Amores e status

Chefe cansativo.

De volta à empresa, com o novo guarda-roupa e um espírito renovado, caminhei com um misto de ansiedade e determinação pelos corredores. O vestido azul escuro, que Mauro havia escolhido, me fazia sentir mais confiante, e as novas roupas pareciam refletir a mudança de postura que eu esperava.

Cheguei à recepção e, com um suspiro profundo, me dirigi à sala do presidente. Bati na porta e, ao ouvir um "entre", abri a porta e entrei. O presidente estava sentado atrás de sua grande mesa de madeira, com o olhar focado em alguns documentos. Quando ergueu os olhos e me viu, uma expressão de choque atravessou seu rosto. Ele parecia atônito, quase sem saber como reagir à transformação.

— Lilian, você… — Ele parou, claramente surpreso com a minha aparência. — Você está… diferente.

O elogio não era explícito, mas a mudança na sua expressão dizia mais do que palavras. Contudo, sua voz ainda carregava o tom frio e distante de sempre.

— Sim, senhor — respondi, tentando manter a calma. — Estava apenas seguindo as diretrizes para o novo cargo.

Ele se recobrou rapidamente e voltou ao seu tom habitual.

— Pois bem, espero que, com esse visual, você consiga refletir a imagem que esperamos da nossa equipe. Não tenho tempo para discussões sobre moda, então concentre-se em fazer um bom trabalho.

Parece que a mudança na minha aparência não havia alterado sua natureza egocêntrica. Ele ainda mantinha o mesmo comportamento seco e distante, tão egoísta quanto o pai. Sua surpresa inicial parecia ser a única alteração visível em sua atitude.

— Entendido, senhor — disse, mantendo um sorriso profissional. — Estou aqui para ajudar da melhor forma possível.

Ele assentiu e começou a me explicar algumas das tarefas e expectativas para o meu novo cargo. Sua frieza e o desdém ainda eram palpáveis, mas, pelo menos agora, havia uma a******a para mostrar o que eu era capaz de fazer.

Quando a reunião terminou, ele se levantou e saiu da sala sem um olhar de aprovação ou um gesto de reconhecimento. Senti uma pequena decepção, mas também uma firme determinação. A mudança no meu visual pode ter causado impacto, mas eu sabia que o verdadeiro desafio seria mostrar minha competência e ganhar respeito através do meu trabalho.

Com a ajuda de Mauro e a nova confiança que eu estava construindo, estava pronta para enfrentar os desafios à frente e provar que era mais do que a aparência. E, quem sabe, eventualmente, o presidente aprenderia a valorizar algo mais do que apenas a superfície.

Nos dias seguintes, mergulhei nas novas responsabilidades com empenho. Organizei documentos, agendei reuniões e cuidei da correspondência, tentando me adaptar rapidamente ao ritmo exigido. No entanto, a sensação de estar constantemente sob pressão não diminuía. O presidente, sempre crítico, parecia encontrar novos motivos para me pressionar.

Na manhã de uma quarta-feira particularmente movimentada, o presidente saiu de sua sala com uma expressão de irritação. Eu estava revisando uma pilha de relatórios quando ele começou a falar, sua voz carregada de frustração.

— Lilian, quanto tempo você está levando para terminar essas tarefas? — perguntou ele, com a voz tensa. — Parece que você passa mais tempo de conversinha do que trabalhando. E, você deveria estar fazendo tudo o que é necessário para o bom funcionamento da empresa.

Eu levantei os olhos, surpresa com a intensidade de sua reprimenda.

— Senhor, estou fazendo o meu melhor para atender a todas as demandas e aprender o máximo possível. É a primeira vez que estou lidando com tantas responsabilidades de uma vez.

— Isso não é desculpa — retrucou ele, cruzando os braços. — Se não conseguir gerenciar seu tempo adequadamente, não vai conseguir cumprir suas funções. Eu espero que você trate essas tarefas com a seriedade que a posição exige. E não se esqueça, além das suas novas responsabilidades, há uma enorme quantidade de trabalho acumulado que precisa ser feito.

Senti uma onda de frustração e um leve desânimo, mas respirei fundo para manter a calma. Era claro que ele não estava disposto a ser compreensivo e a situação estava apenas começando.

— Compreendo, senhor. Vou me esforçar para melhorar e me certificar de que tudo será feito de acordo com suas expectativas. Se puder me orientar sobre as prioridades, eu me dedicarei a resolver todas as pendências.

Ele apenas fez um gesto de desdém e se voltou para a porta.

— Espero resultados, Lilian. Não se esqueça de que a imagem da empresa também está em suas mãos.

Após sua saída, olhei para a pilha de documentos e respirei profundamente. Era um desafio, sem dúvida, mas estava decidida a provar meu valor. Me concentrei nas tarefas, reorganizei minha agenda e comecei a trabalhar com ainda mais determinação.

Durante a tarde, resolvi as pendências que ele havia mencionado e consegui adiantar alguns projetos importantes. Ao final do dia, me senti exausta, mas satisfeita com o progresso.

Na manhã seguinte, quando entrei na sala do presidente, ele estava revisando documentos, ainda com a mesma expressão severa. No entanto, ao ver a minha planilha organizada e os relatórios completos, seu olhar parecia um pouco mais tolerante.

— Bom trabalho, Lilian — comentou ele, com um tom menos ácido. — Parece que você está começando a entender o que é necessário para a posição.

Embora ainda não houvesse um reconhecimento genuíno, a pequena mudança na sua atitude me deu um impulso de esperança. Eu sabia que ainda havia muito a fazer, mas cada pequeno avanço contava. Continuei a trabalhar com afinco, determinada a superar as expectativas e ganhar o respeito que parecia tão elusivo. Após um longo dia de trabalho, voltei para casa, um pouco tarde, mas não demorei muito para chegar. Entrei em casa e fui direto tomar um banho relaxante, tentando esquecer o quão insuportável era aquele senhor, Yan González. Era preciso ter muita paciência, ele só sabia me sobrecarregar e me dar broncas, parecia até pior que o pai dele. Só me sentia sufocada naquele trabalho horrível, mas não tinha escolha, eu precisava dele para viver. Queria muito que fosse mais fácil, mas nenhum trabalho é fácil, exceto para chefes hipócritas como aquele presidente meia-boca.