Yandra . . .
Yandra: "Quanto tempo, né?" — digo, depois de alguns minutos nos encarando.
MT: "Sim." — diz, simples, e volta a se sentar na cadeira. — "Voltou por quê?"
Yandra: "Nossa, eu estava esperando um 'senti sua falta, Narah', mas tudo bem, os de verdade eu sei quem são." — fiz um joinha com a mão, me sentando na cadeira em frente a ele.
MT: "Sai dessa, garota, sai dessa." — ele fala, se jogando naquela cadeira, ficando todo largado lá. — "Mas como é que tu tá? Sua faculdade tá indo bem?"
Eu não posso negar que sempre gostei desse lado preocupado dele. Ele sempre foi assim, desde criança, e eu amo.
Yandra: "Ai, MT, senta direito, que agonia! E sim, tá tudo bem comigo e com a faculdade. E você?"
MT: "Eu, o quê?" — ele me encara sério e solta uma gargalhada, jogando a cabeça pra trás.
Ele sempre gostou de me tirar do sério, e pelo visto, ele ainda gosta.
MT: "Eu tô bem, pô, namoralzinha mesmo." — ele volta a se sentar direito. — "Mas fala aí, o que que pega?"
Yandra: "Tu sabe que eu tô fazendo faculdade de dança, né?"
MT: "Sabia não, mas continua." — fiz careta, mas continuei falando.
Yandra: "Mas tu sabia que meu sonho, quando era criança, era entrar numa escola de dança, né?" — ele concorda com a cabeça. — "Então, juntando tudo isso, eu queria saber se tem como, sei lá, abrir uma aqui. Porque eu sei que tem pessoas que gostam, mas não têm condições de pagar, como eu tinha, entende?"
MT: "Aham, mas como seria isso?" — ele pergunta, cruzando os braços na mesa, parecendo interessado no assunto.
Yandra: "Seria como a escolinha de futebol que tem aqui, mas, ao invés de futebol, vai ser dança. Conversei com uns colegas e amigos da facul e eles concordaram com o projeto. Eu só preciso mesmo de um lugar aqui."
MT: "Beleza, pô, arrumo pra você." — ele diz, abrindo uma gaveta e procurando alguma coisa.
Yandra: "MT, sério mesmo?" — perguntei, um pouco surpresa.
Por mais que eu soubesse que ele ama esse lugar e faz de tudo pelos moradores, fiquei com um pé atrás, achando que ele não aceitaria.
MT: "Tu ainda pergunta, Narah? Pô, sei bem como é querer uma coisa e não ter condição de conseguir. Esse projeto vai ser f**a pra todo mundo." — ele falou, fechando a gaveta e jogando uns papéis em cima da mesa. — "Aqui são uns lugares que você pode ficar. Dá uma olhadinha aí."
Peguei os papéis, que eram fotos de algumas áreas daqui da Rocinha. Tinha algumas pequenas, médias... enfim, estavam variando muito.
Mas o que me chamou mais a atenção foi uma que ficava em frente a uma pracinha. Tinha dois andares e não era nem pequena, nem tão grande. Era perfeita para começar.
Levantei minha cabeça pra dizer qual eu tinha gostado, e peguei ele me encarando de um jeito que me deu um arrepio dos pés à cabeça. Jesus, tenha misericórdia.
Yandra: "É... é..." — gaguejei um pouco pra falar, porque ele me olhando desse jeito estava me desconcentrando. — "Eu gostei dessa aqui." — mostrei a foto pra ele, e ele a pegou, ainda me encarando. Socorro.
MT: "Maneiro, pô. Gostei. Quer ir lá ver pessoalmente pra ter certeza?" — ele fala, ainda com aqueles olhos cravados em mim.
Yandra: "A pode ser, mas eu não vou te incomodar, não?" — me remexo na cadeira, desviando meu olhar do seu.
MT: "Não, pô. Vamos lá. Eu já ia almoçar no bar lá da dona Maria." — ele levanta, abre a porta e espera eu passar.
Yandra: "De bandido virou cavalheiro." — me levanto e passo por ele. — "Que evolução."
MT: "O pai sabe das coisas." — ele fecha a porta e começa a andar do meu lado. — "Posso virar o que tu quiser. É só tu me falar o que tu quer que eu vire."
Me falem que não foi só eu que senti malícia nessa fala dele, por favor.
Yandra: "Vira um cavalo e me leva nas costas." — pulo nas costas dele, fazendo ele me agarrar rápido.
MT: "Narah, c*****o, que susto. Quer fazer a gente cair, né? Só pode." — ele diz, me colocando no chão.
Desço rindo das costas dele e viro pro lado, vendo L2 vindo na nossa direção.
L2: "Já tão íntimos assim? c*****o, que rápido." — ele começa a andar junto com a gente.
Yandra: "MT me ama, isso é fato." — tampo meu rosto novamente, o sol de 12:00 tava do c*****o.
MT: "Mais iludida que a Narah, só o L2 achando que o Fluminense vai ganhar o mundial..."