressados vem em direção a minha porta. –BERNARDO ABRE ESSA PORTA AGORA. —Ela m*l termina de falar e ele já vem aos berros. –Por que tratou a Jacque daquele jeito Bernardo? —Assim que eu abro a porta seu tom era serio, e sua postura era ereta. –Se você reparasse no seu filho pai, talvez soubesse... Mas é Jacque para lá e para cá e seu serviço então nem se fala... Depois que ela apareceu você me largou, me esqueceu pai, nunca está em casa, se esqueceu da minha mãe. — Falo sem me alterar engolindo minha raiva ,ou tentando pelo menos, falo sentado em minha cama, e vejo o homem de pé a minha frente sem reação . –Isso não é verdade filho, eu me preocupo com você, sobre sua mãe você tem que entender que agora eu estou com a Jacque e eu a amo, até quatro anos atrás ela era sua mãe, agora o que mudou? Só porque perdeu as esperanças? Até quando você vai desconta em nós? —Ele passa suas mãos pelo rosto. –Reparou em mim? Qual meu esporte preferido? Qual o nome dos meus amigos? As bandas que eu gosto? —Falo exaltando minha voz carregada de ironia. –Filho eu... —Ele tenta ser o mais calmo possível, é a gota da água para mim. –Não perca seu tempo Miguel, somente admita que você não me conheça... Não mais. —Digo trincando meus dentes, com a veia do pescoço saltando, a pele ficando avermelhada e os olhos pegando fogo. –Não vou gritar com você, nem te por de castigo... Mas agora você vai levantar essa sua b***a dai e ir até a sua mãe e pedir desculpas a ela. —Não me mexo e então ele continua. –Agora... Eu iria responde-lo mais sabia que não adiantaria, então me levanto e vou até Jacque que estava no sofá com os olhos vermelhos. –Desculpa. —Digo a ela que me puxa para um abraço. –Eu te amo Bee... Nunca quis e nem quero tomar o lugar da sua mãe filho...Nós vamos vencer juntos. —Ela fala querendo passar esperança e afeto que para mim, mas a única coisa que senti foi como o ser humano é um fraco. –Que seja. —Digo com cara de poucos amigos, saio do seu abraço e sigo meu caminho pro quarto. –Boa noite. -Não vai jantar? —Diz Jacque com a voz rouca. –Too sem fome. —Entro em meu quarto, tranco minha porta e me sento em frente ao meu computador começo a ver todas as fotos da minha mãe. –O que eu perdi amor? —Miguel fala para Jacque ainda na sala. –É só uma fase Miguel, vai passar... —Como ela pode saber? Ela me da tanta raiva. –Eu quero meu menino alegre e carinhoso de volta Jacque, o nosso menino sorridente e doce, aquele menino que dependia de nós. —Poderia até chorar com essas palavras mas estou oco por dentro. Tem um poema de Gelson Morais Machado em um trecho ele diz assim: Ninguém vai me ver chorar O mar dos meus olhos eu sequei Nesse coração vou mandar Agora ele é pedra, concertei-o. Essa poesia me faz reviver momentos logo após o acidente quando eu havia esperanças que um dia seria uma criança normal e que poderia sair correndo atrás de uma bola, mas hoje vejo o quão inocente uma criança é. Minha barrica começa a protestar de fome, olho no relógio e já passava das duas da manhã, saio do meu quarto e vou para cozinhar, abro a geladeira e pego as coisas para fazer um sanduiche e o suco e então me sento-me à mesa. –Boa noite. —Meu pai passa por mim se sentando em minha frente e começa a fazer um sanduiche também. –Não consegue dormir? –Não... –Também não, vai fazer físio amanhã de manhã? –Vou sair à tarde... –Pode fazer de manhã –Não vai parar né pai? –Ela ficou muito chateada pelo o que você disse. –Tudo bem pai, amanhã de manhã. –Ótimo estou sem paciente de manhã vou acompanhar vocês. –Esta bem. —Digo colocando o ultimo pedaço do meu sanduiche na boca e me levantando em seguida. –Filho? –Sim pai... —Digo de costas para ele parado no mesmo lugar. –Te amo, boa noite. –Boa noite pai. —Digo isto volto a caminhar pro meu quarto. Preciso e penso só em dormir um pouco se não amanhã não vou conseguir sair da cama ligo minha play list e adormeço . * * * –Bernardo abre a porta... —Sou desperto por batidas na porta, ainda meio atordoado demoro em perceber alguma coisa. —Filhão levanta, ei... –Acordei Miguel já vou. —Me sento na cama ainda me despertando. Logo em seguida pego um calça de abrigo preta, uma camisa branca e meus outros pertences pessoais e sigo para um banho rápido, acabo e me junto à mesa. –Capricharam no café hoje. —Digo servindo meu café. –Fazia tempo que a gente não tomava café juntos, então decidi caprichar. —Ela fala com um sorriso meigo. –Parabéns mãedrasta. —Falo com todo sarcasmo, mas ninguém liga. Terminamos de tomar nosso café e fomos para o consultório particular da Jacqueline. –Tira os sapatos Bee. —Ela fala assim que entramos no local que já tinha movimento. –Sim senhora. —Falo sem emoção nenhuma para aquilo que já fiz tantas vezes. –Primeiro a barra... Pode começar firmando a perna, mas não usando de apoio a perna esq. Mau começo e a dor já são insuportáveis, respiro e inspiro... É preciso... É preciso... É só isso que preciso pensar... Ou não –Essa m***a está doendo Jacque. –Faço a pior careta que consigo, sempre dando passos pequenos e me apoiando na barra. —Não da, já chega. Quando eu me viro para sair, dou de cara com meu pai trancando minha saída, bufo e viro para frente dando mais uma vez de cara com minha madrasta. –Filho eu sei que doí muito... Mas se você parar a dor vai voltar pior... Os músculos vão se atrofiar mais, se você fizer até o final podemos sair depois o que acha? A olho serio e a fuzilo com o olhar ,ela achaque tenho quantos anos? –Não sou mais uma criança. —Digo ríspido para ela que apenas abaixa a cabeça. –Mas age como uma... E está precisando de umas boas palmadas, pois perdeu o respeito todo. —Sua voz é rouca e firme. Meu pai esta bravo, primeira vez que ele fala assim comigo, e seu tom de voz me irrita ainda mais. Continuo caminhando na barra, depois fomos para as bolas suíças, a dor é insuportável, é gritante e a única coisa que eu queria era sair correndo dali. –Eu sei que está doendo muito, não precisa disfarçar. —Não respondo nada de imediato não queria ser grosso com ela. –Piscina... —Uma palavra para a fisioterapeuta mais atenciosa com o filho bastardo, é o suficiente para ela entender. –Entendi... —Ela diz com um olhar triste. –Miguel ajuda o Bee a levantar e vamos para a piscina de hidroterapia. Eu estava trincando os dentes, mordendo a bochecha interna e quase grunhindo por causa da dor que eu estou sentindo, são como facas sendo cravadas ao longo de minha coxa. A agua morna entrando em contato com minha pele da uma sensação de alivio e relaxamento, meu corpo agradece o alivio que recebo, mas mesmo assim não é o suficiente. –Você quer ir até o final filho? —Pela primeira vez ele me da um olhar. –Não pai... Eu quero ir embora, quero tomar uma injeção para dor e dormir. —Digo com a voz arrastada pelo cansaço. –Tudo bem querido... Você foi ótimo. Fico me secando e troco de roupa no vestiário, logo entra uma enfermeira para aplicar a injeção na b***a, não sei qual dor é pior a do remédio se espalhando ou da dor que me consome... E o sono que começa a chegar, me engolindo aos poucos quase me fazendo adormecer alí mesmo.
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