capítulo 2. o disperta em outro tempo

616 Words
— Obrigada, Daryl — agradeci, um pouco sem graça. Ele apenas sorriu, colocou meu laptop de volta na mesa e me deu aquele olhar calmo que sempre me deixava um pouco menos tensa. Respirei fundo e segui para a sala do Gabriel. Bati à porta. — Entre — ele disse, sem tirar os olhos dos papéis. Assim que entrei, encontrei Gabriel mergulhado em relatórios, com a expressão fechada de quem carrega o mundo nas costas. Gabriel era... bonito, no pior sentido da palavra. Corpo definido, terno sob medida, cabelos loiros bem penteados e olhos azuis como o oceano — frios, distantes. A pele pálida e o ar de superioridade faziam dele um homem que gostava de mandar. E, claro, de ser obedecido. — Senhorita Serafina, o trabalho que entreguei ontem para você e seu parceiro… já foi finalizado? — perguntou sem me encarar. — Ainda não, senhor. Estamos trabalhando nas ideias. Ele levantou os olhos lentamente, e o jeito que me olhou foi resposta suficiente. — Quero esse relatório hoje. — Mas é muita coisa pra fazer em um dia só, senhor Gabriel… Aquele olhar de gelo outra vez. Suspirei. Estava decidido: mais uma noite presa no escritório. — Pode sair — disse apenas, voltando a olhar os papéis. Saí da sala e encontrei Daryl me esperando no corredor. — Que cara é essa, Serafina? — ele pergunta. — Adivinha quem vai ter que ficar depois do expediente pra terminar o trabalho? — Isso é exploração! A gente não pode ficar aqui à noite só porque o Gabriel é um... Ele parou no meio da frase, e eu percebi o motivo: Gabriel estava logo atrás de mim. — Em vez de ficarem batendo papo, terminem o trabalho antes que a noite caia — disse com a voz firme, fria. Nem precisei olhar pra saber que ele estava furioso. O tom bastava. Quando ele foi embora, eu me joguei na cadeira e olhei para os papéis… já passava das cinco da tarde. Aos poucos, todos foram indo embora, o som das conversas diminuindo, até restarem apenas eu e Daryl, e Gabriel na sala dele. — Café? — ele perguntou, segurando duas xícaras. — Por favor — sorri cansada. Trabalhamos até a meia-noite, os olhos ardendo, as ideias emboladas. — Serafina, precisamos descansar — Daryl murmurou. — Sim… vamos. Fechei o laptop e guardei meus papéis. Depois disso, tudo ficou meio confuso. Não sei exatamente o que aconteceu quando saí da imprensa. Lembro do vento frio na rua… e depois, nada. Quando abri os olhos, o despertador não tocava. Aliás, ele nem existia. Sentei na cama e percebi, com o coração disparando, que aquela não era minha casa. — Onde… onde eu estou? — murmurei. Minha cama macia tinha sumido; no lugar, havia peles de animais. O chão era de pedra bruta. O ar tinha cheiro de terra e fumaça. Fiquei de pé, tonta, tentando entender o que estava acontecendo. Fui até uma pequena janela de madeira e, quando olhei para fora, meu coração quase parou. Não havia prédios, carros ou luzes. Em vez disso, via templos de mármore, colunas altíssimas e estátuas de deuses. Um vento quente soprou, levantando poeira e fragmentos dourados de luz. E então eu vi um colosso. Enorme, impossível, imponente. O mesmo que eu só conhecia dos livros de história, da Grécia Antiga. Pisquei várias vezes. Não, isso não podia estar acontecendo. — Eu… eu estou sonhando — sussurrei, encostando na parede fria. — Só pode ser um sonho… Mas o cheiro, o calor, o som distante de vozes falando uma língua que eu m*l reconhecia… tudo era real demais. Como eu podia ter ido dormir em 2020 e acordado… na Grécia Antiga?
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