4º Capitulo – Primeiras impressões

4450 Words
A primeira coisa que vi quando atravessei o espelho foi uma bela tapeçaria em tons dourados que deveria ter centenas de anos. Olhei em redor e vi cinco mulheres a olhar para mim. Eliot apareceu no momento seguinte carregando as minhas malas e, vendo que eu não falava, adiantou-se: -Bom dia majestade, mãe, meninas… Apresento-vos a princesa Emily. – Ao ver que eu continuava sem reacção, Eliot continuou com as apresentações. – Emily esta é a minha mãe, Eileen, estas são Laila, Jennifer e Holly, a tua guarda a partir deste momento, e esta é…. - Rainha Aurora… - Se por um lado saber a verdade acerca da minha vida me fazia feliz, outro lado de mim queria desaparecer. Estava confusa com os meus sentimentos e neste momento o que mais queria era fugir do lugar onde me encontrava. - Emily… - Tal como eu, a rainha não conseguia expressar o que sentia por palavras. Entreolhávamo-nos com um misto de excitação e medo, o que levou a que os restantes ocupantes da sala nos deixassem a sós. – Minha querida filha… - Porquê? – Com tanto que tinha para inquirir, os meus lábios não conseguiam proferir mais nada. – Eu sei que foi para me proteger, mas porque é que nunca se revelou? Não achou que seria mais fácil para mim? Acha que depois de todos estes anos a viver numa realidade que não era a minha basta me fazer regressar e fica tudo bem? - Eu compreendo que estejas zangada comigo por nunca me ter mostrado, mas eu não podia! Além de te pôr num perigo ainda maior, não podia deixar Cyon desprotegido. – As lágrimas corriam em fio pelas faces rosadas de Aurora. Por muito que ela esperasse uma reacção menos boa da minha parte, a tristeza que deveria estar a sentir consumia-a de uma forma inimaginável, afinal não me via havia muito tempo. – Não imaginas quantas vezes quis largar tudo e ir ao teu encontro. A única coisa que me fez refrear esse sentimento foi o saber que te poria em perigo, pois eram poucas as pessoas que sabiam onde te encontravas. Acredita em mim Emily, eu só quero o teu bem. - Se só que o meu bem porque é que eu tenho de casar com alguém que nem conheço? Eu voltei de livre v*****e mas não vou abdicar da minha felicidade por uma estúpida tradição. – Apercebia-me agora que não era o facto de viver numa mentira que me irritava, mas sim a sorte que me estava destinada. Sempre pensara que um dia encontraria um príncipe encantado e não que seria vitima de um casamento arranjado. - Eliot não deveria ter tocado nesse assunto… - Porque eu não quereria vir sabendo que a minha felicidade estava condenada? Pelo menos ele foi verdadeiro comigo! - Porque é um assunto delicado, não era pra ser exposto sem mais nem menos. Tu podes sempre escolher outra pessoa para te casares mas eu não posso alterar a tradição. - Claro que tudo isso tem um prazo… - O timbre da minha voz não deixava margem para dúvidas do quanto eu detestava os compromissos que me haviam sido impostos. – Eu voltei, que era o que queria, mas isso não quer dizer que eu queira estar aqui. - Emily, eu sei… - Eu sei que não me abandonou e que só quer o meu bem, Eliot já se fartou de repetir, mas isso não quer dizer que eu a aceite como minha mãe. – Eu sabia que tinha ido longe demais. A rainha deu meia volta e abandonou a sala sem emitir um único som. Já se haviam passado longos minutos quando Eliot entrou na sala, onde eu ainda me encontrava. Ao ver que eu não queria conversar, sentou-se num cadeirão e aguardou silenciosamente. Não sabia quanto tempo se passara desde que Eliot entrara, mas o sol já se elevara bastante no céu azul quando eu inquiri Eliot: - Fui dura de mais, não fui? - Não te vou dizer nem que sim nem que não. A rainha esperava que reagisses m*l mas não contava com aquelas palavras, ela sempre te amou e apenas queria a filha de volta. Tu por outro lado, sempre amas-te uma mãe que não era a biológica, mas que te deu amor e carinho, e não sabes como aceitar a tua verdadeira mãe que nunca conheces-te até este momento. - Eu não sei se é bem por isso que explodi daquela maneira, mesmo que essa descoberta tenha sido a pior de todas, é mais devido às imposições que me fizeram mesmo antes de nascer. Eu sempre tive uma vida normal e agora vejo-me rodeada de um mundo novo cheio de regras. Eu entendo os sentimentos da minha… - ainda me custava imenso proferir a palavra mãe e Eliot apercebera-se disso, pois interrompeu-me. - Pelo menos dá uma oportunidade a ti própria. Em breve serás rainha e poderás mudar as regras do reino. - Mas a que custo? Terei que casar antes e… Espera aí! Se eu vou puder mudar as regras, porque é que ela não as muda de acordo com a minha v*****e? - Não te posso responder a isso, mas a rainha terá as suas razões. – Vendo que eu estava pronta a deitar o castelo abaixo com a minha raiva, Eliot apressou-se a convidar-me a conhecer o palácio. - Posso só ir até ao quarto e ficar lá fechada? - Não, isso não te faz bem. – Eliot sorriu gentilmente e fez-me perder o olhar nos seus belos olhos azuis. – Pelo menos vem até ao jardim, de certeza que vais gostar. Segui Eliot por inúmeros corredores e incontáveis escadarias. “Nunca me vou habituar a isto”, pensei. Finalmente chegámos ao jardim, e o que vi deixou-me petrificada. Nunca outrora vira tão magnífico jardim. Podia jurar que todas as flores que existiam habitavam nos canteiros bem cuidados na enorme extensão de terra que rodeava o castelo. Podia-se ver ainda, no vale, uma grande aldeia. Nunca antes estivera num sítio tão bonito. - Então que achas? Já gostas um pouco mais de Cyon? – Piscou-me o olho e arrancou-me uma gargalhada. - Isto é lindo! Se há alguma coisa de que nunca me vou fartar é desta paisagem. - Isso é uma boa notícia, pois da varanda do teu quarto podes avistar exactamente esta vista. – Vendo-me um pouco mais animada, acrescentou: - vamos dar uma volta. Durante horas passeamos pelo meio das flores. Ainda estava irritada com a reviravolta pela qual a minha vida passava, mas no decorrer da conversa Eliot conseguia acalmar-me. Contou-me sobre a sua infância e como quis treinar para guerreiro. Eileen, a sua mãe, nunca quisera esse futuro para o filho, e só aceitara com a condição que Eliot não descuidasse os estudos. Ele aceitara o acordo e durante anos estudara e treinara por incontáveis horas todos os dias. Estava contar-lhe sobre mim quando fomos interrompidos. - Desculpe-me senhor, mas a sua mãe pergunta se desejai almoçar com ela no salão. - Diga-lhe que não Mia, nós vamos almoçar no jardim. Mande preparar um piquenique junto às roseiras. – Só nesse momento a rapariga chamada Mia pareceu reparar em mim. – Mia, esta é a princesa Emily. - Desculpe-me princesa, não a reconheci. – Depois de uma série de vénias deixou-me falar. - Por favor, nada de reverências nem de me tratar por princesa. Só Emily está bom. - Mas princesa… - Não vale a pena Emily. A Mia, tal como todos os outros criados, foram ensinados a comportarem-se assim, e não vai ser por pedires que vão mudar os seus modos. Acredita, eu já tentei de tudo e nem sou da realeza. Podes ir Mia. - Tenho mesmo de aguentar isto? – Mia já ia longe e eu tinha a impressão que se ia repetir por muitas vezes este incómodo. - Tens. E agora vem comigo que já são horas de almoço. Eliot levou-me até ao outro lado do jardim e continuou a surpreender-me. Um roseiral com todas as cores estendia-se até onde a vista alcançava. Depois de atravessarmos alguns canteiros encontra-mos uma toalha estendida sobre o relvado, completamente preenchida de iguarias. Sentei-me em frente a Eliot e começamos a comer. - Estou curioso. Se não tinhas amigos suponho que não saías com ninguém nem ias a festas, então o que fazias no teu tempo livre? - Quando era pequena fazia desporto e tinha aulas de canto e dança, mas não gostava nada disso, então quando convenci os meus pais que não queria nada daquilo isolei-me no meu quarto e comecei a ler compulsivamente, por isso é que tenho tantos livros. Desde alguns anos, quatro ou cinco talvez, comecei a ir até aquele parque onde me viste e comecei a dar-me com algumas mulheres que iam para lá com os filhos. Nesse tempo aprendi a costurar, a bordar e todas essas coisas. Continuei a ler bastante mas comecei a fazer também trabalhos manuais. - Isso é uma vida um bocado solitária, não? - Bastante, mas eu já me habituei. – Tentei dar um sorriso a Eliot mas não consegui. Olhei em redor e vi um rapaz a correr na nossa direcção, e pelo modo como trajava não deveria ser um dos empregados do castelo. – Quem é aquele Eliot? Ao virar-se para trás a expressão de Eliot endureceu, pelo que se levantou imediatamente. - Dylan. – Quem era este agora? Não consegui que Eliot pronunciasse mais nada antes que o estranho se aproximasse. – Que fazes aqui? - Como assim? Tu é que não deverias estar aqui Eliot. – A maneira como falavam mostrava o quanto se detestavam. – Como te atreves a monopolizar a atenção da Emily toda para ti? Se não te esqueces-te ela pertence-me! As palavras de Dylan ressoaram na minha mente como um aviso que eu não quereria aproximar-me dele. - Desculpa lá, mas eu não pertenço a ninguém, muito menos a alguém que nem conheço. - Mas Emily, ainda não te contaram quem eu sou? - A Emily ainda não sabe Dylan, acabou de chegar e existem coisas bem mais importantes que tu neste mundo e especialmente neste momento. – Eu não sabia o motivo de se tratarem tão friamente, mas alguma coisa se havia passado, disso eu tinha a certeza. - Eu sou o teu futuro marido Emily. Senti o sangue a gelar. De tanta gente no mundo eu tinha de estar prometida logo a um i*****l? Decidi mudar a abordagem e, em vez de desatar aos berros, respirei fundo e dirigi-me a Eliot com um sorriso trocista: - Podias ter-me dito que eu estava prometida a um i****a Eliot. – A expressão de Dylan era agora de desgosto, enquanto Eliot se agarrara à barriga de tanto rir. – E já agora… - virei-me para o desprezível – para ti, e só para ti, é princesa Emily. Vamos embora Eliot, quero ir ver o resto do jardim. Deixei o roseiral sem uma única palavra, enquanto Eliot continuava a rir. Dylan ficara pregado ao chão e nem se atrevera a responder-me. - Foi muito bom Em. Não sei como conseguiste mas foi brilhante! - Eu não posso casar com aquele palhaço! Quer dizer, se ele tivesse sido educado eu ainda tentaria falar com ele, mas acabou com todas as hipóteses que poderia vir a ter. - Dylan não vai desistir assim tão facilmente, consegue ser bem persuasivo… Além que não o deixas-te sequer tentar ser educado, se bem que é uma coisa que não sei se ele é capaz de ser… - Deves conhecê-lo bem. – Eliot parara de rir e tinha um ar sério. – Vocês não se dão nada bem, pois não? - É assim tão óbvio? – O semblante de Eliot demonstrava a tristeza que a sua alma sentia. – Na verdade nós podíamos ser amigos mas com o tempo começamo-nos a afastar e num certo dia houve uma discussão muito grande entre nós, mas prefiro não falar sobre isso neste momento. Continuámos o passeio até às seis horas da tarde, caminhando sempre rodeados de flores e pequenos lagos onde vários animais se refrescavam. Eliot levou-me até ao quarto, onde já se encontravam as minhas malas, e dirigiu-se a uma corda que estava pendurada no tecto. Puxou-a e ficou a aguardar enquanto eu via o cómodo. Para meu espanto, o aposento era mais simples do que imaginara, e só diferia do meu antigo quarto em tamanho e cor. - Se não gostares basta pedires para que mudem a cor e a mobília. – Ia responder a Eliot quanto bateram à porta. – Entre. Quando a porta se abriu vi Mia e outra criada e descobri finalmente para que servia a corda que Eliot puxara há menos de dois minutos. - Emily estas são as tuas criadas particulares. A partir deste momento caso necessites de alguma coisa basta tocar o sino – apontou para a corda – e elas apareceram num instante. Já conheceste a Mia, e esta é a Pauline. – Ao ouvirem os seus nomes fizeram uma vénia enquanto murmuravam «princesa». – Vou-te deixar a sós, deverás querer desfazer as malas e descansar. Volto daqui a duas horas para irmos jantar. - Não posso mesmo ficar fechada no quarto? – Continuava com uma minúscula réstia de esperança que Eliot respondesse afirmativamente, mas não tive sorte. - Não, daqui a duas horas vais descer comigo e vamos jantar com a Laila, a Holly e a Jennifer. – Antes que eu protestasse Eliot saiu do quarto deixando-me com Mia e Pauline. - Podem sair, não necessito de nada. - Sim, princesa. Ainda não passara doze horas desde que chegara a Cyon e já não aguentava as cortesias que me dedicavam. Abri as malas e comecei a guardar a roupa e os livros nos sítios devidos, dirigindo-me à varanda depois de terminar, mas antes de poder abrir as grandes janelas, bateram à porta. - Entre. – Era Dylan quem entrara, para minha grande frustração. – Acho que deixei tudo claro no jardim. - Emily, eu fui muito bruto… Mas entende que eu sempre acalentei a esperança de casar contigo todos estes anos e só ontem soube que tu nada sabias sobre mim. - Isso não é desculpa para tratares alguém como se de uma coisa se tratasse! – Virei-lhe as costas e olhei pela janela. – Agora saí por favor, pois devo arranjar-me para o jantar. - Poderás pelo menos aceitar jantar comigo? Deveríamos conhecer-nos melhor. - Não insistas Dylan. Eu nem morta casarei contigo. – Olhou-me com um misto de tristeza e desafio, e quando pensava que não seria tão fácil me livrar da sua presença, saiu do quarto. “Eliot tinha razão, ele é persistente.”. Tomei um banho demorado e dirigi-me ao roupeiro. Agora começavam os meus problemas. Poderia vestir-me como sempre e parecer estranha a toda a gente, o que nem era mentira, ou escolher um dos bonitos vestidos que faziam parte do meu novo guarda-roupa. Como não iria jantar apenas com Eliot, optei por verificar o recheio original do guarda-fatos e encontrei algumas peças que me agradaram bastante. Como não sabia se as noites em Cyon eram quentes ou frias, escolhi um vestido de meia manga, com pouco decote, em tons roxos e lilases, adornado com pequenas borboletas nos mesmos tons na saia rodada até aos joelhos. Escolhi umas sabrinas que deveriam fazer parte do conjunto, pois continham também uma borboleta da mesma cor do vestido. Depois de secar com a toalha o meu longo cabelo, apanhei-o num r**o-de-cavalo, e esperei por Eliot na varanda. No ângulo onde se encontrava o balcão podia-se avistar perfeitamente o pôr-do-sol, assim como também se deveria vislumbrar com perfeição o amanhecer. Estava absorvida nos meus pensamentos quando Eliot bateu à porta. -Vejo que já estás pronta, e bem bonita posso acrescentar. O que achas-te do novo vestuário? - Obrigada - nunca havia corado tanto como ao receber o seu elogio. – Não é bem o que estou habituada mas é bem mais simples do que eu estava à espera. - Essas são só as roupas do dia-a-dia. As roupas para cerimónias e festas importantes são feitas de acordo com a ocasião, e essas sim são tudo menos simples. - Pelo menos estas são confortáveis, pensava que seria obrigada a usar espartilhos e todos esses adereços. - Terás tempo suficiente para os odiar. Por enquanto o melhor é tentares adaptar-te ao castelo e às pessoas, pois em breve começarão os banquetes reais, começando pelo jantar de apresentação na próxima semana. – Vendo a minha expressão de angústia Eliot mudou de tema. – Então e o que achas do teu quarto? Alguma coisa que queiras mudar? - Só podes estar a brincar! Quem quereria mudar alguma coisa se é lindíssimo? Sem contar com a vista. - Pode-te parecer estranho agora, mas raramente as pessoas gostam de decorações assim tão simples neste reino. Se quiseres a minha opinião, umas tapeçarias antigas ficariam muito bem nas paredes. – A minha expressão de horror deve tê-lo apanhado desprevenido, pois Eliot começou a rir muito alto. – Estava só a brincar Emily. - Por um momento assustaste-me. – Ri com ele, e desta vez com v*****e. – Já me sinto estranha neste sítio, pelo menos que o quarto esteja normal. Já agora, não encontrei nenhum interruptor… - O que é um interruptor? - Pára de brincar Eliot, sabes bem do que estou a falar. - Desculpa mas não sei. – Ele olhava-me com curiosidade, pelo que me fez questionar o que se passava. - Sabes sim, estou a falar dos botões que usamos para acender e apagar as luzes. - Não usamos nada parecido aqui Em. - Então como fazem para acender as luzes? - Usamos magia, é claro. – Eliot explicou-me pacientemente o que deveria fazer, embora eu não fosse capaz de produzir resultado algum. – Tens de te concentrar mais. - Como se já não estivesse a fazê-lo… - Continuei a pensar em luzes nos candeeiros espalhados pelo cómodo, sentindo-as piscar poucos minutos depois. - Estás quase lá, não desistas agora. – Pouco tempo depois já havia conseguido acender e apagar todas as luzes, mesmo sem olhar para qualquer receptáculo de luz. – Vês como foi fácil? Continuamos a falar até Eliot se lembrar que deveríamos ir jantar. Saímos do quarto e percorremos uma série de corredores e escadarias, pelo que já me perdera completamente quando chegámos. - Hoje não vamos jantar no salão pois tem demasiada gente para começar com as apresentações. Por hoje vamos restringir-nos à tua guarda. – Entramos numa sala que Eliot definiu como pequena sala de refeições, mas que tinha uma mesa corrida onde caberiam com facilidade trinta pessoas. – Elas devem estar atrasadas, mas não faz m*l. - Repete-me o nome delas, por favor. Não quero fazer figura de parva logo no primeiro dia. - Depois da maneira com que lidas-te com o Dylan não existe possibilidade de fazeres tal coisa. – Vendo que eu sorria e que o meu humor melhorara drasticamente desde a manhã, continuou. – Laila é a líder da guarda e tem cabelos negros, a Holly é a loura e a Jennifer a de cabelos castanhos. Mas se te enganares ou não te lembrares dos nomes não te preocupes. Ninguém está à espera que decores tudo em tão pouco tempo. Continuamos a conversar sobre a insistência de Dylan até que as raparigas apareceram. Tinham todas a mesma altura que eu e vestiam túnicas bordadas e calças de cetim. De todas a mais alegre devia ser Holly, pois veio direito a mim e cumprimentou-me como se fossemos velhas amigas que há muito não se viam. Jennifer era, claramente, a intelectual do g***o. Trazia nos braços uma série de livros e quando lhe perguntei sobre o que eram não percebi nada da descrição e nenhum dos presentes pareceu perceber também. Laila foi a única que não consegui ler quando a vi, como se não tivesse sentimentos. - O que estás a achar de Cyon, Emily? – Para meu alivio o meu pedido de não me tratarem por princesa foi ouvido, e vi-me a responder com boa v*****e a Holly. - Do pouco que vi apaixonei-me pelos jardins. Nunca tinha visto nada tão bonito. Parece que têm todo o tipo de flores por aqui. - Não temos todas, mas poucas espécies nos faltam. – Jennifer parecia ter esquecido por um momento os livros e conversava alegremente comigo. – Se gostaste das flores tens de ver os animais que habitam os campos em volta do castelo. São as coisas mais adoráveis à face da terra que eu já vi. - Então terei de os ver quando for possível, mas primeiro tenho de aprender como andar no castelo e só depois sair dele. Os corredores parecem todos iguais e não quero passar o dia a tentar achar o caminho certo. - Com isso não precisas de te preocupar pois nós vamos ajudar-te a decorar todos os cantos do palácio. – Holly parecia ter-se lembrado nesse exacto momento que Eliot estava connosco e questionou-o: - Mas por onde é que andaram escondidos que ninguém parecia saber de vocês Eliot? Raptaste a Emily m*l ela chegou e só lhe pusemos a vista em cima agora. - Devem ter reparado no ambiente que estava quando a Em chegou. – Jennifer e Holly entreolharam-se quando escutaram o apelido que Eliot me dera pouco tempo depois de nos conhecermos. – Achei melhor levá-la a dar um passeio pelo jardim para aliviar a tensão e acabámos por ficar por lá e almoçamos no roseiral, e só não ficamos mais tempo por lá porque apareceu o Dylan. – Ao ouvir o nome, Laila deixou de olhar para o prato e virou-se na nossa direcção. – Deviam ter visto a Emily a chamá-lo de i****a. Só alguém muito carrancudo não riria com a expressão do Dylan. - Como pudeste fazer isso? – Laila levantou-se irritada. – Ele não é nenhum i****a! É um querido e só alguém muito amargo não vê isso! – Correu apressada para a saída e eu podia jurar que chorava. - O que foi que eu fiz? - Nada Emily, perdoa-a. A Laila só não sabia que o Dylan era o teu prometido e acabou por se apaixonar por ele. Só ontem a rainha lhe contou a verdade e desde aí ela anda um pouco deprimida. – Holly levantou-se e olhou para Jennifer. – Vou atrás dela antes que faça alguma estupidez. Se não te importares Jennifer, põe a Emily a par do que a espera nos próximos dias. - Claro, deixa isso comigo. – Quando Holly saiu olhei de revés para Eliot que parecia também não ter percebido a história. – Não te preocupes com ela, não é nada que não lhe passe em algum tempo. – Vendo que não me convencia prosseguiu. – Temos de iniciar as tuas aulas rapidamente, mas vamos esperar mais uns dias para te acostumares aos sítios e às pessoas. Depois terás aulas de dança e canto pela manhã, costura depois do almoço, e acabarás a tarde com as aulas de magia que serão mais longas à medida que fores aprendendo. - Mas eu já tive aulas de dança e de canto, além do mais sei costurar e bordar bastante bem. Posso-te mostrar alguns dos trabalhos que já fiz. - Então estás um passo à nossa frente. Não sei o que é suposto fazer nesse caso, mas é provável que tenhas aulas mais avançadas. Se não houver mais nada a ensinar-te nesses campos iniciarás o estudo da história de Cyon, que só estava previsto começares as aulas daqui a uns meses. - Desculpem-me meninas. – Eliot levantou-se da mesa e brindou-nos com um sorriso sincero. – Tenho de me encontrar com a minha mãe. Vejo-vos pela manhã. - Até amanhã. – Replicámos em uníssono. Depois de mais alguma conversa acabamos por deixar a sala e dirigimo-nos ao quarto, onde eu tinha alguns bordados para mostrar a Jennifer. Ela deixou-me escolher o caminho e, para meu grande espanto, só me enganei três vezes. - Vez como não é assim tão difícil? – Quando reparou na pilha de livros que eu depositara sobre as estantes, arregalou os olhos e leu atentamente as capas. – Não me disseste que também gostavas de ler! - Esqueci-me. É tão raro encontrar alguém que goste de ler que até isso é novo para mim. Tenho muitos mais livros, mas não os trouxe. – Jennifer parecia encantada com a descrição dos livros, até que chegou ao livro redigido por Aurora. – Só ontem soube que esse era verdadeiro. Sei que não a devia ter tratado daquela maneira, mas não me consegui conter. - Deve ser muito difícil para as duas. Eu vejo na rainha a dor que ela sente, mas percebo aquilo que sentes. Fui adoptada em bebé, mas só há uns anos é que o descobri. Amo os meus pais adoptivos mas senti como se me mentissem durante toda a vida e acabei por me afastar uns dias. Durante esse tempo percebi que eles só queriam o meu bem e que eu é que estava errada. – Os olhos de Jennifer estavam brilhantes de emoção, porém não se viam lágrimas, só alegria. – Quando voltei a visitá-los percebi o quanto os tinha magoado. Sei que não é o mesmo mas consigo compreender-te. Casa nova, pessoas novas, mundo novo… - És a primeira pessoa que sabe descrever aquilo que eu sinto. O Eliot acha que eu reagi demasiado bem, quando tudo o que eu quero é acordar na minha cama e perceber que isto tudo não passa de um pesadelo. – A pequena chama de alegria que tinha conquistado ao longo do dia extinguira-se num piscar de olhos, e eu sentia-me mais cansada do que nunca. – Sei que a culpa não é da Aurora mas como querem que eu a veja como mãe se eu nem a conheço? – Levei instintivamente a mão ao colar e senti-me mais calma por um momento. – Importas-te que te mostre os bordados amanhã? Preciso de descansar. - Foram emoções a mais, amanhã falamos melhor. Se precisares de alguma coisa é só tocares o sino, e se quiseres conversar, sejam que horas forem, pede que me chamem. É bom ter alguém que nos compreende para variar. - No meu caso posso mesmo dizer que é bom ter alguém com quem conversar. – Jennifer sorriu docemente e os seus olhos cor de chocolate n***o brilharam. Deu-me um beijo de boa noite e saiu. Dirigi-me à cama e agarrei na boneca de trapos. A minha vida estava a mudar, e em alguns aspectos para melhor.
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