Novamente rude

1418 Words
Desesperada, pulei da cama e comecei a me vestir rapidamente, corri até a porta e avistei Mauro. — Termino em cinco minutos! — disse eu, tentando soar calma enquanto meu coração disparava. — Vou te esperar. Não se preocupe, é só um dia de trabalho — disse Mauro, a voz tranquila. Fechei a porta novamente e corri para me arrumar. Enquanto me vestia, a lembrança daquela noite com Yan flutuou pela minha mente. A forma como ele se abriu, o olhar que teve quando falou sobre seus problemas. Era um lado dele que eu nunca imaginara ver. Finalmente, consegui sair de casa e correr até o carro de Mauro, que estava esperando com um sorriso no rosto. — Pronta para um novo dia? — ele perguntou. — Pronta o suficiente — respondi, ainda tentando me recuperar do susto. Durante o trajeto, trocamos algumas piadas e a tensão do atraso começou a se dissipar. Mas a preocupação com Yan ainda pairava na minha mente. O que ele pensa de mim agora? Eu havia falhado em revisar os relatórios e a presença dele no bar me deixou confusa sobre como ele realmente se sentia. Chegamos ao escritório e, antes de entrar, Mauro olhou para mim. — Tudo bem se precisar conversar sobre aquela noite. Estou aqui. — Obrigada, Mauro. Preciso me concentrar hoje, mas vamos falar depois — respondi, forçando um sorriso. Assim que entrei, a atmosfera era tensa. Yan estava na sua mesa, revendo documentos com uma expressão séria. Senti um frio na barriga. Seria um dia difícil. — Bom dia, Lilian — ele disse, sem olhar para mim. O tom de voz era neutro, mas havia uma expectativa implícita. — Bom dia, Yan. Eu revisei os relatórios — disse, tentando soar confiante. Ele olhou para mim, e por um momento, o tempo pareceu parar. A tensão entre nós era palpável, mas também havia uma conexão, algo que eu queria explorar. — Ótimo. Vou conferir — respondeu ele, voltando ao trabalho. Se passaram algumas horas, e eu me perdi na rotina. A cada momento, meu pensamento voltava a ele e ao que aconteceu aquela noite. Quando finalmente recebi um feedback sobre os relatórios, senti uma mistura de alívio e apreensão. — Bom trabalho, Lilian. Isso está muito melhor — Yan disse, sem olhar para cima. — Obrigada, Yan. Fico feliz que tenha gostado — respondi, tentando decifrar seu olhar. Naquele instante, percebi que, por trás da fachada de chefe rígido, havia um homem que também lutava com suas próprias batalhas. Queria me aproximar dele, mas o medo de um novo confronto me impedia. A tarde avançou, e finalmente, com um pouco mais de coragem, fui até a mesa dele. — Yan, podemos conversar um minuto? Sobre ontem? — perguntei, hesitando. Ele olhou para cima, surpreso, e então assentiu. — Claro, Lilian. Vamos ao café. No café, o ambiente estava mais relaxado, e consegui soltar um pouco a tensão. — Sobre aquela noite... Eu não deveria ter ido ao bar sem ter revisado os relatórios — comecei. — Não se culpe tanto, Lilian. Todos nós temos momentos de fuga. E eu também estava... não sou perfeito. — A sinceridade nos olhos dele me surpreendeu. A conversa fluiu naturalmente, e com cada palavra, a barreira entre nós parecia se dissolver um pouco mais. Falei sobre minha exaustão com o trabalho e como o apoio dele significava mais do que eu queria admitir. — Eu só quero que a equipe se sinta bem — Yan confessou, seu olhar se suavizando. — E você, Lilian, é uma parte importante disso. Senti uma conexão mais forte e, por um momento, esqueci do título de chefe e funcionária. Era apenas nós dois, conversando como iguais. Quando voltei para minha mesa, o coração estava mais leve. Embora o dia ainda prometesse desafios, havia algo diferente no ar. Yan estava começando a se abrir, e eu estava decidida a descobrir mais sobre ele. A vida é curta demais para não aproveitar as conexões que surgem, e talvez, só talvez, essa fosse uma oportunidade que eu não queria deixar passar. A atmosfera no escritório, que parecia mais leve após nossa conversa no café, mudou abruptamente. No mesmo dia, Yan parecia ter decidido que a vulnerabilidade era uma fraqueza. Ele voltou a ser o chefe rígido e brusco que conheci, e a tensão era palpável. Enquanto revisava um novo projeto, escutei um grito vindo da sala dele. — Lilian! — ele chamou, com uma voz autoritária que fez meu coração acelerar. — Você pode vir aqui, por favor? Fui até a sala dele, nervosa. O olhar de Yan era cortante. — O que aconteceu com a apresentação? Isso está totalmente fora do padrão! — ele disparou, apontando para o computador. Senti a indignação crescer dentro de mim. Eu havia me esforçado muito para melhorar o trabalho, mas era como se ele não quisesse reconhecer. — Yan, eu revisei tudo conforme você pediu. Talvez você não tenha visto os últimos ajustes — tentei explicar, mas ele me interrompeu. — E você esquece que sou apenas uma secretária, você me passou projetos que não é minha área. — Eu não quero desculpas, eu quero resultados! — ele gritou, atraindo a atenção de outros colegas que estavam na sala dele, um deles era Mauro. Fiquei paralisada. A frustração e a decepção se misturavam. O homem que havia compartilhado suas vulnerabilidades estava agora sendo c***l e desdenhoso. — Você realmente precisa se esforçar mais, Lilian. Não estou aqui para passar a mão na sua cabeça! — Yan continuou, sem dar espaço para eu me defender. Um nó se formou na minha garganta. O que havia acontecido com a conversa sincera? O que mudou tão rápido? — Estou fazendo o meu melhor, senhor. É tudo que posso prometer — respondi, tentando manter a calma. Ele me encarou por um momento, como se estivesse avaliando minha resposta. — Seu "melhor" não é suficiente. E isso precisa mudar, entendeu? — disse ele, a frieza na voz cortante. Saí da sala, sem conseguir conter a raiva e a mágoa. O que era aquela mudança repentina? O Yan que eu conheci parecia ter se apagado, dando lugar a um chefe implacável e exigente novamente. Os momentos seguintes foram ainda piores. A cada interação, ele se tornava mais grosso, e eu me sentia mais perdida. Mesmo quando tentava abordar assuntos de trabalho, ele respondia de forma ríspida, como se estivesse se divertindo com a minha frustração. Após três horas desse surto, eu fui até a sala dele ajudar. Enquanto discutíamos um projeto em grupo, ele cortou meu argumento abruptamente. — Para com essa conversa fiada, Lilian! O que importa é o resultado final, não suas explicações — disse, fazendo com que todos na sala olhassem para mim. Senti meu rosto esquentar de vergonha e raiva. A pressão no ambiente se tornava insuportável. Era como se tudo o que eu havia feito, todos os meus esforços, tivessem sido jogados no lixo. — Eu não entendo, senhor. Você foi tão compreensivo antes — tentei, mas a resposta dele foi instantânea. — Isso não é sobre compreensão, é sobre trabalho. Se não consegue lidar com isso, talvez precise reconsiderar sua posição aqui. As palavras dele ressoaram na minha cabeça, fazendo meu estômago revirar. O que havia acontecido com aquele lado mais humano dele? Eu queria entender, mas a cada dia a situação se tornava mais insuportável. No final da semana, eu estava exausta emocionalmente. A tensão no escritório era palpável, e meu desejo de confrontá-lo crescia. Como ele poderia passar de alguém que parecia se importar para um chefe tão insensível? Certa noite, ao sair, vi Yan sentado sozinho em sua mesa, a luz fraca da tela iluminando seu rosto. Antes que eu pudesse pensar, entrei na sala. — Yan, precisamos conversar — disse, decidida. Ele olhou para mim, sua expressão fechada. — Não estou interessado em conversas desnecessárias, Lilian. Se não for sobre trabalho, por favor, saia — respondeu, com desdém. Senti um golpe no estômago. A raiva e a confusão estavam a ponto de transbordar, mas algo dentro de mim me disse para recuar. Se ele não queria se abrir, o que eu poderia fazer? — Apenas... me avise quando você estiver pronto — murmurei, saindo da sala com o coração pesado. Naquele momento, percebi que talvez o Yan que eu conheci aquela noite estivesse realmente perdido, e eu teria que lidar com a nova realidade: um chefe que não só era exigente, mas agora estava disposto a ser c***l.
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