Ele passou a mão em sua cabeça calva e sorriu para mim galanteador e eu retribuir com um breve sorriso, não galanteador, mas sincero.
- Bom dia! - Meu tom sai arrastado.
- Bom dia! Cansada? - Diferente de mim, era notório o seu bom humor.
- Um pouco.
Um pouco era apelido, eu estava exausta, não pelo trabalho realizado, mas pela andada que dei para chegar até aqui. Cheguei e trabalhei bastante curvada, minhas costas e todo meu corpo pedem socorro, mas eu não quero que ele pense que estou reclamando e comente com dona Cláudia, então me calei.
- Venha, vou te levar para casa. - Ele diz abrindo a porta do passageiro. O carro na cor preta era bem conservador, dentro era grande e bem sofisticado. Não entendo nada de carro, mas era evidente que o carro deve ser caríssimo.
O caminho até minha casa foi rápido. Está em um carro é outro nível, nem tem comparação em andar a pé.
Moro no Uruguai, em um bairro considerado perigoso, mas como, todos, ele tem seu pós e contra. O bairro fica localizado na Cidade Baixa, ele faz parte da maioria dos bairros de Salvador, que tem seus problemas com tráfico de droga.
A polícia tenta, com suas abordagens preventivas, radio patrulhamento, policiamento a pé, abordagens e viaturas em pontos estratégicos, mas tudo que eles fazem, não parece o suficiente.
Moro aqui a dez anos, quando Mainha, grávida de Levi ganhou a sua casa no programa de habitação "Minha Casa Minha Vida" e desde então, quase não vi mudanças.
O carro entrou no condomínio em que eu morava, as casas todas iguais, seria fácil alguém que nunca veio aqui se perder. Aqui é dividido por blocos, moro no térreo, no bloco "A", logo no início.
- Pode parar aqui, senhor Júlio.
Ele para e eu agradeço pela carona, ele pede que eu aguarde no carro, sai do veículo e sorrindo, abre as portas para mim. Fico surpresa e nem disfarço.
- Gosto de ser prestativo. - Explicou ao observar o meu olhar surpreso.
- Isso se chama cavalheirismo. - Comentei retribuindo ao sorriso.
- Obrigado. - Voltou a dizer todo orgulhoso, em seguida entrou no carro e deu partida. Espero ele dar a ré no carro e seguir viagem, só então entro em casa.
Estava escuro e silencioso. Minha casa é muito pequena, dois quartos pequenos um ao lado do outro, o banheiro ao lado do quarto que antes era de Mainha, mas que passei a dormir.
No início foi difícil, eu preferia dormir no sofá, contudo, doei as coisas de Mainha. Roupas e alguns objetos, pintei o quarto, Lourdes me deu uma cama e um guarda-roupa, foi então que eu conseguir dormir melhor, pois antes, tudo me fazia lembrar de mainha e que eu nunca mais a veria.
A cozinha é dividida com a sala, só o sofá e o rack toma todo o espaço, apenas dar para andar uma pessoa por vez. Na cozinha só tem uma geladeira pequena, o armário colado à parede, a pia de mármore, o fogão e a máquina de lavar que Mainha aproveitou e mandou instalar um tanque de lavar roupas.
A casa é toda m*l distribuída, mas não tenho do que reclamar, só em não precisar pagar aluguel fico feliz.
Vou até meu quarto, removo as sapatilhas colocando elas atrás da porta, encostada a parede e penduro a bolsa na cabeceira de minha cama.
Não tenho muitos móveis, só a cama e o guarda-roupa mesmo. Meus cremes e produtos para higiene ponho em uma "nécessaire" que deixo no guarda-roupa.
Saiu do meu quarto e vou ao quarto de Levi, vejo que ele ainda está dormindo e beijo a sua cabeça. Seus cachos fazem cócegas em meu nariz e sorriu.
Eu me sinto culpada em deixá-lo sozinho esse tempo todo, mas o que farei? Eu me sentia com as mãos atadas.
Lourdes mora longe e não tenho i********e com nenhum vizinho, eles pensam que sou metida, porque nunca fui de me misturar com as meninas baladeiras daqui da rua e nem de ficar na casa de ninguém, nem eu, minha mãe ou Levi.
Eu nunca fui m*l-educada, passo, dou bom dia! Boa tarde! Boa noite! Ou pergunto como vai a todos, mas não passa disso.
Levi é um bom menino, às vezes insistente demais, mas nunca foi de me responder, pelo contrário, sempre tenta me ajudar.
Antes de sair dei sua janta, coloquei ele na cama e pedi para que ele não abrisse para ninguém, o celular que era de Mainha deixei para ele, avisei que qualquer coisa era só me ligar, Lourdes havia colocado crédito para nós dois.
Lourdes faz tanto por mim, ela é um anjo em minha vida, ainda que ela diga que de anjo ela não tem nada, ela com toda certeza é o meu "anjo".
Levi disse que me obedeceria e eu sabia que ele estava sendo sincero. ainda assim, eu só sair de casa quando ele havia adormecido, era umas 21h30 da noite.
Poderia chover canivete que ele não acordaria de seu sono pesado. Cogitei, sorrindo sair do quarto.
Eu deveria descansar um pouco, mas eu não tenho dormido bem ultimamente. Então optei em fazer café, depois de pronto tomei um "menor" e deitei no sofá, esperando dar 06h00 da manhã para ir à padaria comprar pão, já que às 06h30 da manhã é a hora de chamar Levi para se aprontar para escola.
Coloquei o despertador do celular para alarmar às 06h00, deixei em cima do Rack e fechei meus olhos por alguns segundos.
Quem sabe eu consiga relaxar um pouco.
💎💎💎
Acordo com a voz de Levi insistentemente chamando-me. Abrir meus olhos e levantei em um pulo.
- O que foi? - Indaguei com o coração batendo descompassado de medo supondo que já acontecera algo r**m.
- Oxe, não fiz nada. - Ele avisou sentando no sofá com o olhar preocupado. Só então notei que ele já estava com o uniforme escolar.
- Que horas são?
- 06h40, eu acho. - Ele sorrir envergonhado.
- Não acredito que acabei dormindo! - Exclamei ajeitando os meus cabelos que estavam embaraçados. - Porque não me acordou, Levi?
- Você está cansada, Bea. - Retrucou sério. - E saiba que sei tomar banho e vestir meu uniforme, sou um homem. - Suas últimas palavras ditas de forma tão convicta me fez abrir um sorriso orgulhoso.
- Você penteou os cabelos. - Falei ampliando o sorriso.
Levi assim com eu, tem os cabelos cacheados, ao lavar, chegava em seus ombro, mas finalizado ficava curto. Ele parece muito com Mainha, a pele mais clara, a sua boca pequena e rosada, os olhos grandes castanhos escuros e até seu lindo sorriso que costuma ser largo, intenso e cheio de emoção lembram o de Mainha. Seu tamanho é normal para um garoto de 9 anos, mas ele tem uma aparência fofa e infantil, que muitos pensam que ele tem 7 anos. Ele fica muito chateado quando acontece isso, e eu tentada a apertar as suas bochechas fofas.
- Penteei sim, do jeito que você me ensinou. - Ele diz me trazendo para a realidade. - Usei o seu borrifador para deixar molhado, depois coloquei o creme, penteei com o pente grande, não foi com o pente garfo. - Emendou rápido. - Penteei até desembaraçar, usei a minha mão para moldar os cachos e por último sacudir minha cabeça para soltar meus cachos.
Ele fez direitinho.
- Tá bonito? - Perguntou-me ansioso.
- Está lindo. - Faço um gesto com minha boca impressionada. - Um preto muito lindo. - Elogie o fazendo sorrir orgulhoso. - Daqui a pouco não vai mais precisar de mim.
- Errada, te chamei porque preciso de você Bea.
- Até já sei. - Digo rindo.
- Procurei pão, mas não achei, tô morto de fome.
E deve está mesmo.
Eu não sei como meu pretinho não engorda por comer tanta massa, já eu não tenho a mesma sorte, minha b***a parece que vive aumentando. Pretinho realmente puxou a nossa mãe Jane, já eu, puxei a meu pai Ítalo, sou a copia fiel do nosso pai, tirando a altura que puxei a Mainha. Meus cabelos preto cacheados lembravam de minha vó por parte de pai, mas meu sorriso, olhos pequenos castanhos escuros, minha pele me faziam ser a cópia de nosso pai. Ele era uma mistura de caboclo por parte de meu vô Noah que era um índio casado com uma mulher branca, a minha vó Ana. Por isso meu nome é Ana Beatriz, Ana por parte de minha vó paterna e Beatriz por parte de minha vó materna.
Mainha colocou o nome de Levi em homenagem ao seu pai, Painho queria colocar Levi Noah, mas Mainha bateu o pé e disse que não e aqui em casa quando ela dizia não, dificilmente Painho retrucava, por isso pouco eles brigavam e se brigavam era sempre no quarto longe de mim ou de Levi.
Nosso pai faleceu faz cinco anos, a saudade nunca foi embora, só fez multiplicar devido a Mainha que se foi a seis meses, mas parece que tudo aconteceu ontem.