Um Estranho em Angra

1073 Words
Analu Chegar em Angra foi tipo um sonho daqueles que você vê no i********:, mas na vida real. A gente desceu do carro na casa linda — uma mansão enorme à beira-mar, com piscina infinita que se mistura com o horizonte, quartos com camas king size e lençóis que parecem nuvem, e uma cozinha que qualquer chef de reality show invejaria. O ar cheirava a sal, sol e dinheiro. Muito dinheiro. Minhas amigas, Mari, Bia e Lú, já estavam no modo "férias perfeitas": óculos escuros de grife, biquínis que custam uma fortuna e playlists de música pop chic tocando no som da casa. — Meninas, isso aqui é o paraíso! — gritou a Bia, jogando a bolsa na sala e correndo pra piscina. Ela é assim, sempre a mais animada, com aquele corpo de quem faz pilates todo dia e come salada orgânica no almoço. A Mari, que é a líder do grupo sem ninguém precisar dizer, já estava abrindo uma garrafa de prosecco. — Vamos brindar ao melhor fim de semana ever! Eu sorri, pegando uma taça. "Ever" mesmo. Minha mãe tinha aprovado a viagem na hora, desde que eu prometesse não fazer "nada que manche o sobrenome Bernardes". Como se eu fosse do tipo que faz escândalo. A Lú, a mais quieta, mas que adora uma fofoca, me cutucou: — Analu, você tá com uma cara de quem tá pensando demais. Relaxa, gata! A gente veio pra curtir. E era verdade. Eu tava tentando relaxar. Depois daquela visão rápida do cara na rua no Rio — o tal do desconhecido com jaqueta de couro e cigarro na mão — minha cabeça tinha dado uma pirada. Mas aqui em Angra? Aqui era outro mundo. Luxo puro: o motorista nos levou pra casa, tinha uma empregada arrumando tudo, e o plano era praia de manhã, almoço num restaurante chique e festa à noite. Nada de preocupações. Nada de rotina. Só sol, mar e risadas forçadas pra fingir que tudo é perfeito. No dia seguinte após o café da manhã gente se trocou rapidinho — eu optei por um biquíni verde-água com detalhes em ouro, daqueles que realçam a pele bronzeada sem exagerar — e fomos direto pra praia. A areia era branca, fina, e o mar calmo como uma piscina. Alugamos um espaço VIP em um quiosque badalado, com guarda-sóis enormes, espreguiçadeiras acolchoadas e um garçom só pra gente. As meninas pediram drinks coloridos: caipirinhas de limão com vodca importada, e eu fui de água de coco com um toque de gin. Saudável, né? Mamãe aprovaria. Deitei na espreguiçadeira, óculos escuros no rosto, e peguei meu livro de novo. Jane Austen outra vez. Mas minha mente não parava quieta. Olhava pro mar e pensava: será que a vida é só isso? Sol, luxo e amigas que falam sobre as mesmas coisas sempre? A Mari tava contando sobre o novo crush dela, um filho de embaixador que ela conheceu num evento. A Bia ria alto, dizendo que ia postar tudo no Insta pra fazer inveja para as meninas do condomínio onde ela mora. A Lú concordava, tirando selfies. Eu? Eu sorria e assentia, mas no fundo, tava entediada. De novo. Depois de umas horas torrando no sol — com protetor fator 50, óbvio, porque rugas prematuras são o fim do mundo — a gente decidiu pedir algo pra comer, mas o garçom sumiu e eu fui direto no quiosque. Levantei, joguei a saída de praia por cima, e caminhei até o balcão. O quiosque era daqueles charmosos, com teto de palha e música baixinha tocando MPB. Pedi uns petiscos: camarões grelhados, salada de quinoa e mais drinks pras meninas. Enquanto esperava, apoiei no balcão e olhei ao redor. Turistas, famílias, grupos de amigos... e então, meu coração deu um pulo. Lá estava ele. O cara da rua. Sentado numa mesa improvisada com uns amigos, rindo alto, com uma cerveja na mão. Camiseta preta na praia? Meu Deus! A camiseta tava colada no corpo suado, definido, musculoso e usava uma bermuda jeans surrada, chinelo de dedo e aquele cabelo dele bagunçado que parecia não ver pente há dias. Os amigos dele eram parecidos: tatuados, bronzeados do sol de rua, não de protetor solar caro. Um deles tinha uma moto estacionada ali ao lado, vermelha e arranhada. Eles pareciam... reais. Despreocupados. Como se não ligassem pro mundo ao redor. Ele me viu primeiro. Ou pelo menos, foi o que pareceu. Virou a cabeça, aqueles olhos castanhos fixaram nos meus, e um sorriso torto surgiu no rosto dele. Barba por fazer, cicatriz na sobrancelha... era ele mesmo. Meu estômago revirou. O que ele tava fazendo aqui? Angra não era o tipo de lugar pros tipos como ele. Ou era? — Ei, loirinha — ele disse, levantando da mesa e se aproximando do balcão, com um ar de quem está no controle total. Voz rouca, sotaque carioca puro, daqueles que arrastam as palavras. — Tá perdida por aqui? Ou veio só pra iluminar a praia? Eu pisquei, surpresa. Loirinha? Sério? Meu tom subiu automaticamente, como se eu estivesse lidando com um intruso no meu mundo perfeito. — Perdida? Não, obrigada. Eu sei exatamente onde tô. E você? Parece que caiu de paraquedas num lugar que não é pro seu estilo. Ele riu, baixo e provocativo, encostando no balcão do meu lado. Cheiro de cigarro misturado com suor e algo selvagem. Nada como os perfumes caros que os caras que eu conheço usam. — Meu estilo? Ah, gata, meu estilo é em qualquer lugar que tenha sol e cerveja gelada. Mas você... você parece saída de uma revista. O que uma princesinha como você faz num quiosque como esse? Esperando um príncipe encantado? Revirei os olhos, mas senti um calor subindo pelo pescoço. Repulsa? Sim, porque ele era tudo que eu não devia querer: rude, confiante demais, com aquele ar de conquistador barato. Mas atração? Droga, sim. Aquela confiança dele era magnética, tipo um ímã que puxa mesmo quando você resiste. — Príncipe? Por favor. Eu não preciso de contos de fada. E você parece mais o vilão da história. O que tá fazendo aqui, afinal? Vendendo algo? Ele se inclinou um pouco mais perto, o sorriso crescendo. — Vendendo? Nah, tô só curtindo. Mas se você quiser comprar um pedaço de diversão de verdade, eu vendo barato. Meu nome é Cayo, por sinal. E o seu, princesa? continua... ADICIONE NA BIBLIOTECA COMENTE VOTE NO BILHETE LUNAR INSTA: @crisfer_autora
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