Convicções a prova.

1081 Words
KAIO MAVERICK. O retorno para casa foi marcado pelo silêncio. Zoe dormia no banco de trás, segurando firme seu bichinho de pelúcia, enquanto Kaleb olhava pela janela, absorto em seus próprios pensamentos. Eu, por outro lado, não conseguia encontrar paz. Isabella. Ela estava mexendo com meus filhos, comigo, e eu não gostava disso. Assim que chegamos, pedi para Elza colocar as crianças para dormir. Quando ela voltou para a sala, me encostei no balcão da cozinha e cruzei os braços. — Você fica até o outro turno amanhã. Anunciei, sem rodeios. — Isabella precisa passar pelo meu escritório. Preciso conversar com ela. Elza hesitou, ajustando a gola da blusa. — Senhor Kaio… Sei que pode parecer estranho, mas Isabella não está tentando fazer nada errado. Ela só está dando atenção ao que as crianças querem. Meu olhar endureceu. — Eu não disse que ela está fazendo algo errado, Elza. Mas eu sei o que é melhor para os meus filhos. Não se preocupe com as minhas decisões. Ela baixou a cabeça, murmurando um quase inaudível: — Sim, senhor. Fiquei observando enquanto ela saía. Pelo visto, Isabella já tinha conquistado também a babá que estava comigo há anos. Isso só piorava as coisas. Eu odiava quando as coisas saíam do meu controle. .... A manhã seguinte se arrastou como se o tempo estivesse me testando. Fui para o escritório mais cedo do que o normal, mas não consegui me concentrar em nada. A cada cinco minutos, olhava para a porta, esperando Isabella entrar. Quando finalmente houve uma batida leve, meu corpo inteiro ficou alerta. — Entre. A porta se abriu devagar, e ela entrou acanhada. Os cabelos soltos caíam em ondas suaves sobre os ombros, e o olhar dela evitava o meu, temerosa. — Bom dia… Elza me disse que queria falar comigo? Cruzei os dedos sobre a mesa, analisando-a em silêncio por um momento. Soltei um suspiro de controle, inclinei meu corpo ligeiramente para frente e disse, a voz firme: — Sim. Precisamos conversar. E dessa vez, você não vai sair sem me dar respostas. Cruzei os dedos sobre a mesa, observando-a com atenção. — Esperei sua ligação. Ela piscou, parecendo surpresa com a minha cobrança. — Minha ligação? — Deixei um cartão de visitas para que entrasse em contato. Ela inclinou a cabeça levemente, como se não entendesse por que aquilo era importante. — Não achei necessário. Respondeu simplesmente. Meu maxilar travou. — Não achou necessário? Eu pedi para você me ligar quando acordasse. — Não aconteceu nada. Se houvesse necessidade, eu teria ligado. Não lembro muito do que aconteceu, mas não precisa se preocupar. Disse de forma tranquila, mas isso só aumentou minha irritação. Não lembra? Jura!? A encarei por um instante, respirando fundo para manter a calma. Não... Eu não vou cair nessa conversa, não vou aprofundar isso. — Vamos direto ao ponto, então. Não estou gostando do jeito que tem lidado com as crianças. Seu olhar se aguçou, mas seu tom ainda foi respeitoso ao questionar: — Em que sentido? — Você tem criado laços que não deveria. Está dando um tipo de afeto que pode confundi-los. Ela franziu a testa, claramente incomodada. — Eu estou apenas cuidando deles, Kaio. Faz parte do meu trabalho. — Não, faz parte do seu trabalho garantir que eles estejam seguros e bem assistidos. Mas você está indo além. Seu rosto se fechou um pouco mais. — Além? Porque eu brinco com eles? Porque danço com Zoe? Porque presto atenção no que Kaleb gosta? Soltei um suspiro lento, tentando manter a paciência. — Eu só quero que você entenda que ninguém substituirá a mãe deles. — Eu nunca tentei fazer isso. Rebateu, firme, mas respeitosa. — Eu sou apenas alguém que se importa. — Eles não precisam de alguém para se apegar. Retruquei. — Isso só vai machucá-los no final. Ela me analisou por um momento antes de soltar um riso curto, sem humor. — Você realmente acredita nisso, não é? — É um fato. Respondi, seco. — Você se quer os conhece, e não permite que ninguém tenha a chance de conhecer. — Você não sabe o que diz! Ela negou sutilmente com a cabeça, podia ver a indignação estampada em seu rosto. — Então me diga, Kaio… qual é a cor favorita do Kaleb? Fiquei em silêncio. Ela cruzou os braços. — Você sabia que Zoe gosta de dançar balé de olhos fechados? Que diz sentir como se estivesse voando? Minha expressão endureceu. — Ou que Kaleb desenha divinamente bem? E que, nos desenhos dele, você sempre está distante? Um peso se instalou no meu peito. — Isso não significa que não os conheço. Retruquei, a voz mais áspera. — Significa tudo. Ela rebateu, e pela primeira vez, sua voz saiu carregada de indignação. — Kaleb não fala, Kaio. Mas ele se expressa. E você nunca percebeu. Fechei as mãos em punho. — Eu sei o que é melhor para os meus filhos. — Não, você sabe o que é mais conveniente, cria essa ilusão em sua cabeça de que está fazendo o melhor para eles, mas o seu melhor nem sempre é o melhor para a criação de duas crianças! Ela disparou, a paciência se esvaindo. — Porque manter distância é mais fácil do que lidar com o que eles sentem. Meu sangue ferveu, bati na mesa com a mão fechada em punho, sem paciência. — Cuidado com as suas palavras, Isabella. Ela tremeu levemente, mas permaneceu com sua fisionomia implacável. — E você, cuidado com suas escolhas, Kaio. Porque enquanto tenta "protegê-los" do afeto, está apenas afastando-os. O silêncio que se seguiu foi denso. Minha respiração estava pesada, meu peito subia e descia com força. Isabella, por outro lado, manteve-se firme, mas sua expressão suavizou levemente. — Se quiser me demitir, pode fazer isso. Declarou, sua voz voltando a um tom mais baixo. — Mas se quiser que eu ainda cuide deles, saiba que eu não vou tratar crianças como se fossem robôs. Ela soltou um suspiro pesado, olhou brevemente em volta, talvez encarando tudo o que falou e fez nessa sala. Eu vi um pouco de arrependimento em seus olhos, o conflito, mas ela não recuou em uma palavra sequer. Apenas virou e se afastou até a porta, me deixando sozinho com aquela tonelada de coisas que ela soltou sem piedade. Fiquei ali, imóvel, tentando processar tudo o que acabei de ouvir. E, pela primeira vez em muito tempo, me perguntei se eu estava errado. ...
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