{2}

1675 Words
Dylan não disse nada durante dez minutos, apenas observando o garoto de olhos negros, que carregava um sorriso travesso em seus lábios. O rapaz pegou a bandeja novamente, depois de arrumar a água do paciente dentro do copo. Levou a bandeja até Gael e deixou em cima de suas pernas, logo depois soltou seus pulsos. As chaves das algemas ficavam apenas com duas pessoas, o médico e o dono do local. Dylan fez Gael tomar seus remédios, antes de comer qualquer coisa que tivesse naquela bandeja. Gael olhou divertido para Dylan e ameaçou avançar no garoto. Dylan não se assustou, apenas se manteve impassível, pois sabia que os tornozelos do garoto também estavam presos. - Como é seu nome, Doutor? – disse em um tom irônico. -O quê? – Dylan perguntou, pois não estava prestando atenção no que o garoto dizia, apenas o observava e o estudava. - Seu nome. Como é? – repetiu, colocando um pouco da comida na boca. - Ah, meu nome é Dylan! Dylan Monroe! – deu de ombros, sentando-se na cadeira em frente a cama. - Dylan. – Gael disse, parecendo testar como aquele nome se encaixava em sua voz rouca. Ter seu nome pronunciado por Gael, é um pouco estranho. Certamente várias pessoas falam seu nome, mas Dylan acredito que aquela é a primeira vez que ele o vê com tanto vigor. Seu nome ser pronunciado por uma voz tensa, calma e irônica igual aquela, era alguém novo. O nome do homem era pronunciada de uma forma irônica e sarcástica, como se Gael estivesse brincando com ele. Dylan olhou para a única coisa que ocupava aquele lugar, além da cama e as algemas. Uma mesinha onde se acomodava um livro qualquer, que ele nem se deu ao trabalho de ler o título, e uma luminária, que parecia não ser usada a muito tempo. Escutou o barulho de algo cair, se virando imediatamente e viu a bandeja caída no chão, as coisas que haviam nela, estavam em cada parte do canto do quarto. Dylan se aproximou e começou a juntar as coisas que estavam pelo chão escuro, daquele quarto cinzento. Juntou tudo e colocou na mesinha. - Você fez isso sem reclama, parece um cãozinho. Apanha o osso mesmo sem o dono mandar. – Gael disse, um sorriso m*****o brincando em seus lábios grossos. O médico se manteve calado sobre aquele comentário desnecessário. Ele poderia ser tudo menos um cãozinho obediente. Uma coisa que Dylan aprendeu, foi: Nunca, em momento algum, fazer o que os outros mandam. Você acaba se se dando m*l no final. - O que foi? Perdeu a língua, doutor? – tentou de novo provocador o Dylan, passando a língua pelos lábios. - Não, não perdi! Apenas decidi não responder questões como essas! – Dylan falou, sentando-se na cadeira novamente. Gael olhou para Dylan com olhar de reprovação. Aquele olhar deu um frio na espinha do médico e ele soube que nunca deve dá uma resposta a uma pessoa, que está na situação em que, Gael Jones, está. Seu estômago se contraiu e ele viu Gael levantar calmamente da cama e sentar na pontinha da mesma. - Desafiador. Acho que vamos nos divertir aqui por um longo tempo. – disse divertido Soltou mais um de seus sorrisos irônicos. - Vamos jogar um jogo, doutor? – Gael disse, observando-o cuidadosamente. - Que tipo de jogo? – Dylan perguntou, meio nervoso. Não se sabe que tipo de jogos se passa na mente de uma pessoa com distúrbio. - Sabe jogar xadrez? – perguntou divertido, amava aquele jogo, era um bom incentivo a sua mente. - Sei! – Dylan respondeu. - então, pega o que está dentro daquela gaveta ali. – apontou para a gaveta da escrivaninha ao lado da cama. Dylan se aproximou da gaveta, a abriu e pegou o jogo. Puxou a mesinha para ficar entre eles dois e sentou-se na cadeira. Organizaram cada peça em seu devido lugar no tabuleiro. Começaram a jogar em silêncio. Um silêncio perturbador, até Gael, resolver quebrar o silêncio. - Eu acho que a vida é um tabuleiro e nós somos apenas as peças que a compõem. – Gael soltou, sem pensar muito no que dizia. - Por quê? – Dylan perguntou, observando suas jogadas. - Porque, se você parar para pensar, andamos de acordo como outros querem. – Gael moveu seu cavalo para a direta, prendendo uma das peças de Dylan. - Digamos assim: somos altamente manipulados e controlados? – Dylan perguntou, movendo sua torre. - Exato, qual sentido de ficar fazendo o mesmo percurso todos os dias, a cada dia e a cada minuto? – Jones parecia concentrado em seu jogo, mas sua mente estava trabalhando em coisas que nem ele estava entendendo. - Não precisamos fazer isso repetidamente, podemos mudar um pouco os hábitos, é só questão de querer. – moveu mais uma de suas peças. – Ou podemos apenas acabar com o controle das pessoas sobre nós. - Como você faria isso? – perguntou um pouco confuso com tudo, até Dylan não estava entendo o que estava dizendo. - Se não tem uma forma de acabar com isso vivo, acabe com isso morto. – sentiu o olhar pesado de Gael, sobre ele. – O que foi? - Você é depressivo? – Gael perguntou confuso. - Já escutei coisas piores. – o homem soltou um sorriso irônico. Voltaram a jogar e os pensamentos começaram a vir. Talvez Gael tivesse razão. Talvez eles fossem parte de um jogo de xadrez, sem poder controlar seus próprios movimentos. Talvez o destino fosse apenas um mito. Um grito fora ouvido dentro do quarto, fazendo Dylan se assustar e pulasse da cadeira. - CHECK MATE – Gael gritou alto e Dylan olhou para o jogo. É, realmente ele havia vencido. - O jogo acabou, então eu vou almoçar e depois trago o seu, ok? – Dylan disse, dando de ombros. - Ok. – foi a única coisa que Gael disse. Dylan saiu do quarto é começou a caminhar para a cafeteria. Ele caminhou até a fila extensa de médicos que havia ali. Monroe pegou seu almoço e foi para uma mesa qualquer. Ele sentou-se e começou a comer, sem prestar atenção em qualquer ser ali dentro. - Oi. – uma voz suave disse, chamando a atenção de Dylan. Um homem alto, de cabelos negros e sorridente, sentou em frente a Dylan, fazendo o mesmo perder-se por um momento. O homem demorou um tempo para raciocinar direito, pois o homem era muito lindo. Seus olhos castanho fazia contraste ao seu rosto marcado e bochechas um pouco cheinhas. - Olá. – Dylan se limitou a dizer. - Você é novo aqui, não é? Meu nome é Noah Martínez, mas pode me chamar de Noah! E o seu nome? – Noah disse, esticando sua mão por cima da mesa. - Sim, meu nome é Dylan Monroe, mas pode me chamar de Dylan. – Dylan segurou a mão do homem, apertando-a. - Ah, você é quem tá cuidando do Gael? – disse com um sorriso fraco, parecendo ter pena do garoto. Dylan se perguntava o que Gael tinha, para todos olharem para ele, como se estivessem sentindo pena dele? Ele havia feito algo tão grave, quanto colocar um médico de manicômio no próprio manicômio? Ele não parece ser má pessoa, ele só é m*l compreendido! Dylan sentia a necessidade de descobrir mais sobre o garoto de quem estava cuidando. - Sim. – respondeu. – Bom, eu tenho que ir. Foi um prazer, Noah. Dylan jogou o resto de comida, que havia na bandeja, no lixo e foi na direção do refeitório onde preparavam a comida dos pacientes, para pegar o almoço de Gael. Ao pegar a comida, ele foi para o andar do quarto do Gael. Chegando no andar, Dylan foi capaz de ouvir o Gael gritando. Ele correu até a porta do quarto e a abriu rápido, sem se importar com o barulho que iria causar. E ali estava ele, sentado na cama com os joelhos encostando na barriga, a cabeça apoiada nos mesmos e seus braços ao redor dos joelhos. Seus tornozelos estavam machucados, estavam sagrando, por ele estar puxando demais. Seus olhos vermelhos por conta das lagrimas. - Gael? – Dylan deixou a bandeja em um lugar qualquer e correu em direção ao garoto. – Gael, calma. – pegou em seus pulsos e os separou de seus joelhos. – Jones, olha para mim. Sua cabeça levantou devagar, seus olhos escuros demonstravam um medo assustador, parecia que estava vendo a pessoa que mais amava, ser tirada dele da forma mais c***l possível. - Ele está aqui... – um soluço – ele está... – um aperto em suas próprias mãos – machucando ela...por favor não deixa ele a machucar. - Calma, ninguém vai machucar ninguém. – Monroe não estava entendendo o que estava acontecendo. Não sabia de quem ele estava falando. Quem era pra proteger e quem era que estava machucando? – Vai ficar tudo bem. Ele foi se acalmando aos poucos, nos seus olhos o brilho, de adolescente malicioso, voltou – mesmo que o garoto na frente de Dylan, não fosse mais um adolescente. Dylan saiu do quarto e correu até a sala onde Noah trabalhava. - Noah, pode me dar remédios para ferimentos? – Dylan disse apressado, não queria deixar Gael machucado dentro do quarto. - O que houve? – perguntou preocupado. - Gael teve um ataque e acabou machucando os tornozelos! – fora a única coisa que o homem disse, sem dar muitos detalhes de como aconteceu. - Ah. – a palavra saiu como um suspiro triste, como se estivesse preocupado com ele. Noah pegou os remédios e entregou a Dylan, que o agradeceu, fingindo não perceber sua preocupação com Gael. Dylan correu de volta para o quarto de Gael, olhando para o garoto encolhido na cama. Monroe se aproximou de Jones, tirando as algemas dos tornozelos do mais novo e observando os machucados. Dylan pegou as coisas e começou a cuidar daquelas feridas que parecia superficiais, mas se olhassem de perto eram profundas.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD