Willian não sabia quantas horas passou na taberna, porém, só parou de beber quando o jogaram para fora como um cão. Estava tão bêbado que m*l podia se aguentar de pé e a cidade já estava vazia, a não ser pelas prostitutas, que estavam aqui e ali à procura de um cliente para render seus lucros. Mas não se aproximaram dele, todas elas sabiam dos estranhos gostos do Griffin, de como ele era agressivo e violento, até elas resguardavam seu corpo, que era seu instrumento de trabalho.
Jogado no chão sujo, Willian demorou para se levantar. Apoiou-se na parede da taberna e, com um grande esforço, conseguiu se pôr de pé. Havia bebido muito, muito mais do que costumava, e agora iria para casa. Queria ver Charlotte, queria tê-la para si e descobrir o que ela havia dito ao irmão. Sentia a raiva fazer seus dedos estremecerem e o medo gelar seu coração, tinha medo de perdê-la, ela era sua eternamente e não podia permitir que ninguém a tirasse dele.
Seguiu até seu cavalo, montando sobre ele de forma desajeitada e se debruçando sobre o animal, o cutucando com as botas e fazendo-o cavalgar, lentamente, para a saída da cidade.
— Charlotte é minha… Só minha — resmungava enquanto era embalado pelo trotar calmo do animal. — Quem aquele desgraçado pensa que é? Se ele acha que…
Antes que terminasse a frase, quando já estava na estrada que o levaria para sua fazenda e já havia deixado todas as casas para trás, um grande estalo se fez ouvir entre as árvores. Ao lado da estrada, tudo o que ele conseguia ver eram árvores e mata densa, nada além disso.
Aparentemente, o susto o deixou um pouco mais desperto, mas não o suficiente. Antes que percebesse, Willian se viu cercado por dez cavalos, sobre eles, haviam homens completamente vestidos de preto, usando máscaras igualmente escuras e feitas de algo que não conseguiu identificar. Os cavalos também tinham o pelo mais n***o e lustroso que já havia visto, a postura dos desconhecidos era altiva e assustadora.
— Senhor Griffin, desça do seu cavalo — falou um deles, e Willian teve a impressão de que conhecia aquela voz.
— Não vão roubar meu cavalo! — bradou o bêbado, erguendo a destra. — Me deixem em paz, tenho problemas a resolver em minha casa!
— Levem ele — ordenou o misterioso cavaleiro e, antes que Willian pudesse fazer algo, um saco cobriu sua cabeça e, mesmo se debatendo, ele foi facilmente arrancado do seu cavalo.
Não conseguia ver nada, desse modo, só percebeu que amarraram suas mãos e pés quando a corda tocou sua pele, então, subitamente, seu corpo começou a ser arrastado pelo chão sem que ele sequer soubesse para onde estava indo.
Ouviu o trotar dos cavalos e, por longos minutos, tudo o que sentiu foi dor. Os galhos cortavam sua pele, por vezes sentiu algumas pedras acertarem sua cabeça, pedras que estavam pelo chão, então, deduziu que os estavam levando pela floresta.
Imaginou que seria seu fim, mas não ficou acordado por muito tempo para pensar em uma forma de fugir, estava bêbado demais e, antes que se desse conta, desmaiou.
***
— Acorde, seu verme sujo! — gritou Marcel, jogando um balde de água em Willian, que acordou sobressaltado.
Quando os olhos dele se abriram, o loiro se viu preso numa cadeira, amarrado. A primeira coisa que notou foi Marcel, de pé à sua frente, com um sorriso nos lábios. Depois percebeu que estava em um celeiro e, ao redor, haviam vários homens, alguns deles até conhecia, grandes comerciantes da cidade, figuras nobres do reino, todos nomes importantes. Também notou que todos vestiam as mesmas roupas negras e percebeu que portavam espadas iguais.
— Marcel, seu desgraçado! — gritou Willian, tentando se soltar, porém, tudo o que recebeu foi um forte soco no rosto, que o fez sentir o gosto metálico de seu sangue na boca.
— Cale a boca! Aqui você não tem direito de fala, tudo o que pode é ouvir e acatar — Marcel falou, se afastando e abrindo espaço para Thommas, que tomou a frente.
Willian riu levemente, incrédulo, enquanto via o homem pequeno e forte se aproximar dele e abrir um caderno, pondo um óculos redondo e olhando para as folhas com seriedade. O loiro não entendia o que estava acontecendo, mas ninguém ali parecia disposto a explicar, desse modo, acreditou que somente se tratava de alguma forma que Marcel havia encontrado para o assustar.
Uma vingança patética.
— Senhor Willian Griffin, está aqui hoje por todos os seus crimes contra a honra e reputação de sua esposa, Charlotte Griffin — a fala dele foi categórica e clara.
— Crimes contra a honra de… Do que estão falando? Exijo que me soltem agora! — berrava ele, tentando se soltar das amarras, em vão.
Thommas se afastou ao passo que Marcel, mais uma vez, se aproximava do loiro, segurando o queixo dele com certa brusquidão e sorrindo levemente, inspirando antes de começar a falar.
— Willian, você irá, de forma discreta e sem alarde algum, assinar isso — ele mostrou os papéis autenticados pela igreja que sinalizavam a anulação do casamento. — Minha irmã voltará para casa sã e salva e eu posso tentar esquecer tudo o que fez.
— De que merda está falando? Charlotte é minha… — Antes que ele finalizasse a frase, um novo soco o atingiu, no queixo.
— Não estou aberto a discussões, mas posso continuar insistindo, se achar necessário — ele voltou a falar, parecia calmo demais. — Cavaleiros, podem me dar um minuto? Por favor, preparem a marca.
Dito isto, os homens o obedeceram prontamente, todos sabiam que aquele era um assunto dele e, com toda certeza, Marcel convenceria Willian a assinar os papéis de forma “pacifica”.
Quando finalmente estavam sozinhos, Marcel caminhou até as portas do celeiro e as fechou, voltando-se para Willian novamente e caminhando devagar até ele. A princípio, não fez nada, somente o encarou com nojo e raiva, enquanto Willian o olhava com arrogância.
Então, como quem libera uma b***a de sua jaula, um furor se acendeu nos olhos azuis e, deixando de lado qualquer cavalheirismo e compostura, ele começou. Os punhos de Marcel o acertavam com tamanha força que Willian sequer conseguia acompanhar os golpes, só conseguia sentir a dor.
Marcel o acertou com vários socos no rosto, vários chutes, jogou a cadeira onde ele estava amarrado no chão somente para poder pisar em seu rosto e cuspir nele, tratando-o como o animal que era e deixando que todo o seu ódio se esvaísse em violência, direcionada única e exclusivamente ao agressor de sua irmã.
Enquanto era surrado, Willian gemia e pedia por socorro, xingava Marcel dos piores insultos que conhecia e, depois de um tempo, começou a implorar misericórdia, mas o irmão mais velho de sua esposa não parou.
Do lado de fora, uma fogueira foi acesa, sob a brasa ardente, um ferrete era aquecido.
A princípio, Thommas pensou em intervir, mas foi impedido pelos demais, Willian merecia o que lhe era destinado e Marcel precisava descarregar todo o ódio. Quando um homem necessita de punição por conta de seus feitos imorais, nenhum irmão da seita deve intervir em favor dele.
Os gritos de Willian eram assombrosos e nenhum deles fazia ideia do que Marcel estava fazendo com ele lá dentro, só sabiam que ninguém queria estar na pele do fazendeiro mesquinho.
Dentro do celeiro, Marcel sentia as mãos doerem e, quando não podia mais usá-las por estarem muito machucadas, usou os pés. Não sabia quanto tempo levou ali, mas, quando acabou, William estava solto, mas não tinha forças para se erguer. Seu rosto estava ensanguentado, seu nariz estava quebrado e seus olhos sequer se abriam direito de tão inchados.
— Assine — falou Marcel, jogando os papéis e deixando um tinteiro com uma pena ao lado do loiro.
O mais alto estava completamente transtornado, sua respiração era profunda, havia tirado o paletó e as mangas da camisa estavam dobradas até os cotovelos, marcando os braços fortes. Suas mãos estavam machucadas e ensaguentadas, mas nenhuma dor era maior do que sua satisfação ao ver Griffin rastejar e pegar a pena, molhando-a na tinta e assinando, lentamente, os papéis que findariam o casamento, todos autenticados pelo rei e pela igreja.
— Eu vou matá-lo, Marcel — rosnou Willian, jogando longe a pena enquanto Marcel pegava os papéis do chão. — Vou matá-lo com minhas próprias mãos e…
Marcel não deu importância para a fala do loiro, virou as costas e seguiu em direção às grandes portas do celeiro, abrindo-as e olhando para seus irmãos, fazendo um sinal com a cabeça para que continuassem o processo.
Thommas retornou ao celeiro, seguido pelos outros, e entregou uma grossa luva de couro a Marcel, que a colocou antes de ir até a fogueira e pegar o ferrete, olhando a ponta onde havia o brasão da seita completamente vermelha, brilhante, revelando sua temperatura, estava aquecido ao extremo.
— Senhor Griffin, devido a sua conduta desprezível e seus atos de violência contra aquela que lhe foi confiada por um irmão — iniciou Thommas, abrindo espaço para que Marcel passasse por ele segurando o ferrete em brasa —, será punido com a marca para que todo homem de respeito saiba a procedência de seu caráter e para que qualquer pai que seja digno mantenha sua filha afastada de você!
Dito isto, dois homens seguraram Griffin pelos braços enquanto um outro inclinava a cabeça do loiro para o lado. Ao ver Marcel se aproximar com o ferrete ardendo em calor, ele se desesperou. Havia ouvido falar em punições como aquelas, mas acreditava que a marca dos Adsumus era somente um boato para amedrontar os homens da sociedade e controlar seus ímpetos.
Pelo visto, estava errado.
— Por favor, não façam isso! Por favor! — implorava, sentindo o corpo inteiro estremecer e as lágrimas salgadas molharem seu rosto machucado, ao passo que sentia suas calças molharem com a urina, estava apavorado. — Não façam isso! Eu vou melhorar, eu juro! Por favor, Marcel, me perdoe!
— Com certeza, a minha irmã também implorou — Marcel falou, enquanto aproximava o ferro da pele de Willian. — Agora todos vão saber o porco imundo que você é!
Então, como um fazendeiro que marca seu gado, ele pressionou o ferro contra a lateral do rosto de Willian, que gritou em agonia. O cheiro de pele queimada subiu e impregnou o local, mas ninguém ali se importava com isso. Quando o ferro foi afastado, Willian Griffin estava inconsciente, na lateral do seu rosto, vermelha e ensanguentada, a marca do símbolo da seita estava gravada.
Duas espadas cruzadas e um olho entre elas.
Pois os Adsumus estavam em toda parte.