ISABELLA
...
O alívio que senti ao dobrar a esquina do meu prédio foi imediato. Nenhum carro parado em frente. Nenhum sinal de Renato. Parei por um instante, respirando fundo antes de atravessar a rua e entrar no edifício. Meu coração só desacelerou quando pisei no saguão, onde o porteiro me recebeu com um aceno.
— Dona Isabella, tem uma encomenda para você. Vou buscar.
Minha espinha ficou rígida. Eu já sabia. A sensação sufocante apertou meu peito antes mesmo de vê-lo sumir pelo corredor de serviço. E quando ele voltou segurando um buquê de rosas vermelhas, senti como se alguém estivesse apertando minha garganta. Não precisava abrir o cartão para saber de quem era.
— Veio mais cedo, mas não queria deixar na porta.
Explicou o porteiro, sem notar a forma como minha expressão fechou. Peguei as flores por educação, forçando um sorriso murcho.
— Obrigada, Paulo. Boa noite.
Subi para o apartamento sentindo o peso de cada pétala como se fossem correntes invisíveis me arrastando de volta ao passado. Assim que empurrei a porta e entrei, suspirei pesadamente, encarando as malditas flores em minhas mãos. Era lindo, romântico, perfeito. Orquestrado. Com um suspiro exausto, puxei o cartão do meio das rosas e abri com as mãos tensas.
“Pensei em você o dia todo. Sei que não quer me ver, mas um dia você vai perceber que ainda posso te fazer feliz.” Revirei os olhos. Claro que Renato não desistiria fácil. Eu podia ouvir sua voz, ler nas entrelinhas o jogo emocional que ele sempre soube jogar.
Eu já caíra nessa armadilha uma vez. E não cairia de novo. Segurei o buquê e fui direto até a cozinha. Sem hesitar, joguei as flores no lixo, junto com o cartão, e fechei a tampa sem olhar para trás. A última coisa que eu precisava era dar espaço para essa ilusão crescer novamente.
Peguei o celular e bati uma foto do lixo com as flores esmagadas, enviando direto para Carla, junto de uma única legenda:
— Renato voltou a me atormentar.
Ela não visualizou de imediato, então larguei o celular na mesa e fui tomar banho. A água quente ajudou a relaxar os ombros tensos, mas minha mente continuava pesada. O dia tinha sido longo, e agora eu finalmente podia organizar minha própria casa. Passei a noite colocando as coisas no lugar, fazendo uma limpeza rápida e organizando algumas roupas. Eu não tinha tido tempo para nada desde que entrei naquela mansão. Quando finalmente terminei, o cansaço bateu forte.
Me joguei na cama, já me preparando para dormir, quando o celular vibrou no criado-mudo. Estreitei os olhos ao ver a tela iluminada. Elza. A essa hora? Meu peito se apertou. Algo estava errado.
— Elza? Aconteceu alguma coisa?
A voz dela soou aflita do outro lado da linha.
— Minha filha está passando muito m*l, Isabella. Muita febre. Preciso levá-la ao hospital. Você pode vir ficar com os gêmeos?
Já me levantei no mesmo instante.
— Claro! Pode ir sem preocupação.
— Obrigada, minha querida, eu não queria incomodar, mas realmente não tenho com quem deixá-los.
— De jeito nenhum, Elza. Mas...
Hesitei, mordendo o lábio.
— Isso não vai dar problema pra você, com o Kaio?
Ela suspirou.
— Ele saiu e não volta tão cedo. Quando sai assim, só chega no outro dia à noite.
Meu estômago se revirou. Por que aquela informação me incomodou tanto? Talvez fosse o cansaço. Talvez fosse porque eu ainda sentia o peso das flores jogadas no lixo. Balancei a cabeça e fui até o guarda-roupa, pegando algumas roupas para o dia seguinte e vestindo um robe por cima do pijama antes de sair. A corrida até a mansão foi rápida. Quando cheguei, Elza estava aflita, pronta para sair.
— Vá tranquila e me avise de qualquer coisa.
Assegurei, tocando seu ombro. Ela me deu um sorriso grato.
— Você é um anjo, Isabella. Obrigada mesmo.
Fechei a porta atrás dela e segui para o andar de cima. Passei no quarto das crianças. Ambos dormiam profundamente. Dei um sorriso pequeno antes de apagar a luz do corredor e descer novamente. O sofá da sala parecia tão convidativo que nem pensei duas vezes antes de me jogar nele. A casa estava em silêncio. Tão diferente do meu apartamento, onde as sombras do passado ainda tentavam me alcançar. Ali, havia a paz do silêncio. E sem perceber, adormeci.
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KAIO MAVERICK
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A música alta vibrava no peito, e as luzes neon piscavam em tons de azul e vermelho, dando à boate um ar caótico e hipnótico. Eu odiava esses lugares. O cheiro de álcool misturado com perfume barato, a falsidade no olhar das mulheres que se aproximavam com sorrisos fáceis... Mas hoje, hoje eu precisava disso. Precisava esquecer Isabella. Otávio já estava encostado no bar quando me viu entrar. Soltou um assobio.
— Tá com cara de quem precisa de um porre, irmão.
Revirei os olhos e pedi uma dose de uísque. Assim que o líquido queimou minha garganta, percebi que precisaria de mais para calar essa m***a de pensamento que me perseguia. A imagem dela não saía da minha cabeça. Isabella. Os sorrisos doces, o jeito como ela mexia no cabelo quando ficava nervosa, a forma como o corpo dela preenchia aquela casa vazia. Ela estava me enlouquecendo. E o pior? Eu queria mais.
— Preciso de uma mulher, Otávio. Uma que me faça esquecer.
— Aí sim! Veio ao lugar certo.
Ele apontou para a pista de dança.
— Tem várias opções. Mas cuidado, hein? A última coisa que você precisa é uma pegajosa. Aqui não vai encontrar mulher séria, irmão. E você tá precisando de uma dessas.
Ignorei a piada e virei outra dose. Eu já estava levemente alterado quando a vi. Loira, de olhos azuis, corpo curvilíneo, um vestido preto que delineava cada centímetro. Meus olhos se fixaram nela sem que eu percebesse. d***a. Ela me lembrava Isabella. Minha boca secou. O desejo se misturou com a frustração. Ela não era Isabella, mas eu queria fingir que era.
Me aproximei, e ela sorriu. Conversamos pouco antes de eu segurar sua cintura e trazê-la para mais perto. A pele dela era macia, o perfume forte, mas não era o cheiro certo. Não era ela.
Eu queria Isabella. Soltei a mulher no mesmo instante e me afastei. Ela perguntou o que houve, mas eu já estava saindo da boate. Otávio veio atrás de mim, percebendo minha expressão irritada.
— Que m***a foi essa?
Ele riu.
— A loirinha tava no jeito!
— Cara, me leva para casa.
Otávio me olhou com desconfiança, mas não insistiu. Estava bêbado o suficiente para não dirigir, então aceitei quando ele pegou as chaves do meu carro e assumiu o volante. No caminho, fiquei em silêncio, o estômago revirando de frustração. Por que eu sentia essa m***a toda por Isabella? Ela era só a babá. Só isso. Então por que diabos eu estava tão obcecado?
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A Tentação à Minha Espera.
A casa estava escura quando entramos. Tudo parecia em ordem, até eu vê-la ali. Isabella. Dormindo no sofá, com as pernas dobradas e o rosto apoiado em uma das mãos. O pijama delicado deixava parte das coxas expostas, e o hobby estava jogado ao lado, como se tivesse caído enquanto ela dormia. Meu peito apertou. Minha respiração ficou pesada. Otávio assobiou baixo.
— p**a m***a, irmão. Você nunca me falou que tinha uma anjinha dessas aqui.
Eu me virei num segundo, meu olhar mortal.
— Fecha essa m***a dessa boca.
Otávio riu, levantando as mãos.
— Calma, calma. Mas é sério... quem é essa belezura?
Minha mandíbula trincou, e foi nesse momento que Isabella se mexeu. Os olhos dela piscaram algumas vezes antes de se abrirem completamente, confusos e um pouco assustados ao me ver ali. Assim que percebeu sua roupa, ela puxou o hobby rapidamente, escondendo o corpo.
— Kaio...?
A voz dela estava rouca do sono, e porra... aquilo me atingiu de um jeito que eu não queria admitir. O olhar dela intercalou de mim para Otávio, aquilo me tirou do sério.
— O que diabos você está fazendo aqui a essa hora?
Rosnei, minha voz mais dura do que eu pretendia. Ela era a última mulher que eu queria ver naquele momento… e, ao mesmo tempo, a única que meu corpo ansiava. A minha tentação. O meu erro. A p***a do meu desejo proibido.