Eu vi. De longe. A aproximação do perigo em forma de vinil. Marina vinha dançando até a mesa como quem sabe exatamente o estrago que causou, como quem sentiu o cheiro da vergonha no ar e decidiu fazer dele trilha sonora. Os olhos dela brilharam quando cruzaram com os meus, e foi aí que meu instinto de autopreservação — aquele mesmo que me faz evitar reuniões com o conselho e conversas longas com minha mãe — gritou: “Recua!” E eu recuei. Não muito. Só um passinho pra trás. Discreto. Mas real. Felipe percebeu na hora. — “Você acabou de dar um passo pra trás, cara.” — “Autodefesa, Felipe. Você viu o que ela fez com a minha virilha. Aquilo não foi um acidente, foi um atentado anatômico.” Ele riu alto, o desgraçado. E aí ela chegou. Plena. Brilhante. Com o vestido ainda rangendo

