Por mais que quisesse não conseguia ficar calma, afinal há quase dezasseis anos que não via a minha filha. Olhava incessantemente para o espelho que a iria trazer, que fora colocado propositadamente na sala do trono para que não tivesse de me ausentar dos meus deveres, esperando que fosse o mais rapidamente possível.
- Rainha Aurora…
- Sim, Laila? – Laila era das pessoas mais amorosas deste reino, mas enganava-se quem pensasse que era delicada como uma flor. Com apenas dezoito anos era a líder da guarda da minha princesinha e não havia nada que temesse. Era uma autêntica guerreira no corpo de uma bela donzela. - Dylan já chegou?
- Não. Mandaram-me perguntar se gostaria de ver o quarto da princesa antes que ela chegue.
Ver o quarto da minha Emily era algo que me inquietava. Sempre me habituara a conservar o quarto de bebé que havia decorado antes de ela nascer, e ver agora o que tanta alegria e tristeza me tinha dado transformado num quarto de adolescente assustava-me.
- Eliot avisou que só viria a partir do anoitecer, e provavelmente a princesa quererá despedir-se das pessoas que lhe são queridas. – Ao ver que não lhe respondia acrescentou: - Chamá-la-ei quando Dylan chegar.
Assenti e dirigi-me à ala norte. Enquanto atravessava o longo corredor de pedra olhava para o jardim florido, pensando como teria sido maravilhoso ver a minha querida filha crescer enquanto brincava no jardim, rodeada de borboletas esvoaçantes. Dei por mim a recordar o dia em que descobrira que estava grávida.
Num dia nublado de Novembro, há quase dezassete anos, coroada rainha ainda não fizera dois meses, percebera que esperava um filho. O meu marido, o rei Darin, jubilou com a notícia do que seria o nosso primeiro herdeiro. Tinha sido no meio das begónias floridas que lhe tinha anunciado a minha gravidez, naquele mesmo jardim, nessa noite. Mandara organizar um jantar à luz das velas e esperara até à sobremesa para o anúncio. Apanhado desprevenido devido ao pouquíssimo tempo que passara desde o nosso casamento, o meu amado engasgara-se com o doce e quase derrubara as velas que estavam colocadas na manta que cobria o chão. Depois de me certificar que não iria pegar fogo ao jardim, constatei que ele chorava de emoção.
Estava parada a meio do corredor já há vários minutos quando voltei à realidade. Darin estava morto havia dezasseis anos e a nossa única filha regressava agora para o mundo que nunca tivera oportunidade de conhecer. Segui adiante, até parar à porta do quarto de Emily. Já não sabia se o nervosismo que sentia se devia ao facto de ir ver a minha filha novamente ou por simplesmente ela puder estar revoltada com o que lhe ocultara durante todos estes anos. Reuni coragem e abri a porta: tudo o que eu tivera mantido durante o tempo que estivera apartada da minha princesinha desaparecera, dando lugar a uma cama de dossel em tons de verde água, estantes com imensos livros, um roupeiro gigantesco completamente cheio, e um toucador com tudo o que uma princesa necessitava para se arranjar. Por muito que eu a quisesse ver e abraçar, sabia que não iria ser fácil a adaptação de nenhuma das duas. Ela já não era o bebé que eu amara desde a concepção, e eu não era a mãe que ela aprendera a amar. Dirigi-me à janela e abri as grandes portadas que davam acesso à varanda, apreciando a paisagem, que vista daquele lugar era especialmente bela, pelo que eu me havia enamorado dela desde a primeira vez que a vira. Determinara então que seria com aquela maravilhosa vista que a minha filha acordaria todas as manhãs.
- Senhora? – Estava tão distraída que não dei pela entrada de Laila. – Dylan acaba de chegar.
- Obrigado. Manda que lhe mostrem o quarto e encaminhem-no para o jardim. Iremos tomar o almoço junto às amendoeiras.
- Sim majestade.
- Só mais uma coisa Laila. Por favor reúne-te a nós.
- Será um prazer.
Desci as escadas do palácio em direcção às amendoeiras que estavam em flor. Acabara de chegar quando avistei Laila e Dylan a atravessar o jardim, conversando como bons amigos que eram.
- Boa tarde majestade. Tenho de lhe dizer que cada dia está mais bonita.
- Muito boa tarde Dylan. Galanteador com sempre, não é verdade? – Um sorriso traquina apareceu-lhe no rosto. Dylan acabará de completar vinte anos e era um belo homem. A pele bronzeada contrastava na perfeição com os seus olhos castanhos, cor de chocolate, e com os cabelos castanhos, cortados muito curtos. – Façam o favor de se sentar.
- A que se deve este almoço, senhora?
- Quantas vezes é que necessitam que repita que quando estamos a sós, vocês não necessitam de me tratar como rainha? – Ambos sorriram como crianças pequenas. - Laila, este almoço deve-se a muito do que vai acontecer assim que a Emily chegue. – Olhei de soslaio para Dylan. Ele sabia o que estava por vir e estava entusiasmado com a ideia do casamento, porém desconhecia que a minha querida filha não sabia nada acerca da sua existência, nem sobre a tradição familiar. Por outro lado, eu desconfiava que Laila se apaixonara por Dylan quando era uma menininha, e sempre acalentara a esperança que ele também se enamorasse por ela. – Antes de mais devem saber que a Emily não sabe rigorosamente nada sobre este mundo.
- O quê? Mas… mas…
- Então e quando é que podemos conhecer o prometido da princesa? – Os olhos de Laila mostravam o quanto curiosa aquela menina era. – Ele deverá vir conhecê-la, não é verdade?
- Tu já conheces o prometido da Emily, assim como toda a gente no palácio. Ele está sentado ao teu lado. – Esbocei um sorriso aos dois, que acabou por esmorecer com o semblante de Laila. Depois de Darin morrer, só eu e Eileen, mãe de Eliot e minha melhor amiga desde o berço, sabíamos quem tinha sido escolhido para prometido da minha filha. Eliot acabou por descobrir quando ouviu uma conversa entre nós e exigiu saber o que se passava. Depois de lhe contarmos tudo o que podíamos aconselhamos-lhe a não contar nada a Emily, visto que ele estava determinado a ir busca-la à casa que a acolhera todos estes anos, e tal notícia podia fazer com que ela se revoltasse ainda mais com o seu destino. – Dylan, a Emily nem sonha que existes, por isso tem calma na abordagem que tiveres com ela, pois muito provavelmente não estará à-v*****e com ninguém daqui nos primeiros tempos.
- Eu pensava que ela sabia acerca de mim…
- E eu pensava que sabia tudo sobre ti mas afinal enganei-me! – Laila levantou-se e saiu a correr. Pelos vistos o meu palpite estava certo: ela estava perdidamente apaixonada por ele.
Vendo que Dylan não conseguia esboçar nenhuma palavra dei por iniciado o almoço. Enquanto comíamos os pássaros e as borboletas rodeavam-nos. Olhei para o castelo. Quando será que ia ver a minha menina?
- E se ela já gostar de alguém?
A tradição era clara nesse aspecto: se o herdeiro escolhesse outra pessoa sem ser o seu prometido para se casar, o prometido tinha de aceitar esse desfecho; já o prometido não podia renunciar ao seu dever, portanto Dylan acalentava a esperança de se casar com Emily desde que esta nascera.
- Se ela já gostar de alguém, ou vier a gostar, verás que encontrarás uma boa rapariga que goste de ti assim como és. – Olhei para o lugar onde Laila estivera sentada e suspirei. – Acredita que pode ser mais fácil do que pensas.
- Eu não quero mais ninguém, eu gosto da princesa.
- Só peço que não te iludas, afinal não a conheces. Nem eu mesmo a conheço. E agora vais desculpar-me mas eu vou voltar para a sala do trono e esperar que eles regressem. Será melhor que não esperes acordado por ela, pois não sabemos quando chegarão, e será melhor deixarmos as apresentações para mais tarde.
De regresso ao palácio avistei Eileen, que também para lá se dirigia. Não trocámos uma palavra antes de entrar na sala do trono, cujas tapeçarias tapavam as paredes de pedra. A única mobília que ornamentava a sala era o próprio trono e alguns cadeirões. Depois de ordenar que os guardas nos deixassem a sós, deixei esmorecer o sorriso.
- Esta angústia não te faz nada bem. Estás a sofrer por antecipação e esses nervos até a mim me estão a irritar. É normal que ela estranhe a tua presença e o que lhe vai ser imposto de agora em diante, mas não podes baixar os braços e te deixares a****r desta maneira.
- Estou com tanto medo que ela me odeie que já nem sei o que pensar. Estou tão feliz de voltar a ver a Emily que me apetece cantar, mas quando penso na revolta que ela deverá ter quando souber do seu destino e que eu a abandonei…
- Tu não a abandonas-te Aurora! Tudo o que tu fizeste foi para protege-la e eu bem vi o que isso te custou. O teu marido morreu para salvar a vida da Emily e tu abdicaste do teu tempo com ela pelo mesmo. Isso não é abandono, é amor pela tua filha!
- Tu podes dizer isso e eu sei perfeitamente que se nunca mais a visse a salvasse abdicaria de tudo para que tal acontecesse. Mas ela não vai ver por esse ponto de vista. Vai pensar que a mãe a abandonou em vez de lutar por ela e nem se preocupou que ela pensasse que a família adoptiva dela era a biológica.
- A Emily é uma menina inteligente e vai compreender que foi tudo para o bem dela. Ela vai gostar de mudar toda a vida dela? No início não, mas quem sabe se ela não aprende a viver aqui e goste verdadeiramente da sua casa.
Era por isto que Eileen era a minha melhor amiga. Não havia uma única vez que eu estivesse triste ou desemparada, que ela não tentasse de tudo para me fazer sentir melhor. Eileen via sempre o lado positivo das coisas, e neste momento eu começava a ver que as suas palavras faziam sentido. Não era a minha bebé que eu aguardava, era uma mulher destinada a ser a próxima soberana do reino de Cyon. Eu tinha de me convencer que Emily teria a determinação necessária para cumprir o seu destino e, além disso, perdoar todo o tempo em que eu não me dera a conhecer.
- Também estás preocupada, essa expressão não deixa marca para dúvidas. Tens medo que a Emily descarregue tudo em cima do Eliot, certo?
- Tenho medo da forma como ele lhe vai contar as coisas. A reacção dela vai ser má, disso tenho certeza, e sei que o Eliot consegue acalmá-la. Mas e se ele lhe conta que ela está prometida ao Dylan? Nem consigo imaginar como ele a vai conseguir trazer para cá. Detesto fazer segredo disto, mas seria melhor que ela só tivesse esse choque depois de chegar, ou vai recusar-se a regressar a Cyon.
- Temos de ter esperança que isso não aconteça, ou estaremos todos perdidos. Tenho aguentado a fúria dos gémeos até agora, mas não serei capaz durante muito mais tempo. Os poderes daqueles dois estão cada vez maiores e, dentro em pouco, não terei energia suficiente para proteger todo o reino.
- Já avisas-te a Laila e as outras?
- Estão informadas dos passos a tomar a partir de agora, se bem que a Laila é capaz de se afastar por uns tempos. Hoje ao almoço, informei-a sobre o Dylan e o meu palpite estava certo. Penso que ela ficará com ciúmes da minha filha durante uns tempos. Já o Dylan ficou desgostoso quando soube que a Emily não sabia nada acerca dele, e teme que ela já goste de alguém.
- Se ela gostasse de alguém ou se apaixona-se pelo Dylan era um problema a menos para resolver. São só quatro anos até à coroação e a partir daí ninguém sabe o que acontecerá.
- Se a vidente nos tivesse dito tudo de uma vez… Mas quem ia adivinhar que…
- Majestade, notícias da aldeia! Pelo que parece os gémeos atacaram perto das nossas fronteiras. Um g***o de comerciantes voltava à aldeia quando passou por outra completamente devastada. – Jennifer irrompera pela porta da sala com tanto alarido que os guardas foram obrigados a correr para perceberem se se tratava de uma ameaça.
- Estão cada vez mais fortes, aqueles dois. Obrigado pela informação Jennifer. Neste momento a única coisa que podemos fazer é mandar homens para evacuar essas aldeias. Ainda há espaço aqui perto e o castelo está pronto para receber muita gente em caso de necessidade. Por favor informa o general e avisa na aldeia para prepararem mais abrigos. – Jennifer assentiu e preparava-se para abandonar a sala. – Só mais uma coisa Jennifer. Sabes da Laila? Ela ficou arrasada ao almoço.
- Ela pede desculpas por isso majestade. Diz que saiu completamente do controlo, mas já está recomposta.
- Diz-lhe que eu compreendo e que não necessita de pedir desculpa. Por alguma razão eu quis que ela fosse almoçar comigo e com o Dylan.
- Ela não nos contou pormenores, mas o que quer que tenha ouvido deixou-a bastante abalada, senhora.
- Vem com a Holly jantar comigo e com a Eileen que eu ponho-vos a par do que aconteceu. Só não vos chamei ao almoço porque já temia uma má reacção da parte da Laila e ela necessitaria de apoio.
- Cá estaremos.
Depois de Jennifer abandonar a sala, Eileen continuou:
- A Emily vai ficar em boas mãos. Estas três vão conseguir que ela aprenda tudo o que necessita e com certeza serão boas amigas.
- Tirando a Laila, acho que se irão dar bem. Pode ser que ela se dê bem com Eliot e esperemos que se dê muitíssimo bem com Dylan. Será que ainda demoram muito? – A cada minuto que passava a minha ansiedade aumentava e as horas pareciam não passar. – O que achas-te do quarto da Emily? Sei que foste espiar…
- Digno de uma princesa. Nem acredito que já se passou tanto tempo desde que ela foi embora. O verde foi escolhido devido aos olhos dela, os teus olhos, não é?
- Sim. Não sabíamos a cor preferida dela e então decidimos por essa razão. Esperemos que esteja do agrado da Emily. A única coisa imprescindível eram as inúmeras prateleiras para os seus livros. Pelo que parece adora ler, e é uma óptima aluna. Só é pena que não tenha amigos.
- Realmente é muito triste, mas nem tudo na vida é perfeito. Tu tinhas uma vida perfeita e vê o que aconteceu. Não podemos mudar o passado, mas podemos sempre melhorar no futuro, e é isso que tens de fazer. Estou farta de te dizer que devias voltar a casar. A vida aqui no palácio é tão solitária…
- Então porque não te casas tu? Eliot deveria gostar de ter uma figura paterna uma vez na vida, para variar…
- Sabes muito bem que o pai dele decidiu abandonar-nos quando eu ainda estava grávida. As únicas pessoas que me estenderam a mão foram tu e Darin e desde ai a minha confiança com os homens ficou abalada. O único em quem confio é o meu filho e mais nenhum.
- Eu sei bem disso, mas podias ao menos experimentar namoriscar um bocadinho… - Desatamos às gargalhadas e só paramos quando Jennifer e Holly apareceram para jantar. Parecia que tínhamos voltado à juventude, em que falávamos dos namoricos que ia-mos tendo e de como não queria-mos homens nenhuns na nossa vida. – Vamos jantar minhas queridas. Tenho de vos pôr ao corrente dos acontecimentos desta tarde.
Depois de contar o que acontecera ao almoço, Jennifer concordara que seria melhor deixar Laila em paz durante um tempo, já Holly discordava completamente:
- Ela é a líder, deveria ser mais responsável! Quase de certeza que por ciúmes não vai levar a obrigação dela a bem, e vai recair sobre os nossos ombros tudo o que ela descartar. Isso não é justo para nós!
- Tenho de concordar em parte com a Holly. Não podemos deixar que a Laila fique parada enquanto todo o reino está em perigo. Mais que a educação da princesa, são as nossas vidas que estão em risco.
- Seja como for não posso simplesmente ordenar à Laila que esqueça o Dylan. Eles são amigos desde crianças e ela vê este compromisso como uma traição. Às vezes acho que teria sido muito melhor informar quem é o prometido da Emily logo que se formou o acordo, teria evitado muitos dissabores… - O ar estava pesado na sala. Por mais voltas que desse não conseguia achar solução para o que parecia ser um simples problema amoroso.
O jantar continuou sem interrupções e com temas mais leves, porém a minha ansiedade voltava a aumentar a cada fôlego. As horas passavam e o espelho mágico continuava imóvel, sendo quase meia-noite quando Jennifer e Holly se retiraram para os seus aposentos, deixando-me novamente sozinha com Eileen. Nenhuma das duas era capaz de falar enquanto esperávamos os nossos descendentes, com a expectativa do que iria acontecer. Seria a minha filha capaz de resignar à sua verdadeira origem ou seria corajosa o suficiente para abraçar o destino que lhe fora traçado? E Eliot seria forte o suficiente para levar com a ira de uma adolescente que vê toda a sua vida ser-lhe retirada como se de um sopro do vento se tratasse?
- Em que pensas tanto?
- Nos dois. Já começa a ficar tarde e não aparecem. Começo a inquietar-me se algo correu m*l, afinal são apenas dois miúdos.
- Dois miúdos muito especiais. – Eileen sorria, mas eu sabia que ela sofria tanto quanto eu. Nunca havia deixado Eliot sair do nosso mundo por muito que ele pedisse, e a tarefa que ele se dispusera a enfrentar seria determinante para o nosso futuro.
Continuámos à espera no mais profundo silêncio, enquanto bordava-mos um lindo vestido que seria usado pela minha princesinha no jantar de apresentação na semana seguinte. Já o havíamos terminado quando, perto das três horas da manhã, uma luz surge no espelho e uma carta aparece. Abri a carta rapidamente e li o seu conteúdo:
- Minha rainha, a Emily foi sobrecarregada de emoções com tudo o que aconteceu hoje e acabou por desmaiar de cansaço, pelo que decidimos que só a mandaríamos quando recuperasse. Eles só deverão chegar por volta das dez da manhã. Eliot pediu-me que lhe dissesse para não vos preocupeis e que deveis descansar esta noite, pois Emily aceitou melhor do que esperávamos tudo o que aconteceu no passado e o que está para vir no futuro. - Sorri. Ainda não sabia se a minha filha me perdoara, mas pelo menos não estava tão rebelada quanto temera.
- Pelo que parece não tens tanto a recear quanto tememos. Acho que vou seguir o conselho do meu filho e dormir um pouco, de nada vale prolongar esta noite.
- Eu acompanho-te. Não deverei conseguir dormir, mas não perderei nada em tentar.
Atravessamos os corredores em direcção aos respectivos quartos. Despedi-me de Eileen e entrei nos meus aposentos. Vesti a camisa de noite calmamente e deslizei para dentro dos lençóis de cetim mas, como temia, não consegui adormecer. Depois de muitas voltas na cama, levantei-me e dirigi-me à varanda para receber o vento gélido da madrugada. O sol começava a aparecer no horizonte e um novo dia despertava, um dos dias mais esperados da minha vida. Incapaz de dormir, comecei a arranjar-me. Depois de um longo banho, vesti um simples vestido de linho rosa, com o corpete bordado a branco, e umas sabrinas rasas também cor-de-rosa. Deixei o meu cabelo castanho caramelo solto, pelo que me chegava aos ombros. Já eram perto das oito horas quando abandonei o quarto em direcção ao salão de refeições, onde as mesas ocupavam a sala ricamente decorada com os quadros que retractavam a família real até ao meu nascimento. Devido aos momentos de terror que se viviam desde essa época, os meus pais haviam decidido parar com a tradição e assim não retractar o horror do reino.
- Vejo que acordas-te cedo. – Eileen aparecera poucos minutos depois para tomar o pequeno-almoço. – Chegas-te a ir à cama?
- Não consegui adormecer e pelos vistos tu também não. Não te preocupes com o Eliot…
- Não é com ele que estou preocupada neste momento mas sim contigo. Estás tão nervosa que me estás a contagiar. Em todos estes anos nunca te vi assim, nem mesmo quando o Darin morreu e tiveste de te apartar da menina.
- Nessa altura eu estava mais preocupada com a segurança da minha filha do que comigo. A tristeza só não me suplantou porque eu sabia que ela estava segura. Neste momento estou nervosa com a reacção dela e também da minha. – Ao ver que não conseguia continuar, Eileen mandou chamar a futura guarda da minha princesinha.
- Bom dia senhoras. Algum problema?
- Bom dia Holly. De maneira nenhuma. Por favor toma o pequeno-almoço connosco enquanto esperamos pelo resto das meninas. Por falar nelas… Muito bom dia.
- Bom dia senhora. Bom dia majestade.
- Bom dia. Sentem-se e desfrutem do pequeno-almoço. A vossa missão começará brevemente e eu gostaria que conhecessem a minha filha m*l esta chegue. – Laila não desviava os olhos do prato enquanto Jennifer e Holly conversavam alegremente com Eileen sobre o que tinham aprendido na aula de bordados do dia anterior, mostrando-lhe em seguida pequenos lenços bordados à mão pelas próprias, ao que a minha amiga aplaudia os progressos feitos em tão pouco tempo. Devido ao treino que haviam passado, as meninas tinham saltado as aulas dadas às damas da corte passando ao treino de magia avançado para que cumprissem a sua missão. Assim sendo estavam animadíssimas com o que aprendiam de costura e culinária. Eu só esperava que Emily se interessasse por algum dos temas e que isso a ligasse às meninas.
Eram nove e meia quando nos dirigimos à sala do trono. Eileen mantinha-se ao meu lado nos cadeirões dispostos no cómodo propositadamente para a nossa espera prolongada. Holly entretinha-se a bordar um dos muitos panos que fariam parte do seu enxoval, e Jennifer lia um livro sobre a movimentação dos astros. Laila olhava pela janela em direcção aos campos floridos sob o sol da manhã. Dirigi-me a ela com esperança de conseguir arrancar-lhe um sorriso, mas tudo o que vi foram lágrimas.
- Uma menina tão bonita não devia chorar. – Brindei-a com um sorriso terno enquanto lhe afagava os cabelos. – Pode doer neste momento, mas verás que te vais voltar a apaixonar quando menos esperares.
- Eu sei, mas custa. Desculpe-me por ontem majestade. Nunca pensei que seria o Dylan…
- Não peças desculpa. Se alguém tem de se desculpar sou eu. Já há muito que desconfiava dos teus sentimentos e não te avisei de nada. – Laila enxugou as lágrimas e esboçou um sorriso ténue. – Assim está melhor. Quero ver-te mais animada ao jantar, está bem? – Laila assentiu e foi ter com as companheiras. Voltei para o cadeirão e continuei a esperar eternamente.
- Aurora, vêm ai. – O espelho iluminara-se. Finalmente iria conhecer a minha filha.