[NARRADO POR MARINA – A CAMINHO DA ENTREVISTA, OU DO COLAPSO CORPORATIVO] 09h44. O Uber chegou. Um sedã preto, limpinho, com ar de quem só aceita passageiro com CPF limpo e bafo de menta. Entrei com cuidado, como se o banco fosse feito de porcelana. Sentei. Prendi o cinto. Olhei pro motorista, que tinha cara de ex-baterista de banda cover de Legião Urbana. — “Bom dia…” Ele só assentiu com a cabeça e ligou o ar-condicionado. Um gelo polar invadiu minha espinha. O ar tava mais frio que o coração de ex-namorado com coaching emocional. Respirei. O celular vibrou. Rebeca, claro. “Se tu falar p*u pequeno, eu cancelo teu CPF.” Ri. Alto. O motorista me olhou pelo retrovisor como quem avalia se vale a pena continuar com a corrida ou fingir que o carro quebrou. 09h46. O carro deslizando

