Olive não sabia muito bem andar pela zona da cidade em que Caleb disse que sua casa ficava. Depois das aulas, ela pediu o endereço dele, para ir lá depois, mas não disse que seria NAQUELE DIA em específico. Ele só disse que sempre que ela quisesse passar lá, seria bem-vinda, e como Olive não estava fazendo praticamente nada durante a noite, resolveu colocar seus livros dentro daquela velha mochila cinza e pedir aos pais o carro emprestado. No primeiro momento eles ficaram com um pé atrás por conta do horário, mas ao saberem que ela sairia com Caleb, mudaram de ideia automaticamente (Olívia franziu levemente as sobrancelhas para eles, acusando-os silenciosamente de confiar mais em Caleb do que na própria filha).
Agora, Olive estava dirigindo pelas ruas asfaltadas, pensando se deveria ou não confiar no GPS, já que as rotas estavam um pouco estranhas. Não porque as ruas fossem sombrias ou algo do tipo (na verdade elas eram bem espaçosas e iluminadas, típicas de zonas da classe média alta), mas sim porque as quadras eram perfeitamente quadradas e planejadas e mesmo assim ela precisaria ficar fazendo ziguezague entre elas, ao invés de simplesmente seguir em linha reta e dobrar a última esquina no final. Mas Olive resolveu seguir o GPS, só por via das dúvidas.
Depois de quase vinte minutos dirigindo para lá e para cá, ela finalmente estacionou o carro ao lado da calçada, de frente para uma casa grande do lado esquerdo. Depois de uma rápida checada no celular, conferindo o número da casa, da quadra e o nome da rua, Olive constatou que só podia ser alí. Ela desceu do carro e foi recebida pela noite fria, que começou a movimentar o seu cabelo escuro, que estava solto justamente para proteger seus orelhas e o pescoço do frio.
Olívia observou a casa por alguns segundos. A frente da construção era pintada de um tom amarelado que quase chegava à ser branco. As janelas eram persianas, e a pequena varanda da casa tinha colunas brancas num estilo meio clássico. A maioria das casas da cidade geralmente tinham dois ou três andares para que assim o terreno disse economizado ao máximo possível, então com a casa de Caleb não era tão diferente assim, apesar de ter uma garagem enorme logo ao lado da casa (Olive soube que era uma garagem por causa do enorme portão automático branco, além de que a calçada de frente para ele era absurdamente larga, para que um carro conseguisse passar sem problemas).
Olive subiu a série de três degraus que levavam até a varanda, então tocou a campainha que havia ao lado da porta branca, fazendo-a escutar um barulho quase inaudível ecoar do lado de dentro. O lugar estava silencioso, o que a fez constatar que deveria ter mandado mensagens antes de chegar assim do nada. Ela sempre fazia isso com Hellen e alguns outros amigos, mas talvez com Caleb ela deveria ter um pouco mais de calma, até porque faziam poucos dias desde que eles haviam se conhecido. E se não tivesse ninguém em casa? E se ela chegasse no meio de um jantar bastante importante da família? E se ele estivesse com uma namorada? O pensamento de que Caleb tivesse uma namorada a deixou um pouco surpresa e incomodada ao mesmo tempo, embora Olive não soubesse porquê.
Antes que ela tivesse tempo para continuar divagando em meio à pensamentos intrusivos, a porta foi aberta e Caleb surgiu na sua frente. Olive deu um passo para trás e olhou para cima para encara-lo, arregalando levemente os olhos ao ver que ele não estava engomadinho como sempre, mas sim vestindo uma calça de pijama xadrez vermelha com preto super fina, daquelas que todo mundo tem uma em casa. Ele estava descalço e vestindo uma camiseta branca sem mangas e um tanto surrada.
— O-oi. — Olive vacilou um pouquinho e escutou a sua própria voz sair levemente tremida.
— Oi. — Caleb respondeu. Ele parecia um pouco surpreso por vê-la alí, mas não incomodado. Seu cabelo loiro e absurdamente liso estava um pouco bagunçado e ele estava com seus habituais óculos de grau com as armações transparentes.
— Desculpa aparecer assim sem avisar. — Olive disse, observando-o enfiar as mãos nos bolsos do pijama xadrez e dar um passo para trás, indicando levemente com a cabeça para que ela entrasse na casa. As bochechas dele estavam coradas como sempre, e Olive não conseguia parar de analisar o corpo alto e magro dele de cima a baixo. Com aquelas roupas Caleb não fica fofo ou descolado. Ele ficava sexy. Sexy de uma forma que fez Olívia morder o lábio e tentar controlar outra onda de pensamentos intrusivos.
— Nah. Pensei que você não quisesse ter aula hoje. — Ele disse, enquanto Olívia analisava o interior da sala bem iluminada. Haviam dóis sofás grandes, uma poltrona de couro, carpetes pretos no chão e uma gigantesca tela plana na parede. Ter um ambiente meio rústico e tipicamente masculino daquele jeito era o sonho de Richard Wilson, pai de Olive, mas a mãe dela proibiu arduamente a ideia, dizendo que ninguém ia mexer na decoração delicada da sua sala. Olive quis rir ao lembrar dos pais e continuou observando a sala, que era bem limpa, apesar de parecer que só moravam homens alí (Ela se perguntou se a mãe de Caleb simplesmente não ligava para àquilo ou se ela não morava mais alí).
— Vem, vou te mostrar meu quarto. — Caleb disse, antes de começar a andar pelo corredor. Olive começou a segui-lo logo à um passo atrás, percebendo que ele tinha uma bela b***a, que ficava ainda mais visível na calça de pijama, assim como suas pernas longas.
Depois de saírem da sala, os dois entraram em um longo e espaçoso corredor, que possuía uma escada no final dele para levar para os andares superiores, mas ao invés de começar a subir às escadas, Caleb abriu a pequena porta que tinha na lateral dela, mostrando outra escada que levava para baixo.
— O seu quarto fica no portão? — Olive levantou uma das sobrancelhas, observando e escada bem iluminada e limpa que havia logo depois da porta, que era um pouco baixa e até Olive precisava tomar cuidado para não bater a cabeça no teto.
— Na verdade era um depósito. O porão fica debaixo da garagem. — Caleb deu de ombros e abriu um pequeno sorriso, descendo os três primeiros degraus da sacada e esperando Olive fazer o mesmo. Ela começou a descer, então Caleb encostou a porta branca logo acima.
A escada só ia até uns dois metros para baixo, mas era apertada o suficiente para que eles ficassem meio que espremidos nela, então Caleb começou a descer na frente, com Olive dois degraus acima. O lugar inteiro tinha o cheiro de Caleb, que era curiosamente suave e cítrico ao mesmo tempo.
Assim que terminou de descer as escadas, Olive observou tudo ao ser redor com os olhos levemente arregalados, com Caleb logo ao seu lado, com seus braços roçando um no outro.
— Nossa! — Ela exclamou, observando o interior do cômodo, que era um verdadeiro universo geek particular. A cama de Caleb ficava no meio de quarto, com a cabeceira contra a parede da direita, ela era uma cama king size e coberta por um cobertor cinza e grosso. No canto que havia depois da cama ficava uma escrivaninha que um dia parecia ter sido uma mesa de sinuca, sobre ela havia inúmeros livros didáticos, um notebook aberto e um porta lápis cheio de canetinhas, réguas, canetas, marcadores e lápis de todas as cores possíveis. De frente para a escrivaninha tinha uma daquelas cadeiras gamers, e sobre ela estava a típica bolsa carteiro de Caleb.
Caleb não tinha um guarda-roupas, mas ele guardava as suas roupas e sapatos cuidadosamente organizadas em uma série de prateleiras na parede do lado oposto da cama em que ficava a escrivaninha. A prateleira de cima era onde ficavam os sapatos e tênis, no meio havia um cabideiro de parede, onde as camisas, camisetas e jaquetas do rapaz estavam arrumadas em cabides. Na prateleira da parte de baixo Caleb colocava pilhas de calças, shorts e bermudas dobradas (havia uma caixa quadrada de madeira na extremidade da prateleira, ela era pintada de azul com estrelinhas douradas, e Olive pressupôs que era alí que ele guardava as cuecas).
O olhar de Olívia recaiu sobre a parede que ficava de frente para a cama, que era completamente cheia de nichos quadrados de madeira, cheios de livros e diversas outras coisas, como totens, troféus e funkos de diversos personagens, como de Harry Potter, Naruto e one piece. Olive deu uma rápida analisada nas centenas de livros organizados nos nichos e percebeu que nenhum deles eram livros didáticos, mas sim de fantasia, terror e romances. Olive não costumava ler com frequência (até porque não tinha tanto tempo assim), mas reconheceu alguns títulos, como a culpa é das estrelas, jogos vorazes, corte de espinhos e rosas, joyland e vários outros.
E como se tudo isso ainda não bastasse, cada centímetro das paredes que não eram utilizadas eram cobertas por pôsteres, tanto de videogames (Olive reconheceu um de Zelda e outro de GTA) quanto de filmes clássicos.
— Meio esquisito, eu sei. — Caleb disse, meio sem jeito, também olhando para os seus livros, que eram bem cuidados e pareciam terem sido comprados nos últimos dias, mas após Olívia pegar um deles (território Lovecraft), viu que por dentro eles eram cheio de grifos com marcadores de texto, e na primeira folha do livro havia uma data escrita nele, apesar de olive não saber se era a data em que foi comprado ou em que foi lido. A data escrita naquele com a habitual letra pequena e apertada de Caleb era "24 de agosto".
— Qual é. Seu quarto é lindo!! — Olive exclamou, colocando o livro de volta no lugar e pegando outro (A torre n***a), que também tinha uma data escrita e era grifado com marcador.
— Gosto muito de ler, quando não tô na escola ou dando aula particular, fico aqui lendo. — Ele deu de ombros e sentou na cama, fazendo o colchão macio afundar sob o seu peso. Olívia confirmou levemente com a cabeça e devolveu o livro para o nicho que parecia só ter livros do Stephen King, antes de apoiar o peso da mochila em apenas um dos ombros e começar a caminhar até a cama, sentando ao lado de Caleb. Ela estava vestindo uma calça cargo de cintura alta verde militar, além de uma camisa folgada e com a barra cortada (apesar do cós da calça não deixar mais do que um centímetro de pele à vista).
— Trouxe meus livros, mas acho que tô sem vontade de estudar hoje. — Olive abriu a bolsa e mostrou os livros de matemática e o caderno. — Acho que já aprendi bastante naquele sua primeira aula, e só preciso de mais umas horinhas qualquer outro dia para eu conseguir pelo menos entender as questões e não simplesmente chutar.
— Verdade, você só precisa aprender um pouquinho de Bhaskara. — Caleb disse, se espreguiçando longamente e puxando as pernas para cima da cama. Olive quis rir ao perceber que os pés dele eram gigantes, mas proporcionais com as suas pernas longas.
— Eu só... Queria conversar com alguém. Desculpa se apareci num momento inoportuno. — Olívia colocou a bolsa no chão e deitou para trás na cama, saboreando a sensação do colchão macio, que tinha o mesmo cheiro que Caleb tinha.
Caleb deitou na cama também, deixando uns bons cinquenta centímetros entre os dois. Olive olhou para o lado e encarou o rosto dele, que encarava de volta atentamente. As bochechas do rapaz estavam vermelhas como sempre, e o seu peito subia e descia de forma tranquila enquanto ele respirava de forma calma.
— Onde tá sua família? — Olive perguntou, erguendo a mão para tirar algumas das mechas escuras do próprio cabelo que estava caindo sobre o seu rosto.
— Meu pai costuma ficar fora até tarde, ele é engenheiro. Eu tenho um irmão mais velho, mas ele mora no Campus da facilmente e só vem para cá de vez em quando. — Caleb explicou, rolando na cama e ficando de barriga para baixo. Ele tirou os óculos por alguns segundos, então Olive percebeu que ele ficava um pouquinho vesgo quando estava sem óculos e encarava alguma coisa perto do seu rosto.
— E sua mãe? — Ela perguntou, embora não tivesse certeza se deveria ter perguntado isso.
— Ela... Morreu quando eu tinha onze anos.
— Sinto muito. — Olívia disse, soltando um pequeno suspiro e torcendo para que o clima não ficasse estranho.
— Tudo bem. — Caleb disse, enquanto Olive tirava o celular do bolso e o segurava na frente do rosto. Quando Caleb percebeu que ela estava tirando uma foto dele, já era tarde demais. — Ei!! Eu fico vesgo quando tô sem óculos!!
— Eu sei. — Olívia soltou uma risada diabólica e segurou o celular com força, rolando uma vez para longe da Caleb. — Agora tenho algo para chantagear você e te fazer me ensinar pelo resto da vida. — Ela brincou, vendo-o revirar os olhos, mas soltar uma risada baixinha também.