Episódio1

1615 Words
Era como tomar uma aspirina para um coração partido. Aliviava a dor, mas não a curava. Basileia, Suíça Margareth O aroma do bacon invade a cozinha, chamando a atenção das pessoas com quem moro. Aos meus vinte e cinco anos, ainda estou na casa dos meus pais. Não sou a única, meu irmão cinco anos mais velho que eu também não saiu. Digamos que somos pássaros que se recusam a deixar o ninho. — Cheira delicioso, Maggie. Nathan me elogia enquanto pega um prato na bancada e se senta para tomar o café da manhã. — Minha filha é a melhor. É a vez do papai me elogiar, sentando-se ao lado do meu irmão. Espero que a mamãe entre pela porta, mas ela não entra. Me forço a sorrir quando me sento diante deles com meu prato na mão, degustamos a comida em silêncio até que papai abre a boca: — Ela está melhorando, filhos. Nathan e eu ficamos em silêncio, ambos sabemos que o que Frederick, nosso progenitor, afirma é mentira. Ela não está bem, e já não temos certeza se algum dia ela vai se recuperar. — Sabemos disso. Respondo. É um acordo silencioso que meu irmão e eu temos, aceitamos a mentira do papai sobre o estado mental da mamãe. Desde que me entendo por gente, ela tem sido uma mulher instável, no entanto, tudo piorou há cinco anos, quando isso aconteceu. Ela não foi a única afetada, todos sofremos a perda, mas ela mergulhou ainda mais no poço da depressão e, aos poucos, está nos puxando a todos com ela. Suponho que por isso não fomos embora, tememos o que pode acontecer se ela sentir que a abandonamos. É uma culpa que nos recusamos a carregar, eu mais do que eles. — Tenho que ir, não quero me atrasar para o trabalho. Meu irmão se levanta, deixa o prato na pia para depois dar um beijo na minha cabeça. — Nos vemos à noite, irmãzinha. Adeus, papai. — Nos vemos, filha. Pai, repete a mesma ação do meu irmão. Ao ficar sozinha, organizo a cozinha antes de pegar o outro prato de comida e levá-lo até o quarto dos meus pais, que fica no final do corredor. Abro a porta, o quarto está mergulhado na escuridão, caminho com cuidado para não tropeçar e deixo o prato na mesa de cabeceira ao lado da cama, onde mamãe está deitada com o olhar fixo na janela. Inclino-me sobre ela, acaricio seus cabelos emaranhados e opacos, não me lembro da última vez que ela lavou, e deixo um beijo em sua bochecha. Estranho que ela passe tempo conosco, que sorria como se fosse a mulher mais sortuda do mundo, sinto falta de ter uma mãe. — Te amo, mamãe. Sussurro. Minha voz a tira do torpor, ela pisca e foca o olhar em mim. Espero que me dê um sorriso, mas ela me olha com tanto ódio que meu coração se parte. — Não me toque! Ela grita, afastando-se de mim. — Saia daqui! — Mamãe, por favor. Imploro, meus olhos cheios de lágrimas. — Você é uma assassina! Não quero te ver! Você me tirou tudo, me tirou meu bebê. — Mamãe... — Vá embora! Ela continua gritando mesmo depois que saio do quarto, me apoio na porta com a mão no peito, como se isso pudesse aliviar a dor que sinto diante de sua acusação. Toda vez que tento me aproximar dela, fazê-la ver que a amo, ela me trata da mesma forma. E tem um motivo, afinal, é minha culpa que ela o tenha perdido, mas é a única que ousa me dizer isso na cara. Com o corpo mais pesado, subo as escadas até o segundo andar para terminar de me arrumar para o trabalho. Ao terminar, pego minha bolsa e desço justo quando tocam a campainha. Sorrio a meio quando vejo Fiorella, a mulher que cuida da mamãe enquanto trabalhamos. — Bom dia, Maggie. Ela cumprimenta-me ao entrar. — Bom dia. Deixei o almoço pronto, assim como seus remédios, ela deve tomá-los... — Entre as refeições, eu sei. Ela me interrompe. — Cuidarei bem dela, agora vá. Ela me agarra pelos ombros e me empurra para a saída, depois fecha a porta na minha cara, não sem antes sorrir para mim. Suspiro, ela faz isso toda vez que eu fico intensa. Respiro mais fundo, viro-me para a rua e finjo que não há nada de errado em casa. Hoje não posso me dar ao luxo de ser invadido por pensamentos negativos, já que estou começando em um novo trabalho. A vida toda amei assar, é algo que eu e minha mãe compartilhamos, então quando me ofereceram o cargo de chef confeiteira na cafeteria da Pharmatech Global, não pude dizer não. Não é apenas a maior multinacional farmacêutica da região, mas também a maior da indústria do país. Não foi só isso que me fez aceitar, também influenciou o fato de que tenho liberdade criativa desde que a maioria das minhas preparações inclua chocolate. Disse que sim e aqui vou eu, a caminho de um trabalho que deveria me encher de felicidade, mas que ao mesmo tempo me faz sentir culpada porque não poderei cuidar da mamãe. Não é como se ela quisesse me ver. Lembro a mim mesmo. Ao chegar ao edifício, mostro meu passe quando o guarda da entrada me pede e avanço até a cafeteria assim que ele me dá o sinal verde. Vim aqui no dia anterior para me familiarizar com tudo e não perder minutos valiosos hoje. Então, apresso-me a deixar minhas coisas no armário, coloco o avental e abro meu caderno de receitas para começar a trabalhar. A primeira coisa que coloco para fazer é o café e o chocolate, para depois começar com os muffins, biscoitos, croissants e bolos. Tudo o que faço é o mais rápido possível, já que às nove da manhã abrirei ao público. Por enquanto, serei eu quem fará tudo, mas espero contar com um apoio para a semana que vem. O lado bom é que eu fecho às três da tarde, um luxo que em outros trabalhos eu não poderia me dar. Na hora exata, levanto a grade e, para minha surpresa, já há pessoas esperando para serem atendidas. Com um sorriso amável, posiciono-me atrás do balcão e começo a anotar os pedidos, faturá-los, mas não cobrá-los porque estes são lançados na conta dos funcionários. — Quem é você e onde esteve a minha vida inteira? A voz de uma mulher me faz levantar os olhos. — O aroma das suas preparações é sentido desde a entrada. Supostamente estou de dieta, não devo comer nada dessas coisas, mas não consigo resistir. — Eu... Fico em silêncio, já que não sei o que dizer diante da tagarelice. — Meu nome é Joelle, um prazer. Ela me estende a mão. — Muito prazer, sou Margareth. Digo ao mesmo tempo em que aperto a mão dela. — Minha nova amiga. Ela suspira como se estivesse apaixonada. — Bem, me dê um café forte, um muffin de mirtilo e uma fatia de bolo de chocolate. Se vou pecar, farei em grande estilo. — De acordo. Preparou o pedido e entregou-o a ela. — Suponho que poderia preparar versões mais saudáveis para você. —Você faria isso por mim? Para minha surpresa, seus olhos se enchem de lágrimas. Acaso eu disse algo errado? — Sim, se isso estiver bem. Respondo com alguma dúvida. — Mais que perfeito. Te promovo de amiga a melhor amiga. Você é a melhor, Margareth. — Pode me chamar de Maggie. — Farei isso! Ela grita enquanto se afasta a passos apressados. Isso foi estranho. Dou de ombros e continuo atendendo as pessoas até que não haja mais ninguém. Viro as costas para o balcão para organizar as porções quando ouço alguém pigarrear. Meu sorriso congela quando vejo o homem à minha frente. Ele é alto, muito alto, seu cabelo é ne*gro, seus olhos são cinzas e emoldurados por cílios abundantes que dão intensidade ao seu olhar. Ele tem uma barba cuidadosamente aparada, e quando sorri para mim, rugas aparecem nos cantos dos olhos. Nunca tinha visto um homem tão bonito como ele. — O que posso oferecer-lhe? Pergunto, recuperando a compostura. A atenção que ele me dá faz minhas bochechas corarem, um ato que não consigo esconder devido à palidez da minha pele. — Você é nova. Ele deduz. — Sou. Afirmo. — Gostaria de um café preto, puro. E uma porção de bolo de cenoura, senti o cheiro desde que entrei. Cheira delicioso. Ele responde. Fico mais envergonhado, se isso for possível. Minhas mãos tremem enquanto preparo o que ele me pediu, felizmente consigo fazer isso sem derramar nada. — Espero que goste, senhor. Falei enquanto entregava o seu pedido. — Assim será... Ele deixa a frase no ar. — Margareth. Digo meu nome. — Tenho certeza de que vou gostar, Margareth. Assente na minha direção e vira-se, mas depois volta a cabeça e olha para mim. —Sou Conrad Meier, tenho certeza que me verá por aqui com frequência. — Conrad. Sussurro seu nome. Meu coração dá um salto com a ideia de vê-lo mais vezes. Minha mente corre a toda velocidade sobre as possíveis melhorias que posso fazer na minha receita, qualquer coisa que seja para mantê-lo feliz e com vontade de continuar vindo me ver. ‍​‌‌​​‌‌‌​​‌​‌‌​‌​​​‌​‌‌‌​‌‌​​​‌‌​​‌‌​‌​‌​​​‌​‌‌‍
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