ALÉM DAS BARREIRAS (MORRO)

cap 01 meus pensamentos foram longe

Yandra Narah

Lá estava eu, em frente à Rocinha, estacionando meu carro.

Meu coração estava acelerado pra c*****o por voltar pra cá. Eu não vinha aqui há anos, meus pais é que iam me visitar lá na Gávea. Motivos? Eu não tinha tempo nem pra mim mesma, só focava nos meus estudos e na minha lojinha, que na época eu estava começando.

Estacionei o carro e desci, vendo a linda visão da Rocinha daqui de baixo. É muito lindo, tá maluco.

Comecei a andar em direção à entrada do morro, e cada passo que eu dava meu coração parecia que ia sair pela boca. Estava nervosa real.

L2: "Qual foi, Yandra? Tu sumiu, pô!" — se aproximou com um fuzil atravessado nas costas, me encarando com um sorrisinho no rosto.

L2 era meu vizinho quando eu ainda morava aqui na Rocinha. Não éramos tão próximos, mas também não éramos apenas conhecidos, entende?

Yandra: "Oi, L2, tive que seguir minha vida, né? Mas pelo que eu tô vendo, não perdi muita coisa." — digo, observando que não tinha mudado quase nada, só alguns muros e casas na entrada do morro que estavam pintados com cores bem chamativas.

L2: "Tamo na mesma, pô. Nada de diferente pra ser dito. Mas tu veio fazer o quê aqui? Tu some e, do nada, aparece." — ele disse, começando a andar junto comigo.

Yandra: "Vim ter uma conversa com o MT." — suspirei, colocando a mão na testa pra tentar tampar o sol. Verão no RJ não é pra qualquer um, não.

L2: "Conversa? Que tipo de conversa? Vocês se afastaram bastante depois que tu meteu o pé pro asfalto."

Yandra: "Eu sei." — solto uma pequena risada. — "É um projeto que eu tô querendo fazer aqui na Rocinha." — digo, atravessando a rua pra ir pra calçada que tem sombra. Tá maluco, andar nesse sol de 40 graus.

L2: "Ih, virou empreendedora, sei lá como que se chama esse bagulho."

Yandra: "Não, cara." — solto uma risada. — "Tô cursando faculdade de dança e tava pensando em abrir uma escola de dança aqui pra garotada... Será que eles vão achar legal?"

L2: "Ah, legal, eu curti. Mas, em relação ao MT, sei lá, pô. Acho que sim, ele faz tudo por essa favela." — ele diz, parando em frente à boca principal.

Yandra: "É, eu espero." — suspirei, olhando aqueles homens armados. — "Me leva lá na boca?"

L2 concordou e começou a andar na minha frente, e eu o segui, meio apreensiva, olhando aqueles homens me encarando.

L2: "É aqui, vai lá. Depois tu me fala no que deu, já, é?"

Concordei, dando um simples sorriso, e ele saiu fazendo um toque comigo.

Contei até 10 na minha cabeça e bati na porta, ouvindo logo em seguida um "Entra." Respirei fundo novamente. Estava nervosa pra c*****o. Fazia tempo que eu não via o MT, não sei como ele está agora.

Abri a porta, ouvindo um pequeno rangido da mesma, e encarei o homem sentado em uma cadeira na minha frente, com a cara enfiada em uns papéis que estavam sobre a mesa.

Yandra: "Oi, MT." — eu disse, depois de fechar a porta, cruzando meus braços e parando no meio daquela sala, esperando uma reação dele.

Depois que eu falei aquele "oi", MT levantou sua cabeça devagar, como se fosse em câmera lenta. Meu coração acelerou mais e mais, vendo o quanto ele tinha mudado e pra melhor.

MT ficou me encarando por alguns minutos sem dizer absolutamente nada, e eu já estava achando que ele tinha ficado mudo e ninguém me avisou.

Mas esse pensamento passou rápido quando ele levantou da cadeira e foi até a frente da mesa, se encostando na mesma, cruzando os braços e me encarando profundamente.

E te falo, aquele olhar estava me dando um t***o do c*****o, e eu me controlei pra não morder os lábios olhando aquele corpo dele. MT estava sem camisa, e nem tinha como eu não olhar aquela barriguinha dele.

MT: "E aí, Narah." — meus pensamentos foram pra longe quando ouvi aquela voz grossa...