Samara ia para casa dele sempre depois dos cursos, duas a três vezes por semana. No primeiro dia, ele saiu mais cedo do serviço para levar ela ao mercado e comprar produtos de limpeza e algumas coisas que precisava. Quando chegaram na casa dele, eles conversando Júnior explicou que ajudaria com o enxoval do bebê. Samara ficou mais tranquila e ajudava ele com muito mais gosto. Nos primeiros dias tinha bastante serviço, então a mãe sugeriu que ela dormisse na casa dele e que ele a levasse para a escola no dia seguinte.
Samara estranhou completamente essa atitude. Como a mãe permitia que ela ficasse na casa de um homem solteiro com ele lá? O que tinha de errado com ela em deixar a filha passar a noite em uma casa de um quarto com um homem? O que dava a ela a confiança de que Samara não faria como Ana e acabasse engravidando?
Depois de muito pensar, chegou à conclusão óbvia de que eles não viam a relação como de um casal, apenas como tio e sobrinha, e não imaginavam nenhum tipo de maldade. Para ser honesta, Samara não via o Júnior como tio, mas para todo o resto era exatamente isso: um tio. Um homem mais velho dormindo no mesmo quarto que uma sobrinha.
E ela estava tão focada na gravidez de Ana e no enxoval e consultas e tudo que envolvia a chegada do bebê, que afundou aquela primeira impressão que teve do tio Júnior de um homem lindo com uma boca maravilhosa. Às vezes, quando servia o jantar para ele, lembrava que nunca foi beijada e pensava que seria uma delícia ter seu primeiro beijo com uma boca linda daquela.
Os meses foram passando, a barriga da Ana crescendo, o Júnior cumprindo como prometido: todos os meses comprava alguma coisa bem legal para o bebê, que mesmo se as duas trabalhassem, no final das contas não conseguiriam comprar um enxoval tão completo e perfeito .
Júnior provou, além de ser um cara muito legal, ter um ótimo gosto. Sem contar a generosidade, já que ajudou a cuidar de Ana durante toda a gravidez, pagou as consultas médicas e o parto. O que foi até um inconveniente, porque a tia Edna começou a pensar que ele estava interessado nela e em assumir o bebê e não viu a situação como o tio ajudando. E em contrapartida, estava muito difícil consolar Ana com tudo que estava passando, com os hormônios da gravidez e ainda longe do seu grande amor, sem nem saber por onde ele andava.
Samara definitivamente pensou: não sabia como suportar tudo aquilo. Se não fosse pelo Júnior, seria bem pior. Porque estudando, fazendo cursos e cuidando da casa dele e das roupas sem horário, sem ser todos os dias já estava muito difícil. E ela nem carregava uma barriga! Não sabe como uma mulher se sujeita a isso tão nova.
A relação com a mãe ia piorando. Clara não admitia que Samara estava se esforçando até a exaustão pela gravidez de Ana. Às vezes discutiam, às vezes ela nem falava com Samara. Emmy e Jones tentavam fazer a moderação, mediando a situação, mas para Samara era difícil tudo e ainda imaginar que a a mãe era alguém que ela nem conhecia! Seu aniversário se aproximava e pela primeira vez, Clara não perguntou o que Samara queria. Quando Jones levantou o assunto no jantar, ela disse que não havia necessidade, porque provavelmente Samara ia querer um pacote de fraldas! Nunca viu a mãe tão agressiva.
O pai ligava algumas vezes. Samara estranhava o fato de não sentir saudades dele. Antes da gravidez da Ana, ela ainda sentia falta, mesmo com o Jones presente, pai é pai né?
Só que ele se afastou tanto, nunca veio visitar, e Samara achava até que era melhor. Sentia que a ausência dele cada vez mais diminuia a saudade.
Um dia antes do aniversário, Samara foi trabalhar para o Júnior e se surpreendeu, porque quando chegou tinha um bolo para ela e uma caixinha minúscula. Depois de jantarem, cantaram parabéns só os dois e ele deu a ela a caixinha. Quando abriu, tinha uma chave e então ele mostrou na garagem uma moto pequena simples e rosa.
— Você está louco, Júnior ? Eu estou fazendo 14 anos e não 18! Não posso nem dirigir e eu nem imagino como se sobe numa moto!
— É igual andar de bicicleta, super tranquilo
— Aí você se engana: não sei andar de bicicleta
— Não acredito que uma menina tão interessante não sabe andar de bicicleta, hahaha.
— Engraçadinho! Não sei andar de bicicleta, mas leio um livro de 500 páginas em 3 dias
— Deixa de ser mentirosa. Você m*l tem tempo para raspar as pernas quanto mais ler um livro.
— Verdade — Samara baixou os olhos,triste. Há muito tempo não lia um livro, na escola estava na média e sempre foi muito acima da média! — Isso vai melhorar algum dia?
— Posso fazer uma pergunta? Por que você se sacrifica tanto?— ele perguntou antes mesmo que ela pudesse responder.
— Ana é minha melhor amiga e eu amo de paixão, igual eu amo minha irmã. As duas não têm diferença para mim e eu jamais abandonaria minha irmã. Na minha concepção, as coisas deram muito errado para Ana. Não que essa situação seja fácil. Não entendo como tem tantas adolescentes que largam a escola, engravidando. Não entendo como uma mulher se sujeita a isso, como uma mulher não se programa. Eu não me vejo numa situação assim porque eu gosto de ter tudo planejado. Já planejei meu futuro, minha faculdade.
— Mas você sabe que os planos podem mudar?
— É claro que sei, não sou i****a! Tanto que mudaram para a Ana, mesmo sem ela querer. São as coisas que têm interferência de terceiros em nossas vidas que mudam. No caso de Ana, está grávida pela idiotice de um babaca. Mas se ela tivesse pensado só um pouquinho, não teria se deitado com o babaca pra começo de conversa. Planejamento é tudo.
— Então, mesmo sabendo que Ana foi i****a você ainda a protege.
— Júnior, Ana tem 13 anos! Ela tem todo o direito de ser i****a. O problema foi que a idiotice dela se juntou com a do palhaço do Carlos e aí ela está nessa situação hoje. Por isso eu devo abandonar ela, como a mãe dela e a minha fizeram? Deveria condenar o futuro dela? Fazer ela largar a escola e criar uma criança sendo uma empregada doméstica ou algo do tipo?
— Não querida, não é o que sua mãe propõe. Apenas que o erro é dela e você quem está se sacrificando, por isso que sua mãe está tão nervosa.
— Você planejou tudo isso para defender a minha mãe?
— Você está certa! Não vamos mais falar nesse assunto. Não estou defendendo sua mãe, estou tentando defender você mesma. Não acho justo, mas acho muito legal sua lealdade para com o erro da sua amiga. Acho você muito altruísta e sinto que coisas muito boas você ainda vai viver.
—Tá certo. Bora mudar de assunto. Quero saber o que você vai fazer com essa moto aí que você comprou
— É sua bebê, um presente
—E o que eu vou fazer com isso, pelo amor de Deus?
— Vou ensinar você a pilotar e você vai usar.
— Você sabe que minha mãe vai te matar, né?
— Pode deixar que com a Clarinha eu me entendo. Bora subir em cima dela para tirar uma foto.
— Vai me ensinar a pilotar - Samara falou, revirando os olhos para ele — Você sabe que isso é um crime, né? Eu só tenho 14 anos.
— É para a gente ter alguma coisa junto além de tarefas domésticas. Você vai ficar mais feliz! É para espairecer também a sua cabeça. Vou fazer tudo direitinho, não vou deixar você se machucar. Prometo.
—Tá bom né. Então eu vou subir.
Júnior a ajudou subir na moto, e a visão que ele teve foi exatamente como imaginou. Era uma menininha, mas que traseiro lindo! Ficou com a b***a empinada, uma visão perfeita! Ele se viu obrigado a tirar uma foto para ter de recordação.
Naquele momento o telefone tocou e ele foi atender.
— Júnior, não me deixa sozinha aqui em cima não. Eu não sei como sair!
— Vai treinando aí, eu já volto
Samara se viu sozinha em cima da moto e pensando: que gentileza!
Não demorou muito e Júnior voltou:
—Vamos, desça da moto, vou te ajudar. Precisamos ir.
—O que aconteceu?
— A bolsa da Ana estourou. O bebê vai nascer