Eu não posso fazer isso, voltar a repetir os mesmos erros, é burrice. (Isabella)

1084 Words
KAIO ... Fiquei ali, estático, encarando a porta fechada. Meus dedos apertavam a madeira, enquanto minha mente girava em torno das palavras que ela acabou de dizer. Ousada. Rebelde. Imprudente. Quem diabos ela pensava que era para me desafiar desse jeito? Para falar comigo naquele tom? Ninguém nunca me respondeu assim. Nunca ousaram me enfrentar dessa forma. As pessoas me respeitavam. Elas sabiam com quem estavam lidando. Sabiam que minhas decisões não eram para serem contestadas. Mas ela… Ela me olhou nos olhos e jogou verdades que eu nunca tinha parado para considerar. Verdades que queimavam na minha garganta, porque, de alguma forma, doíam mais do que deveriam. "Kaleb desenha divinamente bem. Nos desenhos dele, você sempre está distante." Minhas mãos cerraram em punhos. Eu não era um mau pai. Eu estava fazendo o que era certo. Eu estava cumprindo minha promessa. Ninguém substituiria a mãe deles. Mas ela não estava tentando substituir ninguém. Ela só estava… sendo presente. E isso me enfurecia mais do que deveria. Não era para ser assim. As babás sempre entravam, faziam seu trabalho e saíam. Sem vínculos. Sem complicações. Mas ela não. Ela se intrometia. Desafiava. E, pior ainda, fazia meus filhos se apegarem a ela. E fazia eu me sentir desconfortável. Porque além da irritação, além da ousadia, além da insubordinação… existia uma coisa que me incomodava ainda mais. A intensidade com que eu sentia sua presença. E agora, eu sabia que não conseguiria simplesmente ignorá-la. Eu já não conseguia mais. --- ISABELLA ROTH Saí do escritório com o coração batendo forte e os pensamentos em ebulição. Minhas mãos ainda tremiam um pouco, não de medo, mas de indignação. Nunca havia falado daquela forma com um patrão antes. Nunca havia sentido a necessidade de desafiar alguém tão diretamente. Mas eu não me arrependia. Ele podia ser poderoso, podia estar acostumado a ser obedecido sem questionamentos, mas isso não significava que estava certo. E, no final das contas, não era sobre ele. Era sobre as crianças. Soltei um suspiro pesado e peguei o celular no bolso, discando o número de Elza. — Isabella? Oi, querida, aconteceu alguma coisa? — Eu… não sei... Respondi, massageando as têmporas, ainda desnorteada. — Eu vim conversar com ele e… acho que fui demitida. — O quê?! Mas ele não me disse nada! O que houve? Fechei os olhos por um segundo antes de responder: — Eu falei algumas coisas que ele não gostou. Sobre as crianças, sobre como ele lida com elas… Ele não gostou nada disso. Do outro lado da linha, Elza suspirou. — Não faça isso, Isabella, não devemos nos intrometer na educação dos filhos dele. — Eu sei... eu sei! Eu nunca fiz isso. Nem com os meninos mais levados. Mas eu não podia fazer isso, Elza. Os filhos dele são os mais doces e mais carentes que já conheci. Eu não podia deixar ele me moldar para ser fria... como ele quer que sejamos. Eu não consigo! Elza suspirou novamente. — Mas você sabe como ele é. Acha que precisa controlar tudo. — Sim, eu sei. Mas isso não significa que está certo. Rebati, sentindo a indignação crescer. — De qualquer forma, por via das dúvidas, vou para casa. Se ele disser alguma coisa, você me avisa? — Claro, eu vou ligar para ele agora. Mas espero que ele não tenha tomado essa decisão precipitada... — Veremos... Murmurei, desligando em seguida. Assim que entrei em casa, joguei minha bolsa no sofá e me permiti respirar um pouco. A discussão ainda ecoava na minha cabeça, mas antes que eu pudesse refletir demais, meu celular vibrou. Número desconhecido. Atendi hesitante. — Alô? A voz grave e firme do outro lado da linha me fez congelar. — Elza me ligou. Você deveria estar no seu turno agora. Meus olhos se arregalaram. — Senhor Kaio? — Sim. Ele respondeu, seco. Tentei me recompor, mantendo um tom respeitoso. — Eu não sabia se deveria ir… Achei que tivesse me demitido. Houve um breve silêncio antes de ele responder, a voz um pouco mais calma do que antes: — Você não foi demitida. Mas a forma como falou comigo antes… isso não pode se repetir. Engoli em seco. Talvez para ele aquilo fosse um aviso, mas para mim, era uma pequena vitória. Algo havia entrado na cabeça dele. — Entendido. Respondi, sem esconder a leve satisfação na voz. — Vai voltar para a mansão? — Sim. Estou indo agora. Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que ele quebrou a quietude de uma forma inesperada: — Salve meu número. Você já tem ele no cartão. Vou precisar de mais atualizações sobre os meus filhos, além de relatórios escolares. Fechei os olhos, segurando um sorriso. Era isso. Ele ainda podia ser rígido e inflexível, mas alguma coisa nele havia mudado. E eu sabia que, no fundo, aquilo não era sobre mim ou sobre como me comportei, era sobre eles... Era sobre Zoe e Kaleb. — Entendido, senhor Kaio. E, com o coração leve, pude agora retornar para a mansão. --- O barulho insistente da notificação fez minha tela piscar mais uma vez. — "Isa, o carro já tá no estacionamento. Preciso ir para o trabalho, tô atrasada. Boa sorte com o chefe carrancudo e desculpa mais uma vez." Suspirei, deslizando os dedos pelo visor do celular e deixando escapar um sorriso leve. Carla sempre era direta. Dei uma última olhada no apartamento antes de pegar minha bolsa. A sensação de que algo estava fora do lugar não me abandonava. Não era medo… mas uma inquietação desconfortável no peito. Fechei a porta e comecei a descer as escadas do prédio. O estacionamento ficava logo ao lado, e o carro estaria me esperando. Mas então, eu o vi. Renato. — Isso só pode ser brincadeira. Ele estava ali, encostado no pilar próximo à saída, braços cruzados, como se estivesse esperando por mim. Um déjà vu amargo correu pelo meu corpo. Meus passos hesitaram, mas apenas por um instante. Não ia dar a ele o que queria. Segui em frente, firme, ignorando sua presença como se fosse um vulto do qual eu não precisava me lembrar. Mas, claro, ele não tornaria as coisas fáceis. — Isabella... Sua voz ecoou pelo espaço fechado. Ignorei. Acelerei meus passos. Meu coração disparou. Não de saudade. Mas de raiva. O passado era um vilão que parecia nunca morrer, ele sempre voltava para esfregar na minha cara o meu erro. E eu não posso! Não… posso voltar a cometer o mesmo erro. ---
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