capítulo 1. o dia de azar

522 Words
Eu sou a Serafina, tenho vinte anos e nunca imaginei que minha vida pudesse mudar assim. O ano é 2020, mas, sinceramente, parece que ele parou faz tempo. Não tenho namorado. Meus dias são sempre iguais e, a cada ano que passa, parecem ficar mais complicados. Tinha uma amiga em quem confiava, mas no fim percebi que só eu era amiga. Meus pais… bem, eles gostam de mim à maneira deles. Ainda assim, não consigo deixar de sentir que sou a ovelha n***a da família. Falo pouco. Observo tudo. Estava a caminho do trabalho quando, distraída, um carro buzinou quase em cima de mim. Meu coração disparou e, por um segundo, vi minha vida passar diante dos olhos, como num filme. Foi assustador. Saí ilesa, mas com a sensação estranha de que algo havia me puxado para o perigo, como se alguém ou alguma coisa quisesse me ver morta hoje. Continuei andando e, ao passar por uma loja, uma mulher que vinha atrás me puxou bruscamente. — Moça, você está bem? — ela perguntou. — Obrigada… estou, sim. Graças a você. Ela seguiu seu caminho, mas eu fiquei ali, parada, olhando para uma antena de TV caída bem onde eu estava segundos antes. Peguei o celular, curiosa. Será que era sexta-feira 13? Não. Segunda-feira, dia 20. Um dia qualquer. E, claro, já estava a cinco minutos de me atrasar. Corri, tentando não chegar tão tarde, mas, quando cheguei à porta da imprensa, encontrei uma confusão de repórteres. Não entendi nada até ver meu chefe chegando com um olho roxo. Nem precisei perguntar. Provavelmente se meteu com alguma mulher casada, como sempre. Ele acha que, por ser rico, todo mundo tem que fazer o que ele quer. Um dos seguranças, que me conhecia, veio até mim. — Serafina, o que faz aqui fora? — perguntou. — Só consegui chegar agora. Ele abriu passagem, e eu entrei. Lá dentro, o azar resolveu dar mais um show: escorreguei e caí de b***a no chão molhado. Lisa, sempre prestativa, correu para me ajudar. — Serafina, você está bem? — Traumatizada com o dia, mas viva. Acho que não morro mais — respondi, rindo. — Essa queda vai parar nos jornais amanhã, tenho certeza — ela riu também. — O senhor Gabriel está esperando por você. Ah, claro. Como se meu dia ainda não tivesse desastres o bastante. — Obrigada, Lisa — murmurei, já aceitando o destino. Entrei no elevador e subi até o andar onde trabalho. Meu colega Daryl, lindo como sempre, me olhou com um sorrisinho divertido. — Serafina, parece que o seu dia não está dos melhores. — Você não faz ideia. Quase morri duas vezes, levei uma baita queda e, pra completar, ainda tenho que enfrentar o nosso querido gerente loiro de olhos azuis. Daryl riu. — Calma, ele deve só querer te passar um trabalho. — Justamente por isso eu devia ter ficado em casa — resmunguei, colocando a bolsa na cadeira. Quando fui sair para ir até a sala do senhor Gabriel, quase derrubei meu laptop. Daryl foi rápido e o segurou antes que caísse. Meu coração parou por um segundo.
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